O desenvolvimento e a função social da história

Dentre as várias correntes historiográficas, destacam-se três que podem ser considerados as mais importantes dentro do processo de desenvolvimento e evolução da historiografia, o Positivismo, o marxismo e a escola dos Annales. Ambas buscaram em seus métodos e especificidades exercer a função da História na sociedade, sendo esta o dever de possibilitar ao educando, agente social, uma compreensão ativa da realidade, condição para a formação da cidadania.
O Positivismo da origem a História enquanto ciência, por ser marcado pela cientifização do pensamento e do estudo humano tendo como preocupação torná-la algo mais comprovado e científico, pela busca de fatos e pelo estabelecimento das relações precisas entre o documento e a narração, ciência aplicada.Outras características dessa corrente historiográfica é a idealização da neutralidade, isto é,a separação do pesquisador , autor e sua obra,o conhecimento se explica por si mesmo,o estudioso deve recuperá-la,o que requer dos mesmos resultados claros,objetivos,corretos por pregar uma verdade absoluta.
Nessa perspectiva, a História é ciência pura, comprovada, que objetiva uma verdade única, fundamenta-se pra busca de fatos históricos e comprovação, tendo como sujeitos personalidades políticas, religiosas militares. Privilegia o estudo dos fatos passados que são apresentados numa seqüência de tempo linear e progressiva, tendo o historiador o papel de coletar, ajeitar documentos do esquecimento e divulgá-los, nunca interpretar ou emitir opiniões, resultado numa História infantilizada num encadeamento dos fatos isolados.
Aqui a função social da História é defasada, obscura, pois prioriza um processo de ensino no qual o aluno se mostra em sua passividade, sujeito passivo e contemplativo, cópia fiel do objetivo.
Opondo-se ao Positivismo, o Marxismo, apresenta-se em decorrência das circunstâncias, questão antinômica: sujeito/ objetivo/ individual/ coletivo, que levaram a concepção do homem como,simultaneamente,sujeito e objeto da História.O historiador percebeu a influência de seu próprio tempo, concluindo não ser mais possível apegar-se ao rígido objetivismo do século passado.Propôs o abandono dos quatros tradicionais como a divisão cronológica, por exemplo, por um estudo de problemas que conduzisse à fixação de constantes, levando-os a busca foco em si mesmo, isto é, ao homem de modo geral.O que conseqüentemente impõe-se a ele uma inserção na História.
Nessa nova concepção da História, surge uma proposta de ação política articulada a uma idéia global da História da humanidade, onde a economia é vista como base de toda a estrutura da sociedade, numa superestrutura (política e ideológica).Sendo a História em processo descontínuo, relação dialética entre as forças produtivas e as relações de produção, marcada pela luta de classes, conhecida como"motor da história".
Segundo Karl Marx, é preciso não apenas entender o mundo, mas transformá-lo, pois não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.Sendo assim, o historiador ganha nova função, torna-se sujeito investigador sem retirá-lo do contexto histórico, centra análise no coletivo, no social.O aluno ou agente social, perde sua passividade, passando a ser sujeito do processo educativo, interage, deixa de ser visto como folha em branco a ser preenchida.
Com o materialismo Histórico ou Marxismo, a função social da História é exercida, levando o indivíduo a compreender os diferentes processos e sujeitos históricos, das relações que se estabelecem entre os grupos humanos nos diferentes tempos e espaços, partindo do contemporâneo.Daí a sistematização de uma concepção de História articulada à prática revolucionaria, para mudar o presente.
Na terceira corrente historiográfica, a Escola dos Annales há uma aproximação ou complementação do Marxismo, pois também fundamenta-se na integração entre os fatores econômicos, sociais e políticos.Os fatos são construídos pelo historiador, as "fontes" (perdem a prioridade, os documentos escritos, aproveitando tudo que é do homem, dando origem a uma História-problema).
O ponto mais importante da inovação ocorreu na metodologia, quando Marc Bloch e Lucien Febvre procurava mostrar o "como" fazer a história-problema, a formulação de hipótese pelos historiadores, não necessariamente ligada a períodos de tempo ou espaços fechados.Outras características importantes são a divisa do caráter cientifico da História e as relações ou sua inserção no contexto com outras ciências, humanas, aproveitando métodos, técnicos de pesquisa e temáticas para as investigações históricas, como a Arqueologia, a Arte e a Sociologia, por exemplo.
A idéia de História global, leva em consideração todos os elementos constitutivos de uma sociedade, em sua transformação ao longo do tempo, capaz de compreender todas as dimensões possíveis da vida social.Tal concepção dá ênfase, nas articulações históricas sociais, econômicas e culturais mais gerais, ao invés da concentração da pesquisa nos indivíduos e na incineração de fatos, dando abertura à pesquisa em todos documentos disponíveis: escritos, visuais, sonoros, vestígios arqueológicos, paisagens, pictográficos etc.
Além de aplicar a temporalidade da pesquisa, evitando restringir-se de maneira fixa e estudo de um problema histórico, enfatizar é a responsabilidade social do historiador, em seu papel na articulação do presente com o passado, pois o homem é sujeito do processo de construção da história, ou seja,o homem é objeto para a História,porém,não"abstrata,eterno,de fundo imutável e perpetuamente idêntico",mas tomando no quadro das sociedades das quais é membro.
Sobretudo, assim como o historiador ganha novo papel nessa concepção renovada do ensino de História, o aluno também se torna sujeito do processo ensino-aprendizagem, construtor do seu conhecimento.Passa a ser preocupação, levar o aluno a se sentir inserido no processo de construção e produção de diferentes conhecimentos.Cabe ao professor mediá-los no processo, não subestimá-los, ou nomear-se dono do saber ou transmissor de conhecimentos.
Em resumo, o grupo dos Annales, em constante renovação, firmou-se por meio de algumas questões, dentre as quais se destacam: a atualização do método histórico, a cientificidade da história por intermédio do problematização e da elaboração de hipóteses, a concepção do homem em sua relação social, o conceito mais amplo de documento (artefatos da cultura),a inserção do historiador em seu tempo histórico com destaque para a história de longa duração.
Podemos afirma que a historiografia tem sua renovação marcada pela influencia dos Annales e do Marxismo, tendendo, então, a uma História total, voltada para o coletivo, com abertura para as demais ciências do homem e apresentado maior interesse pelas estruturas do que pelo aparente ou superficial.
Essas duas correntes têm como ponto comum a crítica e rejeição de uma história dita positivista e propõem uma renovação dos métodos históricos,ora ardor e desconfiança recípocra(BOIS,1990).
Segundo Cardoso e Brignoli (1988, pág = 96 e 97), outros pontos em comum nas duas correntes são:
1- a exigência de uma síntese global explicativa das"articulações entre os níveis que fazem da sociedade humana uma totalidade estruturada,e as especificidades do desenvolvimento de cada nível";
2- "o respeito pela especificidade histórica de cada período e sociedade;
3- a aceitação da inexistência de limites estreitos entre as ciências sociais;
4-"a vinculação da pesquisa histórica às preocupações do presente''.
Sendo assim, de acordo com o pensamento de Cardoso e Brignoli (1988), foi o movimento que mais influenciou a construção de uma História caracterizada pela cientificidade e aberta ao aproveitamento das conquistas alcançadas em outros campos do conhecimento ligados ao humano e ao social.
Essas duas correntes provocam grandes transformações na proposta de ensina, inclusive a incorporação de diferentes linguagens, introduzida pelo trabalho interdisciplinar, a compreensão do que alunos e professores são sujeitos históricos a estrutura de organização dos livros didáticos, utilização de pastas com pesquisa feita pelos alunos, o fornecimento de fontes como fotografia, obra de arte, música, poema, filmes, excursão a museus etc, pelo professor.
Infelizmente ainda, sofremos influencia do Positivismo em nossas escolas, principalmente na escola de livros didáticos e a ênfase dada ao mesmo.Por outro lado fica a certeza de que de modo geral, a influencia maior e do Marxismo e da Escola dos Annales, pois hoje mais do que nunca busca-se uma História global ou uma História-problema.
Enfim, só através das propostas do Marxismo e dos Annales é possível atender aos anseios da História, ou seja, fazer com que sua função social de criar condições para o desenvolvimento e a formação da cidadania seja concretizado.

REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Maria Josefa de Carvalho. Introdução aos estudos históricos. UNIVERSIDADE NORTE DO PARANA. Licenciatura em História Módulo I
FERRAZ, Francisco César Alves. Historiografia. In. UNIVERSIDADE NORTE DO PARANA. Licenciatura em História Módulo II
FONSECA, Selva G. Didática e prática de ensino de História. SP: Papirus, 2003 p 41.
FEBVRE, Lucien. Revolução Historiográfica Combates pela história. Lisboa:
Editorial Presença, 1989.(p.31,32)
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. Ensino e História. O uso escolar do documento histórico.(n. História e Mitologia,n 2, UFPR. S/d.)
MARX, Karl. Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política. 1859.