1. INTRODUÇÃO

A interdisciplinaridade é um caminho para se chegar à transdisciplinaridade é experimentar a vivência de uma realidade global que se inscreve nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na escola conservadora, é compartimentizada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola, comunidade, meio-ambiente etc. é o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz na prática por um trabalho escolar coletivo e solidário.

A tarefa fundamental é, portanto socializar conhecimento, disseminando informações e culturas, não só transmitindo, mas reconstruindo. A aprendizagem é sempre acontecimento de reconstrução social e política, e não é só reprodutivista, pois temos o compromisso de fazer o aluno aprender através do conhecimento e da prática.
A melhor maneira de fazer com que isso aconteça é através da interdisciplinaridade, que deve ir além da simples justaposição de disciplinas, ao interagimos em busca de objetivos comuns. Devemos através do trabalho pedagógico arrolar as disciplinas em atividades ou projetos de estudo, projetos de pesquisa e ação. A interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagógica e didática eficaz ao cultivarmos um diálogo constante de questionamento, de aprovação, de indeferimento, de acréscimo, e de transparência de percalços não apontados. Na interdisciplinaridade os alunos aprendem a visão do mesmo objeto sob prismas distintos.

Os professores, que dotados de requisitos básicos (pedagógicos, científicos, éticos), desejam preparar os seus alunos para um mundo em constante evolução, podem, com algum esforço e pesquisa, realizar uma atuação de qualidade, incluindo em seu planejamento escolar, conteúdos de grande valor para a construção de indivíduos autônomos e preparados para o novo mundo.

Entretanto, no cotidiano escolar, muitas vezes, encontramos professores com práticas impensadas, rotineiras e mecânicas, reproduzindo automaticamente, as suas aparentes competências práticas. São incapacitados de usar o seu interior criativo para melhorar suas intervenções. Esses professores esquecem que o objetivo da Educação Física Escolar é ensinar algo que possa contribuir para o processo educativo do ser humano.

A análise do processo de criação da aula pelo educador, faz emergir questões presentes nas discussões educacionais, que versam em como os educadores reconhecem e cultivam uma forma de pensar divergente e autônoma de seus alunos e como possibilitam oportunidades para este exercício. Uma vez que estas concepções não podem estar calcadas em posturas rígidas, tradicionais e reprodutivas. Neste sentindo relevamos a valorização do processo de criação na construção do conhecimento, outorgando o sentido de autoria do educador na sua prática docente:

"Concepções de ensino em que são privilegiadas e valorizadas a reprodução de conhecimento e a memorização de fatos são projetadas para que os alunos adquiram conhecimento de forma passiva. A utilização de metodologias de ensino diretivas, nas quais o professor e o conteúdo a ser aprendido são o centro do processo ensino-aprendizagem, acaba por criar barreiras à expressão criativa do aluno".

Na prática docente percebemos a necessidade de fortalecer o entendimento da função social do educador, a partir da crença de que o sujeito muitas vezes não se percebe parte do processo educativo o que fortalece suas ações reprodutivas e recortadas do todo. Neste sentido percebemos a necessidade de estratégias que garantam o emporedamento do docente, assumindo-se e percebendo-se como ser interdisciplinar, o que permitiria reflexões teoricamente fundamentadas na sua prática docente.

A partir da relevância do processo de criação na prática educativa relacionado a um ser interdisciplinar, e da fragilidade dos processos metodológicos que no nosso entendimento ocultam categorias imprescindíveis para o entendimento dos fatores que influenciaram no vir-a-ser do educador, transcorremos nossas discussões.

As descobertas advindas interdisciplinar aproximam o educador do seu próprio universo, que vai se desvelando pelo próprio rastreamento da sua história de vida, enfatizamos o processo que vai revelando nuances deste ser que estão contidos nos documentos do processo de construção dos seus fazeres, sejam eles de natureza artística ou pedagógica. Esta abordagem, que vê essa estreita relação do educador com seu objeto de pesquisa nos aproximam dos estudos de Lenoir (2001) que discutindo as diferentes formas pelas qual a interdisciplinaridade vem se construindo em âmbito mundial, destaca a vertente brasileira como sendo aquela que enfatiza o saber ser em detrimento a vertente francesa que prioriza o saber e a americana focada no fazer.

Nesta perspectiva ao refazer o percurso de educador e criador através da análise dos registros e produções de sua trajetória, o pesquisador se percebe o quanto à aproximação com os documentos de processos possibilita o encontro com o seu ser, que se configura pouco a pouco de forma inacabada assim como a criação e a educação se mostram.

2. INTERDISCIPLINARIDADE

A palavra é comprida e, para a maioria, indecifrável. É talvez o mistério que faz essa idéia ser tão sedutora. Escolas se esforçam em criar projetos interdisciplinares, universidades se alvoroçam para criar grupos de estudo com especialistas nas diversas áreas do conhecimento e o mercado exige um profissional multidisciplinar, multitarefa. Porém, uma das expoentes da pesquisa da interdisciplinaridade no país, Ivani Fazenda, faz um alerta: "Muitos dizem que fazem [projetos interdisciplinares], mas poucos os fazem de forma consciente", avisa.

Segundo FAZENDA (2001), qualquer trabalho do gênero deve ir muito além de misturar intuitivamente geografia química, matemática e português. O que é ser interdisciplinar, então? "É tentar formar alguém a partir de tudo que você já estudou em sua vida", define. O objetivo dessa metodologia, em sua opinião, também é bem mais profundo do que procurar interconexões entre as diversas disciplinas. Ela serve para "dar visibilidade e movimento ao talento escondido que existe em cada um de nós".

3. A INTERDISCIPLINARIDADE SEGUNDO OS PCNS

A introdução das diretrizes curriculares, apresentadas nos PCNs, em 2000, transformou a interdisciplinaridade em um dos eixos norteadores nas escolas públicas do Brasil, tornando-se, atualmente, uma palavra de ordem de muitas propostas pedagógicas neste nível de ensino. Educação Básica e tem por finalidade possibilitar ao estudante o prosseguimento de estudos em níveis mais elevados e complexos, ao mesmo tempo em que tenta assegurar-lhe uma formação que garanta a ele o exercício da cidadania.

Cabe ao professor saber como atender a esta dupla demanda, desenvolvendo um ensino que torne o aluno capaz de relacionar informações e integrar conhecimentos, como "forma de compreender a complexidade do mundo" (BRASIL, 1999, p.96). O mundo em que vivemos como descreve Santomé (1998) é um mundo globalizado, no qual tudo está relacionado, tanto nacional como internacionalmente.

As dimensões econômicas, sociais, ambientais, científicas, religiosas e outras, são interdependentes não podendo mais ser compreendidas sem que se estabeleçam as pontes existentes entre elas. Um currículo que contemple uma visão interdisciplinar do conhecimento e das relações humanas justifica-se pela "incapacidade das disciplinas de compreender o conhecimento das parcelas da realidade objeto de seu estudo" (idem, p. 27).

Segundo Santomé (1998), obter uma integração dos vários campos de conhecimento e uma experiência crítica e reflexiva da realidade interligada tem-se tornado obrigatório nos sistemas escolares da maioria dos países, constituindo-se em uma maneira de contribuir para melhorar os processos de ensino e aprendizagem.

Segundo Lenoir (1998), as opções epistemológicas para a interdisciplinaridade escolar têm-se caracterizado pelo estabelecimento de conexões entre duas ou mais disciplinas (abordagem relacional), ou pelo estudo de conceitos ou temas de aspecto amplo, valorizando a substituição do conhecimento dividido em disciplinas por uma unidade do saber, por um tema (abordagem radical). A concepção mais comum, encontrada na literatura, e entre professores, é de que a interdisciplinaridade se constitui de uma integração de conteúdos.

De acordo com Furlanetto (2001), concebê-la apenas como uma integração de conteúdos promove conexões forçadas e superficiais, que se mostram fictícias e que, inequivocamente, não satisfazem os professores. Assim, com toda razão, eles acabam resistindo à realização de um trabalho integrado argumentando que conteúdos importantes da sua disciplina deixam de ser apresentados e/ou aprofundados.

Devido à falta de um entendimento claro de como a interdisciplinaridade pode ser colocada em prática e a formação fortemente disciplinar, os educadores, de um modo geral, têm dificuldades na construção de um ensino que busque a integração de conteúdos de diferentes disciplinas, pois isto exige também um trabalho pedagógico de cooperação integrada entre eles. A cooperação integrada entre professores é um ponto chave para a interdisciplinaridade escolar ser possível.

Cada disciplina ou área do saber constitui-se em uma síntese entre conhecimentos e competências gerais ou habilidades que o aluno pode desenvolver. Os temas estruturadores sugeridos nos PCNs, como possibilidade de integrar disciplinas e áreas de conhecimento, não são responsabilidade de uma única disciplina, mas constituem-se metas educacionais comuns. Desse modo, "a organização do aprendizado não seria conduzida de forma solitária pelo professor de cada disciplina", mas "é uma ação de cunho interdisciplinar que articula o trabalho das disciplinas" (BRASIL, 1997, p. 13).

Para Gusdorf (1976), a interdisciplinaridade se tornou popular justamente porque "nasceu da tomada de consciência de que a abordagem do mundo por meio de uma disciplina particular é parcial e em geral muito estreita" (p. 134). Para a compreensão das questões complexas do cotidiano, é preciso uma multiplicidade de enfoques. A Física possui uma participação importante na solução de várias situações complexas, mas, tanto como disciplina científica ou como disciplina escolar, não pode esperar que sozinha abarque toda a complexidade que caracterizam os problemas do mundo atual.

4. PERGUNTAS EXISTENCIAIS

Uma das maneiras de tocar nesse talento oculto seria formar indivíduos que saibam como perguntar e reconheçam a importância desse ato. Segundo ela, os cursos de formação de professores trabalham a linguagem de forma "papagaiada". São feitas "perguntas intelectuais", aguardando-se respostas dentro de um universo conhecido de antemão, o que induz à reprodução das informações dos livros didáticos. O que Ivani propõe é que o professor faça "perguntas existenciais" para obter respostas inusitadas, inesperadas, de seus alunos e, assim, trazer à tona seus talentos.

Em outras palavras, a idéia é falar de questões profundas de forma simples. Assim, o professor que desenvolver trabalhos interdisciplinares deverá "desembocar em coisas que eram impossíveis de abordar em educação há anos atrás, como o amor e a beleza", exemplifica. Segundo Fazenda, na dimensão explorada pela interdisciplinaridade, não basta ser bom de conteúdo. É preciso ser belo. "Uma coisa bonita não precisa ser explicada, ela toca você no seu sentido maior, no sentido de existir."

5. INTERDISCIPLINARIDADE: NECESSIDADE, ORIGEM E DESTINO.

Numa releitura do passado, Ivani Fazenda com os olhos de presente e de futuro, promove um reencontro com Sócrates na história do conhecimento:

"Conhecer a si mesmo é conhecer em totalidade, interdisciplinarmente. Em Sócrates, a totalidade só é possível pela busca da interioridade. Quanto mais se interioriza, mais certezas vão se adquirindo da ignorância, da limitação, da provisoriedade. A interioridade nos conduz a um profundo exercício de humildade (fundamento maior e primeiro da interdisciplinaridade). Da dúvida interior à dúvida exterior, do conhecimento de mim mesmo à procura do outro, do mundo. Da dúvida geradora de dúvidas, a primeira grande contradição e nela a possibilidade de conhecimento... Do conhecimento de mim mesmo ao conhecimento da totalidade". (1999, 15)

Nesse ambiente de mundos em conflito desenvolveu-se a filosofia de René Descartes (1596 – 1650). Ao propor a existência de dois mundos distintos e irredutíveis: da matéria e da mente, sugeriu que apenas na mente residia o "eu", e a matéria deveria ser tratada como algo desprovido de vida. O conceito da natureza, como mãe nutriente, foi substituído pela metáfora do mundo como uma máquina, destituída de emoção, destituída de vida.

"O mim mesmo, o eu, o sou são reduzidos ao penso. Somente conheço quando penso. Conheço com o intelecto, com a razão, não com os sentimentos. Conheço minha exterioridade e nela construo meu mundo, um mundo sem mim, um mundo que é eles, porém não sou eu, nem sou eu, nem somos nós. A razão alimenta-se até exaurir-se de objetividades. Quando nada mais resta, tenta lançar mão da subjetividade, porém, ela não é alimento adequado, porque adormecida, porque entorpecida." (1999: 16)

No Brasil a interdisciplinaridade chegou ao final dos anos sessenta e, de acordo com FAZENDA, com sérias distorções, como um modismo, uma palavra de ordem a ser explorada, usada e consumida por aqueles que se lança ao novo sem avaliar a aventura. Diz ainda que, no início da década de 1970, a preocupação fundamental era a de uma explicitação terminológica.

"A necessidade de conceituar, de explicitar fazia-se presente por vários motivos: interdisciplinaridade era uma palavra difícil de ser pronunciada e, mais ainda, de ser decifrada. Certamente que antes de ser decifrada precisava ser traduzida e se não se chegava a um acordo sobre a forma correta de escrita, menor acordo havia sobre o significado e a repercussão dessa palavra que ao surgir anunciava a necessidade da construção de um novo paradigma de ciência, de conhecimento, e a elaboração de um novo projeto de educação, de escola e de vida." (1999, p. 28).

Em 1976, Hilton Japiassu, o primeiro pesquisador brasileiro a escrever sobre o assunto, publicou e livro Interdisciplinaridade e a patologia do saber, onde apresenta os principais problemas que envolvem a interdisciplinaridade, as conceituações até então existentes e faz uma reflexão sobre a metodologia interdisciplinar, baseado nas experiências realizadas até então. Outro evento importante foi a publicação, em 1979, da obra de Ivani Fazenda, Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro.

Coloca a interdisciplinaridade como uma atitude, um novo olhar, que permite compreender e transformar o mundo, uma busca por restituir a unidade perdida do saber. A década de 1980 caracterizou-se mais pela busca dos princípios teóricos das práticas vivenciadas por alguns professores. A perspectiva era a de superar esta dicotomia. Apesar disso a interdisciplinaridade continuou a se disseminar de forma indiscriminada, já que, de fato, poucos professores a conheciam. Assim, nos anos de 1990, um grande número de projetos, denominados interdisciplinares, surgiu ainda baseado no modismo sem fundamentação.

Por outro lado, apareceu, neste mesmo tempo, um processo de conscientização da abordagem interdisciplinar, expressa no comprometimento do professor com seu trabalho e alimentada pelas experiências e vivências rituais de sua arte Fazenda (2002), anunciando possibilidades de mais do que vencer os limites impostos pelo conhecimento fragmentado, transformar essas fronteiras em territórios propícios para os encontros.

Para Fazenda é na arte de educar que o professor interdisciplinar realiza sua "Grande Obra". É a sala de aula um território favorável aos encontros das mais diversas pessoas, possuidoras dos mais variados saberes, com outros saberes, produzidos por outras pessoas. Nesses encontros as transformações acontecem a transformação do conhecimento e transformação de cada um e nos levam a outro nível de realidade. Encontros e transformações estruturam o Universo. Dos encontros surge a vida. Nos encontros a vida se enriquece e se transforma.

6. ALGUNS CONCEITOS DE INTERDISCIPLINARIDADE

O conceito de interdisciplinaridade formulado por Gusdorf (1976) ressalta exemplarmente a sua importância na construção do conhecimento diante da nova realidade: "interdisciplinaridade é o processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo e serem capazes de enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade atual".
A partir desse conceito, deve-se;

"trabalhar cada disciplina levando o aluno a perceber as inter-relações de seu conteúdo com o das outras disciplinas, para que ele adquira uma compreensão crítica das relações existentes na sociedade entre as pessoas, os sistemas e as conquistas decorrentes do conhecimento humano". (GUSDORF, 1976, 75).

Para isso, a participação de todos os professores representantes das disciplinas é de fundamental importância na construção desse projeto, não basta querer ser interdisciplinar é preciso se perceber como tal.

Fazenda (1996) define bem essa necessidade quando diz que "o que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação da insegurança num exercício do pensar, num construir". Japiassu (1976) também reforça a idéia de atitude: "interdisciplinaridade é uma atitude, isto é, uma externalização de uma visão de mundo que, no caso, é holística".

7. EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PROPOSTA DE INTERDISCIPLINARIDADE.

Durante muito tempo a aula de Educação Física na escola foi vista como hora de lazer ou momento de trabalhar o corpo, desenvolvendo suas funções físicas, reforçando uma concepção dicotômica de corpo e mente. Atualmente, por força legal, a Educação Física é considerada disciplina integrante do projeto pedagógico da escola.

Hoje em dia, novas discussões no meio acadêmico e profissional estão modificando o paradigma da Educação Física Escolar e superando antigas concepções, sendo a interdisciplinaridade uma das propostas de maior repercussão nessas discussões. O trabalho interdisciplinar permite à Educação Física uma interação na construção do conhecimento na escola, fazendo uso de conteúdos inerentes à sua formação e articulando-os com as demais disciplinas curriculares.

Este trabalho monográfico propõe colocar a Educação Física como parceira de uma equipe interdisciplinar buscando continuamente a investigação, pesquisa e descoberta de novos conhecimentos para proporcionar melhor formação ao educando, utilizando o exemplo da Fisiologia do Exercício, que é parte integrante dos estudos da Educação Física e apresenta vários conteúdos que podem ser trabalhados de forma articulada com as demais disciplinas do currículo escolar.

8. REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO À LUZ DO PCN

A educação tradicional secundária, pautada na transmissão de conhecimento ao aluno pelo professor, sem a sua contextualização com o mundo ao seu redor, não está mais atendendo às exigências dos espaços de trabalho e das novas funções a serem desempenhadas na sociedade. Por exemplo, um caixa de supermercados que há alguns anos tinha como função registrar os preços dos produtos, hoje tem à sua disposição um computador onde pode dar informações referentes aos produtos e sua forma de pagamento, além de conhecer os diversos tipos de crediários; ele também contribui nas atividades de marketing da empresa junto aos clientes.

Estas habilidades não se aprendem na escola, nem no ensino médio ou profissionalizante. Já que as relações de produção no trabalho estão em constante mudança cabendo à escola formar um indivíduo apto a compreender as mudanças atuais e interagir com eficácia sobre as que estão por vir.

O PCN do Ensino Médio (Brasil, 1999) aponta preocupações em relação a isso: "A nova sociedade, decorrente da revolução tecnológica e seus desdobramentos na produção e na área da informação, apresenta características possíveis de assegurar à educação uma autonomia ainda não alcançada. Isto ocorre na medida em que o desenvolvimento das competências cognitivas e culturais exigidas para o pleno desenvolvimento humano passa a coincidir com o que se espera na esfera da produção". Dentro dessa realidade, observamos a necessidade de mudanças nos modelos metodológicos existentes. O PCN diz que uma nova concepção curricular para o Ensino Médio, (Brasil, 1999) "deve expressar a contemporaneidade e, considerando a rapidez com que ocorrem as mudanças na área do conhecimento e da produção, ter a ousadia de se mostrar prospectiva".

"É interessante proporcionar aos alunos oportunidades para desenvolver competências estratégicas indispensáveis às novas realidades. "De que competências se esta falando"? Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento". (PCN, Brasil, 1999).

Dentro desse contexto, a resolução CEB nº3, de 26 de junho de 1998, que institui as diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio, inclui a interdisciplinaridade entre os princípios que devem nortear a construção do conhecimento. Conforme o Art.6º, "Os princípios pedagógicos da identidade, diversidade e autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização serão adotados como estruturadores dos currículos do Ensino Médio". (Brasil 1999).

9. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E CURRÍCULO

Desde sua inclusão no currículo escolar até os dias de hoje, a participação da Educação Física no contexto pedagógico vem sendo sempre discutida em relação aos seus conteúdos, a sua importância e a sua relação com outras disciplinas no projeto pedagógico, sobre o que e como ensinar e até mesmo a sua permanência.

Hoje, o PCN (Brasil, 1999) coloca, entre os principais objetivos da Educação Física na Educação Básica, a compreensão do funcionamento do organismo e sua relação com a aptidão física, noções sobre fatores do treinamento em suas práticas corporais, estudos com perspectiva na cultura corporal e sobre atividade física como promotora de saúde. É possível trabalhar esses conteúdos de forma interdisciplinar, promovendo no estudante uma visão mais abrangente sobre a importância da Educação Física na construção da sua formação.
A lei nº 630 de 17/09/1851 - incluí a ginástica no currículo escolar. Em 1882 a Educação Física recebe apoio nos pronunciamentos de Rui Barbosa: "os sacrifícios de que dependem estas inovações parecem-nos mais que justificados, se é certo que a ginástica, além de ser o regime fundamental para a reconstituição de um povo cuja vitalidade se depaupera, e desaparece de dia em dia a olhos vistos, é, ao mesmo tempo, um exercício eminentemente, insuprivelmente da liberdade. Dando à criança uma presença ereta varonil, passo firme e regular, precisão e rapidez de movimentos, prontidão no obedecer, asseio no vestuário e no corpo, assentamos insensivelmente a base de hábitos morais, relacionados pelo modo mais intimo com o conforto pessoal e a felicidade da futura família; damos lições praticas de moral talvez mais poderosas do que os preceitos inculcados verbalmente".

Observando o discurso de Rui Barbosa uma preocupação de caráter eugenista e higienista e da necessidade da formação de um povo "forte", sem vícios e que cultivasse hábitos saudáveis; observamos também a preocupação para a construção de um corpo dócil e disciplinado, pronto para receber e cumprir ordens; e Rui ainda faz uma critica as disciplinas teóricas, dizendo que o aspecto pratica da Educação Física reforça valores morais e normas de forma mais consistente que discursos teóricos.

Esses valores na Educação Física escolar permaneceram até o Estado Novo. Com a mudança do quadro político em 1930, o Brasil preparou-se para entrar no mundo industrializado e tinha a preocupação de levantar a auto-estima de seu povo e consolidar novos interesses políticos. Dentro desse contexto, o esporte é visto como uma das formas de passar para o mundo uma imagem de um país em ascensão. A partir desse novo paradigma, o esporte passa a ter grande importância na Educação Física, e este na escola passa a funcionar como forma de detectar talentos para as seleções das diversas modalidades esportivas do país, assumindo um caráter de competitividade.

Com o inicio da Nova Republica e até nossos dias, a Educação Física vem tendo contornos diferentes nas escolas, não só por questões de interesse políticos ou classes dominantes, mas também por que a partir de 1980, varias pesquisas vêm sendo feitas nessa, área analisando a sua práxis metodológica e seus valores sócio-cultural, político e educacional.

Segundo (Fazenda, 2001) "os anos 80 aparecem como o nascimento de concepções e práticas pedagógicas libertadoras, transformadoras, na perspectiva de desenvolver uma Educação Física voltada para o ser humano e não mais às necessidades do capital. As elaborações traziam em seu bojo uma nova proposta de Educação Física, totalmente diferente de tudo o que havia sido pensado ou experimentado, visto que a Educação Física que se tinha ate então só servia para a manutenção do status quo".

Ao constatar que o termo interdisciplinaridade estava sendo usado sem o devido rigor e a necessária radicalidade científica, identifica a possibilidade de se pensar no ensino formal interdisciplinar nas áreas da ciência, da educação e da Educação Física. Partindo da Antropologia, as ciências humanas devem promover iniciativas interdisciplinares, tendo como alvo a busca da totalidade e a unidade do conhecimento humano. No setor educacional, aponta à urgência de esgotar a conceituação, a terminologia, as exigências, os objetivos e os obstáculos que giram em torno da interdisciplinaridade, desmistificando essa palavra.

10. EDUCAÇÃO FÍSICA E INTERDISCIPLINARIDADE

Muito se tem falado sobre a contribuição da interdisciplinaridade na ciência e na educação. No campo do ensino, constitui condição para a melhoria da qualidade mediante a superação contínua de sua já clássica fragmentação, uma vez que orienta a formação global do homem. Essa formação integral ocorre na medida em que os educadores estabelecem o diálogo entre suas disciplinas, eliminando barreiras artificialmente postas entre os conhecimentos produzidos e promovem a integração entre o conhecimento e a realidade concreta, as expressões da vida, que sempre dizem respeito a todas as áreas do conhecimento.

Acreditamos que as atividades propostas pela Educação Física Escolar além de aprimorar e melhorar os movimentos desenvolve o bem estar geral e preparam também para uma melhor convivência social, política, biológica e ecológica, assim, de uma forma prazerosa, e vinculando a experiência prática aos aspectos corporais estará contribuindo para o processo de aprendizagem e inclusão escolar.

Aprender a movimentar-se implica planejar, experimentar, avaliar, optar entre alternativas, coordenar ações do corpo com objetos no tempo e no espaço, interagir com outras pessoas, enfim, uma série de procedimentos cognitivos que devem ser favorecidos e considerados na construção do conhecimento.

O pensamento interdisciplinar na Educação Física sugere relacionar a aprendizagem escolar com o processo de desenvolvimento motor da criança. Acredita que a chave de toda educação e aprendizagem está no domínio do Esquema Corporal corresponde à organização psicomotora global. Compreendendo todos os mecanismos e processo nos níveis motores, tônicos, perceptivos, sensoriais e expressivos da criança.

O papel da Educação Física sob esta ótica, adquire a função de instrumento facilitador quando na prática, demonstra o sentido, o significado concreto, a intenção e aplicabilidade dos conteúdos adquiridos em sala de aula na teoria. Transcendendo para a vida em sociedade. A atividade motora é um meio de adaptação, de transformação e de relacionamento com o mundo, dessa forma é que se percebe a teia de relações que a Educação Física esta inserida e as conexões estabelecidas com as demais áreas do conhecimento.

No esporte a criança está em constante contato com a matemática, seja para contar pontos, dividir times, ler tabelas, construir gráficos, estudar linhas de marcação das quadras e também com ciências ao conhecer seu próprio corpo, suas partes e o funcionamento do seu organismo de um modo geral. Enfim, muitos pontos podem ser encontrados com todas as áreas e assim obter resultados positivos na aprendizagem.

O esporte, pela atividade coletiva, é um meio de socialização muito grande, desenvolve a consciência comunitária, a cooperação e a participação. Se ministrado sob a forma de treinamento de habilidades e competências individuais, respeitando a diversidade e as diferenças, passa a ter fundamental importância na inclusão escolar e também social. Deve ter a finalidade de dar oportunidade, de formar para a cidadania e apoiar-se no princípio da busca de superações, qualidade de vida e oportunidade para todos.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização de atividades interdisciplinares tem exigido dos professores o trabalho em equipe, que inclui a cooperação profissional, o desapego em relação a posições individualistas, o respeito ao tempo e à capacidade de cada um contribuir com o trabalho coletivo. Ficou evidenciado que o trabalho individualizado, com o qual os professores estão habituados, dificulta a cooperação integrativa, inibindo, portanto, o trabalho interdisciplinar. Para a interdisciplinaridade tornar-se viável, é preciso criar dentro da escola a cultura do trabalho em equipe e da cooperação profissional, o que permite a troca construtiva de pontos de vista, estabelecendo, desta forma, um clima de confiança no trabalho de uns e outros.

No entanto, quando tentam fazer um trabalho interdisciplinar eles esbarram em carências de suas formações. Eles reconhecem essas carências, entendem que têm problemas para enxergar os pontos de conexão entre as várias disciplinas. Eles têm consciência de terem sido formados de forma absolutamente disciplinar, mas têm procurado estratégias que possibilitem ajudar seus alunos a integrar o conhecimento.

Isso demonstra que, mesmo lentamente, uma maneira diferente de construir o conhecimento escolar está sendo divisada e introduzida na escola. Devido às exigências colocadas pela interdisciplinaridade, os docentes das escolas estão percebendo a necessidade de estudar os objetos de conhecimento de outras disciplinas e de aprender uns com os outros. Isto mostra que a formação continuada do professor é extremamente relevante para tornar o trabalho interdisciplinar eficaz, pois realizar atividades integradas exige que o professor estude como estabelecer elos de ligação entre as disciplinas.

Como o conhecimento é extremamente dinâmico, ou seja, muda constantemente é imprescindível que o professor se atualize para o seu trabalho tanto disciplinar quanto interdisciplinar. Com este trabalho pudemos entender que a interdisciplinaridade exige planejamento coletivo e coordenado por alguém que seja hábil para unir e motivar os colegas e ao mesmo tempo em que oriente e dê suporte as atividades interdisciplinares.

Este trabalho também constatou que a realização do trabalho interdisciplinar demanda material didático que apresente as conexões entre a Educação Física e temas diversos da realidade cotidiana e do conhecimento científico como um todo. Em outras palavras, contatou-se que para facilitar o trabalho interdisciplinar os docentes têm necessidade de material didático, ou paradidático, que não seja direcionado apenas para sua disciplina específica.

É importante ressaltar que para superar a barreira do individualismo, que impede um trabalho interdisciplinar eficaz, como mostra este trabalho, é necessário unir os professores para um trabalho conjunto. Partindo da tentativa de integrar conteúdos, os docentes superam, aos poucos, o isolamento dos demais, encastelados nas suas disciplinas de formação. A interação entre os profissionais torna-se possível em um processo de abertura que, sem dúvida, transforma a ação pedagógica de quem ousa abrir suas fronteiras para o novo e o desconhecido.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física / Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1999.96p.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais, Apresentação dos Temas Transversais e Ética, Brasília: MEC/SEF, 1997.

FAZENDA, Ivani.