Muito é discutido sobre a profissão de professor da escola básica na rede pública no que se refere às dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar. Chega-se a um empasse, qualquer indivíduo é indicado a se qualificar para exercer a atividade de professor?

Ensinar é uma arte, como sugerem alguns teóricos ou uma junção de atitudes propostas para o sucesso profissional do docente?

Mesmos antes do século atual, conforme mostra Bertolt Brech, a arte não é vista apenas como um dom congênito, antes a mesma pode ser conquistada através do empenho, da busca e dedicação pessoal.

[...] Assim como é verdade que em todo homem existe um artista, que o homem é mais artista dentre todos os animais, também é certo que essa inclinação pode ser desenvolvida ou perecer. Subjaz à arte um saber que é um saber conquistado através do trabalho. (Bertolt Brecht)

O futuro profissional da educação durante sua vida acadêmica se esmera na assimilação do conteúdo programático segundo sua respectiva escolha de licenciatura que pretende atuar. As notas e conceitos podem enriquecer o certificado de conclusão do curso, relatórios de estágios mostram uma suposta realidade a ser futuramente encarada, sem contar o esforço na apresentação de seu TCC.  Não são poucos os profissionais da área educacional que possuem um invejável perfil acadêmico. As solenidades de formatura, quase que chegam a ofuscar os degraus a ainda serem galgados.

A universidade prepara, sem dúvida, o futuro docente torna-o um especialista em sua área de conhecimento licenciado. Muitos preferem ir além, se pós graduando, se tornando mestres ou até doutores em sua respectiva área. Fato este que deveria ser a regra e não exceção.

O então profissional, expressivamente capacitado em relação ao conteudo, ansioso para colocar em prática todo o seu potencial adquirido em anos de dedicação e estudos, está ansioso para colher os frutos de seu trabalho. Pela primeira vez não está dentro de uma escola pública como aluno ou estagiário e sim como regente de turma.

Com certeza, o professor encontrará turmas multiplurais, onde os extremos convivem e se toleram. Na mesma turma com mais de 40 alunos, estarão juntos discentes de classes sociais e com capacidades intelectuais distintas. Embora o então professor esteja devidamente preparado em relação ao conteúdo teórico, encontra dificuldades que o faz sentir um“calouro”. A dúvida ecoa na mente do profissional: como conseguir a disciplina necessária a fim de exercer a função que foi designada,que é o processo de ensino-aprendizagem?

Esta situação, indisciplina em sala de aula, se torna para alguns professores um obstáculo que parece ser intransponível. Conforme mostram as estatísticas, só em São Paulo registrou-se a exoneração de 9.279 professores entre janeiro de 2011 e junho de 2015. Esse número representa a saída de 172 docentes da sala de aula por mês, em média. Os dados são da Secretaria Estadual de Educação obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011) pelo site "Fiquem Sabendo".

Os motivos para as exonerações são várias, porém muitos dos docentes se justificam atravésna decadência do ensino público no Brasil e na desconsideração para com seus profissionais.  Não deixam de ter razão, muitos professores precisam lecionar em várias escolas, nos três turnosa fim de conseguir ganhar um salário relativamente satisfatório, salas de aula repletas de alunos, sem deixar de mencionar atos de violência física.  Se no passado, contado por nossos pais, os professores eram vistos como uma autoridade a ser respeitada e admirada, hoje o mesmo está sujeito a intolerânciae falta de reconhecimento.

Porém todos esses fatores negativos que estão até então agregadosna atual educação brasileira,  não foram escondidos da grande mídia, antes noticiado sem obscuridade ao público. Portanto cada qual sabia os reveses de sua escolha profissional. Não querendo dizer que a alienação deve vigorar na área educacional básica, a busca por melhores condições de trabalho, é necessária ocorrer. 

Algo que os profissionais da educação têm de reconhecer é que o mundo mudou e estes devem se adaptar a tais transformações. Estamos Era da Informação, da difusão de um ciberespaço, onde a internet está presente e acessível a grande população brasileira. Os alunos que cursam atualmente o ensino básico estão à frente deste processo informacional, em seus celulares acessam a internete possuem acesso a qualquer tipo de informação a eles desejadas. 

O professor, não é mais“detentor absoluto do saber”, antes é o mediador deste. Como enfatiza Saviani (1995) ao enaltecer o caráter humanístico da relação ensino aprendizagem:

 

O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 1995, p.17)

A partir dessa visão, observamos que o professor/educador é um importante instrumento no processo ensino/aprendizagem, um mediador, de modo que seja necessário uma relação mais humanizada no sentido hierárquico,onde ambos,sejam autores e aprendizes.

 

O conhecimento acadêmico não será suficiente para que o educador possa realizar sua função, agora ele terá de investir em estratégias e ensino a fim de “prender” a atenção do aluno e assim despertar o seu interesse, amenizando gradativamente o desconforto de se sentir solitário no meio de uma turma indisciplinada.

Chegamos a essa conclusão, a vida acadêmica ensina a estrutura do conhecimento e que caberá ao professor criar uma mentalidade criativa e aberta quanto asestratégias didáticas. Nesse sentindo a arrogância deve dar lugar ao contínuo aprendizado do educador, pois sua formação enquanto profissional será uma constante em sua vida, pois o mundo, a sociedadeestá em constante transformação.

Partindo desse principio Gadotti, diz que dentro da sala de auladeve haver uma boa relação entre aluno e professor através do diálogo,

O educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe de tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida (GADOTTI, 1999, p.2).

O aluno se sentindo motivado através da metodologia aplicada e atitudes de motivação por parte do professor terá sua curiosidade despertada e o aprender deixará de se tornar um fardo e sim um prazer. Será um trabalho rumo à aprendizagem mutua, tornando a sala de aula um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos, como sugere Freire (1996, p.38) quando afirma que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

Muito importante mencionar as palavras de Paulo Freire, que nos incentiva a ver nas dificuldades, as possibilidades. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção.”

Para que esse processo ocorra, é fundamental a afetividade, o respeito e o saber ouvir por parte do professor a fim de haver uma boa comunicação, esta baseada em regras e propensas futuras mudanças. Professor e aluno devem compreender que a maneira como é colocada às palavras, são mais importantes do que as palavras ditas. 

Assumindo esse comportamento dentro de sala de aula, o professor estará assumindo seu compromisso com seu aprendizado, e ao mesmo tempo aescola será um importante  instrumento de formação de valores que o aluno poderá levar para toda sua vida.

 

Cabe ao Ministério da Educação, comovem ocorendo, inventar estratégias de reinventar a educação, como ocorre com o PACTO Nacional pelo Fortalecimento do ensino Médio – MEC.  Porém não se deve ser ingénuo ao pensar que tais mudanças ocorreram instantaneamente e assim se acomodar.  Antes, nesse ínterim, cabe ao profissional na educação, voltar sua atenção às práticas inovadoras, ondeo educador deve ser um mediador e facilitador do conhecimento, que ele seja capaz de despertar a curiosidade do aluno, desafiando e instigando-o.

 

Portanto, para que o processo ensino-aprendizagem seja de qualidade e motivador para docente e discente,as mudanças didáticas e pedagógicas devem acontecer, buscando uma metodologia que venha contribuir para a formação crítica e reflexiva. 

1)EugenBertholt Friedrich Brecht, alemão nascido em 1956 em Augsburg, Berlim Leste,  foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo, tornando-o mundialmente conhecido a partir das apresentações de sua companhia o Berliner Ensemble realizadas em Paris durante os anos 1954 e 1955. Torna-se se marxista, desenvolvendo o seu teatro épico. Seu trabalho como artista concentrou-se na crítica artística ao desenvolvimento das relações humanas no sistema capitalista.

2) http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/09/08          

REFERÊNCIAS: 

SAVIANI. Dermeval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 2ª Ed. São Paulo: Cortez: autores associados, 1991.

FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GADOTTI, M. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1999.