Educação como fenómeno social
Publicado em 05 de setembro de 2012 por joao catchindele ngumbe
EDUCAÇÃO COMO FENÓMENO SOCIAL, OS NOVOS MARCOS DA EDUCAÇÃO
Quiméricos ou sonhadores, nós, estudantes sempre buscamos algo mais em nosso quotidiano. Arremessamos a cada dia, a cada semana, a cada mês, a cada trimestre, a cada semestre, a cada ano um ideal e por ele lutamos, emocionamo-nos, adoptamos estratégias. Porém esse ensaio, que provavelmente desencadeará em um debate, só é real para aquele que, ao oferecer-se à apreciação, olha para a educação desde o ponto de vista da fundamentação antropológica (melhoramento da condição humana, emancipação do sistema social marcado pela exploração, exclusão e manipulação do homem) e que tenha sobretudo a crença por uma ontologia que considera o homem como um ser em construção e não como um ser construido, quer dizer, acabado, e simultaneamente toma o diálogo como um processo horizontal e uma constante em ações consciente. Hoje, como fiz entender, quero discorrer e problematizar um tópico comum quanto complexo nas suas implicações. É da educação que estou me referindo, educação como um fenómeno social que é possível analisar desde diferentes perspectivas: como processo (e não estado), como qualidade, como sistema, como resultado, como melhoramento e como ação humana. Cabendo nela o aporte que motiva o olhar sociológico, psicológico, político, filosófico, biológico, antropológico, pelo que se considera haver entre estas, um tecido comum, exigindo de nós uma abordagem fundamentada desde o ponto de vista do imperativo da interdisciplinaridade, e nesta ordem de ideia fica lançado a todos os leitores, o repto à um debate inclusivo.
Já suponho que estou sendo lido por um público conhecedor do verbo e esclarecido sobre as principais questões estruturantes, assim sendo dispenso definições operacionais, sob pena de apresentar uma visão escolastica. O “pú do gato” tem como escopo epistemológico os autores: Edgar Morin, Paulo Freire, este último consagra a educação como sendo a arma cujo efeito depende de quem a tem nas mãos e de quem é atingido por ela, é uma ferramenta contraditória, de permanente movimentação, na medida em que os indivíduos, reconhecendo-se condicionado (não determinado) são capazes de intervir sobre o condicionante, ou ainda, quando diante de acondicionamentos os sujeitos recusam a participação social, permitindo que as elites pintem a sociedade a seu bel prazer segundo o seu poder simbólico e manifesto.
Ora, o actual ímpeto da revolução industrial, esta baseado no espectro da informática, que faz a todos e a cada um nós o autor imóvel de uma infinidade de desloçações virtuais. Portanto, as novas tecnologias parecem abolir as distâncias físicas ao dar-nos impressão de que a África, a Europa, a Ázia, a Antártida são um só pequeno mundo, não obstante estar a dar a impressão de um melhoramento e alargamento do âmbito do nosso conhecimento.
A contradição entre os problemas globais e o “bicho” da (hiper)especialização do conhecimento, como consequência do sistema da classificação da ciência clássica, é o principal desafio lançado ao conhecimento, à educação e ao pensamento. Alias, costuma a se dizer em filosofia que a verdade é como o todo, não pode ser visto no contexto da separabilidade das partes que a compõem, ou seja, a verdade simplismente não pode ser segmentada, portanto o global, tal como diz Morin (1999) tem de ser visto localmente e vice-versa. A este respeito, Blaise Pascal, no século XVII, apontava já uma via de orientação: “… acho impossível conhecer as partes sem conhecer o total, nem conhecer o total se não conhecer especialmente as partes”. (Citado em chaves do Século XXI). Por outras palavras, nem o conhecimento fragmentado, nem a apreensão holísta, globalística, permitem dominar um objecto: o conhecimento deve efectuar um movimento de vai e vem entre o nível local e o nível global, assim como a retroação do universal sobre o particular, permitindo uma organização em função de eixos estratégicos essenciais. O pensamento, deve ser capaz de ao mesmo tempo contextualizar o singular, o particular e o local e de concretizar o global, isto é, de por o global em relação com as partes. Ora, nós, professores e estudante, sofremos de uma dupla cegueira em relação ao universal e ao contexto. Por um lado os etnocentristas forçam o retomar das entidades particulares, por outro, o pensamento tecno-científico constitui um pensamento hiperespecializado, no qual a aptidão para apreender o global se atrofiou. Olhando para a produção intelectual dos autores aqui apontado e considerando o zeitguest benguelense (ambiente cultural e intelectual) posiciono-me ao lado dos intelectuais que defendem a etnometodologia de estudo que parte do indutivo ao dedutivo ou seja, do local ao concreto. É certo que compreendo que não aspiramos a elaborar um modo de reflexão que saiba entender a insustentável complexidade do mundo actual; Contudo, este tipo de pensamento poderia libertar-nos das cegueiras e das miopias que caracterizam a nossa atitude em relação ao mundo. Por exemplo, os europeus e americanos à muito que se aproveitam de uma ciência humana extremamente sofisticada, cujo nível de formalização está muito avançado: a ciência económica. Ora esta revelou-se incapaz de prever as perturbações do sistema económico, nomedamente a crise da zona euro que se desencadeiou à nível internacional. A economia é aberta (pelo menos deveria ser), porém o “bicho” da hiperspecialização que se injetou no pensamento humano tornou-na feichada, fechada sobre si mesma a ponto de ter negligenciado as ligações que mantinha com o contexto humano e social, é como que o homem tivesse ignorado as suas sensações, percepção, paixões, medo, irracionalidade, pánico, ansiedade, impulsos, ódio, amor, frustrações, ambição, e outros estados psíquicos conhecidos quando pensasse sobre os assuntos da economia. Alias, se Freud foi capaz de afirmar que política é o inconsciente (Citado em Barracho, 2011) podemos seguramente dizer que a economia é também o inconsciente. Sei que não estou tratando da economia como objecto de estudo para este artigo, portanto fi-lo referencia no sentido de emblemar a necessidade de uma abordagem interdisciplinar. Por consequência, parece-me franqueado a necessidade da reforma do pensamento a que propunha Morin (1996).
Para terminar este primeiro momento, devo objectivamente exaltar o projecto educativo angolano, que nas suas variantes institucionalizou a monodocencia (procedimento didáctico que consagra e responsabiliza o professor a todas as disciplinas), processo que a meu ver se assume como uma arma forte em prol do resgate do tecido comum subjacente as unidades temáticas, portanto supõem-se que agora quem trata de religar continuamente as materias das diversas disciplinas do curriculo é apenas um único professor, e obviamente que esta iniciativa político-pedagógica tráz fortes implicações, é marcado por obstáculos, adversidades, desdobramento da parte do professor para responder e justificar a eficácia requerida, e aqui começam os contra. Todavia, tal como invoquei, não quero me protagonizar e ser o único “ser do contra”, pelo que declaro aberto o debate…
Produzido por: JOÃO CATCHINDELE NGUMBE
UNIKATYAVALABWILA-ISCED/BENGUELA