O QUE É SER DIFERENTE?

A professora Denise trabalhou conosco a questão da relação entre diferença e identidade. Cada pessoa humana tem sua identidade própria, única. Assim, inevitavelmente e naturalmente se relaciona com o outro, com o diferente. Mas, o que ser diferente? E ser diferente é normal?
Navegando pela internet, encontramos um texto que trata de uma campanha realizada no estado de São Paulo, em setembro de 2010: um desfile de moda para a abertura da Campanha "Ser Diferente é Normal", com o objetivo de quebrar preconceitos em nossa sociedade onde é gritante a injustiça e a desigualdade de grupos. Neste evento destacaram-se as presenças da atriz global, Luísa Tomé, convidada para ser a madrinha, e de modelos "diferentes", portadoras da Síndrome de Down e outras em cadeira de roda, mostrando que todo ser humano é dotado de inteligência e, portanto, tem capacidade e direito de atuar nos mais diversos ramos do mercado de trabalho. Analisando o fenômeno, nos perguntamos? Será que este fato infelizmente não estaria ocorrendo apenas por questões de interesses das médias e grandes empresas, com vistas às exigências legais, bem como o interesse financeiro de muitos artistas? Certo é que a 3IN, uma ONG junto com parcerias, foi quem promoveu o evento. Queremos acreditar que mesmo tendo fins lucrativos (com o envolvimento de uma loja comercial), os participantes foram movidos por interesses humanitários. A questão que levantamos é: todo este altruísmo tem se estendido para as áreas educativas da sociedade como um todo, dada, por exemplo, a porcentagem de negros e pessoas com deficiência em escolas, universidades e mercado de trabalho?...
E as diferenças religiosas? Bem sabemos dos conflitos "religiosos" pelo mundo, que deveriam ser veiculados pela mídia como conflitos fanáticos. Porém, há um erro bastante grave quando se generaliza esta questão, como se toda e qualquer pessoa que se diz cristã fosse na verdade alienada... Destacamos aqui alguns dos cristãos autênticos ao longo da história da humanidade: São Pedro, São Paulo, Papa João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Zilda Arns, e tantos outros milhares de autênticos cristãos no anonimato, que pautaram e pautam suas vidas na doação aos outros. Conheciam e conhecem com propriedade sua identidade cristã em comum e a viveram e vivem autenticamente no convívio com os "diferentes". Vale aqui ressaltar, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica, que os cristãos jamais se opõem à ciência, mas, sobretudo, a valorizam dentro de uma perspectiva de relação entre a fé e a razão. A Canção Nova, uma emissora católica de rádio, TV e internet, é formada por uma comunidade situada na chácara Santa Cruz, em Cachoeira Paulista, no estado de São Paulo e vive pautada na espiritualidade intrinsecamente ligada ao social . Em um programa de TV da emissora, jovens levantaram a questão: "Fala sério, é proibido ser diferente?", referindo-se à discriminação velada que autênticos jovens cristãos sofrem no meio de uma sociedade onde o ter e o prazer prevalecem ao ser, bem como impera uma visão unilateral dos fenômenos sociais, devido ao desconhecimento das identidades dos mais diversos grupos.
Observamos também as injustiças sociais diante das diferenças com relação a: homem e mulher, rico e pobre, nordestino e sulista, brasileiro e norte-americano, etc., numa cadeia de relações onde um mesmo indivíduo possui n identidades dependendo do contexto no qual está inserido, por exemplo: um homem é pai, trabalhador, estudante e praticante de uma religião ao mesmo tempo. O que fazer para a superação deste equívoco da raça humana?
A seguir, um fragmento do texto de Tomaz Tadeu da Silva (2004):
[...] as afirmações sobre diferença só fazem sentido se compreendidas em sua relação com as afirmações sobre a identidade [...]. As afirmações sobre diferença também dependem de uma cadeia, em geral oculta, de declarações negativas sobre (outras) identidades. Identidade e diferença são, pois, inseparáveis [...].
Há neste fragmento o pressuposto de que "se sou o que sou obviamente o outro é que é", ou seja, o diferente também tem sua identidade própria que deve ser respeitada e valorizada... Parece redundante, mas tomemos um simples exemplo: se nos afirmamos brasileiros é pelo simples fato de que precisamos identificar nossa nacionalidade, uma vez que existem outros seres humanos que não são brasileiros. Assim, as diferenças são vistas como riquezas e não barreiras: eu aprendo com o diferente e ele comigo; somos diferentes nas questões física, cultural, religiosa, etc., porém somos iguais na identidade humana, com todos os direitos e deveres inerentes à nossa condição. A questão do preconceito se dá pela ausência de reflexão, pela ignorância cega, pelo egoísmo... Há que se repensar na educação como quebra de barreiras separatistas e excludentes. E a base dela está na educação infantil, uma vez que no simples ato do brincar, evidentemente bem planejado pedagogicamente, a criança constrói em sua realidade conceitos como ética, solidariedade e paz. Imaginemos um grupo de crianças no espaço escolar que tem respeitado seu direito de aprender brincando e participa ativamente do processo; cada criança compreende assim, gradativamente, o mundo ao seu redor, sente-se motivada ao letramento que a capacitará a ler a vida...




Referências

SILVA, Tomaz Tadeu, Identidade e Diferença: A Perspectiva de Estudos Culturais, Editora Vozes, Ed. 5, 2004.