O POBRE PARAGUAI

 Prof. Ivan Santiago Silva 

                Os eventos que culminaram com a queda do presidente Lugo no Paraguai demonstram a fragilidade da estrutura política deste país e que mesmo depois de dois séculos, o Brasil é o vizinho rico e imperialista, que pressiona tanto este como os demais países da América Latina.

                Decorridas algumas décadas após o processo de independência, o Paraguai se industrializou e invadiu a Argentina e o Brasil, no conflito conhecido como a Guerra do Paraguai (1864 e 1870), onde foi formada a Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) e sob o comando brasileiro  o Paraguai foi destruído sendo parte da sua população foi dizimada. O Brasil é o grande vencedor e destruidor deste conflito.

                Depois da guerra, o Paraguai nunca mais se reergueu. Era um país colonizado que tinha se industrializado, que foi destruído e que ficou para sempre sob a influência do Brasil, mesmo com as reclamações argentinas: os brasileiros nunca mais deixaram de se intrometer nas questões internas dos paraguaios. Uma pena ! Justo os brasileiros que sempre reclamaram da interferência de  americanos e europeus!

                Como forma de se aproximar do Paraguai, surge o Projeto da Hidrelétrica de Itaipu Binacional (1973), a maior do mundo até aquela época, construída na fronteira entre os dois países. O Brasil financiou a construção e colocou o Paraguai como sócio e além disso,  compra toda a energia que o vizinho quer vender, contudo os paraguaios pagam o “financiamento” brasileiro até os dias atuais.

                Outro símbolo da “união” entre os dois povos é a “Ponte da Amizade”, que liga os dois  países. Há alguns anos eu cruzei a ponte para conhecer o Paraguai e fiquei perplexo com o que  vi : um país derrotado, vendendo produtos de outras partes do mundo e implorando para os brasileiros comprarem. Conforme eu caminhava os paraguaios seguiam comigo e abaixavam o preço de suas mercadorias.

                Ruas cheias de bancas, caixas, sujeiras, taxis com carros velhos e podres, crianças vendendo produtos contrastando com shoppings e lojas de departamentos que possuíam  paraguaios bem arrumados. Não me conformei e tinha que perguntar para algum paraguaio o que ele achava dos brasileiros, que mais parecem um bando de lunáticos enchendo sacolas e comprando produtos até de crianças (que deveriam estar na escola !).

                 Encontrei um homem de mais ou menos trinta anos em um shopping,  perguntei e a resposta foi a esperada : ele me disse que na fronteira, os paraguaios se submetiam a esta humilhação, mas que 50 ou 80 km de distância os paraguaios não gostavam de brasileiros, pois o Brasil estava marcado na História do Paraguai. O homem era brasileiro, mas vivia no Paraguai desde criança.

                 Recentemente o Brasil exercitou novamente seu poder sobre o Paraguai. Em um ato que viola qualquer princípio democrático, o congresso paraguaio votou uma lei que possibilitou a queda do presidente Lugo em 24 horas. Um absurdo para o mundo, contudo as leis deste país permitem e devem ser respeitadas. Quando se trata de Paraguai, o Brasil não sabe o que é respeito e sob sua tutela, com o apoio de outros membros, suspendeu o Paraguai do MERCOSUL até as próximas eleições, o que atrapalhará a sua economia e consequentemente a pobre população paraguaia.

                Mais uma vez, os paraguaios são prejudicados pela prepotência dos brasileiros. Existe uma frase de Lázaro Cárdenas, ex presidente mexicano que diz  “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”, com relação as interferências dos americanos no México, inclusive com roubo de terras. Vamos adaptar o ditado para o Paraguai “Pobre Paraguai, tão longe de Deus e tão perto do Brasil”. O país do futebol e do carnaval, não é tão bom assim ...