FONTES, Neuza SorayaI

RESUMO

O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de discutir a educação escolar inclusiva para crianças com deficiência auditiva. Para tanto, fez uma breve relato sobre a definição, tipos, causas,diagnósticos e a inclusão escolar com crianças com deficiência auditiva, contemplando as diferenças entre as aprendizagens das crianças com deficiências e as com audição normal e suas implicações na atual prática escolar. Constata-se, que ao optar-se em oferecer uma educação bilíngüe, a escola está assumindo uma política lingüística em que duas línguas passarão a co-existi no espaço escolar representando um salto qualitativo dentro da inclusão escolar dessas crianças, ainda não há visão crítica, por parte de grande parte dos profissionais da educação, acerca do que está escrito nesse novo modelo educacional inclusivo. Acredita-se na necessidade da uma política educativa esclarecedora na divulgação desse modelo inclusivo, para que este ultrapasse as fronteiras das Leis da nova proposta educacional e permita chegar realmente nas escolas, e permita uma reflexão crítica, não figurando apenas como exigência curricular, mas atingindo a inclusão de fato.


Palavras Chave: Éducação, Deficiência auditiva, Inclusão.


1. INTRODUCÃO
O deficiente auditivo é classificado como surdo, quando sua audição não é funcional na vida comum e hipoacústico aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. A deficiência auditiva pode ser de origem congênita, causada por viroses materna doenças tóxicas desenvolvidas durante a gravidez ou adquirida, causada por ingestão de remédios que lesam o nervo auditivo, exposição a sons impactantes, viroses, predisposição genética, meningite, etc.
A surdez é um defeito invisível. Costuma-se não perceber a importância da audição em nossas vidas, a não ser quando começa a faltar a nós próprios. A audição é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo e a comunicação humana é um bem de valor inestimável. A diminuição da audição (surdez) produz uma redução na percepção de sons e dificulta a compreensão das palavras, assim como sua aprendizagem durante sua vida escolar.
A educação escolar de crianças com deficiência auditiva nos faz pensar não só a questões referentes aos seus limites e possibilidades, mas também aos preconceitos existentes nas atitudes da sociedade para com elas. As pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da educação escolar,decorrentes da perda da audição e da forma como se estruturam as propostas educacionais das escolas.(DAMÁZIO,2007)
Pesquisas desenvolvidas no Brasil e no exterior indicam que um número significativo de sujeitos surdos que passaram por vários anos de escolarização apresenta competência para aspectos acadêmicos muito aquém do desempenho de alunos ouvintes, apesar de suas capacidades cognitivas iniciais serem semelhantes. Uma evidente inadequação do sistema de ensino é denunciada por estes dados, revelando a urgência de medidas que favoreçam o desenvolvimento pleno destas pessoas. (LACERDA,2006)

Para Lacerda (2006) no mundo todo, a partir da década de 1990, difundiu-se com força a defesa de uma política educacional de inclusão dos sujeitos com necessidades educativas especiais, propondo maior respeito e socialização efetiva destes grupos e contemplando, assim, também a comunidade surda.

Houve um movimento de desprestigio dos programas de educação especial e um incentivo maciço para práticas de inclusão de crianças com deficiência auditiva em escolas regulares (de ouvintes). Desse modo, diversas têm sido as formas de realização da inclusão. Todavia, é inegável que a maioria dos alunos surdos sofreu uma escolarização pouco responsável.
Este trabalho pretende, então, compreender sobre os aspectos sociais e físicos na inclusão de crianças com deficiência auditiva no ambiente escolar, partindo do conhecimento sobre os tipos, causas e diagnósticos da surdez.

2. DEFICIÊNCIA AUDITIVA.
2.1 Tipos, Causas e Diagnósticos

Existi três tipos de surdez, esta pode ser por condução, por percepção ou neurosensorial e mista, de acordo com cada tipo é referida causas diferentes. A surdez é considerada mista quando existi problema em ambos os mecanismos, de condução e o neurosensorial. (LINDEN, 2008).

Segundo Linden (2008) A perda auditiva por condução quando existe um bloqueio no mecanismo de transmissão do som, desde o canal auditivo externo até o limite com o ouvido interno. Algumas causas importantes de surdez de condução são: Obstrução por acúmulo de cera ou por objetos introduzidos no canal do ouvido, Perfuração ou outro dano causado no tímpano, Infecção no ouvido médio, Infecção, lesão ou fixação dos pequenos ossinhos (ossículos) dentro do ouvido médio.

A surdez de percepção ou neurossensorial (lesão de células sensoriais e nervosas) é aquela provocada por problema no mecanismo de percepção do som desde o ouvido interno (cóclea) até o cérebro. Algumas causas importantes de surdez de percepção ou neurossensorial são, por exemplo: Ruído intenso é causa freqüente de surdez. Intensidades de som acima de 75 decibéis podem causar perdas auditivas induzidas pelo ruído (PAIR), Infecções bacterianas e virais, especialmente rubéola, caxumba e meningite, podem causar surdez de percepção. (LINDEN,2008).

A surdez é considerada mista quando existi problema em ambos os mecanismos. (LINDEN,2008).

O diagnóstico precoce de deficiência auditiva permite a intervenção e o ideal é que ambos ocorram nos primeiros 6 meses de vida. A triagem auditiva neonatal universal é recomendada, pois avalia todos os recém-nascidos e não apenas aqueles com indicadores de risco para perda auditiva. Embora existam testes comportamentais para a avaliação auditiva, os exames ideais são os objetivos, tais como as emissões otoacústicas e os (EOA) potenciais evocados auditivos de tronco cerebral, pois são exames eletrofisiológicos que não dependem da participação da criança, sendo úteis em recém-nascidos e crianças pequenas. As emissões otoacústicas avaliam a função coclear e o potencial auditivo evocado avalia a função auditiva até o tronco cerebral. Ambos são usados na triagem auditiva neonatal embora o registro das EOA seja o mais comum por ser de aplicação mais fácil e rápida. (AU).

3 INCLUSÃO ESCOLAR DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA.

Estudar a educação escolar das crianças com deficiência auditiva nos reporta somente a questões relacionadas a seus limites e possibilidades, mas também aos preconceitos existentes nas atitudes da sociedade para com elas. Muitos alunos com deficiência auditiva são prejudicados pela falta de estímulos adequados ao potencial cognitivo,sócio-afetivo,lingüístico e político- cultural e ter perdas quanto a sua aprendizagem.

Estudos realizados na ultima década do século XX e inicio do século XXI, por diversos autores e pesquisadores oferecem contribuições à educação de alunos com surdez na escola comum ressaltando a valorização das diferenças no convívio social e o reconhecimento do potencial de cada ser humano.

Para Poker (2001) as trocas simbólicas provocam a capacidade representativa desses alunos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, em ambientes heterogêneos de aprendizagem. No entanto,existem posições contrárias à inclusão de alunos com deficiência auditiva nas turmas comuns,em decorrência da compreensão das formas de representação da surdez como incapacidade ou das propostas pedagógicas tradicionalmente desenvolvidas para atende-lós que não consideram a diversidade lingüística.

Conforme Silker (1999) considera que o modelo excludente da Educação Especial está sendo substituído por outro, em nome da inclusão que acaba por não respeitar a identidade das crianças com deficiência auditiva, assim como sua cultura e sua comunidade.

Estas questões geram polêmica entre muitos estudiosos, profisionais, familiares e entre as próprias pessoas com deficiência auditiva. Àqueles que defendem a cultura, a identidade e a comunidade surda apóiam-se no discurso das diferenças,alegando que elas precisam ser compreendidas nas suas especificidades,porém, porém pode-se cair na cilada da diferença,como refere Pierucci (1999),que em nome da diferença,pode-se também segregar.

Diante desse quadro situacional, o importante é buscar confrontos promovidos na relação entre as diferenças, novos caminhos para a vida em coletividade, dentro e fora da escola e, sendo assim, como seria atuar co alunos com deficiência auditiva, em uma escola comum que reconhece e valoriza as diferenças?Que processos curriculares e pedagógicos precisam ser criados para atender a essa diferença, considerando a escola aberta a todos e, portanto, verdadeiramente inclusiva?

Não se trata de trocar a escola excludente especial, por uma excludente comum. Ocorre que alguns discursos e práticas educacionais ainda não conseguiram,responder ás questões acima formuladas,mantendo os processos de normalização com as crianças com deficiência auditiva.

A inclusão do aluno com deficiência auditiva deve acontecer desde a educação infantil até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir seus direitos escolares, exercendo sua cidadania, de acordo com os princípios constitucionais do nosso país.

A inclusão dos alunos com deficiência auditiva na escola comum requer que se busquem meios para beneficiar sua participação e aprendizagem tanto na sala de aula como no Atendimento Educacional Especializado. Conforme Dorziart (1998), o aperfeiçoamento da escola comum em favor de todos os alunos é primordial.Esta autora observa que os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais,entretanto,deve-se considerar que a simples adoção dessa língua não é suficiente para escolarizar o aluno com deficiência auditiva.

A escola comum precisa implementar ações que tenham sentido para os alunos em geral e que esse sentido possa ser compartilhado com os alunos com surdez. Mais do que a utilização de uma língua,os alunos com essa deficiência precisam de ambientes educacionais estimuladores,que desafiem o pensamento e explorem suas capacidades em todos os sentidos.

O uso de uma língua só não é o bastante para se aprender, senão as crianças ouvintes não teriam problemas de aproveitamento escolar, já que quando entram na escola na escola já estão com a língua oral desenvolvida. A aquisição da Língua de Sinais,não é garantia de uma aprendizagem significativa,como mostrou Poker(2001),quando trabalhou com seis alunos com surdez profunda que se encontravam matriculados na primeira etapa do Ensino Fundamental,com idade entre oito anos e nove meses e onze anos e nove meses,investigando,por meio de intervenções educacionais,as troca simbólicas e o desenvolvimento cognitivos desses alunos.

Segundo esta autora, o ambiente em que a criança com deficiência auditiva se encontra principalmente o da escola, na medida em que não lhe oferece condições para que se estabeleçam as trocas simbólicas com o meio físico e social, não exercita ou provoca a capacidade representativa dessas pessoas, conseqüentemente, compromete o desenvolvimento do pensamento. A pesquisadora constatou que nesse caso,a natureza do problema cognitivo da criança com surdez está relacionado à:

[...] deficiência das trocas simbólicas, ou seja, o meio escolar não expõe esses alunos a solicitações capazes de exigir deles coordenações mentais cada vez mais elaboradas, que favorecerão o mecanismo da obstrução reflexionante e conseqüentemente, os avanços cognitivos (POKER, 2001:300)

Considerando a necessidade do desenvolvimento da capacidade representativa e lingüística dos alunos com deficiência auditiva, escola comum deve viabilizar sua escolarização em um turno e o Atendimento Educacional Especializado em outro, contemplando o ensino de Libras, o ensino em Libras e o ensino da Língua Portuguesa.

Ao optar-se em oferecer uma educação bilíngüe, a escola está assumindo uma política lingüística em que duas línguas passarão a co-existi no espaço escolar. Além disso,também será definido qual será a primeira língua e qual será a segunda língua, bem como as funções em cada uma delas irá representar no ambiente escolar.Pedagogicamente, a escola vai pensar em como estas línguas estarão acessíveis às criança,alem de desenvolver as demais atividades escolares.As línguas podem estar permeando as atividades escolares ou serem objetos de estudo em horários específicos dependendo da proposta da escola.Isso vai depender de "como","onde",e "de que forma"as crianças utilizam as línguas na escola.(MEC/SEESP,2006)

Inúmeras polêmicas tem se formado em torno d educação escolar para crianças com deficiência auditiva. A proposta de educação escolar inclusiva é um desafio,que para ser efetivada faz-se necessário considerar que os alunos com deficiência auditiva tem direito de acesso ao conhecimento,à acessibilidade,bem como ao Atendimento Educacional Especializado.Conforme Bueno(2001),é preciso ultrapassar a visão que reduz os problemas de escolarização das crianças com deficiência auditiva ao uso desta ou daquela língua,mas sim de ampliá-la para os campos sócio políticos.
























REFERÊNCIA

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência.Cad.Cedes,Campinas,vol.26,n.69,ago.2006.Disponívelem:http://www.feneis.org.br/arquivos/A%20INCLUS%C3%83O%20ESCOLAR.pdf.Acesso em: 15 de abril de 2010.

LINDEN, Arnaldo. Surdez.[S.I].ABC da Saúde.2008. Disponível em:<http://www.abcdasaude.com.br>. Data de acesso em: 16 de abril de 2010.

MENDONÇA, Claudia logman. Diagnostico precoce na deficiência auditiva. Disponível em: http://74.125.155.132/scholar?q=cache: oGSJt7n3ufUJ:scholar.google.com/+diagnostico+para+surdez&hl=pt-BR&as_sdt=2000.RECIFE 1999.Data de acesso:19 de abril de 2010.

ISAAC, Myriam L; MANFREDTI, Alessandra K. S. Diagnóstico precoce da surdez na infância / Early identification of hearing loss in childhood.Ribeirão Preto;235-244, 2005.Disponível em: http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?Isis Script=iah/iah. xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=447260&indexSearch=ID.Data de acesso:20 de abril de 2010.

BRASIL, Ministério Público Federal. O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular. Eugenia Augusta G. Fávero; Luisa de Marillac P. Pantoja ; Maria Teresa Égler Manton.Brasília: Procuradoria Federal dos direitos do cidadão,2004.

BUENO, José Geraldo Silveira. Diversidade,deficiência e educação.Revista Espaço.Rio de Janeiro:INES.nª12,p.3-12,julho-dezembro,1999.

______________. Educação inclusiva e escolarização dos surdos. Revista Integração. Brasília: MEC.nª23,p.37-42,Ano 13,2001.

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos. In:Seminário Educação Inclusiva:Direito à Diversidade,2005,Brasília.Anais...Brasília: MEC,SEESP,2005.P.108-121.

________________. Educação Escolar de Pessoa com Surdez: uma proposta inclusiva. Campinas:Universidade Estadual de Campinas,2005.117p.Tese de Doutorado.

DORZIART, Ana. Democracia na escola: bases para igualdade de condições surdos-ouvintes.Revista Espaço.INES.nª9,p.24-29,janeiro-julho,1998.

PIERUCCI, Antonio Flávio. Ciladas da diferença. São Paulo: Editora 34, 1999.

POKER, Rosimar Bortolini. Troca simbólica e desenvolvimento cognitivo em crianças surdas: uma proposta educacional. UNESP, 2001.363P. Tese de Doutorado.

SKLIAR, Carlos (org.). Atualidades da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre:Mediação,1999.2 v.