1.O Autor

Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão, expoente principal da fenomenologia existencial. Recebera profunda influência de Husserl e sua filosofia foi marcada pelo pensamento grego dos pré-socráticos e pela obra de Sören Kierkegaard e Friedrich Nietzsche, influenciou através de suas ideias fortemente o pensador francês Jean-Paul Sartre.

Em sua principal obra Ser e tempo (1927)procurou discutir o que considerava a questão essencial: "Que é ser?". Estabeleceu uma relação fundamental entre o modo de ser dos objetos, da humanidade e a estrutura do tempo. Assinalou que só diante da morte o homem adquire um autêntico sentido do ser e da liberdade. Na Introdução à Metafísica (1953) sustenta que a sociedade tecnológica moderna favoreceu uma atitude manipuladora que privou de sentido o ser e a vida humana, levando-os a um estado que denominou de niilismo. O ser humano é um ser com uma existência entendida como um viver para a morte.

2.O fim da Filosofia e a Tarefa do Pensamento

O texto de Heidegger vai se preocupar com duas questões fundamentais dispostas didaticamente pelo autor e são elas: 'em que medida entrou a filosofia na época presente, em seu estágio final' e 'qual tarefa ainda está reservada para o pensamento no fim da filosofia?' Tais questões, como enunciado no título, buscam se ocupar com o fim da filosofia. Heidegger parte do pressuposto que a sociedade está passando por um período de transformações e estas transformações acarretam numa nova necessidade intelectual. A filosofia não possui mais instrumentos necessários para dar conta desse problema e a solução para os problemas dar-se-á através da técnica. O fim da filosofia proposto por Heidegger não pode ser compreendido com o ponto limite da atividade filosófica, mas como um ponto de reflexão que permite olhar os desdobramentos da atividade filosófica numa perspectiva de compreensão do mundo. Compreensão dada a partir da técnica. Heidegger aponta o fim de um projeto metafísico do ser na ciência, herdado da tradição grega antiga, e o que resta agora ao pensamento, é uma continuação enquanto atitude metafísica no seu modo de operar através de sua transmutação de representação, enquanto uma representação que corresponda de fato ao ser.

"Filosofia é Metafísica" (HEIDEGGER, O fim da filosofia e a tarefa do pensamento, 1999, p. 71). Desta forma, Heidegger começa a dar a resposta para a primeira questão disposta no texto. Há uma redução da tradição filosófica para apenas uma vertente da filosofia, a Metafísica. Para sustentar tal afirmação o pensador afirma que a filosofia, neste sentido, "pensa o ente em sua totalidade" (ibid.). Acredito que este ponto seja fundamental para entender a primeira frase citada de Heidegger. Ao propor a ideia do fim da filosofia ele não a descarta, mas a trabalha com o conceito de "clareira". Somente o ato de clarear será capaz de conduzir a uma reflexão que compreenda a totalidade. E aqui está o grande pulo da concepção filosófica, a possibilidade de compreender a totalidade e na totalidade se ligar à unidade das coisas.

Diante disto que foi escrito acima, cabe a pergunta, qual a tarefa do pensamento? Segunda parte da proposta do texto de Heidegger. E ao fazer tal pergunta, o autor sugere que a questão se direcione ao horizonte da filosofia (cf. op. cit. p. 74) e que ela, a filosofia, está se perguntando a si mesma qual é o seu objetivo ou qual é a sua tarefa. Sua tarefa é compreender o ser. "A questão da Filosofia como Metafísica é o ser do ente, sua presença, na forma da substancialidade e subjetividade" (op. cit. p. 75). A ideia de compreender o ser do ente justifica a frase pretensiosa que inicia o texto de Heidegger, a filosofia é Metafísica. Dentro deste contexto a compreensão do ser fica evidente a partir do momento que há certa claridade, claridade atenta ao ser e isto torna evidente o papel, a tarefa da filosofia enquanto um método com fim na compreensão do ser.

A filosofia desvela o ser. "A Alétheia, o desvelamento, devem ser pensados como a clareira que assegura ser e pensar e seu presentar-se recíproco" (op. cit. p. 79).Para apontar tal caminho, Heidegger recorre a Parmênides e a partir dele tece uma crítica ao modo de pensar Metafísica a partir da herança de Aristóteles. A herança aristotélica se esquece do ser firmando um olhar ao ente e dele falam enquanto nomeiam o ser provocando uma grande confusão na história. O desvelar é tornar clara a tarefa de pensar o ser. É preciso elevar a tarefa da filosofia de sua historicidade para atingir o mistério do ser, ao seu desvelar-se originário através da linguagem. A linguagem vai se ocupar do desvelamento captando a diferença ontológica que há entre o ser e o ente.

Portanto, a Metafísica pensa o ser, o ente em sua totalidade sob o ponto de vista do ser. O ente participa do ser e o ser contém o ente. O ser como fundamento leva o ente a se apresentar, a desvelar em si, se 'presentifica' fundamentado no ser.Como diria Heidegger, "a tarefa do pensamento seria então a entrega do pensamento, como foi até agora, à determinação da questão do pensamento" (op. cit. p. 81).

REFERÊNCIA

HEIDEGGER, Martin. O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. Coleção Os Pensadores. 4ª Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1999.