Para falar em educação de jovens e adultos é necessário tocar em algumas questões anteriores que podem ajudar a melhor analisá-la: a questão sócio econômica ou a quem se destina a educação de jovens e adultos; a caracterização de educação de jovens e adultos relacionada com educação popular; a atuação de Paulo Freire;a insolvência do problema educacional no Brasil. Não esquecendo que a história da educação, no Brasil, é entrecortada não por evidências de avanços, mas pela ausência tanto de política educacionais definidas como pela ausência de instituições escolares.

Não vamos, aqui, entrar na discussão de como se realiza a educação de adultos em outros países. Principalmente porque em alguns locais ela é ofertada em moldes diferentes da educação de jovens e adultos que se realiza no Brasil em várias localidade educação de jovens e adultos refere-se a educação continuada ou a treinamento profissional. Nesta reflexão, vamos nos concentrar na modalidade ofertada no Brasil.

A história da educação, no Brasil, embora nos arremeta ao período colonial, só ganha realce a partir do início do século XX com a estruturação das primeiras instituições escolares. Visto que antes, com exceção da atuação dos Jesuítas não havia se estruturado nenhum sistema educacional eficiente. Isso se explica – embora não seja uma justificativa para os critérios atuais – pela mentalidade reinante na colônia, que não estava em sintonia com as transformações renascentistas e posteriormente iluministas, que se manifestavam na Europa. A colônia era uma enorme região agrícola e, dentro daquela mentalidade, para atividade no campo não era percebida a necessidade de escolarização. O filho do colono devia aprender a ser colono e isso era suficiente; nesse contexto as escolas jesuíticas destinavam à catequese. Os poucos filhos das elites que se dedicaram ao estudo eram enviados à Europa, a mãe cultural da América. Mesmo as escolas instituídas com a chegada da Família Real não tiveram uma eficaz estruturação e abrangência nacional, pois se resumiam a atender às necessidades da corte e não à perspectiva do desenvolvimento nacional.

O fato é que durante o período colonial e nos primeiros anos da república crianças, jovens e adultos eram analfabetos. A grande massa populacional não era escolarizada. Assim sendo, a rigor não se pode falar em políticas de educação, no Brasil, nem para crianças e menos ainda para jovens e adultos a não ser partir do século XX.

Desse ponto de vista pode-se dizer que a estruturação da escola, no Brasil, é simultânea ao desenvolvimento da indústria. Cada uma a seu tempo e a seu modo, mas relacionadas.

Outra consideração importante refere-se ao grupo sócio-econômico ao qual se destina isso que se chama de educação de jovens e adultos. Trata-se de uma estruturação de educação, evidentemente, destinada a jovens e adultos, diferentemente da educação regular ofertada desde a infância. Porque se trata de um sistema diferenciado? Por que os jovens e adultos, aos quais ela se destina, não são filhos das elites, mas das camadas de trabalhadores pobres. Os filhos dos ricos, desde o período colonial, quando sentiam necessidade de escolarização migravam para Europa. Já os filhos dos colonos, no período colonial, e depois dos trabalhadores do campo e da cidade, não tinham acesso à escola: ou porque ela não existia ou porque a necessidade de força de trabalho complementar para as atividades agrícolas. Isso obrigava, desde muito cedo, as crianças e os jovens a se afastarem de expectativa escolar para ajudar nas atividades desenvolvidas por seus pais, ajudando na subsistência da família.

Portanto, quando falamos em educação para jovens e adultos necessariamente estamos falando de problemas sócio-econômicos e de situações de exclusão – exclusão porque estamos nos referindo ao não acesso à escola em idade apropriada, mas esses atores sociais estão perfeitamente incluídos no processo capitalista que depende de uma sociedade estratificada para se manter como tal, sem proporcionar situações transformadoras. Trata-se portanto, de uma situação produzida pelas contingências históricas e econômicas. Portanto à pergunta sobre a quem se destina isso que se chama de educação de jovens e adultos a resposta é aos jovens e adultos da classe trabalhadora e que, por serem integrante dessa classe, não tiveram oportunidade de acesso à escola regular em idade específica; sendo, por isso, necessária a criação de um novo sistema, paralelo ao sistema regular e com uma legislação específica.

Isso nos arremete a afirmação de Paulo Freire, dizendo que ao falarmos sobre educação de jovens e adultos, nos referimos à educação popular (aqui não vamos entrar na discussão sobre o que vem a ser popular, nem educação popular), dizendo que "o conceito de Educação de Adultos vai se movendo na direção do de Educação Popular" (FREIRE, 2003, p. 15) . Diz ainda esse "cidadão do mundo", como o chamam os membros do Instituto Paulo Freire, que "a Educação de Adultos, virando Educação Popular, tornou-se mais abrangente" (2003, p.15). E não podia ser diferente, uma vez que o sujeito da educação de jovens e adultos sendo filhos dos trabalhadores, são partícipes das camadas populares e não das elites.

Podemos dizer que foi a partir das camadas populares e da constatação de que esses atores sociais, de modo geral, não tinham espaço no mundo escolar que o pernambucano Paulo Freire desenvolveu aquilo que se popularizou como "Método Paulão Freire". É claro que sua ação não aconteceu isoladamente. Havia, a partir da década de 1950, toda uma movimentação de algumas instituições (Igreja Católica, Movimentos Populares e universitários...) no sentido de promover a alfabetização de adultos. Nesse universo foi que a atuação de Paulo Freire se evidenciou por ser inovadora: ao mesmo tempo em que promovia a alfabetização auxiliava o trabalhador a desenvolver sua consciência de classe. O que se pretendia não era somente que o trabalhador aprendesse a ler e escrever, mas que se tornasse agente de seu crescimento sócio-político.

Após o golpe militar de 1964 a estruturação do movimento capitaneado por Paulo Freire se desfez. O governo militar, em seu lugar, criou uma das primeiras ações públicas destinadas à alfabetização de adultos, o Movimento Brasileiro de Alfabetização-Mobral.

Hoje podemos falar da insolvência do problema educacional brasileiro. Isso se comprova pela permanência de legislação específica para educação de jovens e adultos, programas e políticas específicas para esse fim, evidenciam que o problema não foi resolvido. Cotidianamente podemos assistir pela TV alguns programas destinados a trabalhadores em busca de escolarização ou de mais escolarização; o governo federal mantém ações, contratando professores e "abrindo turmas" que se alojam em diferentes locais, além das escolas, para oferecer cursos de alfabetização de adultos; os estados matem centros escolares para escolarização de jovens e adultos, os EJAs... Tudo isso evidencia que o problema educacional, no Brasil, permanece sem solução. Não sendo resolvido o problema, ele se manifesta na necessidade de manutenção de programas e políticas não de formação permanente ou continuada, mas de alfabetização de jovens e adultos, visto que não tiveram acesso ou oportunidade de escolarização em idade apropriada.

Não estamos falando que não devam ser criados ou mantidos programas e políticas públicas de educação continuada, aprimoramento profissional para adultos. O que estamos afirmando é que em nosso país educação de jovens e adultos é uma manifestação da insolvência do problema d educação básica. Essa falta de resolução se manifesta na necessidade de políticas e programas destinados a jovens e adultos. Tudo isso nos leva a dizer que a educação de jovens e adultos é um problema educacional não resolvido.

1- CARNEIRO, Neri P. A vitória de um fracasso e a Educação de Jovens e Adultos. In. www.webartigosos.com, publicado em 1/07/2008. disponível em: http://www.webartigosos.com/articles/7543/1/a-vitoria-de-um-fracasso-e-a-educacao-de-jovens-e-adultos/pagina1.html

2- FREIRE, Paulo. Educação de Adultos, algumas reflexões. In. GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. (Orgs.) Educação de Jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 6 ed. São Paulo: Cortez. 2003

3- HADDAD, Sérgio. Tendências atuais na educação de jovens e adultos. Em Aberto, Brasília: ano 11, nº 56, out/dez. 1992

Prof. Ms. Neri P. Carneiro

Filósofo, Teólogo, Historiador.

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