O ILUSTRE ESTRANHO CHAMADO BRASIL

* ivan Santiago Silva 

 

Depois do furacão político desta década, a nação brasileira submergiu no cenário internacional de vez no ano de 2019, agora vista como reacionária e retrógrada pelos povos desenvolvidos, a viver um tempo politicamente inexistente.

Apesar dos grandes arranhões que sofreu, a democracia brasileira existiu relativamente bem entre 1988 e 2013, graças ao predomínio do centro político, que preza em primeiro lugar pela democracia. Assim, apesar das estruturas de corrupção na politica brasileira, foram constituídos diversos governos de centro-direita e centro- esquerda neste período de 25 anos.

O centro é o local do diálogo. Na política, quando se procura o centro, abre-se ao diálogo e se respeitam as instituições (no Brasil, nem sempre) que regem o jogo político. Assim, direita ou esquerda sinalizam que existirão conversações com o lado oposto, mas necessariamente não a aceitação da outra opinião.

            Uma sociedade agressiva, violenta e polarizada em torno de grupos medíocres e frágeis, incendiada por uma imprensa irresponsável, transformou o Brasil de 2013 de potência regional de status global a um simples figurante ou talvez aspirante em 2019. Desta forma, sete anos se passaram desde o abandono do centro politico e do zelo pela democracia, sem diálogo e sem avanços: apenas polarização.

A você leitor de Portugal, Angola, Mocambique ou outra parte do mundo, saiba que no Brasil de 2019 as pessoas são cerceadas e inibidas de se expressar, salvo comunicadores públicos ou intelectuais de renome. De forma geral, os brasileiros possuem políticos de estimação medíocres e falhos, onde apenas conseguem ver o “suposto lado bom” destes líderes.

Essa polarização origina-se na ausência de um sistema educacional ( que foi projetado para ser ineficiente), em famílias historicamente corruptas, no “jeitinho brasileiro” e no amplo distanciamento de valores de todos os tipos: valores cristãos, religiosos em geral, disciplinares ou acadêmicos.  

Em tempos de polarização, o representante do país não representa a nação e sim apenas o grupo que o apoia. Vale lembrar que o Brasil de 2019 é um estranho para o grupo político do centro, pois este não atua mais: não consegue estabelecer o diálogo entre os lados opostos como o fez de 1988 a 2013. O centro brasileiro historicamente não discute com a França, nem se alinha a ninguém.

Assim sendo, o Brasil de 2019 é sim rude e retrógrado, mas seria imensamente injusto colocar culpar o atual presidente brasileiro, uma vez que este processo foi desencadeado por uma massa reacionária, ora ignorante, ora embasada em livros, mas intelectualmente muito fraca.

A fraqueza tem vencido nos últimos sete anos e o Brasil de 2019 é um país fraco, prostrado, sem voz ativa, relativamente exposto a algumas humilhações no plano internacional.

O Brasil de 2019 é um ilustre estranho para a maior parte dos brasileiros, aqueles que acreditam na democracia, na liberdade de expressão, na arte, na construção do conhecimento, na verdade, na justiça e no conhecimento, que ainda não reagem, pois não querem participar da polarização - nem do grupo politico que está, nem do que estava.

 

Ivan Santiago Silva – professor e profissional do mercado imobiliário