INTRODUÇÃO

O estágio que deu origem a este artigo foi realizado na turma de segundo ano do Ensino Médio noturno, em escola da rede estadual de ensino na cidade de Pelotas - RS. A classe tinha aproximadamente trinta (30) alunos matriculados, entretanto, dezessete (17) alunos em média, freqüentavam regularmente as aulas de Geografia.

A escola em questão atende em torno de oitocentos (800) alunos nos turnos diurno e noturno. Pouco mais de cento e cinqüenta (150), estudam no turno da noite. A escola conta com uma orientadora educacional, sessenta e sete (67) professores, sendo apenas (1) formado em Geografia.

O espaço físico da escola conta com razoável infra – estrutura, salas de aula amplas, uma biblioteca organizada, mapas atualizados e acesso a jornais e revistas. Porém o piso de algumas salas estava solto e a iluminação era insuficiente. Merece destaque, a iniciativa da direção da escola de fornecer merenda aos alunos do Ensino Médio, mesmo sem ter a obrigação legal de fazê-la. Considerando que a maioria dos alunos deixa suas atividades de trabalho para ir direto à escola.

A turma em questão apresentava composição bastante variada. A diversidade dava-se tanto na idade, com alunos entre de dezesseis (16) e cinqüenta e um (51) anos, quanto etnia, condição social, e principalmente nos objetivos de estarem cursando o ensino médio em tais circunstancias. Também, as expectativas da turma, em relação aos estudos eram heterogêneas, alguns com pretensão de cursar faculdade ao passo que pelo menos três, sem a possibilidade de concluir o ano letivo.

A turma encontrava – se desmotivada, pois a primeira avaliação tivera como resultado, apenas seis (6) alunos aprovados do total de dezessete (17) que realizaram a prova.Eis então o primeiro desafio, fazer com que as aulas de Geografia, fossem interessantes e proveitosas a toda a classe. Buscava-se uma prática que abrangesse a todos, fossem adolescentes ou adultos. Já que a turma não apresentava bons resultados com o método unicamente expositivo usado até aquele momento.

Nos primeiros dias em que foram realizadas apenas observação do grupo, ficou evidente que a indisciplina de alguns alunos esta relacionada com uma relação conflituosa, com os membros do corpo docente da escola. Outra preocupação era o pouco tempo que se tinha para efetuar um, o processo de aprendizagem capaz de despertar a atenção dos alunos.

Para elaboração deste artigo, tomou – se por base a observação das aulas ministradas e assistidas e a avaliação do material produzido pelos alunos em forma de reflexões sobre o período de estágio. A fundamentação teórica e metodológica, pautada em autores que tem como foco educação e o ensino de Geografia, foram utilizados como fonte : Arroyo ( 2002); Gomes (1996) Saint – Onge ( 1999 ); Calai ( 2001) ; Benincá (2001), Vissentini (1992), Perrenoud (2001)

Este trabalho visa demonstrar a importância do uso do conhecimento trazido pelos alunos do cotidiano, durante o processo de aprendizagem que da – se na sala de aula de forma que se estabeleçam vínculos com aprendizagens anteriores e assim concretize – se a apropriação do saber pelo aluno. Busca ainda comprovar a importância do comprometimento do professor que prima por um método, ou pela combinação deles, que seja capaz de envolver o educando na construção do conhecimento.

Uso do Cotidiano do aluno na Perspectiva Crítica da Geografia.

A forma como os alunos comunicam-se, faz do professor de Geografia um dos elementos chave no entendimento do mundo e, por conseguinte da globalização, potencializar essas idéias então é papel do docente segundo, Perrenoud (2001, p. 66):

Aprender a argumentar sobre as questões da vida cotidiana, como o desemprego, o dinheiro, o racismo, a moradia, as drogas, a violência, o lazer, o trabalho o consumo, tudo isso significa falar do que se come, do que se assiste, do que se faz, do que se diz em família.

Objetiva-se então trazer a vida cotidiana do aluno para a vivencia da sala de aula, afinal se ele vive em um mundo, porque desconectá-lo da realidade, do seu bairro de sua vida, nesse ponto Vesentini (1992, p. 56) esclarece:

É por isso que, no ensino critico, não é possível que o docente elabore o seu planejamento de curso sem conhecer a realidade (economia, social, intelectual) dos alunos e do meio onde vivem; tampouco é possível que " programas oficiais" sejam levados a sério ou seguidos rigidamente – no máximo eles poderão ser encarados como sugestões que, dessa forma, podem e devem ser rediscutidos.

Contextualizando a vida do aluno sua curiosidade passa a ser aguçada, pois descobre que a escola trata dos assuntos da sua casa. Assim cabe ao professor potencializar a curiosidade do aluno através de um ensino critico nesse ponto Vesentini (1992, p. 57) nos auxilia:

É evidente que o professor não deve partir do nada. Um ensino critico implica atualização constante, leitura rotineira de importantes obras da disciplina (e das ciências sociais em geral), evidentemente dentro as possibilidades e motivações do docente. Implica também o hábito de ler cotidianamente, e de forma critica bons jornais.

Em termos de historiografia geográfica, podemos nos basear nas mudanças na geografia nos anos 1970 com uma fundamentação metodológica na disciplina instituída, no sentido de realizar uma análise critica da sociedade, e assim promover um amplo debate a cerca da globalização, trazendo consigo assim uma nova perspectiva no ensino da disciplina na escola, segundo Vesentini (1992, p.133):

Os trabalhos sobre o ensino da geografia vêm se multiplicando ultimamente. A própria "crise" da geografia, especialmente da geografia escolar, isto é o momento de redefinições que ela vem conhecendo desde os anos 70, suscitou um renovado interesse pelo assunto. As relativamente poucas obras sobre o ensino da geografia até os anos 60 norrmalmente voltavam-se para as técnicas pedagógicas, para o como ensinar os conteúdos (que não eram problematizados) clássicos com o uso de mapas e diagramas, gráficos, fotos maquetes, excurções, exercícios de memorização.

O movimento de renovação da ciência trouxe a preocupação com o ensino na escola, essa preocupação se da principalmente pela mudança de método, segundo Gomes (1996, p. 274)

O entusiasmo e a vigor da geografia analítica forma progressivamente perdendo fôlego, em face das múltiplas criticas e das dificuldades impostas, sobretudo pelas considerações do caráter político do espaço, feitas a geografia. Estas criticas podem ser reunidas em dois grandes grupos: as de caráter teórico metodológico e as que consideram o domínio prático e ideológico.

Com a perda de seu caráter "ingênuo", a Geografia assume seu objeto de estudo como historicamente construído revelando assim uma prática ideológica, nesse ponto Vesentini (1992, p.51) é claro:

Isso também é válido para a geografia: sua institucionalização nas universidades e escolas em geral, no século XIX, não se deu devido a "sistematização" de um certo saber – tal versão é positivista e aistórica; afinal o saber já era sistematizado, só que sob outra forma, mais apropriada a outras condições históricas -, mas sim por causa do entrecruzamento de certos pressupostos históricos: a industrialização e a urbanização... , a passagem do saber ao conhecimento compartimentado e institucionalizado (surgimento, assim, da sociologia, antropologia,geografia, psicologia, lingüística.etc), a construção dos Estados – Nações, a escolarização da sociedade com funções especificas (incular o patriotismo, homogeneizar o idioma, reproduzir novos valores, hábitos e conhecimentos, disciplinar no sentido de arranjo utilitarista do tempo e do espaço, etc...)

A geografia escolar, que também compartilha da ideologia de fortalecimento do estado nação, passa pela mesma reformulação que a ciência geográfica, assim as mudanças no mundo mudam também a escola, segundo Vesentini (1992, p. 51)

A construção da geografia moderna dependeu em especial de duas determinações essenciais: O Estado – nação – que, sob a forma de "país", com ênfase no seu território e desenho cartográfico, foi "naturalizado" – e o sistema escolar lócus - por excelência das práticas geográficas e grande mercadode trabalho para os geógrafos. E a crise atual da geografia é indissociável da crise da escola – as redefinições que o capitalismo tardio ou monopolista de Estado impõe ao sistema escolar, notadamente a adequação ao novo mercado de trabalho – e da crise do Estado – nação – a internacionalização do capital produtivo e a necessidade do surgimento de "Estados supranacionais", ao lado de movimentos centrífugos regionais e locais, etc. Essa crise, mesmo resultando das reestruturações em pressupostos cuja reposição e essencial á concretude da geografia (o sistema escolar e o Estado - nação), acaba sendo agravada pela perda de algumas funções sociais: por um lado, a ideologia patriótica e nacionalista já não é tão necessária quanto no passado, ou pelo menos não da mesma forma, e, por outro lado, os meios de comunicação de massas se encarregam de mostrar fotos, imagens, textos e acontecimentos dos diversos rincões do planeta de maneira mais ágil e atrativa que o discurso geográfico tradicional.

Assim podemos salientar que, a escola e a Geografia em uma postura critica são utilizadas como ferramentas de dominação do estado capitalista, com enfraquecimento do mesmo, a prática docente dita "tradicional" com seu método descritivo e histórico, não mais condiz com a realidade, o que se propõe é fazer uma analise de certos procedimentos que possam ser utilizados em sala de aula, com o intuito de um ensino alegre e fortemente critico, não tornando-se um conhecimento monocultural, imposto pela globalização.

Geografia na sala de aula e fora dela

O ensino da Geografia pode ajudar na formação dos alunos, tornando/as pessoas aptas a entenderem os acontecimentos econômicos sociais e políticos que ocorrem ao redor delas. Sendo assim a ciência tem papel fundamental na construção da consciência critica da sociedade. E o educador, tem função indispensável para que se alcance tal objetivo. Callai (2001 p. 140) diz:

Nesse sentido a Geografia é entendida como uma ciência social, que estuda o espaço construído pelo homem, a partir das relações que estes mantem entre si e com a natureza, quer dizer, as questões da sociedade, com uma visão espacial, é por excelência uma disciplina formativa, capaz de instrumentalizar o aluno para que exerçade fato a sua cidadania .

Tendo por norteadora deste ainda Callai (2001) onde educar para cidadania é tarefa de todas as disciplinas inclusive da Geografia, a formação do aluno deve ser voltada para a apropriação do conhecimento. E essa apropriação está diretamente ligada ao método, ou seja, a maneira que será usada para abordar a realidade.

Os próprios conteúdos trabalhados deverão ter uma tríplice função, qual seja, resgatar o conhecimento produzido cientificamente, reconhecer e valorizar o conhe­cimento que cada um traz junto consigo, como resultado de sua própria vida, e dando um sentido social para este saber que resulta. Os conteúdos de Geografia, que são estudar o mundo, as configurações territoriais, a organização do espaço e a sua apropriação pelos diversos povos, as lutas para tal, os interesses políticos e as formas de tratar a natureza., se põem como conteúdos que,permitem e podem envolver os três itens acima colocados com base para urna educação para a cidadania.(CALLAI, 2001, p. 137)

As relações tecidas pelo homem desde os primeiros dias de sua vida continuam evoluindo também na sala de aula e nelas deve - se primar pela busca do saber. Sendo assim o educador torna – se o mediador entre o aluno e o conhecimento. Nessa perspectiva o mestre deve conduzir o aluno a interessar - se pelo tema que está sendo tratado. Para Saint-Onge (1999, p. ???) "É crença comum que ensinar é ministrar cursos, dar aulas, transmitir os conhecimentos que aparecem no programa. Aqui o ensino é redescoberto a partir do fato de que o problema reside em levar a aprender e não em dar aulas".

O comprometimento do professor que deseja levar seus alunos a aprender e não simplesmente a decorar informações leva – o a busca por uma maneira de trabalhar que faça realmente a diferença. O educador precisa ter a consciência de que é responsável pela formação social de seu aluno. Callai (2001 p. 131) frisa que "o professor deve possuir um método de trabalho que de prioridade a uma aprendizagem consistente que faça com que o aluno esteja preparado para localizar – se no mundo em que vivemos".

É preciso observar o trabalho que vem sendo executado, repensar diariamente a pratica de maneira que esta seja eficaz e contribua da melhor maneira possível para formação dos educandos.O professor precisa ter a sensibilidade decontornar asdeficiências dos métodos escolhidos . Tudo isso para que o ensino cumpra seus propósitos e dê resultados positivos. Segundo Arroyo (2002 p. 152)

Recuperamos a ação educativa como ação humana, a escola como seu espaço e nós como profissionais de ações, de intervenções e escolhas permanentes. A reinvenção do quotidiano, do mundo, da prática e ação-relação entre seres humanos onde sempre aconteceram os processos educativos e culturais.

O professor que tem a consciência de sua importância na formação social do aluno passa então a fazer perguntas sobre como planejar uma boa aula, como abordar o conteúdo, como trabalhar a indisciplina, e de que forma, considerar as diferenças dentro de um ambiente tão heterogêneo quanto a sala de aula. De acordo com Arroyo (2002 p. 150):

Uma das preocupações das propostas pedagógicas é criar formas de fortalecer os professores e as professoras. Como? Partindo do que é seu, do que sabem e controlam: suas práticas, seus produtos e seu trabalho. Valorizá-los como sujeitos de escolhas que se traduzem em ações.

Considera – se do "partindo do que é seu" a realidade do cotidiano do educador. Correspondem então a ela todos os seus anseios e questionamentos e a variedade de realidades que compõem os membros do corpo discente. Assim se tem uma dimensão do comprometimento e da necessidade de reflexão do professor que deseja construir o conhecimento juntamente com seu grupo.

Fazer com que as aulas transcorram de maneira produtiva exige o envolvimento de educador e educandos. O professor precisa aproximar-se dos alunos e entender as necessidades destes. Se não for dessa forma o ensino da Geografia passa a não ter sentido. Para Saint – Onge (1999, p. 20):

Quando a aprendizagem significa a memorização de informações significativas, a construção de modelos inúteis na interpretação da realidade e na elaboração de métodos que guiam a ação, o ensino não se limita ao registro das informações. Para que aprender signifique construir seu próprio saber, é preciso pensar.

Existe a necessidade de despertar o interesse do educando para a aula, que para Saint – Onge (1999, p 30) consiste na lógica de que mantendo o envolvimento do grupo esse passa a ficar interessado criando um elo entre o objeto de estudo e o estudante. E para a construção dessa ponte é preciso que as emoções do aluno sejam associadas à atividade de aprendizagem.

Ainda com base no autor acima citado o docente deve oportunizar ao aluno a verificação de sua aprendizagem. Isso porque é comum no processo de verificação da aprendizagem que ocorram erros. Mas os erros podem ser frutos de uma compreensão equivocada. A verificação pode ocorrer quando o aluno tem a chance de expor aquilo que entendeu. Isso pode ser feito por meio de questionamentos, de trabalhos em grupo para discussão dos temas das aulas e na resolução, pelos discentes, de problemas simples a partir do assunto em questão.

Assim o professor serve de mediador entre o conhecimento teórico da disciplina e o conhecimento prévio do discente. Porem deve-se ficar atento, porque nem todo o aluno tem a mesma facilidade de expressão. Aqueles que não se expressam nem sempre são os que não compreendem e vice - versa.

No ensino da Geografia é necessário descobrir formas de processar as informações realizando operações que façam sentido para os alunos. Encontrar caminhos, maneiras de organização e estruturação do conteúdo com outros conhecimentos é papel do educador. Realizar tal tarefa não é algo pronto e fácil, exige dedicação e esforço. Tomando ainda SAINT – ONGE (1999, p.???) como referencia é preciso considerar as condições naturais dos conhecimentos próprios do aluno adquiridos fora da sala de aula. Sendo assim, uma informação quando levada para a sala de aula deve fazer sentido para o grupo em questão e não apenas para o professor que possui uma bagagem expressiva de conhecimento. Para esse autor, "Explicar o vocabulário, extrair exemplos da realidade vivenciada pelos jovens, escolher analogias compreensíveis", "exigências que nenhum professor pode ignorar se quer dar uma aula que leve seus alunos a progredir".

Quando o objetivo é fazer com que a turma realmente aprenda necessita – se que esta preste a atenção. Para que se tenha a atenção fixada em algo é preciso considerar a citação acima e para coloca-lá em pratica se faz necessário o conhecimento da realidade do aluno e para tanto apenas a observação não basta . Destaca – se então a importância do dialogo que para Benincá (2001, p. 01):

Diálogo, na presente abordagem, significa a manifestação recíproca das pessoas através da palavra. Quem pronuncia a palavra pronuncia-se a si mesmo; mostra intimidade; revela o seu interior, isto é, revela o que foi gerado e o que cresce dentro de si. Pronunciar a palavra significa, portanto, tornar visível o invisível, revelar o oculto, ou seja, anunciar o mistério. No diálogo, as pessoas se anunciam e se revelam, e ele acontece, quando as consciências das pessoas se põem em confronto.

Através do dialogo o professor passa a conhecer mais do aluno e dessa maneira pode compreender melhor a realidade em que este está inserido. O educando passa a fornecer as informações das quais o docente precisa para planejar aulas condizentes com a realidade da classe e assim contextualizar o currículo com a realidade do cotidiano da turma.De acordo com Benincá (2001, p.01)

Já que, em nossa ótica, toda prática pedagógica há de encontrar suasdimensões significativas na medida em que for ação educativa, propor, em seqüência, elementos que demonstram ser o diálogo uma estratégia verdadeiramente favorável para instaurar e dinamizar essa ação .

O dialogo torna – se então uma ferramenta que auxilia o professor a deixar de lado a educação bancária "em que o educando é mero assimilador de informações a serem decoradas, na maioria das vezes sem fazer sentido algum" Benincá (2001, p.2) citando Paulo Freire. O educador que dialoga com sua classe propicia ao seu grupo oportunidades de conhecimento que lhe será útil para o decorrer de suas vidas.

Dialogando na sala de aula o aluno desenvolve habilidades e torna – se mais autônomo. Assim o professor consegue obter êxito no cumprimento de seu cronograma de ensino e principalmente na sua tarefa social de preparar alunos capacitados para entenderem os acontecimentos ao seu redor e as conseqüências diretas desses acontecimentos em sua realidade.

Segundo Benincá (2001, p.3) exercitar o dialogo na sala de aula, não é uma tarefa fácil, devido a acomodação do professor que não deseja envolver – se realmente. Isso ocorre porque não houve uma reflexão sobre o que realmente é dialogar. E principalmente porque quando o educador está disposto a não apenas falar, mas também a escutar assim fortalecendo o seu comprometimento.

O professor deve elaborar seu método de ensino a fim de que este possibilite aprendizagem verdadeira por parte dos educandos. Segundo Saint – Onge (1999) é o resultado da avaliação que indicará o nível de eficácia do método desenvolvido. Porque os processos de pensamento desencadeados pela aprendizagem real são evidenciados nos resultados positivos da avaliação.

A importante colaboração dos exemplos.

Após as primeiras observações da turma, foi decidido que para atingir bons resultados era preciso optar por aulas mais dinâmicas que envolvessem a todos. Chegou – se a conclusão que trabalhar a Globalização valorizando o cotidiano, poderia propiciar bons resultados. A decisão acertada ficou evidente no período de avaliação feita pelos alunos integrantes do grupo destinado como clientela do estágio, que ocorreu após a conclusão deste.

Porém havia barreiras que precisavam ser quebradas. A turma mostrou-se bastante resistente e descontente com o fato de que o grupo seria cedido para estágio mais uma vez no ano de dois mil e oito (2008). Segundo alguns relatos de alunos e da coordenação pedagógica da escola, nos outros estágios realizados nas disciplinas de Artes e Matemática, teriam ocorrido muitos problemas relacionados principalmente a indisciplina devido ao fato de os discentes não aceitarem a presença dos estagiários alegando que a qualidade do ensino ficava comprometida. Por isso foi preciso buscar com muita cautela uma maneira de aproximação o grupo.

Trabalhar a Globalização por meio de exemplos práticos do dia a dia nada mais foi que a alternativa de estabelecer um vinculo com aprendizagens anteriores, embasando – se em Saint – Onge (1999 p. 41) afirmando que "esse fato que leva o homem a aprendizagem real". Então quando uma nova aprendizagem é estabelecida de forma que esteja vinculada com outra já presente na cognição do educando ele aprende através do significado da estrutura já existente. Tudo o que é experiência é registrado na memória de forma privilegiada por isso é importante utilizar as informações que transmitem experiência.

Na primeira semana, os educandos foram convidados a falar sobre o que pensavam da Geografia e das aulas que haviam sido ministradas ao longo de suas vidas escolares, bem como das expectativas que tinham para as aulas a partir daquele momento. Alem disso foram apresentados recursos que poderiam ser usados nas aulas como imagem, musica e jogos. Foi pedido também, para que o grupo desse sugestões, para tornar as aulas interessantes, pois para a maioria da turma a disciplina de Geografia era "chata" e "sem serventia". Conforme texto escrito por uma aluna:

No primeiro momento a turma mostrou – se com pouca disposição para expressar – se não demonstrando interesse. Mesmo assim, as aulas tiveram seqüência nos mesmos moldes, buscando conhecer a cada dia mais a realidade daquele grupo de pessoas. O que pensavam, onde moravam e que tipos de atividades praticavam no meio social ao qual estavam inseridas. Essa linha de trabalho foi despertando a curiosidade do grupo que estava habituado a uma Geografia que apenas repassava dados e informações o que fica constatado nas palavras de outra aluna: "Até então o conceito de Geografia pra mim era estudar mapas, relevo, países e capitais."

Era visível que adotar a mesma forma de trabalho com a classe usada até o momento acarretaria em fracasso dos objetivos traçados, era necessário deixar de lado a memorização e desenvolver o pensamento e a reflexão. O grupo cedido para o estágio tinha potencial era apenas preciso encontrar o caminho certo para desenvolve – lo.

Na segunda semana de trabalho o grupo já estava mais disposto a colaborar. Demonstrava estar entendendo a proposta que estava sendo desenvolvida, o que foi possível perceber a partir do momento em que começaram a responder aos questionamentos e também a questionar. Isso foi muito importante e que se comprovadona afirmaçãode uma discente :

Foram usados diversos exemplos do dia a dia dos alunos para que eles entendessem de fato a Globalização. Uma das situações utilizadas foi a do impacto da alta do dólar no dia a dia. No inicio a turma foi unânime em opinar que isso não tinha nada a ver com o seu cotidiano. Entretanto quando foram perguntados quantos usavam transporte coletivo ou próprio para locomoverem – se e quanto gastavam mensalmente com locomoção o grupo começou a relacionar os aumentos no preço do combustível com algumas manchetes de jornais levadas para a sala de aula que mostravam porque a cotação do dólar aumenta e assim eleva o preço do petróleo, matéria prima do diesel utilizado em diversos meios de transporte público.

Assim concluíram em seguida que as questões econômicas e sociais mundiais aparentemente tão distantes fazem – se presentes no dia a dia de cada brasileiro por mais pobre que este seja. Dessa forma os educandos foram ampliando seus horizontes e passaram a fazer eles próprios correlações entre o conteúdo que estava sendo trabalhado e suas realidades.

O mesmo ocorreu quando dentro da Globalização foram abordados os temas importação e exportação. Foi elaborada uma lista de produtos agrícolas consumidos no dia a dia, como arroz, trigo e café cotados em moeda estrangeira. Em seguida foram relacionadas a estes produtos alguns problemas climáticos em regiões produtoras dos mesmos que acarretam em escassez e a crise do petróleo, devido a problemas políticos ocorridos no Oriente Médio[1], matéria prima dos combustíveis usados nas maquinas que preparam lavouras e para o transporte dos produtos. A turma logo conseguiu decifrar a cadeia de eventos que levaria ao aumento do preço da base de sua alimentação diária.

Fato importante a ser considerado é que dos quinze (15) educandos que freqüentavam regularmente as aulas pelo menos sete (6) estavam repetindo o segundo (2) ano do Ensino Médio. Segundo Davi "não entendia nada de Globalização", mesmo já tendo visto o conteúdo no ano anterior opinião está compartilhada pelos demais quatro colegas que estavam cursando o segundo ano do ensino médio pela segunda vez.

Saint – Onge (1999) defende que a matéria ensinada pelo professor não é suficientemente interessante para despertar a vontade de aprender dos educandos ainda que esta provoque nele grande interesse. Quando isso acontece à informação é logo em seguida esquecida pelo aluno porque não foram usados métodos de ensino que estimulassem a real fixação do aprendizado por parte do discente.

Não se lembrar de um conteúdo do ano anterior significa que os alunos não apropriaram – se do conhecimento. Suponha – se então que tenha faltado o elo com a estrutura cognitiva dos alunos e que por isso não tenha sido despertada a atenção deles acarretando na eliminação das informações recebidas sobre a Globalização.

A prática do dialogo aliada ao uso de exemplos da realidade dos alunos foram cruciais para o bom desempenho da Globalização nas aulas de Geografia. A participação da turma foi fundamental para que o conhecimento fosse compartilhado na relação professor – aluno. O sucesso alcançado na abordagem realizada ficou comprovado nas palavras dos alunos como pode – se constatar no trecho escrito por Nataniel:

Não é objetivo deste trabalho afirmar que a única forma de obter bons resultados na abordagem da Globalização é a que está sendo defendida no decorrer deste com a utilização do dialogo e dos exemplos. Busca - se tornar público uma experiência que deu certo, mesmo porque, para Saint Onge (1999 p. 39 – 40):

Não existe uma única maneira boa de ensinar, mas existem combinações mais ou menos favoráveis a aprendizagem que não são definitivamente boas ou, mas. Um ensino eficaz em determinado nível e com certos alunos não o será mais em outras circunstancias.Eis por que o profissional de ensino deve adaptar seu ensino (1999 p. 39 – 40) .

A metodologia de trabalho para abordagem da Globalização foi bem sucedida também no que tange a avaliação. O grupo de discentes, alvo do estágio apresentava histórico de baixo rendimento escolar na disciplina de Geografia, tendo apenas seis (6) aprovados na avaliação anterior, até então a única do ano. Na data da segunda avaliação quinze (15) alunos compareceram e apenas dois (2) não atingiram a média. Importante frizar que os alunos reprovados obtiveram menos de cinqüenta por cento (50 %) de presença nas aulas anteriores a avaliação.

Considerações Finais:

Educar é tarefa que exige do professor sensibilidade e comprometimento para que esse busque uma aproximação real de sua turma a fim de conhecer a realidade desta. É necessário considerar cada aluno em sua individualidade conhecendo sua forma de pensar para educar melhor. Isso porque, cada aluno difere do outro mesmo que tenha necessidades semelhantes.

A memória do aluno deve servir como suporte de resgate de experiências para que este venha a pensar a partir delas e não apenas para repetir informações prontas que foram apenas repassadas sem nenhuma reflexão. O educador deve despertar a curiosidade e atenção de seu grupo através de questionamentos que façam sentido para o aluno.

Quando o aluno realmente aprende o conteúdo e a estabelecer relações deste com seu saber próprio a avaliação é apenas uma etapa a ser cumprida no cronograma. Assim a tão temida "prova" passa a ser encarada com naturalidade devido à segurança de que os educandos possuem condições de estabelecerem as conexões necessárias para responder as indagações presentes na avaliação.

A freqüência regular as aulas faz – se necessária ao processo de aprendizagem. A infrequência causa rupturas no processo de assimilação e prejudica o discente de acompanhar o desenvolvimento do conhecimento teórico e das possíveis relações a serem estabelecidas com sua bagagem de saber obtida anteriormente.

A relação professor – aluno deve ser estabelecido na troca de experiências e no dialogo. A sala de aula não deve ser um espaço onde apenas o educador fala e o aluno escuta. O educando não chega à aula com a cabeça vazia ele já adquiriu vivencia e tem experiências que devem ser exploradas.Cabe ao professor a tarefa de escutar e nortear os educandos na busca por conhecimento.

O professor precisa questionar – se diariamente sobre sua pratica sendo capaz de estabelecer mudanças quando essa mostra – se insuficiente para despertar no aluno a vontade de aprender. O método usado pelo professor pode definir o sucesso e ou o fracasso do objetivo de ensinar Geografia que é de tornar os educandos pessoas criticas capazes fazerem analise critica dos fatos que ocorrem ao seu redor bem com reconhecer as influencias diretas ou indiretas destes em suas vidas.

Quando o aluno tem sua curiosidade despertada e passa a concentrar sua atenção nas aulas acontece à apropriação do conhecimento por parte do educando. Quando isso ocorre passa a existir uma aprendizagem real que não será esquecida diferente de quando há unicamente um processo de memorização.

A questão da indisciplina na sala de aula deve ser considerada como um sinal de que a prática adotada não está despertando o grupo, ou membros dele, para que tenha vontade de aprender. Quando o grupo está realmente comprometido com o processo de aprendizagem os problemas disciplinares são revertidos, pois o educando passa a concentrar sua atenção na aprendizagem deixando de praticar atos que não condizem com o que espera de um ambiente escolar.

O envolvimento do aluno no estudo só pode ocorrer quando há motivação e esse deve ser também o objetivo do professor. Ao docente cabe adequar a relação do conteúdo a ser ensinado com as características da realidade do educando aproximando ambas. Essa afirmação permite perceber que a eficácia do ensino está diretamente ligada a pratica adotada pelo educador.

O professor precisa ser persistente quando as dificuldades surgem no caminho do bom desenvolvimento de sua prática. Educar para a cidadania exige mudança de hábitos e mudanças nem sempre são bem vindas, nem todos estão dispostos a mudar. No caso de uma turma é preciso que o grupo compreenda os objetivos para que a mudança transcorra de maneira tranqüila.

Conhecer a realidade do aluno não é tarefa das mais fáceis, primeiro é preciso conquistar a confiança dos educandos. Todas as informações obtidas devem ser cuidadosamente analisadas e pensadas a fim de que possam servir como ponto de apoio para a construção de uma pratica capaz de despertar o interesse do aluno relacionando o conhecimento geográfico aquele que o educando obteve em seu dia a dia.

No entanto o professor precisa compreender que ele tem papel fundamental na formação social dos educandos. Mais que isso é necessário que o educador desvencilhe – se dos vícios da pratica e do comodismo que sobrevém com o passar do tempo. Ele tem que estar consciente de que possui autonomia para gerenciar o curso de sua prática pedagógica podendo estar em constante mudança.

O uso do dialogo na sala de aula pelo professor exige uma maior preparação deste e uma busca constante de atualização e aperfeiçoamento. Quando o educador passa a dialogar com o aluno ele também passa a se expor deixando visíveis suas deficiências e o fato de que não possui todo o conhecimento. Sendo esse um empecilho para o uso do dialogo.

No entanto quando a relação professor aluno constitui – se baseada no dialogo e o docente considera a realidade do aluno como objeto de sua prática acontece a situação ideal para que aconteça a educação de qualidade. Essa educação irá contribuir para que o discente tenha um bom embasamento teórico e desenvolva sua consciência social.

O processo de construção do conhecimento só ocorre quando envolve professores e alunos na mesma proporção. A troca de experiências quando acontece acarreta a reestruturação de saberes já adquiridos e agregação de novos elementos fundamentais a evolução da consciência crítica tanto do docentequanto do educando .

Então o processo de transformação da pratica pedagógica e essencial a professores e alunos. O professor cresce à medida que consegue concretizar um processo de aprendizagem qualitativo eficaz estruturado e baseado no dialogo e no conhecimento da realidade dos alunos, os educandos evoluem também, pois apropriam – se de um saber racional que realmente passa a fazer parte de sua consciência social.

BIBLIOGRAFIA

ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre – imagens e auto-imagens. 6ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 2002

BENINCÁ A praticapedagógica da sala de aulaprincípios e métodos de Uma Ação dialógica. Ed.: Contexto; São. Paulo, 2001.

CALLAI, Helena Copetti, A Geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino?. São Paulo: Terra Livre, n. 16, p. 133 – 152, 1° Semestre. 2001.

GOMES, P. C. C. Geografia e Modernidade. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

PERRENOUD, P. A comunicação em sala de aula: onze dilemas. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. Capítulo 2 – págs. 59-74.

SAINT – ONGE , Michel . O ensino na escola. 1 ed. São Paulo ; Loyola , 1999 .

VESENTINI, J. W. Para uma geografia crítica na escola. São Paulo: Ática, 1992.



[1] Principal região produtora e exportadora de petróleo a nível mundial