O USO DO TREINAMENTO PARENTAL COMO TÉCNICA INTERVENTIVA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO (TGD’S) NA CIDADE DE TERESINA. 

 *Cassia Maria Lopes Dias

*Laerson Soares dos Santos 

RESUMO

Objetivo: Investigar a utilização do treino parental no processo terapêutico de crianças com Transtorno globais do desenvolvimento (TGD’s) por terapeutas cognitivo-comportementais na cidade de Teresina. Método: Entrevistas individuais com terapeutas que atendem crianças com TGD’s. Resultados: constatou-se que é possível obter melhores resultados no tratamento de crianças com TGD’ através da utilização do treino parental, aliado ás técnicas comportamentais. Conclusão: Constatou-se que, segundo os terapeutas, o treino de pais é essencial para tratamento de crianças com TGD’s.

Palavras-chave: Terapia comportamental; Transtornos Globais do Desenvolvimento; Treino parental. 

ABSTRACT

Objective:. Investigate the use of parental training in the therapeutic process of children with disorders of the global development used therapists cognitive-behavioral in Teresina of city  Method:. Individual interviews with therapists that treat children with disorders of the global development in clinics or home these children  Results: It was found that as many research training consisted of parents is essential for treatment of children with disorders of the global development.

Keywords: Behavior Therapy, Parental training , disorders of the global development

1 INTRODUÇÃO 

(...) os pais são, usualmente, o principal agente de mudança no processo terapêutico de seus filhos, atuando como mediadores entre a orientação profissional e a implementação de contingências favoráveis à mudança da criança em seu ambiente natural (Coelho & Murita apud Mestre & Corassa, 2002; Silvares, 1995).

A família proporciona o primeiro e mais importante contexto interpessoal para o desenvolvimento humano e, como resultado, as relações familiares têm uma profunda influência sobre a saúde mental das crianças, e por isso, elas são de fundamental importância no desenvolvimento global infantil.

São estas relações que delimitam estabelecimento de limites, comunicação, ensino de responsabilidades e expressão de afeto, comportamentos essenciais para um desenvolvimento saudável.

 Muitos pais geralmente recebem pouco ou nenhum preparo, quando se trata de educação dos seus filhos, utilizando conhecimentos adotados pela cultura que vive e/ou que aprendeu com seus pais ou criadores, produzindo-se a maior parte da aprendizagem durante a realização da tarefa por meio do ensaio e erro.

Considerando-se como essencial a relação entre interações pais-criança, desenvolvimento e aprendizagem, o Treinamento de Suporte Parental é uma ferramenta que tem sido muito utilizada nos últimos anos para, segundo Olivares, Mendez & Ross (2005), atuar na modificação de problemas comportamentais e emocionais em crianças e adolescentes.

Várias nomenclaturas e conceitos são abordados com relação ao treinamento parental. Segundo Andrada apud D’ávila-Bacarji, Marturano & Elias o conceito de suporte parental refere-se a uma: “disposição dos pais para investir tempo e recursos em arranjos da vida familiar que tem como objetivo o crescimento dos filhos em sentido amplo”.

O trabalho com pais está fundamentado na premissa de que a falta de habilidades parentais é, pelo menos parcialmente, responsável pelo desenvolvimento ou manutenção de padrões de interação familiar perturbadores e, conseqüentemente, de problemas de comportamento nos filhos (COELHO & MURITA apud MARINHO, 2005).

Observa-se que já existe certa dificuldade dos pais em lidar com crianças com desenvolvimento típico, e quando se trata de uma criança com algum especificidade a situação é mais complexa, principalmente quando se trata de uma criança com Transtorno global do desenvolvimento (TGD).

Os TGD’s são grupos de transtornos caracterizados por alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Estas anomalias qualitativas constituem uma característica global do funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões (Classificação Internacional de Doenças 10º edição- CID10).

Uma criança com transtorno global do desenvolvimento (TGD) é perceptível que o seu desenvolvimento fica comprometido, principalmente, em três áreas, a chamada “tríade de dificuldade” (Mello, 2003), são elas: dificuldade em comunicação; dificuldade em sociabilização, e; dificuldade no uso da imaginação.

Um treinamento parental tem como um principal objetivo proporcionar orientação a pais de crianças com TGD’s, complementando o trabalho do profissional especializado proporcionando uma generalização de um trabalho terapêutico realizado na clinica, escola, entre outros.

A análise do comportamento é uma ciência da psicologia que tem como premissa a de que os comportamentos ocorrem em função da interação do indivíduo com o ambiente (Skinner, 1976). Isso permite pensar numa intervenção familiar, pois muitos comportamentos de um indivíduo são mantidos pela relação com os outros membros da família.

Muito conhecida como Applied Behavior Analysis, ABA ou análise do comportamento aplicada, trata-se de uma abordagem da psicologia que é usada para a compreensão do comportamento e vem sendo amplamente utilizada no atendimento a pessoas com desenvolvimento atípico, como os transtornos invasivos do desenvolvimento (TIDs).

Segundo Ribeiro (2010) as técnicas de modificação comportamental têm se mostrado bastante eficazes no tratamento, principalmente em casos mais graves de autismo.

O objetivo desse artigo foi investigar o uso do treinamento parental no processo terapêutico de crianças com TGDs por terapeutas comportamentais (cognitivo-comportamentais ou analistas do comportamento) em Teresina-Piauí.

Pesquisou-se também o conhecimento da técnica por parte dos profissionais, sua utilidade no manejo clínico de crianças com TGDs, a freqüência do uso na prática clínica com essa população, a associação com outras técnicas e sua eficácia.

2      MÉTODO

 

2.1   Participantes

Participaram da pesquisa 08 psicólogos que trabalham em clinicas ou residências onde atendem indivíduos com diagnostico de TGD’s, sendo 2 do sexo masculino e 6  do sexo feminino todos com titulo de pós – graduação na área, sendo que 3 são Terapeutas cognitivo-comportamentais e 5 são Analistas do comportamento. Dos terapeutas entrevistados, 6 atuam com TGD desde o tempo de graduação e 2 iniciaram logo após se formar.

Como pôde ser observado o contingente entrevistado foi predominantemente feminino, todos eles utilizam técnicas de modificação de comportamento e já atuam á algum tempo com crianças com TGD´S.

2.2   Instrumento

O instrumento utilizado foi um questionário semi-estruturado e aplicado individualmente com cada profissional.

      2.3 Procedimentos

As buscas por esses profissionais foram feitas através de clinicas catalogadas e registradas no CRP, em seguida o contato com cada profissional e posteriormente o agendamento para a resolução do questionário.

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3     RESULTADOS

Para obtenção dos resultados desta pesquisa procedeu-se da seguinte maneira: leitura e análise dos questionários respondidos; definição das categorias de análise e outros prontos relevantes que surgiram na pesquisa.

Através da leitura e análise minuciosa dos questionários, estabeleceu-se uma relação entre as variáveis do uso do treino parental e a eficácia ou não do treinamento de pais, confrontando os resultados de todos os entrevistados e os pontos relevantes que cada profissional poderia abordar.

A primeira categoria de analise se deu no principal ponto do trabalho o uso ou não do treino parental no atendimento de crianças com TGD’s, onde foi constatado que todos os profissionais utilizam o treino parental como umas das formas de intervir no tratamento dessas crianças através de varias técnicas e estratégias como:

  1. Apresentação do modelo de intervenção;
  2. Psicoeducação ;
  3. Observação do ambiente natural;
  4. Encontros sistemáticos;
  5. Controle de excessos comportamentais;

Essas técnicas servem para orientar os pais, de forma didática, sobre os fundamentos da análise aplicada do comportamento, instruí- los quanto à necessidade de motivar seus filhos a se comportarem bem, identificar determinantes dos comportamentos desadaptativos dos filhos e aplicar, no dia-a-dia, alguns dos procedimentos básicos de modificação de comportamento.

Outra categoria observada foi descrever quais são os transtornos mais atendidos dentro do quadro de TGD’s. Segundo os psicólogos participantes desta pesquisa, eles atendem geralmente casos de Síndrome do Autismo, o autismo típico, e Síndrome de Aspeger, o autismo de alto funcionamento, raramente surgem outras entre os outros TGD’s catalogados no CID-10, sob o código F84, sendo eles:

  • Autismo infantil (F84.0)
  • Autismo atípico (F84.1),
  • Síndrome de Rett (F84.2),
  • Outro Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3),
  • Transtorno com Hiper­cinesia associada a Retardo Mental e a Movimentos Estereotipados (F84.4),
  • Síndrome de Asperger (F84.5),
  • Outros Transtornos Globais do Desenvolvi­mento (F84.8)
  • Transtornos Globais Não Especificados do Desenvolvimento (F84.9).

Com relação aos programas utilizados constatou-se que os procedimentos e técnicas são iguais para todos o que diferencia seria como se aplica esse programa em proporção a demanda apresentada e sempre com uma adesão da família, pois alguns procedimentos fora da clinica requerem um esforço maior da família para se chegar a um resultado satisfatório. 

A família foi o foco principal em todos os resultados, pois sua adesão ou não é que irá proporcionar um melhor resultado, caso não haja esse engajamento efetivo da família os profissionais geralmente não conseguem bons resultados e até mesmo quando conseguem é em longo prazo ou pouco efetivo.

Outro ponto que a pesquisa constatou, que além da família, todas a instituições ou pessoas (professores, cuidadores, familiares) que interagem diretamente com crianças que tem um diagnóstico de TGD’s, precisam de conhecimento e um treinamento aos moldes do treino parental, pois esse grupo de crianças necessita de uma estimulação diferenciada para se desenvolver mais adequadamente entre o meio que vive.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  4   DISCUSSÃO

A pesquisa em questão confirmou o que aponta a literatura acerca da intervenção terapêutica com crianças com TGDS. Entende-se que essa intervenção atingirá seu maior grau de eficácia se acontecer no meio familiar, visto que este é, muitas vezes, o contexto no qual se encontram as variáveis relevantes responsáveis pela manutenção do comportamento problema.

Os TGD’s apresentam muitas variações de comportamento, quando se observa cada caso de indivíduos com o transtorno, ou seja, cada indivíduo apresenta um nível de comprometimento. Por esse motivo todos os profissionais apontaram sobre a importância de um programa individualizado que se adéqüe à realidade de cada criança.

A adesão da família em relação ao tratamento foi o maior diferencial para todos os entrevistados, pois os mesmo exigem o mínimo de comprometimento da família em relação ao tratamento, pois sem um engajamento não há como ter bons resultados.

“Dessa forma, qualquer modificação efetiva e duradoura dos comportamentos da criança pressupõe uma mudança prévia na forma com que os cuidadores lidam com ela. Por isso, alguns programas de treinamento introduzem, de modo didático, os fundamentos da análise do comportamento aplicada, instruindo os pais a motivarem os filhos a se comportarem bem e supervisionando-os na aplicação de técnicas de incentivo, de atenção ao bom desempenho e de retirada de atenção quando a criança não se comporta da maneira combinada. Tais programas são indicados para pais com crianças a partir de três anos de idade até próximo à entrada na adolescência (Barkley, 1997).”

Em razão da amostragem reduzida, a quantificação dos resultados não tem valor estatístico, por isso houve uma apresentação inicial do perfil social dos entrevistados.

De acordo com os questionários respondidos pelos profissionais, em relação a eficácia do uso do treinamento parental, pôde-se observar o quanto eles consideram importante essa prática. Segue-se as seguintes frases citadas pelos profissionais acerca dessa questão:

“Quando ocorre à adesão o trabalho, geralmente, é mais eficaz”.

“A colaboração dos pais é essencial e determinante na melhora da criança”.

“Nos casos em que não há tal acompanhamento há um grande retrocesso durante todo o processo terapêutico”.

Como pontos relevantes levantados pelos profissionais, ressaltaram-se: reunião com a equipe que atende a criança para discussão do caso e uso da mesma abordagem; interação no ambiente escolar e a falta de conhecimento por parte dos profissionais da importância do treino parental – descuido da graduação.

Para lidar com crianças com TGD’S  se requer uma atenção constante, elas tendem a agir de maneiras inadequadas até mesmo na execução de algumas tarefas simples, quanto mais tempo em companhia da criança, ensinando-a, melhores são os resultados em seu comportamento, os pais têm o papel essencial e podem aplicar várias técnicas e princípios básicos sobre o comportamento.

Segundo a pesquisa realizada os profissionais que atendem crianças com TGD’S percebem uma nítida diferença no desenvolvimento dos casos em que há acompanhamento por parte dos pais ou responsáveis, a continuidade do que é feito em consultório em outros âmbitos é fundamental para a generalização do comportamento.  

Assim pôde-se comprovar que os profissionais participantes da pesquisa utilizam o treinamento de pais como técnica interventiva no tratamento de crianças com TGDS e a consideram de suma importância para o sucesso do tratamento.

  4 CONCLUSÃO

Embora as relações familiares sejam importantes, os pais geralmente recebem pouca preparação para exercer tal função, exceto sua própria experiência como pais, produzindo a maior parte da aprendizagem durante a realização da tarefa por meio do ensaio e erro. Assim, o treinamento de pais tem sido utilizado como ferramenta essencial no campo da modificação do comportamento e como alternativa aos enfoques tradicionais da terapia infantil.

Considerando que crianças com Transtornos Globais do Desenvolvimento apresentam alterações cognitivas, afetivas e comportamentais significativas e que estudos apontam que a terapia infantil aliada ao treinamento parental são recursos indispensáveis para evolução do tratamento, foi possível, através de um questionário aplicado os profissionais que atendem esta demanda, verificar se estes terapeutas utilizam esse procedimento ao processo terapêutico elaborado e que respostas obtém.

Sabe-se que para lidar com crianças com TGD’S se requer uma atenção constante, elas tendem a agir de maneiras inadequadas até mesmo na execução de algumas tarefas simples, por isso, quanto mais tempo em companhia da criança, ensinando-a, melhores são os resultados em seu comportamento, os pais têm o papel essencial e podem aplicar várias técnicas e princípios básicos sobre o comportamento para melhorar a qualidade de vida das crianças e de todos os compartilhadores de seu ambiente.

A continuidade do que é feito em consultório em outros âmbitos é fundamental para a generalização do comportamento.   

REFERÊNCIAS 

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BARDIN L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977

COELHO, Marilia Velasco; MURTA, Sheila Giardini. Treinamento de pais em grupo: um relato de experiência. Estud. psicol. (Campinas) vol.24 no.3 Campinas- SP setembro de 2006. Acessado em: setembro 2011.

FACION, José Raimundo. Transtornos invasivos do desenvolvimento e transtornos de comportamento disruptivo.2 sd. rev. anual.Curitiba:IBEPEX, 2005.146p

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria;. Fundamentos de Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

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RIBEIRO, Sabrina Bandini. ABA: uma intervenção comportamental eficaz em casos de autismo. Revista Autismo Informação Gerando ação. Edição 0 – setembro/2010.