UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA













MARIA APARECIDA VIEIRA DE MELO











GARANHUNS-PE
2009


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA











EDUCAÇÃO DO CAMPO:
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS












GARANHUNS-PE
2009
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

Marcelo Machado Martins
Maria Aparecida Vieira de Melo²

Resumo

O presente artigo discorre de uma análise minuciosa ao longo do processo da Educação do Campo, com vista na escola que temos para a escola que queremos. A luz das lutas dos movimentos sociais em congressos nacionais. Por esta via a Educação do Campo é caracterizada pelo êxodo rural, evasão ou simplesmente baixa-estima.
Analisando a preocupação do e no campo, pois considero que a do campo são a identidade e especificidade dos povos do campo e no considero a espacialidade, onde os povos estão localizados e situados. Amparada pela Lei Diretriz e Bases da Educação, política e princípios da educação para o processo educacional.

Palavras chaves: Educação do e no Campo, Movimentos Sociais, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Política e Princípios da Educação.

Introdução

Sabendo que a educação do campo foi advinda da necessidade do progresso, após o período da ditadura militar. Por causa da concentração dos senhores. A educação foi vinda de cima para baixo, imponderada de que solucionaria todos os problemas.
Assim ao longo da historia, as escolas do campo sempre foram tratadas com políticas compensatórias: projetos e programas que começavam e terminavam com os mandatos dos
governos, e nunca com políticas que pensassem uma escola adequada a realidade dessa população, o que nos deixou como herança, entre outras coisas: um quadro de analfabetismo,
da inexistência de escolas em todos os níveis no campo ou de escolas que trabalham conteúdos fora da realidade do rural.
A educação do campo é maior que a escola, pois está presente no movimento e na organização do povo, isto é, a educação acontece de várias maneiras como: educação formal todos os níveis de ensino, a não-formal organizada pelos movimentos sociais, popular e informal que se caracteriza em todo o contexto em que se está inserida.
Assim analisaremos neste artigo a formação que temos na escola e a formação que queremos que esta amparada nos artigos da Lei Diretriz e Bases da Educação. Onde é possível termos uma formação integral dos sujeitos.

Educação do Campo:
A Escola que Temos e a Escola que Queremos

A escola do campo não deve ficar apenas limitada ao mundo das primeiras letras, ou com conteúdos que não contribua para a criança e o jovem do campo resgatar a sua auto-estima. Precisa então estar plantada no solo do campo e produzir conhecimentos sobre a realidade que ajude as pessoas que nela vivem, a transformá-la. Assim a terra seja elemento chave, a cultura, as lutas, e a história do campo, seja ponto de partida para o trabalho em sala de aula. A identidade da escola deve esta inserida na realidade do seu meio, nos saberes da comunidade e nos movimentos sociais.
Com o sentimento de pertença ao campo, os sujeitos desenvolvem suas competências e valores, que vão sendo passado de geração a geração. Assim Milton santos 2001 afirma que "o lugar não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro". Ou seja, são dois elementos que fundamentam a educação do campo: o sentimento de pertença e a superação da dicotomia entre rural e urbano.
Sabendo que a educação do campo está amparada nos artigos da Lei Diretriz e Bases da Educação Nacional, os conteúdos devem ser ligados ao mundo do trabalho, ao desenvolvimento do campo. Assim, teremos conteúdos gerais das áreas do conhecimento: português, matemática, geografia, historia, ciências, que todos os estudantes aprendem em qualquer lugar do Brasil e conteúdos específicos de acordo com as características regionais, locais, econômicas e culturais da comunidade, onde a escola esta inserida.
Porém, isto não quer dizer, que o ensino tem que ser limitado, mas, sim abrangente em suas possibilidades. Assim, a prática pedagógica deve ser inovadora, utilizando diferentes procedimentos, recursos e espaços que resgatem a riqueza das experiências vivenciadas no campo, pois o professor é fundamental na aprendizagem e só depende do Como ele ensina para o desenvolvimento das crianças e jovens do campo, pois ele oferece opções, para os seus irem à busca da qualidade de vida que julgam ser merecedores ou simplesmente viver no campo com qualidade.
Para Arroyo 2007, "o importante não é o que se aprende, mas, a forma de aprendê-lo". Compreende-se que o que intermédia o ensinar e o aprender são o como. Este facilitará o processo simultâneo do ensino, interação e principalmente à aprendizagem. Assim o professor e o aluno constroem juntos, alicerçados na base, onde se valoriza o seu meio, construindo ainda mais a sua melhoria.
As grandes conquistas sociais, dentre elas os direitos humanos, foi reflexos de pensadores que queriam "ser melhor", serem seres vistos como construtores do conhecimento, questionadores, críticos, e reflexivos. A educação do campo não foi diferente, foi uma conquista dos movimentos sociais que lutaram e lutam pela qualidade e dignidade da vida no meio, onde estão inseridos.
Para tal, os movimentos sociais dentre os diálogos constituídos, o nono congresso da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura), foi um momento político fundamental para a afirmação e deliberação sobre a educação do campo que queremos. Por este lado, a luta por uma educação pública de qualidade tem sido motivo de grandes manifestações organizadas por diversos movimentos sociais.
Destacando-se o trabalho da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) e o MST (Movimentos dos Sem - Terra), que tem gerado profundas discurssões e um acúmulo, inclusive em âmbito institucional como é o caso do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - Pronera, criado em 1998, para atender as áreas de assentamentos de reforma agrária.
Vale ressaltar que desde 1960, até os dias de hoje as lideranças de base voltou-se para o povo do campo. Com as experiências dos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes, o Movimento de Cultura Popular da Prefeitura do Recife, a Campanha Pé no Chão Também se Aprende a Ler, da Prefeitura de Natal, o Movimento da Educação de Base e os Círculos de Cultura Popular de Paulo Freire. Nesta década houve um grande investimento na "educação sindical", por causa das criações das Federações e da Contag. E assim os movimentos sociais, vêm trabalhando com mais ênfase em uma proposta de educação para o campo.
A Lei de Diretriz e Bases da Educação é voltada para os artigos e incisos que articulam teoricamente a pratica educacional nas três esferas do poder público: Municipal, Estadual e Federal. Os Municípios devem oferecer Educação Infantil em creches e Pré-escolas e com prioridade o ensino fundamental. O Estadual deve ofertar o ensino médio e técnico-profissional, que poderá ser nas comunidades rurais povoados ou na sede do município. O Federal deve ofertar o ensino superior em universidades.
A escola pode organizar as turmas de diferentes maneiras: classe multisseriada, ciclo, alternância ou séries.
O calendário da escola do campo pode ser organizado de acordo com a realidade local, desde que não prejudique os alunos na quantidade de dias letivos, efetivados em 200 dias letivos de trabalho.
A gestão escolar comporta toda a comunidade, bem como os movimentos sociais.
Pode-se participar da gestão escolar o Conselho Municipal de Educação, Conselho Escolar, Comitês de Gestão como Caixa Escolar, Merenda, Fundeb, conferências de educação. Há também a participação dos movimentos e sindicatos na elaboração do Plano Municipal de Educação: PME. Este é um plano global, de toda educação, não é apenas da Secretaria de Educação nem da rede de ensino municipal.
O plano nacional de educação plurianual, visa à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do poder público que conduzam a: erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, qualidade do ensino, formação para o trabalho e a promoção humanística, cientifica, e tecnológica.
A formação do professor é assegurada por lei e é obrigação do poder Municipal, Estadual, e Federal com cursos de capacitação, especialização para a formação continuada.
O financiamento da educação do campo consta na Constituição Federal à aplicação de 18% da União, e os Estados, Municípios e Distritos e o Federal 25% dos impostos da educação. Assim um valor maior para os alunos de 1ºa 4º serie da educação do campo.
O papel dos conselhos é imprescindível para o desenvolvimento da qualidade do ensino, pois são os conselheiros que conhecem e interferem na realidade para a sua melhoria.
Pensar a educação na relação com o desenvolvimento sustentável é pensar a partir da idéia de que o local, o território pode ser reinventado através das suas potencialidades. Uma das formas de trazer à tona as potencialidades está na revitalização da importância do coletivo como método de participação popular de gestão das políticas e das comunidades, onde vivem.
Uma política publica de educação deve respeitar todas as formas e modalidades de educação que se orientem pela existência do campo como um espaço que é ao mesmo tempo produto e produtor de cultura. É essa capacidade produtora de cultura que o constitui como um espaço de criação do novo e do criativo e não, quando reduzido meramente ao espaço da produção econômica , como o lugar do atraso, da não-cultura. O campo é acima de tudo o espaço da cultura.
O princípio da educação volta-se para a qualidade de ensino que é um direito dos povos do campo, transporte escolar, educação do campo como formação humana para o desenvolvimento sustentável, respeito ás características do campo.
Ao analisar a escola que temos com a escola que queremos percebemos que há muito que ser discutido, ou melhor, posto em pratica. Pois muito tem se discutido sobre a educação do campo e temos modelos como à Escola Ativa, Serviço de Tecnologia Alternativa (Certa) e outros.
Contudo dar-se-á ênfase ao projeto político pedagógico ser voltado para a realidade do campo, cabendo a ação da gestão do município e a prática do professor.
Para freire 1997, "é na luta dos movimentos sociais que o professor se constitui trabalhador, e é enquanto trabalhador que o professor exerce sua pedagogia". Pois são na base das lutas que se vem às vitórias e assim muitas coisas se conquistam.
Considerando que o sujeito é produto e produtor da cultura. Freire 1997 diz que "então o camponês descobre que, tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz também de transformar a cultura: renasce não mais como objeto dela, mas também como sujeito da historia".
Para isso a escola do campo deve ter como raízes: a democracia do acesso a terra, a construção de atitudes e valores para novas relações de gênero, o fortalecimento da agricultura familiar através da produção de alimentos, modelos tecnológicos e assessoramento técnico, democratização do espaço publico, o poder local, e os saberes técnicos, humanos e ambientais. Com estes elementos em pratica, é possível impulsionar o desenvolvimento rural sustentável, através de uma educação compatível com o desenvolvimento tecnológico que esta enraizada em toda sociedade e no campo não é diferente, pois o camponês contribui como a mudança dentro de suas possibilidades, tanto para o progresso quanto para o regresso do seu desenvolvimento, pois depende do grau de formação e informação que o mesmo concebe durante toda a sua vida.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


O presente artigo teve a pretensão de analisar o processo pelo qual a educação do campo passou para se consolidar. Assim não significativamente para a melhoria do ensino, já que aqui é mais um estudo sobre, mas contribui significativamente para a consciência do educador do campo. Pois se formos analisar o porquê da educação rural ser caracterizada pelo êxodo rural, evasão ou simplesmente baixa-estima temos muito motivos, razões e circunstâncias para tal.
Porém se for analisar em que se constitui a qualidade da educação do campo pouquíssimos motivos, razões e circunstâncias terão.
Assim este artigo fica na pretensão de querer mostrar algo, talvez de tudo o que discorri, pouco importa para lhe convencer da importância da educação do campo de qualidade. Mas uma coisa é certa ela está amparada nos artigos constituintes da LDBEN. Assim como temos o direito de denunciar o que não acontece nas escolas do campo, mas que pela lei deveria acontecer.
É pelo conhecimento que temos sobre, que nos move a irmos à luta pelo que está evidenciado na Lei e assim, os movimentos sociais os fazem, lutam pelos direitos que lhes são assegurados. A escola que temos esta muito longe da escola que queremos, pois ambas estão no extremo.
Não pretendo colocar em papel tudo que causa a precariedade do ensino rural, pois é nítido aos olhos de todos, até mesmo da sociedade que não se envolve, mais percebe os absurdos. Também não pretendo deixar explicito a escola que queremos, já que poderá ser utopia, não quero correr o risco de ficar na utopia, pois assim pouco contribuirei para a analise que se é preciso.
Mas, a educação do campo deve proporcionar a formação integral dos sujeitos, para que estes tenham opções de seguir o caminho que julgam ser melhor para o seu desenvolvimento, enquanto cidadãos inseridos na sociedade.
Contudo se faz repensar a prática pedagógica e social da educação, já, que se dará em todos os níveis de ensino. Pois a educação não acontece isoladamente, mas em um complexo conjunto com determinantes e variáveis.
O reflexo do processo educativo está na sociedade. Muitas são as contribuições dos movimentos e de diferentes educadores e pesquisadores para outra compreensão do campo da educação. E é bom que seja assim, que a luta não pare, pois enquanto houver pessoas preocupadas com a educação é sinal que esta precisa melhorar, e assim os responsáveis irão contribuir com suas práticas para a devida qualidade que se é desejada, formando pessoas capacitadas para escolhas que mudarão o rumo de seus limites.









BIBLIOGRAFIA

ARROYO, Miguel G. Oficio de Mestre: Imagens Auto-Imagens. 9º ed. Petrópolis, vozes, 2002.
CARTILHA. Educação do Campo e Metodologia Participativa - Contag/ Maria do Socorro Silva. Brasília /DF, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia-Saberes Necessários: A Pratica Educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1997.