GESTÃO DEMOCRÁTICA: UM MECANISMO PARA PROMOVER A AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA

CAVALCANTE, Maria Bethânia ¹
ELOI, Taciana Cristina ²
FONSECA, Íngradi Iramaia Alves³
MAGALHÃES, Milane Marinho 4
MAIA, Edjane Maria dos Santos 5
SANTOS, Anderson Antonio dos 6
SANTOS, Maria Vanusa dos 7
SILVA, Maria Lúcia Bernardo da 8













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1 Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Graduada em Pedagogia (UFPE), Professora da Rede Estadual e Municipal de Ensino na cidade de Cupira/PE. E-mail: [email protected]
2 Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Graduada em História (FAFICA), Professora de História de Pernambuco da Rede Privada de Ensino na cidade de Caruaru/PE. E-mail: [email protected]
3 Especialista em Língua Portuguesa (FAFICA), Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Professora de Língua Portuguesa da Rede Municipal de Ensino na cidade de Caruaru/PE. E-mail: [email protected]
4 Especialista em Língua Portuguesa (FAFICA), Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Professora de Língua Portuguesa da Rede Privada de Ensino na cidade de Caruaru/PE. E-mail: [email protected]
5 Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Graduada em Ciências Sociais (FAFICA), Professora de Geografia da Rede Estadual de Ensino na cidade de Caruaru/PE. E-mail: [email protected]
6Pós-graduando em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Graduado em Letras (FAFICA), Professor de Língua Portuguesa da Rede Municipal de Ensino na cidade de Caruaru/PE. E-mail: [email protected]
7 Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Graduada em Pedagogia (UFPE), Coordenadora de Ensino da Rede Municipal de Ensino da cidade de Panelas/PE. E-mail: [email protected]
8 Pós-graduanda em Gestão da Escola e Coordenação Pedagógica (FAFICA), Graduada em Pedagogia (FAFICA). E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente artigo pretende apresentar como a gestão democrática escolar pode favorecer o processo de emancipação dos sujeitos. Um dos instrumentos que pode auxiliar neste processo é a avaliação emancipatória, que busca fazer com que os sujeitos envolvidos se tornem pessoas capazes de analisar, refletir e responsabilizar-se por suas ações, percebendo a importância dos procedimentos avaliativos existentes no dia a dia, essa nova percepção é capaz de favorecer o agir democrático dentro de uma instituição de ensino. Com o presente estudo foi possível perceber o quanto esses dois processos andam juntos dentro do ambiente escolar, pois ao pensar a escola de forma democrática torna-se necessário rever como estamos desenvolvendo nosso processo avaliativo dentro de nossa prática docente e da realidade escolar.

Palavras-chave: Educação.Gestão Democrática.Avaliação Emancipatória.


ABSTRAT

This article aims to present like a democratic school can encourage the process of emancipation of the subjects. One of the tools that can assist in this process is empowering evaluation, which seeks to make the people involved subjects become able to analyze, reflect and take responsibility for their actions, realizing the importance of the evaluative procedures that exist in everyday life, this new perception is able to facilitare the act within a democratic institution. With this study we could see how these two processes go together within the school environment, because the thought of a democratic school becomes necessary to review how we are developing our evaluation process in our teaching practice and the school.


Keywords: Education.Democratic Management.Rating Emancipation.



INTRODUÇÃO


O presente artigo busca apresentar como a gestão democrática pode favorecer o processo de avaliação da aprendizagem ocorrido dentro de uma unidade de ensino. Esclarecendo como esse tipo de gestão pode oferecer uma nova postura para os seres que fazem parte do processo avaliativo, desenvolvendo nestes sujeitos habilidades de pessoas críticas, autônomas e participativas, desenvolturas essas capazes de promover a emancipação dos sujeitos que estão inseridos dentro da escola, desenvolvendo neles um verdadeiro sentimento de pertença local. Ele surge de uma inquietação que nos demonstra que muitas vezes a gestão democrática está presa a apenas nomenclaturas, a qual muitas vezes não é colocada em prática. Muitos profissionais de ensino não percebem que estas atitudes democráticas devem estar presentes em todos os momentos da escola, inclusive nos processos avaliativos. É sob este prisma que orientamos nosso estudo.
O objetivo deste estudo é analisar como a gestão democrática pode contribuir para a efetivação do processo emancipatório, visto que os dois possuem em suas bases os mesmos objetivos, ou seja, os dois processos visam desenvolver nos educandos conhecimentos capazes de fazê-los perceber, analisar e participar da realidade que os rodeiam e através desses construir seus conhecimentos.
A abordagem será de forma bibliográfica e com caráter qualitativo. Saul, Veiga, Hoffmann e Vieira nos oferecerão base teórica para desenvolver o presente artigo, através destes diálogos procuraremos demonstrar com maior clareza a relação que existe entre a gestão democrática e a avaliação emancipatória.
No primeiro ponto deste artigo será apresentada uma breve conceituação de Gestão Democrática, demonstrando como esta surge dentro de uma unidade de ensino. Neste também serão apresentados os principais objetivos, características e princípios deste tipo de gestão escolar; no segundo ponto será abordado como esse tipo de gestão escolar pode promover/favorecer o processo avaliativo dentro da escola, iniciaremos essa abordagem fazendo um breve comentário sobre avaliação, em seguida apresentaremos a avaliação emancipatória como parte integrante deste tipo de gestão.


1 CONCEITUANDO A GESTÃO DEMOCRÁTICA


A gestão democrática é uma prática que possui caráter político, pedagógico e administrativo, na qual se procura articular os diversos segmentos da unidade escolar, visando modificar as relações de poder existentes dentro da escola, transformando-as em ações compartilhadas, colegiadas, transparentes e autônomas.
Democracia, liderança, confiança e competência são termos capazes de nos apontar quais são os pilares de uma gestão democrática. Pois esta possui como seus princípios básicos a descentralização do poder, a participação e a transparência. Quando afirmamos que esta tem em sua base o princípio da descentralização de poder é por que as decisões e as ações que acontecem no interior da escola são elaboradas e executadas de forma não hierarquizada; quando citamos o princípio da participação, nos referimos ao fato da tomada de decisões, que deixa de ser responsabilidade apenas do diretor ou gestor escolar, passando a ser responsabilidade de todos os sujeitos que estão envolvidos nesta comunidade, sejam eles os professores, os discentes, os funcionários, os pais ou responsáveis e até mesmo os representantes da comunidade na qual a escola está inserida; o princípio da transparência é de grande importância dentro de uma gestão tida como democrática, pois é através deste que todas as ações, decisões ou implantações desenvolvidas no interior da escola tornam-se conhecidas por todos os sujeitos envolvidos na comunidade escolar, deixando de ser percebidas apenas como questões exclusivas da equipe gestora, mas passam a ser entendidas como decisões do povo e para o povo.
Esses princípios norteadores da gestão democrática são reafirmados por Veiga quando afirma que

A gestão democrática implica primeiramente o repensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo da reciprocidade, que supera a expressão da autonomia, que anula a dependência, de órgão intermediário que elaboram políticas educacionais tais quais a escola é mera executora. (VEIGA, 2001, p.18).

É interessante ressaltar que esse tipo de gestão escolar visa à participação de todos os integrantes da comunidade escolar, este emitindo sugestões ou participando das decisões referentes à escola e a comunidade, sendo esse ponto uma de suas características principais, pois é necessário o devido reconhecimento da participação das pessoas no processo de tomada de decisões, as quais visam orientar um melhor desempenho da unidade de ensino. Um ponto relevante dentro deste tipo de gestão se refere à questão da responsabilidade, na qual todos estão compromissados com a construção de uma sociedade cidadã, que cultiva e orienta a formação de pessoas críticas, autônomas e participativas, até por que esse tipo de gestão educacional tem por meta formar indivíduos responsáveis, capazes de estar preocupados consigo mesmo e com a comunidade na qual o sujeito está inserido, sujeitos esses capazes de decidir seu próprio destino. Por esse motivo, destacamos a relevância de se desenvolver uma teia de relacionamentos, na qual o companheirismo, a cumplicidade e a responsabilidade andam de mãos dadas, lado a lado na busca de uma sociedade melhor e mais humanizada.
Em suma, podemos afirmar que a gestão escolar que tem em sua origem princípios democráticos tem seus objetivos e princípios voltados principalmente para o desenvolvimento do sujeito, pois os leva a agir de forma crítica, autônoma e responsável pelas coisas que o rodeia, os fazendo agir de forma ativa dentro da unidade escolar na qual está inserido. Torna-se relevante afirmar que esse sentimento de participação e responsabilidade desenvolvidos por uma escola democrática não finda em seus muros, os sujeitos que estão participando deste agir democrático leva seus conhecimentos além da escola, os leva para sua casa, sua comunidade, sua cidade, seu mundo, transformando não apenas a realidade da escola, mas de toda sociedade externa.


2 AS CONTRIBUIÇÕES DE UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA PARA UMA AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA


É dentro deste contexto democrático que analisamos a questão da avaliação no interior da escola, momento este que deve promover atos de reflexão da prática docente e de emancipação dos educandos. Hoffmann nos apresenta algumas considerações interessantes sobre o verdadeiro papel da avaliação dentro de uma unidade de ensino quando diz que

A avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação. Um professor que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo, do termo, instala sua docência em verdades absolutas, pré-moldadas e terminais. (HOFFMANN, 1992, p.17)

A avaliação é reflexão transformada em ação. Ação essa que nos impulsiona para novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre a realidade, e acompanhamento, passo a passo do educando, na sua trajetória de construção de conhecimento. (HOFFMANN, 1992, p.18)


As palavras de Hoffmann são capazes de nos demonstrar que a função da avaliação dentro de uma instituição de ensino não é classificar os alunos, mas sim nos levar a reflexão de nossa prática, reflexão de nossa ação, de nosso dia a dia. Sabemos que esse processo ainda não alcançou progressos no campo educativo, mantendo-se muitas vezes seu caráter meramente classificatório e seletivo, contrariando assim os princípios norteadores de uma gestão democrática, que nos faz perceber que todas as ações desenvolvidas dentro da escola devem favorecer posturas críticas, autônomas, participativas e emancipatórias. Atitudes essas contrárias "ao pensamento clássico, humanista que compreendia a aprendizagem como processo exógeno, e o homem como receptor passivo, um deposito vazio a ser preenchido pelo conhecimento que vem de fora (educação bancária)", conforme nos afirma Vieira (2002, p.120).
A avaliação emancipatória busca fazer com que os educandos tornem-se sujeitos ativos no seu processo avaliativo, deixando de ser apenas um recebedor de conhecimentos, que faz a recepção e a retenção dos conteúdos que lhe são transmitidos, sem agir de forma crítica perante a realidade que o cerca. É importante lembrar que esse tipo de avaliação tem como característica básica uma visão democrática, que busca construir uma cidadania consciente das suas ações e reflexiva da prática escolar diante da investigação da realidade, onde irá desenvolver métodos capazes de propiciar a inserção do sujeito no mundo de forma que este tenha consciência do seu papel dentro da sociedade.
Sobre esse processo de conscientização dentro da escola, Saul diz que

Nessa perspectiva, o processo de conscientização é a mola mestra de uma pedagogia emancipadora em que os membros de uma organização são tratados como seres auto-determinados, isto é, sujeitos capazes de criticamente desenvolverem suas próprias ações. (SAUL, 2000, p.55).

É neste ponto que percebemos como esse tipo de avaliação anda entrelaçada com uma gestão democrática, pois os dois visam desenvolver autonomia, criatividade e inserção social destes dentro da sociedade. Torna-se interessante compreender que as principais características deste tipo de avaliação estão voltadas para um processo de descrição, análise e crítica da realidade, onde seu interesse maior e libertar o sujeito de condicionamentos deterministas levando-o a pensar criticamente, libertando-o para que escreva a sua própria história podendo assim tornar-se responsável por suas ações.
Não podemos deixar de ressaltar que para que esse tipo de avaliação ser colocado em prática é preciso ter o desejo de emancipar os diferentes sujeitos envolvidos nesta avaliação, possibilitando assim uma consciência crítica tanto para as soluções como para a luta de colocá-la em prática, pois esta é um processo contínuo, que visa a correção de possíveis distorções e o encaminhamento para a consecução dos objetivos previstos. Trata-se da continuidade da aprendizagem dos alunos e não da continuidade das provas. Saul nos traz uma contribuição relevante sobre essa questão quando diz

Trabalhar com avaliação é importante, no sentido de que a entendamos vinculada a uma prática educacional necessária para que se saiba como se está, enquanto aluno, professor e conjunto da Escola; o que já se conseguiu avançar, como se vai vencer o que não foi superado e como essa prática será mobilizadora para os alunos, para os professores, para os pais. (SAUL, 2000, p.66)

Conforme pudemos perceber durante o desenvolvimento deste estudo que tanto a gestão democrática quando a avaliação emancipatória possui em sua origem as mesmas vertentes. Responsabilidade, reflexão, participação, posicionamento crítico são seus principais eixos, pois estes possuem a capacidade de fazer com que os sujeitos pensem em sua realidade e procurem agir de acordo com ela, preocupando-se em construir uma sociedade autônoma.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Em suma, podemos concluir que é imprescindível uma avaliação emancipatória quando nos propomos a gerir uma escola de forma democrática. É importante lembrar que a mudança na avaliação implica, necessariamente, um novo pensar sobre a escola, esquematizando novos objetivos e novas visões educativas.
Não podemos deixar de enfatizar que a avaliação que realmente interessa é aquela que busca desenvolver uma educação democrática, numa perspectiva inclusiva, participativa, qualitativa e diagnóstica, que faz alunos, professores, coordenadores e gestores buscarem caminhos para analisar sua prática, observando o que está de acordo com os novos objetivos e o que precisa ser mudado. É um intenso processo de análise e reflexão sobre a realidade, procedimento esse capaz de mudar o pensamento dos sujeitos que fazem parte da comunidade escolar, a fim de mudar o meio no qual está inserido.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mito & Desafio: Uma perspectiva construtivista. 6º ed.Porto Alegre: Educação & Realidade, 1992.

SAUL, Ana Maria. Avaliação Emancipatória ? Desafio à teoria e à prática da avaliação e reformulação de currículo. 5° ed., São Paulo, SP: Cortez, 2000.

VEIGA, A Ilma Passos. (Org.). Projeto político-pedagógico da escola: Uma construção possível. 12ª edição. Campinas, SP: Papirus, 2001.

VIEIRA, Sofia Lerche. (Org.). Gestão da Escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.