IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional, 11ª .ed. São Paulo: Cortez, 2005.

                                                                 Daiane Melo de Castro[1]

O ensino em serviço social e a construção de um projeto profissional nas décadas de 1980/90.

Na década de 1980 foi extremamente fértil a de rumos técnico – acadêmicos e políticos para o serviço social.Hoje existe um projeto profissional ,que aglutina segmentos significativos de assistentes sociais no país ,amplamente discutido e coletivamente construído ao longo de duas décadas.As diretrizes norteadoras desse projeto se desdobram no código de ética profissional do assistente social , de 1993, na lei da regulamentação da profissão de Serviço Social e , hoje, na nova proposta de diretrizes gerais para o curso de Serviço Social.

Esse projeto é fruto de um amplo movimento da sociedade civil desde a crise da ditadura afirmou o protagonizo dos sujeitos sociais na luta pela democratização da sociedade brasileira.Encontra-se ai a base social da reorientação da profissão nos anos 1980.

A relação do debate atual com esse longo trajeto é uma relação de continuidade e de ruptura, a necessidade se superação de impasses profissionais.

O famoso distanciamento entre trabalho intelectual , de cunho teórico -metodológico . E o exercício da pratica profissional cotidiana. Um outro aspecto a ser enfrentado é a construção de estratégias técnico-operativo para o exercício da profissão e a operatividade do trabalho profissional.

O grande desafio é transitar da bagagem teórica acumulada ao enraizamento da profissão da realidade em função dos temas que são objetos de estudo e ação do assistente social.

No cenário das dificuldades são três das qual a categoria se viu prisioneira:o teoricismo, o politicismo e o tecnicismo.Pode-se concluir que articular a profissão e a é a realidade dos maiores desafios , pois se entende que o Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na realidade.O esforço está, portanto em romper qualquer relação de exterioridade entre profissão e realidade.Emerge daí um duplo desafio:a gênese da questão social e as situações particulares e fenômenos singulares com os quais o assistente social se defronta no mercado de trabalho.           

A prática como trabalho e a inserção do assistente social em processos de trabalho

 A proposta curricular propôs a ruptura com a concepção dominante dos anos 80. Tínhamos na questão social a base sócio-histórica do Serviço Social e a profissão inscrita no processo de trabalho. Em 1982, foi estabelecido o currículo mínimo para o curso e os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social foram modificados para atender as novas exigências, para que fosse possível apreender a profissão sob um duplo ângulo; o ângulo da profissão socialmente determinada e o ângulo que é fruto dos sujeitos que a constroem e vivenciam. E também para que pudessem abordar os modos de atuar e pensar a profissão.   

O que há de comum entre o trabalho e a cultura profissional é a história da sociedade, em que a realidade social e cultural provoca e questiona os assistentes sociais. Está claro que o assistente social trabalha com políticas sociais públicas ou privadas, no entanto a pública é uma resposta privilegiada a questão social, que irá explicar as relações entre as classes e o Estado

  A proposta da autora é explicar a questão social a partir da gênese das desigualdades sociais, fundada nas crises causadas pelo capitalismo e que causa a violência e as mais diversas formas de pobreza. Decifrar a questão social é também demonstrar as particulares formas de luta, de resistência material pelos indivíduos sociais a questão social
O Serviço Social deve ser visto como uma especialização do trabalho, partícipe de um processo de trabalho. Para isso, deve-se conectar a prática profissional à prática da sociedade. O assistente social não viabiliza apenas bens materiais. O assistente social está inserido no mundo do trabalho e este permite interligá-lo a pratica da assistência dentro da sociedade.
          Podemos pensar no serviço Social a partir do pensamento da dinâmica das instituições e das relações de poder institucional que o Serviço Social tem. Podemos sintetizá-lo a partir da pratica juntamente com as políticas sociais e os movimentos sociais
A discussão de processo de trabalho é provocativa pois o nosso objeto de trabalho é a questão social, que deixa de ser um pano de fundo e passa a ser a condição para a existência do trabalho, na qual iremos presenciar através do cotidiano e das vivências profissionais.
O instrumento de trabalho que o assistente deve deter é o conhecimento nas suas bases, que é o meio pelo qual é possível decifrar a realidade e ter noção do trabalho que deva ser realizado, pois como trabalhadores não ditemos os bens materiais suficientes, mas somos capazes de tentar viabilizá-los. Onde dependemos diretamente da organização das instituições que irão fornecer estes recursos para a efetivação do trabalho.
             O assistente social tem efeitos na sociedade como um profissional que incide no campo do conhecimento, dos valores dos comportamentos, da cultura que, por sua vez, têm Tem efeitos reais interferindo na vida dos sujeitos

  Logo, o profissional tem objetividade social e não material. Deve-se ter em mente que a sociedade precisa criar consensos de classes base para construir uma hegemonia na vida social, um consenso em torno dos interesses das classes fundamentais. Em empresas capitalistas, o ponto de vista é o da produção de valores ou da riqueza social. Também não podemos esquecer que o Serviço Social depende das instituições empregadoras onde o profissional dispõe de certa autonomia no exercício de seu trabalho. Na década de 1980, o código de ética, as novas diretrizes curriculares e os debates profissionais construíram um Projeto profissional em uma outra direção social

As novas diretrizes curriculares

A proposta de um novo currículo foi estruturada a partir de núcleos temáticos, visando conhecimento e habilidades necessárias à qualificação atualmente. Havia três núcleos; o núcleo dos fundamentos teórico-metodológicos da vida social, o núcleo de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira e o núcleo de fundamentos do trabalho profissional. Esses três núcleos são níveis distintos e complementares de conhecimento necessários à atuação profissional.

 Mesmo com a mudança, o estágio supervisionado e o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) permanecem indispensáveis. Outro ponto importante a ser lembrado é a mudança das disciplinas; História, Teoria e Método do Serviço Social, antes disciplinas autônomas, fundiram-se em Fundamento histórico, teórico e metodológico do Serviço Social. Levando em consideração a desigualdade social e a acumulação capitalista, devemos tratar a questão social, hoje, nas suas várias expressões. Devemos, também, analisarmos as implicações do Serviço Social como trabalho, com ajuda dos debates, que são frutos de um esforço coletivo.

 
Rumos éticos - políticos do trabalho profissional

O desafio de hoje é o de atualizar a prática, visando à questão social na atualidade, buscando ser solidários com o modo de vida dos que a vivenciam. Sendo necessário apontar perspectivas para decifrar o movimento societário. A categoria estava muito preocupada com as políticas sociais e pouco preocupada com a vida dos indivíduos sociais, que eram pouco estudados e conhecidos. Isso permite redefinição e ampliação das bases de reconhecimento da profissão.

Deve ficar claro que, desvendar as condições de vida dos indivíduos, grupos e coletividades são decifrar as diversas formas de lutas articuladas pelas classes subalternas. O assistente social pode envolver-se com a população atendida, para tanto, deve captar os reais interesses e necessidades das classes populares e supor conhecimento crítico do universo cultural de tais classes

             O profissional também deve estar atento para não parecer um “estranho” ao que a comunidade vive. O código de ética deu um rumo ético-político e novos horizontes para o exercício profissional, porém é importante haver um esforço da categoria para que este seja cumprido e não se torne  abstrato no cotidiano da prática.

 Não podemos esquecer que o valor ético central é o compromisso com a liberdade, ou seja, autonomia, expansão e emancipação dos indivíduos sociais. Para a defesa dos direitos humanos, devemos recusar qualquer autoritarismo ou arbítrio, pois quaisquer dos dois inviabilizam a democracia na vida social. Buscamos, na verdade, a construção de uma cultura pública democrática, com uma sociedade capaz de propor e questionar.
Também devemos salientar que na relação entre o público e o privado, o profissional deve estar preocupado com a qualidade dos serviços prestados, com o respeito aos usuários e com o zelo pela eficácia dos serviços prestados. O assistente social está presente nas negociações entre população e entidades empregadoras. Na atualidade, podemos afirmar que, apesar das dificuldades, o assistente social é capaz de ousar e sonhar.


[1]Acadêmica do curso de Serviço Social, V semestre da unipampa/São Borja, resumo apresentado para disciplina de OITP II, 2009.