RESUMO Desde seu surgimento a Literatura Infanto-Juvenil esteve ligada à educação, com o passar dos séculos e com o surgimento de novas concepções de infância, o objetivo da educação deixou de ser o de moldar as crianças para as regras vigentes nas sociedades e adquiriu o papel de formar cidadãos críticos na sociedade. Como instrumento pedagógico a Literatura Infanto-Juvenil se mostra extremamente útil nesse grande desafio que foi adquirido pela educação, assim, é necessário desvendar como ela auxilia e se torna um instrumento significativo na formação de novos leitores nas escolas públicas, avaliando as metodologias empregadas pelos professores, bem como os gêneros textuais que são utilizados por eles de maneira que agradem e, principalmente, que atendam as necessidades dos alunos, mostrando os inúmeros benefícios que através de sua utilização na sala de aula são levados aos alunos, além das dificuldades encontradas, como a falta de incentivo nas bibliotecas escolares e o despreparo dos professores, para que o uso da Literatura Infanto-Juvenil seja efetivamente utilizado nas salas de aulas da escola pública. Palavras - chave: Literatura infanto-juvenil. Leitores. Ensino público. RESUMÉ Depuis son surgiment la Littérature Infante-Juvénile a été alliée à l?éducation, avec le passer des siècles et avec le surgiment de nouvelles conceptions de l?enfance, l?objectif de l?éducation a resté de mouler les enfants pour les règles vigents dans les sociétés et a acquéri le rôle de former les citoyens critiques dans la société. Comme instrument pédagogique la Littérature Infante-Juvénile se montre extremement utile dans ce grand défi qui a été acquéri pour l?éducation, ainsi, c?est nécessaire découvrir comme elle aide et se transforme dans un instrument significatif dans la formation de nouveaux lecteurs dans les écoles publiques, en évaluent les méthodologies employés pour les professeurs, bien comme les genres textuels qui sont utilisés pour eux de manière qui faisent bien et, principalment, qu?ils répondent les besoins des élèves ,en montrant les nombreuses avantages qui à travers de son utilisation dans la classe sont apportés pour les élèves, là-bas des difficultés rencontrées, comme la manque d?encouragement dans les bibliothèques écolaires et la manque de prépare des professeurs, à fin que l?utilisation de la Littérature Infante-Juvénile soit efetivement dans les classes de l?école publique. Mots-clés: Litterature Infante-Juvéniale .Lecteurs. Enseignement publique. INTRODUÇÃO É na infância que o indivíduo inicia sua independência e interação através da palavra, e é nesse período da vida que as crianças começam a se interessar pela leitura. No Brasil, poucas crianças têm contato com a leitura antes de ingressar na escola, já que o hábito de ler não está nas prioridades da população. Ao entrar em contato com a literatura na escola, a criança muitas vezes acaba se vendo obrigada a ler livros que estão muito além da sua capacidade linguística, ou ainda, encontram professores que não gostam ou não possuem experiência suficiente para utilizar a literatura como instrumento para a produção de conhecimento e de formação de novos leitores. Deste modo, este trabalho questiona por que a Literatura Infanto-Juvenil é tratada como mero passatempo nas instituições escolares, e não como um instrumento ideal no processo educativo? Assim sendo, esta produção acadêmica apresenta sua importância no fato de notar que a instituição escolar é percebida, atualmente, como o grande espaço de iniciação à vida que a cada um cumpre viver em seu meio social. Cabe, no entanto, ressaltar que essa iniciação depende, determinantemente, do convívio do educando com o livro. Deste modo, a importância em se discutir a respeito da relevância da Literatura Infanto-Juvenil nas séries iniciais nas escolas públicas se deve ao fato de reconhecer na instituição escolar um espaço que privilegia (ou deveria privilegiar) a leitura e o acesso de obras Infanto-Juvenis de cunho literário. 1 DO PRINCÍPIO AOS DIAS ATUAIS: UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL "O verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê." (Mário Quintana). Ter o privilégio de saber ler e simplesmente não aproveitá-lo para descobrir o mundo que se esconde por detrás dos livros é como ter asas e não voar para conhecer o mundo. O mesmo acontece com a literatura, utilizá-la na sala de aula sem conhecer seu cunho pedagógico é não saber aproveitar todo seu potencial dentro da sala de aula. Do latim "litterae" (que significa "letras") a literatura, segundo o Aurélio , é considerado o conjunto de escritos de uma época, escritos narrativos históricos, críticos, de fantasia, poesia entre outros. Antes do século XVII, período que, segundo os pesquisadores, de fato surgiu uma literatura destinada aos pequenos, as crianças eram vistas como miniatura dos adultos, elas trabalhavam em meio à confusão nas indústrias e tinham sua mão de obra explorada. Assim, com a concepção de infância sendo tão desigual nessa época, não teria sentido haver uma literatura dedicada a elas como coloca Áries (1979) que ? a concepção de infância não é o mesmo que carinho pelas crianças, ela corresponde à consciência da característica infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem?. As primeiras histórias designadas às crianças que se tem conhecimento surgiram de compilações feitas pelo francês Charles Perrault, em que as narrativas contadas aos adultos, que algumas vezes eram assustadoras, eróticas, com efeitos grotescos e vulgares foram transformadas no que hoje são considerados clássicos da Literatura Infantil. Na primeira coletânea de Perrault estão inicialmente compilados oito contos populares: "La Belle au Bois Dormant" ? conhecida no Brasil como "A Bela Adormecida no Bosque", "Le Petit Chaperon Rouge" ? conhecida como Chapeuzinho Vermelho, "La Barbe-Bleue" ? conhecido como "O Barba Azul", "Le Maître Chat ou Le Chat Botté" ? conhecido como "O Gato de Botas", "Les Fées" ? conhecido como "As Fadas", "Cendrillon ou La Petit Pantoufle de verre" ? conhecido como "A Gata Borralheira ou Cinderela", "Riquet à la Houppe" ? conhecido como "Henrique, o topetudo", "Le Petit Poucet" ? conhecido como "O Pequeno Polegar". Posteriormente outros contos foram incorporados nesta coletânea, como o conto "A Pele de Asno", "Desejos Ridículos" e "Grisélidis". Em quase nenhum desses contos Perrault mostra fadas, por isso não se pode chamá-los de contos de fadas, na realidade o que predomina nestas histórias é o mundo maravilhoso em que os personagens existentes aparecem ou são de uma realidade que não é concreta, que não é real. Depois de Perrault, começava a se desenhar uma Literatura Infantil no mundo. Outros importantes escritores, que ajudaram no surgimento e na divulgação da Literatura Infantil foram os Irmãos Grimm (Jakob e Wilhelm). Esses alemães recolheram e compilaram muitos contos populares alemães que eram transmitidos oralmente aos mais novos. Eles perceberam que esses contos eram repassados há séculos, entretanto, se não houvesse um registro dessas histórias, elas de algum modo, se perderiam no tempo. Assim, Jacob e Wilhelm resolveram pesquisar e registrar em textos essas histórias tradicionais do povo alemão. A primeira publicação desses contos foi realizada em 1812, e trouxe uma coletânea com aproximadamente 50 contos, a obra se chamava "Kinder und Hausmärchen" em português "Histórias das Crianças e do Lar". Em suas narrativas, os Irmãos Grimm procuravam transmitir mensagens positivas através de histórias de bruxas, vilões, salteadores, dragões, lobos e outros seres que ajudavam as crianças a entender de modo lúdico que era necessário se afastar de pessoas estranhas, de ser obedientes, respeitar os mais velhos. Nos contos dos Grimm, assim como nos de Perrault, as histórias eram adaptadas para crianças, retirando o lado de horror e de erotismo, e transformando-os em fantasias, no maravilhoso, que é mais apropriado para o público infantil. Muitas histórias desses alemães ganharam versões de outros autores, suas obras mais famosas são "A Branca de Neve e os Sete Anões", "João e Maria", "O Alfaiate Valente", "Os Músicos de Bremem", "A Chapeuzinho Vermelho", entre outros. Após a divulgação dos contos alemães pelos Irmãos Grimm, outros autores também começaram a compilar contos de seus países. Outro importante escritor da Literatura Infantil foi o dinamarquês Hans Christian Andersen. Publicou alguns contos no ano de 1935, sob o nome de "Contos Contados para Crianças", onde estavam, dentre outros contos, histórias como "A princesa e a Ervilha", "O Isqueiro", "Nicolão e Nicolinho" divulgou também vários livros infantis sobre os contos ouvidos na infância. Algumas de suas obras mais famosas são "Os Trajes do Imperador", "A Sereiazinha", "O Rouxinol do Imperador da China", "O Patinho Feio", "Os Sapatos Vermelhos", entre outros. Apesar das compilações realizadas pelos autores citados, a publicação de livros infantis ainda era escassa. Segundo Tatar, em seu Livro Contos de Fadas, Andersen se diferenciava dos irmãos Grimm e de Perrault pelo fato de brigar pela autoria das histórias que contava, admitia que muitas delas foram inspiradas nos contos que ouvira na infância, mas dizia ter imaginação e criatividade suficiente para elaborar suas próprias histórias. Andersen é considerado o primeiro autor a escrever com uma voz romântica para as crianças, utilizando ensinamentos e maneiras de bons comportamentos. Apesar das primeiras compilações que se tem conhecimento serem feitas por Perrault, Andersen é considerado o precursor da literatura para as crianças, tendo o dia do seu nascimento, 2 de abril, como o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. 1.2 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA INFANTO ? JUVENIL Para que a Literatura Infanto-Juvenil atenda, e principalmente, agrade o público a que ela é destinada é necessário que apresente algumas características importantes. Uma dessas características principais é um conteúdo de fácil entendimento, além de ser interessante e que estimule o desenvolvimento e a criatividade do leitor. A literatura para crianças é na sua essência a mesma destinada aos adultos, no entanto sua concepção é muito mais simples. É preciso explicitar que a simplicidade aqui não é vista como pobreza cultural ou menos valiosa que a literatura destinada aos adultos, e sim utilizada como um recurso (estilo) literário. A simplicidade na estrutura da Literatura Infanto-Juvenil provoca também uma naturalidade na linguagem utilizada nessas obras. Carlos Drummond (1964) em sua poesia "Coisas simples" expõe muito claramente sobre a afinidade entre simplicidade e beleza: Certos espíritos dificilmente admitem que uma coisa simples pode ser bela, e menos ainda que uma coisa bela é necessariamente simples, em nada comprometendo a sua simplicidade às operações complexas que forem necessárias para realizá-la. A simplicidade dentro das obras infantis não pode ser vista como a infantilização da linguagem do autor para se aproximar da realidade ou da linguagem do leitor. Esse recurso, como lembra Cunha (1990), pode ser um engano tornando a leitura uma mera obrigação: Assim como nós nos imaginamos ser mais acessíveis à criança deturpando nossa linguagem para aproximá-la dos erros infantis, também o autor força uma simplicidade, não só na arquitetura da obra, mas, sobretudo na linguagem, cujo artifício não passa despercebido aos meninos. (Cunha, 1990, p. 72) O uso da puerilidade, como é chamado a "infantilização" da língua na obra literária, na tentativa de se aproximar cada vez mais do público leitor, acaba se tornando um erro, já que as crianças possuem capacidade psicológica suficiente de reconhecer e entender estruturas lingüísticas complexas que, contudo, ainda não capazes de utilizar. Outra característica importante que deve assumir a Literatura Infanto-Juvenil é o uso das ilustrações, já que tanto para crianças pequenas, quanto para os adolescentes, o desenho acaba se tornando a palavra escrita. Para as crianças pequenas, as ilustrações existentes nos livros infantis tornam-se palavras que elas conseguem facilmente traduzir no sentido do texto. Cunha (2000) nos mostra que qualquer pessoa, que conheçam uma flor, é perfeitamente capaz de reconhecer dentro do texto um desenho que a represente, mesmo não conhecendo a palavra na língua portuguesa, tornando-se, assim, as ilustrações uma linguagem universal; "tanto é verdade que o mesmo desenho da flor será ?traduzido? por pessoas de culturas diferentes, mas através de símbolos diferentes: fleur, para as de língua francesa, flower para a língua inglesa e etc." Para que essa característica seja efetivamente importante, é necessário que as ilustrações sigam algumas "regras". No caso das crianças consideradas ainda não-alfabetizadas, o que Coelho (2000) chama de estágio Pré-Leitor, que é dividido em Primeira e Segunda Infância, as ilustrações contidas nos livros devem ser bem variadas. Os livros nesses casos costumam ser de materiais bem agradáveis ao tato da criança que, nessa fase, necessita de estímulos manuais, já que ela conhece o mundo através da mão. Com as crianças que começam a ler, as ilustrações ainda devem ocupar grande espaço no livro, os textos devem pequenos e que tenham relação com as figuras. Essa fase é o que Coelho (2000) chama de Leitor Iniciante. A partir do crescimento da criança, ela acaba atingindo um novo estágio psicológico de leitura, e as ilustrações devem acompanhar esse desenvolvimento. É a chamada fase do Leitor em Processo, em que o texto acaba se tomando papel mais importante do que as figuras, entretanto, elas ainda estão presentes no texto. Os livros nessa fase tornam-se mais elaborados, com histórias que possuem tempo cronológico e psicológico. Chegando ao período da chamada "pré-adolescência", as ilustrações já não são fundamentais no livro, já que crianças nessa idade já dominam (ou pelo menos deveriam dominar) a leitura, mas ainda estão presentes. Nesse estágio, a criança deve ser estimulada a ler livros mais consistentes, com narrativas mais longas, mas que não sejam maçantes. Essa etapa de desenvolvimento é chamada por Coelho (2000) de Leitor Fluente. No estágio de Leitor Crítico, as ilustrações já não estão presentes nas narrativas, o que importa são as histórias contadas nos livros através das palavras e não por figuras, já que o seu desenvolvimento cognitivo já está em estágio avançado, a condição de sua capacidade lingüística também é bastante favorável, e sua reflexão crítica já está totalmente desenvolvida. As ilustrações dentro dos livros literários infantis não podem ser feitas de maneira displicente e aleatória, pois como se sabe, ela possui importante papel dentro do texto. O papel do artista deve ser minucioso, pois cabe a ele interpretar o que o autor diz em seu texto e "reescrevê-lo" a partir das ilustrações. Portanto, não pode haver erros e muito menos exageros dentro desse aspecto da literatura. Um livro para adolescentes na fase de Leitor Critico não pode conter numeroso desenhos e poucos textos, assim como um livro para crianças que estão na categoria de Pré-leitor não deve ser cheio de textos, sem nenhuma ilustração. Para que as ilustrações não ocasionem uma falha na utilização da literatura infantil como instrumento de produção e construção de novos conhecimentos é necessário que ela obedeça a dois pontos importantes, como nos mostra Cunha (2000): Há ilustrações que nada dizem do texto, há outras que o traduzem exatamente, contêm o trecho. Os dois tipos são falhos: o primeiro, porque é um elemento à parte da obra escrita; o segundo, porque nada deixa a cargo da fantasia da própria criança. (Cunha, 2000, p. 75) É importante que dentro dessas produções infanto-juvenis haja um consenso, pois muitos acreditam que as ilustrações em excesso são favoráveis ao desenvolvimento da criança, entretanto é necessário que elas correspondam de alguma forma com que é representado com palavras dentro do texto. Outros acreditam que os exageros de ilustrações acabam por bloquear a imaginação do leitor, já que ele encontra nelas toda a representação da história por ele lida. A discussão ainda é grande a respeito das ilustrações, mas ainda não se tem uma conclusão de como e qual a quantidade de ilustrações devem ocupar o texto literário infanto-juvenil, entretanto já se sabe que seu papel é muito importante dentro desse tipo de produção. Existem ainda outras características importantes dentro da Literatura Infanto- Juvenil, mas que variam de acordo com o gênero, como as narrativas infantis que possuem principal característica o dramatismo, o movimento dentro da história, dinamismo, como ressalta Monteiro Lobato "as narrativas precisam correr a galope, sem nenhum efeito literário". A poesia com sua linguagem afetiva e romântica, em que o autor se aproxima do espírito da criança para produzir suas poesias, captando, assim, a alma infantil. O teatro com sua ação dramática, conflitos, o desenlace de tensão e as suas possibilidades de viver vários personagens. As lendas folclóricas com o reconhecimento da cultura do leitor, tendo como característica a abrangência e a diversificação, utilizando a linguagem popular. Enfim, a Literatura Infanto-Juvenil possui inúmeras características que a torna um importante elemento de desenvolvimento do leitor, e com a devida valorização de cada possibilidade ofertada por ela, pode-se considerá-la um efetivo instrumento de produção de conhecimento. 1 3 PRODUÇÕES NACIONAIS DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL A concepção de infância também mudou com o decorrer da história no Brasil, levando consigo a produção da literatura infantil. Na realidade, como não poderia deixar de ser, o surgimento da Literatura Infanto-Juvenil no país está basicamente entrelaçado ao modelo de educação. Os primeiros relatos de uma Literatura Infanto-Juvenil no Brasil, chamada de fase embrionária, são representados pelo escritor Carlos Jansen que apenas traduzia contos vindos da Europa como os livros "Contos Seletos das mil e Umas Noites", "Robinson Crusoé", "As viagens de Gulliver a terras desconhecidas", Entretanto, as histórias narradas nesses livros não eram efetivamente voltadas ao público Infanto-Juvenil. Figueiredo Pimentel, Coelho Neto e Olavo Bilac também são nomes que representam esse nascimento da Literatura Infanto-Juvenil no país. A produção da Literatura Infantil iniciou, de fato, com as obras de Monteiro Lobato e durante muito tempo apenas esse escritor ficou conhecido como principal nome desse gênero no Brasil. Monteiro Lobato foi tão importante para a literatura brasileira, que durante o período em que os livros eram editados na Europa, ele também se tornou editor, fazendo com que as edições de livros fossem produzidas dentro do nosso país. A primeira obra de Monteiro Lobato, e conseqüentemente a primeira produção brasileira destinada às crianças, foi escrita em 1917, entretanto, foi publicada somente no natal de 1920, intitulado "A Menina do Narizinho Arrebitado" e reunia as aventuras de Lúcia, a menina de nariz arrebitado. A partir dessa obra, Monteiro Lobato se inspirou e criou outros personagens, como o Saci Pererê, a Tia Anastácia, a Dona Benta, personagens que hoje fazem parte da obra O Sítio do Pica-pau Amarelo, grande clássico da Literatura Infanto-Juvenil brasileira. Com uma linguagem simples e um estilo na escrita que consegue reunir a realidade e a fantasia de uma maneira encantadora, Monteiro Lobato transformou-se num dos ícones mais importantes da Literatura Infanto-Juvenil brasileira. Outro aspecto que contribui para esse título, é a mistura de histórias, como Gato Félix e Peter Pan juntos com Saci Pererê e a bruxa Cuca, além de outros personagens. A representação do povo brasileiro também é outra característica das obras de Monteiro Lobato, já que para ele as qualidades, os defeitos e os traços nacionais deixam de ser pitorescos e ganham espaços dentro da Literatura Infantil. É o caso do personagem do Jeca Tatu, que personifica as mazelas da sociedade, a insegurança nacional, e principalmente o comodismo, que é personificado nele, representado através da preguiça, e na falta de iniciativa para propor mudanças. É nas histórias infantis que Monteiro Lobato consegue expressar com maior clareza seu espírito revolucionário, pois nessas histórias ele consegue abranger a realidade do nosso país naquela época, como ratifica Cademartori (2006, p. 49), "rompendo com os padrões pré-fixados do gênero, Lobato estabeleceu uma ligação entre literatura infantil e as questões sociais." Nas histórias lobatianas encontram-se muitos traços do papel, que hoje a Literatura Infanto-Juvenil possui que é estimular a produção e construção de novos conhecimentos. Suas obras acabam estimulando os leitores a ver e interpretar a realidade sob uma óptica diferente, a partir de conceitos do próprio leitor sobre a política, a sociedade, a economia e a cultura. Assim, as obras de Monteiro Lobato estimulam a formação de um leitor crítico que consegue viver e respeitar as diferenças, já que elas mostram a condição social. Outro importante nome da Literatura Infanto-Juvenil é o de Cecília Meireles, especialmente na poesia destinada às crianças. Por ser pedagoga, professora e jornalista, Cecília Meireles mostra em suas obras a necessidade que tem os pequenos de ter acesso a novos conhecimentos e informação. A utilização de uma linguagem que traz para a poesia o mundo da imaginação e da fantasia, que é presente no universo infantil. Em seu primeiro livro destinado às crianças, intitulado Ou isto ou aquilo (1964), Cecília busca a harmonia entre o prazer da leitura e a aprendizagem, além de apresentar atrelado a ele um cunho pedagógico muito forte. Um dado que demonstra a importância desta grande escritora é sua sensibilidade em criar no ano de 1934, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira Biblioteca Infantil no Brasil, o que comprova sua forte relação com esse público. A biblioteca foi fechada em 1937, quando o Novo Estado acusou algumas obras infantis de serem comunistas. Uma característica muito forte nas poesias infantis de Cecília Meireles é a presença de musicalidade através da utilização de rimas, assonâncias, aliterações com verbos irregulares e métricas diferentes. Esses recursos estilísticos favoreceram para a gravação de poemas cantados, como em algumas coletâneas que reuniu, entre outros ilustres cantores brasileiros, Caetano Veloso e Maria Betânia. Em outros países também foram realizadas coletâneas musicadas de poemas infantis de Cecília Meireles como em Portugal, onde a escritora também fazia muito sucesso e em outros países da Europa. A contribuição de Cecília para a Literatura Infanto-Juvenil foi tão significativa que muitas obras são hoje adotadas pelo Ministério da Educação (MEC), como livros de incentivo à leitura nas escolas públicas, como os livros Ou isto ou aquilo, diversas coletâneas que reúnem poesias como A Bailarina, Colar de Carolina entre outros. Não se pode falar de poesias dentro da Literatura Infanto-Juvenil e não citar Vinicius de Moraes, que assim como Cecília Meireles teve grande parte de suas obras musicadas e que são divulgadas até hoje. Vinicius de Moraes, o Poetinha como é chamado, pode não ser considerado por muitos uma voz apropriada para falar às crianças através da poesia infantil, pois suas obras mais difundidas são as de cunho sensual. Entretanto, ao se dirigir às crianças, Vinicius encontra uma voz romântica infantil, mas sem entrar na puerilidade, utiliza uma ingenuidade infantil sem se tornar abobalhada, reportando o leitor a um ludismo essencial na poesia. Poesias como a Arca de Noé, O Elefantinho, O Relógio, As Borboletas são as mais famosas e difundidas. Inúmeras coletâneas também foram produzidas com as poesias infantis deste poeta. Sua bem sucedida parceria com Toquinho contribuiu de maneira grandiosa para difundir obras que hoje muitos nem sabem que se atribui a Vinicius de Moraes. Toquinho em parceria com Vinicius fizeram um excelente trabalho ao colocar sobre as poesias infantis melodias que universalizaram esse gênero literário. Poesias como A casa e A Arca de Noé são grandes clássicos dessa dupla. Outras produções ainda nos confundem se são poesias musicadas ou músicas que são pura poesia como é o caso de Aquarela, que a dupla produziu em parceria com G. Morra e M. Fabrizio. Ziraldo também contribuiu para a produção nacional da Literatura Infanto-Juvenil, este foi o precursor das histórias em quadrinhos no Brasil. Lançou nos anos 60 a primeira história em quadrinho criada por um único autor intitulado Turma do Pererê. Essa edição vendeu inúmeras cópias, mesmo na época da Ditadura Militar, entretanto, essa ainda não era de fato uma obra destinada ao público infantil. Somente em 1969 ele publicou seu primeiro livro infantil, que muito rapidamente conquistou fãs no mundo inteiro, essa primeira produção recebeu o titulo de FLICTS, que contava a história de uma cor perdida, triste e solitária, rejeitada pelas demais cores, que procurava um lugar no mundo e que encontrou o planeta Flicts, que era a lua dos astronautas. Com uma linguagem simples e estruturas pouco complexas, esse livro mexe com o imaginário infantil, com utilização das cores também como um recurso visual. A mais famosa das histórias de Ziraldo são as do Menino Maluquinho, publicado na década de 1980 , que como ele mesmo descreve, conta a história de um menino com fogo no rabo, vento nos pés e muita imaginação na cabeça. Com uma linguagem também simples, e uma aproximação com o cotidiano das crianças fez com essa obra rapidamente caísse no gosto das crianças de todo o país. Como prova do grande sucesso deste personagem, no ano de 2010 ele comemora 30 anos ainda com muito sucesso entre o público infantil. Ana Maria Machado também tem uma importante contribuição para a literatura nacional, suas obras possuem uma característica diferente, pois elas conseguem penetrar no pensamento infantil e captar o que elas gostariam de ver nas histórias. Obras como, Bisa Bia Bel, Raul da Ferragem Azul, e principalmente, a intrigante e divertida Histórias meio ao contrário, que traz um recurso muito interessante, a inversão da narrativa, em que a autora começa sua história com a frase "e eles viveram felizes para sempre". Muitos outros escritores de Literatura Infanto-Juvenil também vêm contribuindo para difundir vários outros gêneros da produção nacional, como Eva Funari, Ruth Rocha, Léo Cunha, Sylvia Ortillof entre outros. 2 O ENSINO/APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL "Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o inicio da aprendizagem para ser um leitor e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo" (Fanny Abramovich) O acesso a Literatura Infanto-Juvenil para muitas crianças ocorrem pela primeira vez na escola dentro das salas de aula, e esse acesso é extremamente importante para a formação de novos leitores proporcionando a muitas crianças uma verdadeira viagem pelo mundo dos livros. Entretanto essa viagem só pode ser aproveitada se o professor estiver preparado para conduzir seu aluno para esse mundo. 2.1 LITERATURA INFANTO ? JUVENIL: ARTE LITERÁRIA OU ARTE PEDAGÓGICA? Uma das discussões mais antigas sobre a Literatura Infanto-Juvenil diz respeito a seu caráter pedagógico, na realidade se a literatura é arte ou um instrumento de produção de conhecimento. Muitos autores e estudiosos tentam chegar a um consenso, entretanto esta é uma questão que está longe de ser resolvida. Para Cunha, a Literatura Infanto-Juvenil é estritamente lúdica, não sendo necessário seu caráter pedagógico, pois muitos livros de literatura para crianças não apresentam essa característica. Para Cecília Meireles, o surgimento de uma nova concepção de infância traz consigo uma nova preocupação, a necessidade de moralizar as crianças. Assim sendo, a Literatura Infanto-Juvenil surge com esse propósito, temos então, uma literatura que se destina às crianças com a finalidade educacional. Deste modo, a Literatura Infanto-Juvenil deixa de ser um passatempo e passa a ocupar um lugar importante na educação, assumindo um caráter pedagógico. Segundo Killer, as obras literárias possuem um significado educativo, ou seja, tem uma definição pedagógica, já que o surgimento da literatura está intrinsecamente ligado à pedagogia. Os significados educativos não estão necessariamente nos livros didáticos, com textos fragmentados, eles podem estar em uma música, em uma peça, um romance teatral, em um livro infantil. Diante desta ampla discussão acerca da literatura infantil está Coelho (2000) que defende que a Literatura Infanto-Juvenil pertence tanto à arte literária quanto a arte pedagógica, pois se analisados os antigos textos infantis, percebe-se que: Como objeto que provoca emoções, dá prazer ou diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de seu leitor, a literatura infanto-juvenil é arte. Sob outro aspecto, como instrumento manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na área pedagógica. (Coelho, 2000. p. 46) Neste contexto existe uma variedade enorme de tipos de literaturas. Há alguns livros que não possuem a intenção pedagógica, contudo, quando se inserem na sala de aula adquirem duas funções, a de divertir e ensinar. Entretanto, alguns livros que possuem apenas a intenção pedagógica, com informações, ensinamentos e dados, ao se inserir no ambiente escolar acabam não cumprindo o papel que lhe foi atribuído, que é o de ensinar. Dentro desta grande confusão, não é de admirar que existam muitos excessos, alguns livros que no lugar de divertir, são sobrecarregados de informações, porém, sem estímulos à imaginação, sem magia, como deve ser um livro de literatura infantil, que afugentam os jovens e não repassam o conhecimento neles contidos. Outros livros possuem magia e imaginação demais, histórias sem uma moral, sem nenhum cunho pedagógico, apenas narrações abobalhadas e sem conteúdo. No meio dessa discussão encontra-se a escola, que pouco utiliza a Literatura Infanto-Juvenil em suas atividades e que tem apenas o livro didático como instrumento de aprendizado, utilizando textos fragmentados e fora do contexto A ideia não é fazer com que as escolas públicas abandonem definitivamente os livros didáticos e passem a utilizar somente os livros infantis (chamados paradidáticos) nas salas de aulas, pois estaríamos repetindo o mesmo que hoje fazem com os livros infantis. A proposta é que os livros de Literatura Infanto-Juvenil auxiliem nas aulas. Não se torna muito mais interessante e simples para o aluno responder a questionamento de interpretação de textos se tiver lido a história por completo? É evidente que sim, além de agregar ao cognitivo do aluno novos conhecimentos que vão além dos propostos no livro didático. Toda essa discussão acerca da Literatura Infanto-Juvenil como instrumento pedagógico e como instrumento lúdico mostra que as duas características podem perfeitamente caminhar juntas sem uma interferir na outra, pelo contrário, o ludismo da literatura pode auxiliar na aprendizagem, como afirma Cademartori (2006): A manipulação lúdica dos sons da língua pela criança, fruição sonora independentemente do significado, constitui-se em parte fundamental do desenvolvimento lingüísticos (...) nos jogos verbais, a criança desloca as unidades lingüísticas da relativa transparência de seu uso na comunicação interpessoal para a opacidade que ganha o material lingüístico quando é tratado como brinquedo. (Cademartori. 2006. p.69) Assim, o professor sabendo utilizar e explorar as facetas lúdicas e pedagógicas da Literatura Infanto-Juvenil facilita a aprendizagem dos alunos, aumenta o conhecimento lingüístico e incentiva a leitura nas salas de aula das escolas públicas. 2. 2 A LITERATURA INFANTO-JUVENIL NAS ESCOLAS PÚBLICAS No início do século XVII, até meados do século XVIII, a literatura tinha como principal objetivo a manipulação e a educação da população. Com o passar dos anos, uma nova concepção de família surgia, e trazia consigo um novo modelo de educação. Entretanto, a escola trazia nessa época uma educação dita normativa, ou seja, não tinha elementos infantis, e sim comportamentos e normas sociais. De fato, os textos que eram utilizados em sala de aula traduziam as normas burguesas, já que eles que detinham o poder nesse período. Segundo Zibermam (1993) os livros didáticos da época eram "manuais de instruções, tomando o lugar da emissão adulta, mas não ocultando o sentido pedagógico", sendo assim, a utilização do livro na escola tinha como intenção moldar as crianças, de modo que as regras regentes na sociedade fossem aceitas sem contestações. No Brasil, a educação também assumia a função de moldar os alunos para o sistema social vigente. Durante o regime militar esse papel é percebido com mais intensidade, já que a educação não permitia a formação de cidadãos críticos, questionadores e interessados nos movimentos contrários as políticas vigentes. Muitos são os estudiosos que defendem a utilização da Literatura Infanto-Juvenil na sala de aula, entretanto de maneira mais objetiva, com o intuito não de ensinar, e sim de proporcionar ao aluno outra visão da realidade, em que ele possa refletir sobre os acontecimentos, sobre os problemas e as possíveis soluções. Com a evolução dos tempos e da sociedade, a função da literatura na escola mudou radicalmente. Ao invés da função modelar as crianças, a Literatura Infanto-Juvenil exerce hoje a função de formar novos cidadãos, ajudando na formação do espírito crítico de cada indivíduo. Para Coelho (2000) é o livro, a palavra escrita que tem a maior fatia da responsabilidade de formar a consciência de mundo dos jovens e das crianças. Trabalhando com a Literatura Infanto-Juvenil na escola, estamos proporcionando à criança um grande espaço privilegiado para que ela possa dinamizar os estudos e o seu conhecimento do mundo. O espaço escolar deve proporcionar, através da literatura infantil, "liberdade" ao aluno, entretanto, é necessário enfatizar que essa liberdade deve ser orientada, com atividades programadas em ambientes livres, na biblioteca e na sala de aula de maneira que estimule e aumente o potencial de cada aluno. Segundo o Instituto Pró-Livro (IPL), que realizou uma pesquisa nacional buscando identificar o perfil dos leitores e não-leitores do país, grande parte da população considerada não-leitores não possui conhecimento (ou conhece muito pouco) dos materiais de leituras (como revistas, jornais, e principalmente, os livros). Ainda segundo a pesquisa, "as dificuldades decorrentes da má formação das habilidades necessárias à leitura" como a não compreensão dos textos, falta de concentração, entre outras que colocam a leitura longe das prioridades da população. A falta das habilidades necessárias para a compreensão dos textos literários (decodificar, compreender, interpretar e reter) acaba revelando a fragilidade do sistema educacional brasileiro, já que essas aptidões deveriam ser obtidas através do processo de escolarização, o que acarreta na colocação da leitura em segundo plano pelos brasileiros. De acordo com o Instituto Pró-Livro (IPL), ouvir música, assistir a televisão e outras atividades que quase não contribuem na construção do conhecimento, ocupam lugares muito mais importantes na vida dos brasileiros, o que deixa a leitura em 4ª ou 5º lugar na lista de prioridades. Na escola, a maioria dos textos infantis utilizados nas aulas são os contidos nos livros didáticos, que trazem textos fragmentados, fora de contexto original e que tem como objetivo apenas a resolução de atividades sobre a gramática. Trevizan (1999) afirma que o material didático usado em sala de aula não proporciona ao leitor a interpretação geral do texto abordado, nem a captação dos sentidos que as palavras possuem, já que se encontra em um meio fragmentado. Os livros didáticos nas escolas deveriam exercer papel secundário, em que o professor o utilizaria apenas como um guia esporádico, adaptando as atividades referentes aos textos às necessidades e contexto de cada aluno. Mas sabe-se que na escola, o livro didático possui importante papel, em que o professor somente repassa o que nele está contido. Como esses livros trazem fragmentos de clássicos da literatura, os alunos acabam conhecendo, através da escola, apenas trechos dessas obras, ocasionando o mau uso da literatura infantil na sala de aula das escolas públicas. Na realidade, o papel ideal do livro didático seria o proposto por Soares (2002) quando diz que: O papel ideal seria que o livro didático fosse apenas um apoio, mas não o roteiro do trabalho dele. Na verdade isso dificilmente se concretiza, não por culpa do professor, [...] por culpa das condições de trabalho que o professor tem hoje. Um professor hoje nesse país, para ele minimamente sobreviver, ele tem que dar aulas o dia inteiro, de manhã, de tarde e, freqüentemente, até a noite. Então, é uma pessoa que não tem tempo de preparar aula, que não tem tempo de se atualizar. A conseqüência é que ele se apóia muito no livro didático. Idealmente, o livro didático devia ser apenas um suporte, um apoio, mas na verdade ele realmente acaba sendo a diretriz básica do professor no seu ensino. (Soares 2002 p. 2) Na realidade, temos também na desvalorização, nas várias horas e nas más condições de trabalho do professor um grande obstáculo para a correta utilização da Literatura Infanto-Juvenil nas escolas públicas. Com pouco tempo pra organizar as atividades realizadas, o professor se deixa guiar pelos livros didáticos, descartando assim, os grandes clássicos infantis da sala de aula. Outro grande desafio a ser superado pelas escolas públicas é o baixo valor destinado às compras de obras literárias, o que acaba dificultando a ideal utilização e a exploração desse instrumento, como ratifica Cunha (1990) que: O investimento das escolas com livros é muito pequeno. Na escola pública, devido às diminutas verbas que lhe são destinados, as obras não podem ser adquiridas em números suficientes. (E quase sempre o aluno não pode comprá-las). Nas escolas particulares, mesmo as mais ricas, investe-se menos do que em outros "materiais didáticos". (E os alunos, mesmos ricos, não são incentivados na própria família à compra do livro). As bibliotecas são, por isso mesmo, muito pobre, em geral. (Cunha, 1990, p. 10) Apesar de esforços realizados pelos governos de diferentes esferas para investimentos em livros e manutenção das bibliotecas escolares, muito ainda falta ser feito para que a utilização da Literatura Infanto-Juvenil cumpra efetivamente seu papel na educação pública: o de formar novos leitores. Contra essa dificuldade infelizmente pouco se tem feito para amenizá-la, mas os pesquisadores, estudiosos, amantes e defensores da literatura na escola, continuam tentando e acreditando que um dia será possível trabalhá-la como uma matéria chamada Literatura Infantil. 2. 3 UTILIZAÇÕES DA LITERATURA INFANTO- JUVENIL EM SALA DE AULA. Desde o seu surgimento, a Literatura Infantil está ligada intimamente à escola, já que os primeiros contos foram publicados com o objetivo de educar e ensinar os pequenos. Mesmo com essa relação íntima, o uso das obras literárias infantis não vem sendo realizado com muita freqüência no espaço escolar. As várias possibilidades trazidas pela Literatura Infanto-Juvenil para sala de aula não só nas aulas de língua portuguesa, mas em projetos interdisciplinares, proporciona uma formação completa e espontânea do indivíduo, contribuindo para o crescimento pessoal e intelectual de cada aluno. Apesar deste grande leque de possibilidades apresentados pela Literatura Infanto-Juvenil, observa-se que o seu uso na sala de aula é tido muitas vezes como um mero passatempo e não como um efetivo instrumento de produção e construção de conhecimento e formação de novos leitores. Essa situação deve-se muitas vezes à má formação acadêmica dos profissionais da educação, que não recebem suportes suficientes na universidade e, ao chegar ao ambiente e na realidade escolar, não conseguem utilizar instrumentos tão ricos, como a literatura infantil, para edificar o conhecimento. Para Aguiar & Bordini (1983) uma quantidade expressiva dos profissionais da educação que trabalham com as séries iniciais, não tem ou não conhece uma metodologia adequada para trabalhar ou desenvolver atividades com textos, o que acarreta na baixa produção dentro da sala de aula. Deste modo, os alunos não se sentem instigados a descobrir novas possibilidades para solucionar os problemas apresentados nos textos literários utilizados pelo professor, já que a metodologia adotada por ele não é adaptada para a realidade da sala de aula, como mostra a pesquisa do Instituto Pró-Livro (IPL) ao afirmar que a falta de uma metodologia para incentivar à descoberta e que permita ao aluno o acesso a sua "chave" que faça uma súbita ligação e torna o sujeito capturado pela leitura. Outra falha bastante comum quando o assunto é a utilização da Literatura Infanto-Juvenil nas salas de aula das escolas públicas, é a escolha do texto, ou seja, o professor acaba levando pra sala de aula livros que não se adéquam ao estágio cognitivo que a criança se encontra. O resultado acaba sendo o desinteresse pelos textos, já que as informações ou histórias contidas neles são muito simples e "bobas" para seu estágio cognitivo, ou estão muito acima do seu desenvolvimento psicológico e lingüístico, fazendo com que o aluno não compreenda a essência do texto. A utilização de uma metodologia e de textos literários inadequados pode causar danos quase irreparáveis na formação de novos leitores, interferindo no papel exercido pela literatura infantil, que é de formar cidadãos com olhar crítico na sociedade, e desenvolvendo, conseqüentemente, leitores ativos. Para que a literatura infantil forme efetivamente novos leitores é necessário que os professores observem alguns detalhes que, segundo Costa (2007), são princípios básicos para o uso da literatura em sala de aula. O primeiro ponto a ser observado é a maneira como a literatura é trabalhada, observa-se que se utiliza a palavra trabalhada e não ensinada, pois a Literatura Infanto-Juvenil apresenta atualmente um caráter formador e não mais modelador de indivíduos. Portanto, é necessário evitar cobranças excessivas, que induzam ao ensino/aprendizado sistematizado, não oferecendo espaço para o aprendizado espontâneo. Um aspecto importante também a ser levado em conta pelo professor é a separação dos textos infantis de acordo com o seu estágio cognitivo do público alvo. Um aluno estudante da quinta série do ensino fundamental pode não possuir esquemas suficientes para compreender textos destinados aos jovens do primeiro ano do ensino médio. É necessária, então, a adequada seleção dos textos literários em gradação crescente, em que cada texto se complemente, trazendo novas informações e ratifique as já absorvidas pelo aluno leitor. É necessário enfatizar que a "culpa" da má utilização da Literatura Infanto-Juvenil não é (ou não está) somente no professor, uma vez que as gestões escolares e educacionais também possuem uma parcela de responsabilidade muito grande. É necessário que o apoio ocorra desde os gabinetes até as salas de aulas, com políticas que incentivem a leitura e com projetos que ofertem as escolas mais acesso a obras infantis. O contato com a Literatura Infanto-Juvenil ainda no período de alfabetização proporciona à criança não só uma inesgotável fonte de prazer e conhecimento, como desempenha papel importante na sua formação de seu vocabulário. Assim, a literatura nos primeiros anos da escola apresenta à criança um suporte que media seu conhecimento de mundo, como afirma Cademartori (2006, p. 75) "O papel da literatura nos primeiros anos é fundamental para que se processe uma relação ativa entre o falante e a língua. Isso se deve a vários fatores, a começar pelo próprio sistema alfabético." A partir da premissa que se tem "quem lê mais escrever melhor", pode-se dizer que o hábito da leitura, se introduzido na vida da criança desde cedo, proporciona a ela um repertório mais amplo de informações e de vocabulário. Assim, um dos papéis que a Literatura Infanto-Juvenil exerce na sala de aula é de apresentar novas perspectivas sobre a sociedade, a política a economia, sobre o mundo. Para Cademartori (2006), a Literatura Infanto-Juvenil, acaba se constituindo um meio importante de emancipação do indivíduo, já que a escola e a família, como instituições sociais, não conseguem proporcionar. Já se sabe que a relação da literatura com o ensino é estritamente ligada desde seu início, logo está constantemente vinculada à educação escolar, sendo ela a grande responsável por ensinar a língua portuguesa escrita. Assim, para muitos autores e estudiosos do assunto, do ponto de vista da educação observa-se uma união de forças na tentativa de amenizar falhas no sistema da educação brasileira, utilizando para isso a Literatura Infanto-Juvenil como principal instrumento nessa batalha. O reconhecimento por parte dos profissionais da educação que o livro infantil quando utilizado desde os primeiros anos da escola estimula e auxilia o ensino/aprendizado é o primeiro passo. Ainda hoje, muitos profissionais que atuam na área da educação veem o livro infantil como um mero passatempo dentro das salas de aula, não aproveitando as infinitas possibilidades de ensino que ele pode oferecer. Outro grande passo é a capacitação dos futuros profissionais dentro dos cursos de Letras e Pedagogia, já que muitas Universidades não possuem disciplinas voltadas para a Literatura Infanto-Juvenil. Essa falta de capacitação acaba formando professores que não gostam, ou simplesmente não sabem como utilizar um instrumento tão rico em suas aulas. Além daqueles professores que a utilizam, mas de uma maneira "errada", com textos complexos, o que pode fazer os alunos de afastarem cada vez mais do mundo do livro. CONSIDERAÇÕES FINAIS É inegável que o cunho pedagógico da Literatura Infanto-Juvenil vem sendo esquecido por alguns profissionais de educação em escolas públicas do nosso estado. Entretanto, não se pode esquecer de cumprimentar e principalmente incentivar ainda mais a pequena parcela de professores que utilizam esse material na sala de aula como instrumento de produção de conhecimento e formação de novos leitores e que lutam para que ela tenha um grande espaço na educação amapaense. Para os autores (pesquisadores e estudiosos do tema) o grande impedimento para o uso da Literatura Infanto-Juvenil na formação de novos leitores é o fato dela ainda ser vista por muitos profissionais como um tolo passatempo, material de lazer e distração dos alunos na sala de aula. Essa visão acerca da Literatura só será modificada se as universidades responsáveis pela formação desses profissionais incluírem em seus planos de cursos, disciplinas que discutam e que, principalmente, preparem os acadêmicos para a utilização desse instrumento tão rico e valioso dentro e fora das salas de aula e, sobretudo, que mostrem o cunho pedagógico existente por detrás da magia das histórias infantis. Essas iniciativas são apontadas por Aguiar & Bordini como soluções para que o despreparo dos profissionais da educação em relação à Literatura Infanto-Juvenil seja sanado e, sobretudo nas séries iniciais. Além disso, o estereótipo agregado aos cursos de licenciaturas de que são fáceis e mais rápidos para entrar no mercado de trabalho, acabam atraindo pessoas sem a disposição e gosto pela educação, acarretando a formação de profissionais sem vontade, sem experiências e principalmente sem vocação para atuar nas salas de aula e utilizar a Literatura. No entanto, a culpa não pode ser centralizada somente nos professores, pois eles são apenas uma parte do sistema educacional, já que de nada adianta profissionais bem preparados e conscientizados acerca do uso da Literatura Infanto-Juvenil sem que as escolas, as bibliotecas públicas e escolares possuam recursos necessários para incentivar, oportunizar o acesso a livros infantis e, principalmente, subsidiar seu uso dentro da sala de aula. Outra importante mudança deve acontecer no comportamento das famílias dos alunos, participando mais da vida escolar dos filhos e no incentivo à leitura fazendo com que o contato com a Literatura Infanto-Juvenil aconteça primeiro em casa e depois na escola, pois pais leitores também são capazes de formar filhos leitores, contribuindo significativamente no aumento de leitores ativos em casa e fora dela. Sabe-se que disposição e interesse dos alunos pelo uso da Literatura Infanto-Juvenil nas salas de aula é existente, e que o reconhecimento dos benefícios da utilização da literatura nas aulas é um passo muito importante (e que já foi dado) para o bom emprego desse material didático. Enfim, a formação de profissionais da educação que compreendam o cunho lúdico e pedagógico da literatura somado ao apoio dos órgãos responsáveis pela educação através de investimentos em materiais didáticos, exemplares de livros literários, renovação e manutenção das bibliotecas escolares, juntamente com o incentivo à leitura pelas famílias dos alunos pode ser a solução para utilização da Literatura Infanto-Juvenil na sala de aula não só como instrumento de conhecimento e na formação de novos leitores, bem como a formação de indivíduos conscientes, que sejam ativos na sociedade e, principalmente, tenham um espírito crítico. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, Fanny. Por uma arte de contar história. In: http://blogs.abril.com.br/educarcontandohistorias/2009/07/fanny-abramovich-por-uma-arte-contar-historias.html. Acesso em: 23 out. 2010. AGUIAR, V.T & BORDINI, M. G. Literatura: a formação do leitor. 1. ed. Porto bAlegre: Mercado Aberto,1993. AMORIM, Valeno (Coord.). 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