FILHOS DE DEUS E FILHOS DOS HOMENS

 Na história da relação de Deus com os seres humanos apareceram duas classes de  indivíduos, as quais identificavam os povos algum tempo após a criação. Com efeito, estas classes descrevem duas identidades de povos responsáveis pela trama da história bíblica: os filhos de Deus e os filhos dos homens.  O primeiro grupo é formado por aqueles elementos que tinham uma relação direta com o Criador, ao passo que o segundo contém os elementos que não se relacionavam com Deus. Enquanto os filhos de Deus se mantinham – quase sempre - firmes no propósito da obediência ao Eterno, os filhos dos homens eram elementos que não faziam parte da escolha divina. Nestas circunstâncias, a terra era comandada por duas forças antagônicas. Lembramos que os filhos de Deus – assim chamados por terem sido escolhidos pelo próprio Deus e por manterem, quase sempre, uma vida santa aos olhos de Deus – estavam cumprindo determinações divinas, enquanto os filhos dos homens se envolviam com a idolatria através de cultos pagãos, e toda sorte de imoralidade que se tem conhecimentos. Duas cidades ilustram a conduta desse povo: Sodoma e Gomorra. Tão marcante foi a conduta devassa dos habitantes dessas cidades, que a primeira forneceu o qualificativo para nomear a conduta imoral da humanidade. Trata-se do termo “sodomia”, o qual identifica aqueles que se envolvem entre si em práticas abomináveis. Não devemos nos esquecer do episódio da arca, o qual relata a condição dos filhos dos homens com suas imoralidades. Foi justamente a conduta imoral que levou Deus a derramar sua ira através de quarenta dias de chuvas ininterruptas.

Esta distinção de seres humanos, ainda que originária em épocas remotas, serve de base quando nos referimos aos dois aspectos da condição humana, ou seja, homens espirituais e homens naturais. Qual a diferença entre esses dois grupos? Quanto à conduta podemos dizer que há inúmeros pontos conflitantes. Os filhos de Deus são aqueles pertencentes ao grupo dos espirituais, e são os que saíram da condição de filhos dos homens, passando a pertencer ao grupo dos filhos de Deus. Em outras palavras, estes são os que tiveram seus pecados lavados, perdoados, e que foram também justificados, regenerados, santificados, obtendo a vida eterna por Cristo, o salvador. Sobre o grupo dos homens naturais, a identidade destes se confunde em tudo com os dos filhos dos homens. Na realidade, um filho do homem é um homem natural e vice-versa.

Mas, que implicações há para o momento presente, quando já se passaram muitos milênios, desde que essa distinção passou a comandar as ações do homem na face da terra?  Muitas, se levarmos em conta que “o homem natural não entende das coisas espirituais, porque elas se discernem espiritualmente”. Nesse contexto, ele não tem uma visão beatífica do reino de Deus, pois o fato de Cristo ter vindo ao mundo, sofrido, morto pelo pecador, não encontra eco em sua mente. Acostumado a valorizar somente o que se pode apalpar – e provar – o plano espiritual para ele é coisa absurda. Desnecessário é dizer que os materialistas fazem parte, sem exceção, deste grupo. Como homens naturais, que não aceitam fazer parte do grupo dos filhos de Deus, sua condição de rebelados contra Deus constitui-se em estar fora da dimensão espiritual, o que lhes confere perder o privilégio da salvação em Cristo. Desta forma terão que enfrentar o juízo divino, conseqüentemente a eternidade com seus pecados sem serem perdoados, na terrível situação de separados de Deus por toda a eternidade. É nesta situação que se encontra a maior parte dos indivíduos. Devido ao fato do homem se sentir bem no pecado, fazendo tudo que sua carne determina, pois não tem domínio de si mesmo, ouvir algo sobre pecado, vida eterna e salvação são palavras estranhas aos seus ouvidos.

Ante essas diferenças e situações de separação entre os dois grupos, a esta altura, cabe uma pergunta bastante significativa: Considerando o fato de todos os homens terem sido criador por Deus; e que a transgressão – ou desobediência – foi o ponto crucial na separação entre o homem e seu criador, qual a razão em haver dois grupos distintos, se a origem de todos é a mesma? De acordo com o que salientamos, o ser humano ao desobedecer perdeu o vínculo paternal no tocante ao fator espiritual. Esta foi a conseqüência do pecado na vida dos homens. Deus, após o ato da transgressão humana, continuou a ser pai somente quanto ao aspecto da criação, sem, contudo, ter deixado Sua identidade espiritual no homem. Por isso é que todos deixaram de ser filhos espirituais de Deus. Devido a essa perda de identidade algo deveria ser feito pelo próprio Deus, a fim de reconduzir a criatura humana à condição de filhos Seus novamente. É aqui que entra a função de Cristo. Ele, o Filho unigênito do pai, é o meio pelo qual os seres humanos têm acesso livre a Deus e ao seu reino. Quando um indivíduo recebe a Cristo como seu Senhor e salvador ele passa a fazer parte do rol dos que já são filhos de Deus. Apesar de humano, sua condição de filho natural morreu. “Quem está em cristo nova criatura é”.

Para que uma pessoa possa passar à condição de filho de Deus, necessário é ter uma estreita relação com o Pai eterno. E isso só é possível quando se torna Seu filho através de Cristo. Ninguém, mas ninguém mesmo pode ter seu passado perdoado sem ter-se tornado filho de Deus! Somente com a adoção de filhos pode o ser humano receber o perdão, conseqüentemente ser justificado de suas faltas e ter direito a fazer parte do reino de Deus. Se Jesus Cristo não tivesse vindo ao mundo; sem ter recebido o golpe pela desobediência do homem, jamais haveria possibilidade de um dia o paraíso celestial ficar à disposição do ser humano. Ainda que possa parecer difícil de entender e aceitar, é justamente o gesto de Cristo que possibilitou ao homem ser considerado novamente filho de Deus. Dessa maneira o ser humano deixa de ser contado como filhos dos homens.

Deus, em Sua santidade, não tem satisfação em que um indivíduo faça parte de sua criação apenas como seres viventes. O que Ele espera é que cada ser humano seja Seu adorador, conseqüentemente reconhecendo-O como pai. Foi por isso que fomos criados “para o louvor de sua glória”. Esta é a função do homem em relação ao seu criador. Se até a natureza, que é obra de Deus louva-O incessantemente, não poderia muito mais o homem se inteirar desse dever? Sendo criado à imagem e semelhança de Deus – em virtudes e caráter – o ser humano não pode prescindir do reconhecimento, bem como dos merecimentos do Eterno. Se Deus criou o ser humano para Seu louvor, e a humanidade se afastou do Pai das luzes, através da desobediência, a ira divina foi mais que justa ter caído sobre ela. E foi justamente esse fator – a ira divina – o motivo pelo qual Cristo veio a terra para reconciliar a criatura decadente novamente ao Pai. Como a desobediência deu origem ao pecado; e é o pecado que separa o homem de Deus, somente um gesto supremo por parte do próprio Criador poderia retirar do ser humano esse pesado fardo. Nesse ponto podemos perceber que Cristo, através do gesto amoroso, assumiu a culpa do pecador, para que ele pudesse se livrar da ira divina, a qual, se não aplacada em relação a qualquer ser humano, permitirá que ele perca a condição de filhos espirituais de Deus. Em decorrência disso, o indivíduo que não se tornar filho de Deus no sentido exato do termo terá que enfrentar a condenação, a qual está reservada para todos que não se enquadram no plano de salvação em Cristo. Estas diferenças – entre filhos dos homens e filhos de Deus – deveria ser motivo de preocupação por parte de todos que ainda  não se acertaram com Deus.