INTRODUÇÃO

 

O envelhecimento da população mundial é um fenômeno que vem ocorrendo em grande escala nas ultimas décadas, isso não ocorre apenas nos países desenvolvidos, mas também naqueles em desenvolvimento, sendo necessárias condutas e mudanças no que diz respeito à saúde (1).

Decorrente do processo de envelhecimento o número de doenças crônicas degenerativas vem aumentando, tendo como conseqüência quadros de desestabilização orgânica que levam à necessidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para atender as demandas desses doentes (2).

Sendo a UTI um local para tratamento de pacientes graves com prognóstico de vida que precisam de cuidados especializados por um determinado período, a admissão de pacientes idosos em UTIs é em alguns centros é considerada critério para a recusa desses doentes na Unidade, na literatura, não existe consenso sobre a questão de investir ou não em pacientes idosos particularmente quando requerem internação nas UTIs (3).

A humanização em UTI é um tema controverso, por ser muito abrangente engloba vários fatores relacionados aos indivíduos e suas necessidades pessoais, a maneira de ver as coisas, a assistência humanizada ao paciente e a família do paciente implica em compreender o processo de mudanças fisiológicas, emocionais e sociais que ocorre quando acontece a admissão de uma pessoa internado na UTI (3). 

A equipe de saúde deve estar capacitada para prestar os cuidados tecnológicos que contemplem as necessidades de cada indivíduo, o cuidado será humanizado se houver cumplicidade entre os clientes idosos e os profissionais em defesa da vida e da qualidade da assistência, com a utilização daquilo que de melhor a tecnologia em saúde nos oferece: o nosso saber, o nosso conhecimento, a nossa relação com o outro (3).

A enfermagem encontra dificuldades entre acompanhar o avanço tecnológico existente e transformar seu fazer técnico em uma arte humanizada, entrando, assim, na vivência do outro, um grande problema para a família das pessoas com doentes idosos internados na UTI, este avanço tecnológico em favor da vida muitas vezes é interpretado como maus tratos.

            Devido a estes fatores acredito que possamos atender também a família do paciente esclarecendo suas dúvidas e amenizando a angústia e o medo da morte que os familiares tem quando um parente seu esta internado na UTI.

            A escolha do tema, humanização ao idoso em terapia intensiva, é fruto de reflexões e experiências em campos de estágios, sobre o modo de como é o cuidado ao idoso nessas unidades. Somado a isso está o fato de a hospitalização representar, para muitos idosos, um momento de fragilidade, insegurança e medo, intensificados quando ocorre em um ambiente de terapia intensiva, sendo que a possibilidade da morte se faz mais presente pela gravidade dos indivíduos, neste setor as rotinas, muitas vezes, são rígidas e inflexíveis. Essas e outras características da UTI fazem com que a referida unidade seja considerada um dos ambientes mais estressantes do hospital, e totalmente diferentes do ambiente residencial do idoso (3).    

Este trabalho teve como objetivo analizar os avanços tecnológicos disponíveis para manter a vida nas unidades de terapia intensiva e o cuidado humanizado ao idoso e a família em uma unidade de terapia intensiva.

 

Alzheimer's disease is the most common type of mental Il  METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, cujo objetivo é identificar, na literatura, as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde, com relação ao cuidado humanizado, no âmbito hospitalar, especificamente em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) local culturalmente desconhecido, incerto e temível aos pacientes e seus familiares. Esta revisão também visa contribuir para a melhoria da assistência ao paciente idoso internado. Humanizar tem como objetivo aprimorar as relações humanas em todos os níveis de atendimento, levando à melhoria do relacionamento entre equipe de saúde, pacientes e familiares. O acolhimento é uma estratégia usada para se obter um melhor atendimento ao paciente, visando estabelecer vínculos de credibilidade e confiança, onde o profissional de saúde deverá assumir uma postura adequada, capaz de atender a todas as necessidades.Este estudo terá uma abordagem de pesquisa qualitativa e revisão bibliográfica em artigos que referenciam o avanço tecnológico e o cuidado humanizado ao idoso em UTI.

 

 

CONTEXTUALIZAÇÃO

As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são unidades complexas, destinadas ao atendimento de pacientes graves, que demandam espaço físico específico, recursos humanos especializados e instrumental tecnológico avançado, o que as tornam unidades de alto custo. Dessa forma, torna-se necessária a definição de critérios de internação e alta de pacientes na UTI que considere os diversos aspectos envolvidos na indicação do tratamento intensivo, com vistas a beneficiar o paciente e otimizar recursos (10).

Nesse sentido, a idade é um dos fatores a serem considerados, uma vez que traz questionamentos quanto à aplicação de recursos na UTI e a relação custo-benefício nessas unidades. A população está envelhecendo, e com isso o número de pessoas com doenças crônico degenerativas vêm aumentando (2), levando a agravos à saúde com conseqüente necessidade de intervenções que requerem internação na UTI (10).

O envelhecimento da população mundial é um fenômeno que vem ocorrendo em grande escala nas ultimas décadas. Esse fenômeno ocorre não apenas nos países desenvolvidos, mas também naqueles em desenvolvimento, sendo consideráveis as repercussões na sociedade, particularmente no que diz respeito à saúde. Decorrente desse processo, o número de doenças características dos idosos aumenta, tendo como conseqüência quadros de desestabilização orgânica que levam à necessidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para atender as demandas desses doentes (10-11).

As UTIs são unidades que requerem equipamentos de alta tecnologia, espaço físico apropriado e pessoal altamente qualificado, estudos apontam que o custo da mão-de-obra especializada de enfermagem é uma das principais fontes de consumo de recursos nesse ambiente, daí a necessidade de adequado dimensionamento de pessoal que leve em conta as demandas de cuidados dos pacientes, com vistas ao uso racional de recursos, estudos neste  sentido, visa conhecer qual é a participação dos idosos nesse contexto e até que ponto os pacientes desse grupo, de faixas etárias progressivas, consomem maior carga de trabalho de enfermagem para seus cuidados(3).

No Brasil, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais aumentou de 6,7% em 1990 para 8,1% em 2000; e as projeções do Instituto Brasileiro de Geogra­fia e Estatística sugerem que essa população chegue a 64 milhões de pessoas em 2050, o que corresponderia a 24,6% do total de habitantes. Essa tendência mun­dial vem alertando para a necessidade de melhorar os recursos em saúde, principalmente no que tange às medidas consideradas de alto custo, uma vez que os idosos são os maiores consumidores.

Com relação aos custos em UTIs, nos Estados Unidos, de 989 bilhões de dólares gastos em serviços de saúde, 14%, ou seja, 70 bilhões de dólares são gastos com cuidados intensivos. Pacientes com mais de 65 anos somam 28% do total de custos nas UTIs, sendo que 77% desses custos ocorrem no último ano e 40% no último  mês de vida (4). Nesse contexto, a admissão de pacientes idosos em UTIs é tema controverso, sendo a idade, em alguns centros, considerada critério para a recusa desses doentes na Unidade (5-6).

Em países ocidentais, a percentagem de indivíduos acima de 65 anos represen­ta 18% da população geral, respondendo por 45,5% das admissões hospitalares. Em relação a diárias de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), cerca de 60% são consumidas por indivíduos acima de 65 anos de idade. Em pacientes acima de 75 anos, os custos por diária de UTI chegam a ser sete vezes superior, quando comparados com os de pacientes com idade inferior a 65 anos (3).

Na literatura, não existe consenso sobre a questão de investir ou não recursos em pacientes idosos internados em um hospital, particularmente quando requerem internação nas UTIs. A mortalidade desses pacientes é alta, principalmente quando associada ao uso de ventilação mecânica invasiva, chegando a 92% entre os idosos com mais de 75 anos. A idade média dos pacientes de UTI tem aumentado nos últimos anos e aumentará ainda mais com o envelheci­mento da população geral. Vários estudos demonstra­ram a relevância dos cuidados da Medicina Intensiva dis­pensados a pacientes geriátricos (7).

Este cenário justifica a preocupação não apenas com o amparo logístico ao idoso grave; mas também com o gerenciamento econômico e a real efetividade do su­porte intensivo nesta população, buscando melhorar o atendimento ao idoso crítico.

Assim, é fundamental analisar a demanda de trabalho de enfermagem em relação a essa população, buscando identificar os fatores a ela referidos para que a idade não seja fator de discriminação no atendimento na UTI (7).

Somado a isso está o fato da hospitalização representar, para muitos idosos, um momento de fragilidade, insegurança e medo, intensificados quando ocorre em um ambiente de terapia intensiva, no qual se dá ênfase ao conhecimento técnico-científico e a procedimentos técnicos para o atendimento biológico, com vistas a manter o ser humano vivo; local em que a possibilidade da morte se faz mais presente pela gravidade dos indivíduos; e setor cujas rotinas, muitas vezes, são rígidas e inflexíveis, os ruídos são constantes e as situações emergenciais estão sempre presentes. Essas e outras características da UTI fazem com que a referida unidade seja considerada um dos ambientes mais estressantes do hospital, e totalmente diferente do ambiente residencial do idoso. O cuidado em saúde ocorre nesse conturbado ambiente de desconforto, impessoalidade, falta de privacidade, dependência da tecnologia dura (equipamentos tecnológicos), isolamento social, dentre outros. O cuidado é, na maioria das vezes, mecânico e desprovido de atenção aos sentimentos do idoso e de seus familiares, percebendo-se, ainda, que a falta de atenção às especificidades desse idoso ocorre, inclusive, quando não é oferecida aos familiares a possibilidade de ficarem mais tempo junto ao paciente internado na UTI. Outro fator é em relação à entrada do idoso sozinho na UTI enquanto visitante, o que reforça a falta de atenção às suas características pessoais (17).

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O processo de envelhecimento

O processo de envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, ao longo do qual ocorrem alterações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas. Em sua decorrência, modifica-se a capacidade de adaptação do organismo às agressões internas e externas, ocasionando deterioração progressiva. As agressões externas provocadas pelo ambiente da UTI, devido as suas características já descritas, podem potencializar as dificuldades de reação orgânica e psicológica do idoso, por isso, deve-se requerer profissionais

atentos e habilitados para o atendimento às suas especificidades (16). O envelhecimento do organismo como um todo está relacionado com o fato das células somáticas do corpo irem morrendo uma após outra e não serem substituídas por novas como acontece na juventude. O motivo é que para a substituição poder acontecer, as células somática se dividem para criarem cópias que vão ocupar o lugar deixado vago pelas que morrem. Em virtude das multiplas divisões celulares a célula individual resiste ao longo do tempo, para esse efeito, o telómero (extensão de DNA que serve para a sua proteção) vai diminuindo até que chega a um limite crítico de comprimento, ponto em que a célula deixa de se dividir envelhece e morre com a conseqüente diminuição do número de células do organismo, das funções dos tecidos, orgãos e  o aparecimento das chamadas doenças da velhice. Existe uma enzima natural (telomerase) em todos os organismos vivos que está encarregada de proceder à manutenção dos telómeros. Por cada divisão da célula acrescenta a parte do telómero que se perde em virtude da mesma, de modo que o telómero não diminui e a célula pode-se dividir sempre que precisa. O que acontece é que ela faz essa função unicamente nas células germinativas fazendo com que estas sejam permanentemente jovens independentemente do organismo ser já velho. Devia fazer o mesmo nas células somáticas do organismo, mas, isso não acontece. As células somáticas têm o gene da telomerase mas não a produzem pois, este não está activado. Atualmente a ciência já consegue activar a telómerase e criar células saudáveis imortais. Revistas científicas já trouxeram artigos sobre este assunto. O envelhecimento pode ser entendido como a consequência da passagem do tempo ou como o processo cronológico pelo qual um indivíduo se torna mais velho. Esta tradicional definição tem sido desafiada pela sua simplicidade. No caso dos seres vivos relaciona-se com a diminuição da reserva funcional, com a diminuição da resistência às agressões e com o aumento do risco de morte. O ser humano caracteriza-se por um processo biopsicossocial de transformações, ocorridas ao longo da existência, suscitando diminuição progressiva de eficiência de funções orgânicas biológica, criação de novo papel social que poderá ser positivo ou negativo de acordo com os valores sociais e culturais do grupo ao qual o idoso pertence socio-cultural; e pelos aspectos psiquicos vistos tanto pela sociedade quanto pelo próprio idoso.

Em biologia, “senescência” é o processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a este processo. Este conceito se opõe à senilidade, também denominado envelhecimento patológico, e que é entendido como os danos à saúde associados com o tempo, porém causados por doenças ou maus hábitos de saúde. Envelhecimento ou senescência celular é o fenômeno em que células isoladas demonstram uma habilidade limitada de se dividirem em um meio de cultura, bem como as alterações bioquímicas elucidadas ou não associadas a esta limitação. Senescência orgânica é o envelhecimento do organismo como um todo, ligado, entre outros fenômenos, ao envelhecimento celular. O envelhecimento do organismo é geralmente caracterizado pela diminuição da capacidade de responder a desafios à função orgânica. Estes desafios em geral oneram a capacidade funcional de nossos órgãos e sistemas, que diminui com o passar dos anos. De forma interessante, em indivíduos jovens e saudáveis, esta capacidade funcional se encontra muito além do necessário para o quotidiano, de forma que existe uma denomidada reserva funcional; o envelhecimento fisiológico ou normal pode também ser entendido como uma diminuição progressiva desta reserva funcional, de forma a diminuir a capacidade de resposta a desafios. Esta diminuição na capacidade de manter a homeostase do organismo tem sido denominada homeostenose e está ligada a riscos progressivamente maiores de doença ou perda da capacidade funcional. Por esta razão, a morte é a conseqüência final do envelhecimento, mas vale notar que a diminuição das reservas funcionais em seres humanos é lenta e progressiva, sendo compatíveis com a vida saudável em idades tão avançadas como a dos centenários. É o stress adicional das doenças d crônicas e dos maus hábitos de vida; como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade, o grande vilão para a saúde do idoso: ao atingirem negativamente uma reserva funcional já normalmente diminuída em relação ao jovem que estas causam insuficiências orgânicas em idades menos avançadas. Alguns pesquisadores trataram no passado o envelhecimento como mais uma doença. No entanto, esta visão está cada vez menos arraigada nos meios científicos, à medida que a presença deste fenômeno se demostra em praticamente todos os seres vivos e a genética demonstra estar relacionada pelo menos em grande parte ao mesmo.

A hospitalização do idoso.

A hospitalização representa, para muitos idosos, um momento de fragilidade e de medo, pois além do sofrimento da sensação desagradável e da insegurança que a doença ocasiona, esse paciente irá necessitar da atenção de um conjunto de trabalhadores da saúde para intervir no processo e garantir a solução do mesmo. Nesse momento de fragilidade, esse indivíduo torna-se um depositário dos saberes estruturados da equipe, sendo tratado de forma impessoal e muitas vezes descompromissada, sendo que, para mudar essa situação, é necessário qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros humanitários de solidariedade e de cidadania (15).

Quando a hospitalização ocorre em um ambiente de terapia intensiva, a probabilidade de intensificação da fragilidade, do medo e da insegurança do idoso é ainda maior, requerendo, para tanto, profissionais atentos e comprometidos com a sua objetividade e subjetividade (15).

Os dados do Ministério da Saúde (2001)13 apontam que em 2025 seremos um país com um total de 31,8 milhões de idosos. Fazendo a transposição desses dados para aquilo que nos diz respeito ao paciente idoso

na terapia intensiva, chamamos a atenção ao fato de que os referidos pacientes representam porcentagem cada vez maior das internações em UTI.

Os principais motivos que ocasionam a hospitalização do idoso em uma UTI são o pós operatório imediato ou tardio de cirurgias de emergência ou grandes cirurgias eletivas, afecções cardiovasculares, afecções respiratórias e traumas.

 

A equipe de saúde e o idoso em UTI.

            A equipe de saúde tem um importante papel com o idoso hospitalizado na UTI, tanto para garantir o equilíbrio das suas funções orgânicas e emocionais, como para auxiliar o mesmo no enfrentamento e aceitação da internação. Não obstante, é essa mesma equipe que, muitas vezes, propicia o desenvolvimento do processo de despersonalização e despojamento desses pacientes, sendo que essas situações precisam ser repensadas no sentido de se buscar mecanismos que possam modificá-las. Acreditamos que uma relação empática, uma assistência humanizada e um comprometimento com o cuidado

personalizado contribuirão positivamente para a adaptação do indivíduo à UTI, favorecendo o seu equilíbrio físico e emocional. É importante ressaltar o trabalho de equipe baseado na cooperação dos diferentes saberes partilhados

por todos, levando ao enriquecimento dos profissionais configurado na realização de um cuidado não centrado no médico, mas sim no paciente, interrelacionando os saberes da cada profissão, ou seja, um trabalho interdisciplinar para o alcance de um objetivo único: o cuidado com qualidade ao cliente de UTI, em particular ao idoso.

A enfermagem se depara com a dificuldade entre acompanhar o avanço tecnológico existente e transformar seu fazer técnico em uma arte humanizada, entrando, assim, na vivência do outro. Entendendo que a família é a organização social que forma o indivíduo e que este, num processo de hospitalização, não deve ser considerado isolado. Considerando ainda que a comunicação seja o instrumento básico do cuidado em enfermagem e que seu objeto de cuidado é o homem, este trabalho objetivou compreender como ocorre o processo de comunicação e como acontece a assistência de enfermagem para familiares de pacientes internados na UTI.

 

 

Concepções de tecnologia

A crise na saúde reflete-se no atendimento oferecido à população, cujos traços mais evidentes são a impessoalidade e o descompromisso dos trabalhadores da saúde. Salienta que é necessário alterar essa forma de trabalhar e produzir ações para minimizar o sofrimento do usuário. Produzir tecnologias  é buscar produzir “coisas” que tanto podem ser materiais como produtos simbólicos, porém, elas devem satisfazer às necessidades. Quando ele fala em tecnologia, não está se referindo exclusivamente a equipamentos, máquinas e instrumentos, mas também a certos saberes constituídos para a geração de produtos, inclusive para organizar as ações humanas nos processos produtivos, até mesmo em sua dimensão inter-humana. A  tecnologia está nos diferentes saberes que procuram ler o nosso mundo humano do ponto de vista da saúde e da doença, do normal e do patológico, da vida e da morte, buscando construir procedimentos eficazes de intervenção nesses processos (22,23).

O saber tecnológico é o saber fazer, é  o que deve ser feito antes, como deve ser feito, quando se deve esperar para realizar os atos seguintes da produção, e implica em inteligência e capacidade inventivas. No saber tecnológico, há a convivência do trabalho morto e do trabalho vivo, simultaneamente, na produção concreta do produto imaginado. As tecnologias são classificadas em duras, tecnologias leve-duras e tecnologias leves.

Tecnologias duras são entendidas como aquelas constituídas por equipamentos do tipo máquinas, instrumentais, normas, rotinas, estruturas organizacionais. Estão relacionadas ao instrumental, geralmente vinculadas à

mão do profissional ou ao fazer técnico, como por exemplo, o estetoscópio, o oxímetro, entre outros. Tecnologias leve-duras são os saberes estruturados, como a fisiologia, a anatomia, a psicologia, a clínica médica e cirúrgica e tantos outros saberes que atuam no processo de trabalho. Já, as tecnologias leves são as implicadas com o conhecimento da produção das relações entre sujeitos, pois estão presentes no espaço relacional trabalhador-usuário, e só se materializam em atos. São as tecnologias de acesso, acolhimento, produção de vínculo, de encontros, de subjetividades (22,23,24).

Ainda consoante o referido autor, as tecnologias leves, tanto o acolhimento quanto o acesso, precisam deixar de ser problemas de recepção e tornar-se objeto da prática de toda a equipe de saúde, sendo que o autor entende por acolhimento as relações humanizadas e acolhedoras, que os trabalhadores e o serviço devem ter com todos os usuários. O estabelecimento de vínculos entre trabalhadores e usuários do serviço em saúde requer responsabilidade e compromisso da equipe para com os tipos de problemas/necessidades que esses usuários apresentam (24).

Ao trabalhar tal tema, nos faz perceber que é necessário mudar o modo de cuidar, em terapia intensiva, do idoso ali hospitalizado, pois esse cuidado é centralmente organizado a partir de problemas específicos, dentro da ótica hegemônica do modelo médico, que subordina claramente a dimensão cuidadora a um papel irrelevante e complementar. Talvez essa atitude pouco acolhedora dos profissionais de saúde seja decorrente, também, de uma acomodação do modo organizacional do trabalho nesse setor, no qual imperam

as tecnologias dura e leve-dura. Ao abordar o acolhimento, no espaço das relações na UTI em sua tese de doutorado, Nascimento (2003,p.112) coloca que o trabalho rotineiro “robotiza e aliena o trabalhador. O distanciamento entre trabalhador e o doente e seu familiar ocorre com a maioria dos trabalhadores e, quando existe uma aproximação, esta ocorre de forma rápida e superficial, sem caracterizar-se como diálogo, presença e acolhimento” (22,24).

Neste sentido, no trabalho em UTI, não há espaço para a expressão da subjetividade do indivíduo hospitalizado e tão pouco de seus familiares, ficando assim preso nas configurações tecnológicas dos processos de trabalho, comandados pelos saberes estruturados, pelas normas, pelas máquinas, pelos procedimentos. Assim, a reorganização da prática de saúde e especificamente

da prática de enfermagem se faz necessário, pois os profissionais estão habituados a controlar sintomas da doença e deste modo pode-se correr o risco de continuar praticando o modelo curativo com rótulo de promoção da saúde. O trabalhador se caracterizará por colocar seu saber a disposição da coletividade, construindo tecnologias leves que possibilitem a satisfação do usuário e a realização do trabalho humanizado. Isso é mudança de postura,

a qual significa mudança de paradigma, implicando na transformação da maneira de ver o mundo de cada trabalhador, na alteração das normas das instituições e na distribuição de poder (23).

 

 

O cuidado ao idoso em UTI

No Brasil, as UTIs surgiram na década de 70, se difundindo rapidamente, sendo hoje quase impossível a ausência dessas unidades nos hospitais de médio e grande porte, principalmente nas principais cidades de nosso país. Essa expansão gerou a necessidade de trabalhadores qualificados e especializados, tendo em vista os aparatos tecnológicos utilizados nessa área. O trabalho direcionou-se ao preparo dos trabalhadores para utilizarem as

tecnologias disponíveis (duras e leve-duras), tornando-se impessoal e muitas vezes desprovido de sentimentos, ou seja, desumanizado. Além do mais, o estresse que envolve a equipe, a presença constante da morte, que “ronda” diuturnamente esse setor, e a grande valorização atribuída às tecnologias duras e leve-duras, podem propiciar a desumanização da assistência pela não utilização das tecnologias leves. A desumanização no atendimento deve-se a alguns fatores como: “as pessoas são desumanizadas quando se tornam isoladas em um ambiente estéril; quando são tratadas como coisas ou objetos sem sentimentos; e/ou quando são tratados como pessoas sem opção” (15).

A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB,2002) ressalta que a humanização é um processo que envolve todos os membros da equipe da UTI, sendo que a responsabilidade da referida equipe se estende para além das intervenções tecnológicas e farmacológicas focalizadas no paciente, incluindo avaliação das necessidades dos familiares, grau de satisfação destes sobre os cuidados realizados, além da preservação da integridade do paciente como ser humano. Essas situações precisam ser repensadas no sentido de se buscar mecanismos que possam modificá-las, ou seja, sair de um estado de trabalho fragmentado, para um outro em que os atores envolvidos possam ser sujeitos em um repensar dialógico. Diante disso, pode-se perceber a necessidade urgente de se modificar essa situação, desenvolvendo tecnologias leves para o cuidado em saúde do idoso em uma UTI(15).

No cuidado realizado pela equipe de saúde em UTI, conquanto exista a necessidade de focalizar o sensível, predomina o cuidado direcionado aos aspectos físicos ou seja, a manutenção e o controle das funções vitais. O cuidado em saúde deve se ater ao aspecto humanístico e relacional, sendo que na prática o cuidado ao idoso em UTI é norteado pelo paradigma positivista que, dentre suas características, assume a existência de uma realidade a qual pode ser apreendida através de leis e mecanismos naturais imutáveis, cuja postura básica é reducionista e determinista. A adoção desse modelo para realizar o cuidado em UTI tem dificultado a relação dos trabalhadores da saúde com o paciente hospitalizado e seus familiares, sendo a relação entre ambos verticalizada e centrada no conhecimento estruturado, nas normas e nas rotinas. Os trabalhadores, adotando esse enfoque positivista, valorizam pouco a relação humana com o paciente hospitalizado e seus familiares, tornando-a

simplificada e fragmentada(15).

O trabalho na UTI deve enfocar não apenas a competência técnica para manusear a tecnologia dura e levedura utilizada para o cuidado, mas também, a qualificação dos trabalhadores para lidar de maneira mais humana com os indivíduos que ali se encontram e seus familiares (tecnologias leves-acolhimento), como também com os demais trabalhadores desse local e instituição. O trabalho na UTI é multiprofissional e não interdisciplinar, no qual cada categoria faz a sua parte, compartimentalizado, cada grupo profissional se organiza e presta parte da assistência de saúde separada dos demais, muitas vezes duplicando esforços e até tomando atitudes contraditórias aos demais profissionais que participam da assistência, subordinando-se às decisões médicas, mas cada categoria profissional mantém certa autonomia de avaliação e tomada de decisões.

Quando isso não ocorre, há reflexos diretos na qualidade dos serviços prestados. Torna-se importante, então, “ampliar os espaços de ação em comum e mesmo a cooperação entre os profissionais, levando a um enriquecimento do conjunto das intervenções em saúde, tornando-as mais públicas e comprometidas com o interesse dos usuários” ( 23).

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cuidados de saúde destinados a pacientes idosos têm sido assunto freqüente na literatura durante os úl­timos anos. O crescimento do número de pessoas com 60 anos ou mais, bem como da expectativa de vida, traduz um aumento nas admissões de pacientes nes­sa faixa etária nas UTI. Com isso, as comorbidades, a função cognitiva e o estado funcional passam a ser componentes importantes dos cuidados (6). Dado o alto custo desses cuidados intensivos e o núme­ro crescente de pacientes idosos graves necessitando de UTI, é preciso avaliar os fatores relacionados à sua evolução.

Vale acrescentar que o processo de mudança de comportamento que idealizamos para a equipe, visando o cuidar mais humanizado, é lento. No entanto, não se deve desistir ou desacreditar, mas deve-se buscar formas alternativas para a realização do trabalho. O próprio estatuto do idoso (Brasil, 2003)17 em seu artigo 18 coloca que “as instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para atendimento ao idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores e grupos de auto-ajuda”. Observa-se, por conseguinte, a necessidade urgente de se desenvolver propostas educativas para os trabalhadores de saúde, em particular para os que desenvolvem seu trabalho no cenário das UTIs, pois novas modalidades de assistência vão ganhando relevância, em particular o cuidado gerontológico, em virtude de sua significância na saúde pública mundial, requerendo, para tanto, novas competências profissionais para atender essa demanda, propondo transformações e desafios necessários a serem “enfrentados por quem luta pela saúde como bem público e pelo trabalho em saúde como tecnologia a serviço da vida individual e coletiva” Acreditamos na importância de desenvolver, com os trabalhadores de saúde, tecnologias para aprimorar o cuidado prestado ao idoso hospitalizado em UTI. Consideramos relevante pensar de que maneira seria possível contribuir para mudar este contexto. Desenvolver tecnologias de cuidado para propiciar aos trabalhadores a adoção de uma postura de maior aproximação com o idoso hospitalizado, sustentado numa relação dialógica, provavelmente será uma alternativa. Temos como tese que o idoso hospitalizado em UTI é um ser plural e, para cuidá-lo é necessário haver inseparabilidade de todos os conhecimentos das diversas disciplinas (22,23). Desta forma, espera-se que o presente estudo venha alertar aos profissionais de saúde sobre a necessidade de mudança no seu modo de agir, sobretudo no ambiente de terapia intensiva, proporcionando aos pacientes uma assistência mais digna e humanizada.

 

 

 

 

 

 

 


 

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12. Carvalho Filho & Paschoal (apud Oliveira et al. (2003, p.15)

 

 

13. Ministério da Saúde (2003)

 

 

14. Brasil. Lei n° 8842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos.htm>. Acesso em: 20 ago. 2002.

 

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16 - Sitta MC & Jacob Filho W Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara koogan; 2002. P.740-3.

 

 

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18 - Pires D. A estrutura objetiva do trabalho em saúde In: leopardi MT organizadora. O processo de trabalho em saúde: organização e subjetividade. Florianópolis: Papa-Livros; 1999. P.32-7.

 

19 - Alvarez AM. Tendo que cuidar: a vivência do idoso e sua família cuidadora no processo de cuidar e ser cuidado em contexto domiciliar. Florianópolis: UFSC, 2001.

 

20 - Duarte YAO, Diogo MJD. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu; 2000.

 

 

 

21 - Brasil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Disponível em:  https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/2003/L10.741. htm> Acesso em: 22 jun. 2011.

 

 

22 - Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: Merhy EE, Onocko, R organizadores. Práxis en salud: un desafío para lo público. São Paulo: Hucitec; 1997a. p. 71-150.]

 

23 - Merhy, EE. O SUS e um de seus dilemas: mudar a gestão e a lógica do processo de trabalho em saúde (um ensaio sobre a micropolítica do trabalho vivo) In: Fleury S organizadora. Saúde e democracia a luta do CEBES. São Paulo: Lemos; 1997. p. 125-42.

 

24 - Merhy EE. Saúde e cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec; 2002.