MARCELO ROCHA CONTIN

"DISCIPLINA ESCOLAR: CAMINHOS PARA A COMPREENÇÃO DA INDISCIPLINA"

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CAMPINAS - SP 1998

"(...) Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda.

Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, não temos outros caminho, se não viver plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos."

Paulo Freire

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

1 - CONCEITOS DE DISCIPLINA

CAPÍTULO II

2 - O DESAFIO DOS PROFESSORES

CAPÍTULO III

3 - MOTIVOS QUE ACARRETAM A INDISCIPLINA E PROPOSTA PARA MELHORAR

3.1 - NÍVEL DIDÁTICO

3.2 - NÍVEL EMOCIONAL

3.3 - NÍVEL SOCIAL

3.4 - PROPOSTAS PARA A MELHORIADA DISCIPLINA

CONCLUSÃO

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIOGRAFIA


RESUMO

Neste trabalho, buscaremos estudar a disciplina em sua forma de atuação nas escolas. No primeiro capítulo estudaremos as concepção de disciplina e quais as implicações que esta possui no contexto escolar. Perceberemos que a disciplina é um problema com muitas variações e que necessita de uma definição clara sobre a forma que se pode atuar para a resolução desta em sala de aula. No segundo capítulo, estudaremos a questão dos desafios do professor, pois este tem um papel de suma importância, no desenrolar da disciplina, pois ela não é uma questão de autoridade imposta, mas é uma autoridade consentida e entendida, em relação ao amadurecimento do aluno. Portanto, o professor pode não solucionar, mas pode amenizar o problema a que estamos tratando. No terceiro capítulo, estaremos avaliando e ampliando as propostas existente para que a disciplina seja entendida como um elemento indispensável para a garantia da aprendizagem. Portanto, ela deve ser colocada como uma problema de ordem pessoa, antes mesmo que um problema de ordem estrutural. Pretendemos com este estudo elucidar que o fenômeno na disciplina, é um fenômeno pertinente a toda a sociedade e que com a compreensão deste, pode-se transpor para toda a sociedade uma nova ordem estrutural, que serve para a reformulação, até mesmo, dos modos de comportamento que atuam, na sociedade atual. Desta forma a disciplina poderá ser vista não como um estabelecimento de normas de convívio, mas com uma necessidade para o funcionamento de todo o sistema educacional.

INTRODUÇÃO

A questão da disciplina escolar, sempre me chamou muito a atenção, portanto, através desta pesquisa pude tentar compreender melhor quais os razões que fazem com que os alunos sejam indisciplinados, buscando também entender quais são os diversos conceitos que envolvem o termo disciplina, referente ao comportamentos, e ainda tentar entender quais os interesses que esta possui quais as suas conseqüências tanto dentro como fora da escola.

Esse interesse decorreu de uma comparação, constituída entre as diversas concepções pedagógicas, que foram apresentadas e estudas durante o curso, e as práticas vivenciadas durante o período de estágio.

A metodologia que foi utilizada neste estudo, se constituiu basicamente de anotações realizadas em sala de aula, anotações de observação no estágio e comparação com bibliografia especializada.

Portanto o objetivo desta pesquisa é levantar e indicar os problemas pertinentes a questão da disciplina, não querendo esgotar o assunto, mas colocar em discussão um campo que necessita ainda ser melhor estudado. Devido a isto e contribuição deste estudo será a contribuição de ampliar o debate e colocar em questão pontos que ainda não foram abordados anteriormente.

CAPÍTULO I

1 - CONCEITOS DE DISCIPLINA

Neste capítulo, iremos abordar a questão da disciplina, de como ela é vista, os modos que ela se processa, e como ela é entendia nos diversos níveis do interior da escola, para termos claro o que estamos buscando com este estudo sobre a disciplina.

O termo disciplina, tem ocupado um grande destaque para muitos autores modernos, segundo o dicionário, o termo possui o significado de: 1 - Regime de ordem imposta ou mesmo consentida, 2 - Ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização, 3 - Relações de subordinação do aluno ao Mestre, 4 - Submissão a um regulamento, 5 - Qualquer ramo do conhecimento humano, 6 - Matéria de ensino.

Outros autores tais como Makarenko, colocam o conceito de disciplina como sendo, um termo se significado restrito, como sendo um conjunto de regras de condutas, costumes que já foram incorporados e até mesmo como obediência.

As variações sobre o conceito são grandes. Por exemplo, na extinta União Soviética, o significada que a disciplina possuía neste país estava ligado ao cidadão, que não buscava somente compreender o por que e para que, mas tinha o significado de admitir com precisão a disciplina e realizá-la, portanto, a disciplina existia como um ato que evitava de lesar outras pessoas, onde o trabalho era compreendido como um todo e para que fosse possível realiza-lo, deveria-se seguir estritamente o que a disciplina colocava, isto é, o que importava era todo o resultado geral que a disciplina colocava, desde o nível social até o nível educativo.

Diferentemente no Brasil, a disciplina assume pontos de vista que convém destacar, Por exemplo, Paulo Freire, coloca que a disciplina implica em uma relação entre o professor e o aluno, em que a autoridade esta situada na liberdade sadia de ambos. Contudo a disciplina é uma tensão permanente, pois a autoridade e a liberdade que existem em seu interior são o que determinam o equilíbrio que a mesma possui, portanto, segundo o autor, a disciplina é uma "relação radicalmente democrática na qual, porém, jamais o educador será igual ao educando, uma vez que eles possuem diferenças"(1)

O autor coloca exemplos pessoais que ajudam a entender melhor o seu conceito de disciplina. Ele juntamente com Elza, sua esposa, jamais disseram não a seus filhos, se que este não estivesse assentado sobre conseqüências práticas. Mas este tipo de pensamento, nos remete a pensar que nem sempre a criança é capaz de entender os reais motivos que levam a uma negação de um desejo, pois elas ainda não conseguem discernir o que é melhor para elas, portanto, aí se legitima a autoridade que compõe a disciplina.

Viana, outro autor, coloca a disciplina com sendo uma processo consensual, que deve levar em consideração o que deve ser colocado para o bem comum, bem, como o que existe de fato na sociedade democrática de linhas progressistas.

Combatente a este tipo de concepção de disciplina encontramos também a disciplina em seu sentido caótico, que é o quadro pelo qual se encontra situado o país, neste contexto de interpretação da disciplina, ou melhor, da indisciplina, temos como exemplos a fome, a miséria e ae a violência.

Ilca Viana, coloca que a verdadeira proposta disciplinar estaria centrada sobre uma base politizadora, ou seja, esta consistiria em um processo de colocar claramente e bem definidas as relações de poder que existirão para todos os envolvidos no planejamento, ou como a autora denomina, o Planejamento Participativo. Desta forma, a autora diz: "A disciplina participativa democrática, facilitará a interação entre os alunos, não sendo uma falsa disciplina, pois esta é decidida pelo conjunto de todos os elementos da escola"(2).

Percebemos então, que existe uma grande diversidade de interpretações acerca do conceito de disciplina, porém, no que se refere a disciplina na escola existe sempre a tendência a que se interprete essa como sendo relativa ao mau comportamento dos alunos, ou seja, a indisciplina e a punição que esta ligada a esta realidade que serve como um meio de coação, ou seja, de compensação por uma atitude que não esta enquadrada dentro da normalidade das ações concebidas no interior da escola.

Para garantir a ordem, a escola pode optar um tipo de disciplina que melhor corresponda as suas expectativas. Algumas escolas entendem que a disciplina opressora conduz o aluno a apreensão do objeto de conhecimento, colocando a sua expressão no sentido de um princípio educativo. Devemos destacar que entendemos que a disciplina pode ser eficaz, somente quando se possui uma meta clara a se atingir, pois o conhecimento exige disciplina, e qualquer saber investiga a disciplina a ser mais rigorosa para poder apreender todas as suas diferentes nuances.

Outro exemplo de disciplina, é a disciplina exterior que nasce da autoridade do professor, mas é um tipo de autoridade que busca ajudar o aluno a crescer intelectualmente, que por sua vez, se funda coma disciplina interior que encaminha o aluno para o crescimento.

Para Gramsci, o estudo é um trabalho fatigante não só muscular nervoso mas, também intelectual; é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e até sofrimento.

Contudo: "Sem disciplina, seria quase impossível realizar-se a aprendizagem"(3).

Segundo Michael Foucault, disciplina é "uma forma de dominação e de exercício de poder nos espaços sociais menores, cuja organização não é garantida, no seu cotidiano pelas leis maiores"(4). Essa disciplina controla o corpo e alma, o comportamento integral.

Khouri, coloca que a proposta disciplinar de uma escola deve estar baseada nos princípios de uma educação que seja "libertadora democrática e transformadora"(5). Desta forma, este autor defende uma posição de que os trabalhos participativos é o que norteia a implantação de um disciplina que oriente a aprendizagem.

D'Antola, percebe as relações de poder na sala de aula através da existência das seguintes estratégias:

·os alunos sentam-se em carteiras fixas e em fileiras;

·as aulas são expositoras, o aluno somente copia;

·o conteúdo é desarticulado da realidade do aluno;

·os alunos ficam sentados em silêncio;

·os alunos executa, o que o professor manda e só respondem o que foi perguntado;

·A disciplina é entendida como obediências as ordens.

Portanto, a reformulação que D'Antola propõe não é colocar alunos e professores em condição de igualdade, mas é a de fazer com a prática da experiência diária, possa se aperfeiçoar, mudar e estar constantemente se renovando. Deve-se sobretudo entender que na disciplina as relações são antagônicas, que só podem encontrar solução através do diálogo.

Portanto, a autora coloca que a disciplina é ser vista como; a possibilidade do professor fazer com que os alunos formem o seu caráter através do treino mental, exigindo que o aluno vença a si mesmo com consciência; a disciplina é o estabelecimento de leis, normas e padrões de comportamento que visam obedecer a autoridade imposta pelo professor; a disciplina é um conjunto de valores atribuídos para quem se adequa ou escapa aos padrões estabelecidos; a indisciplina são os problemas que ocorrem na classe que perturba, o andamento da sala.

Somos levados a concluir, que a disciplina se apresenta como possuidora de características pertinentes ao processo de aprendizagem, neste caso então, a disciplina é vista por nós como sendo uma condição necessária para a produção da aprendizagem. Mas este problema é um problema global, pois está situado em todos os grupos humanos, portanto, sempre existirá esta questão uma vez que os grupos humanos constituem também a instituição escolar.

Percebemos então que este é um tema complexo, pois a disciplina pode variar de acordo com as condições específicas a que ela se encontra. Somente somos levados a concluir que a disciplina é um ato complementar, isto é, depende das características do disciplinador e do disciplinando, porém, diferentes professores podem conseguir diferentes resultados com uma mesma classe. Assim vimos então a vastidão de opiniões da qual o termo disciplina esta envolvido, buscando com sito traça um primeiro contato com o termo para melhor aprofunda-lo.

CAPÍTULO II

2 - O DESAFIO DOS PROFESSORES

Neste capítulo iremos tratar da questão dos desafios que a disciplina coloca hoje para o professor, daimportância que o professor possui para o combate a indisciplina e na própria problemática que envolve o professor desde seus nível pessoal ate o nível profissional, onde poderemos identificar, quais são as deficiências que envolvem tanto os professores e os alunos, para que se possa evitar que ocorra a indisciplina, prejudicando assim todo o andamento da sala de aula e da escola.

A disciplina como já fora visto anteriormente, é um conjunto de regras que servem para o bom andamento da aprendizagem escolar. Portanto, podemos concluir que ela é uma questão e qualidade de relacionamento humanos, isto é, ela é uma questão de qualidade entre o professor e o aluno.

Içani Tiba, nos coloca que em como no relacionamento humano esta possui características específicas referentes a cada um dos elementos envolvidos:

Da parte do professor, a autora coloca, que este possui quatro funções: a de o que ensina, transmitindo o que sabe; a do que é o coordenador de um grupo de alunos, que identifica as dificuldades existentes na classe e proporciona um bom andamento; a de membro do corpo docente, que escuta as reclamações dos alunos a direção e busca responder adequadamente a reclamação para o aluno reclamante; e a de empregado da instituição, que possui como todo empregado diretos e obrigações.

Da parte do aluno, a autora coloca que este é a peça chave para a disciplina e o sucesso de aprendizado, pois a maior dificuldade que este encontra, está situa na falta de motivação que o leve a estudar. Aautora coloca que o sistema de primeiro e segundo grau é um sistema aprovativo, onde o aluno somente deseja "passar de ano".

Com ultimo fator de interferência na disciplina existe a questão do ambiente, que causa problemas da seguinte forma: classes barulhentas, salas de calor intenso, salas pequenas, etc. Estes elementos que contribuem para o não cumprimento da disciplina.

Outro fator, em nosso estudo que convém destacar, que pode ser observado na prática do estágio e que a autora também destaca, são os fatores de: Idades cronológicas semelhantes e desenvolvimento emocional não semelhantes; dinâmicas familiares distintas; valores pessoais; alunos transferidos de outras escolas; alunos que não sentem simpatia pelo professor e que fazem de tudo para prejudicá-lo, etc.

Portanto, a pós este quadro de constatação dos dificuldades apresentadas pela autora, ela coloca a tese de que: "Ensinar pode ser bastante prazeroso, por que se trata de dividir o saber com que não sabe"(6).

Um dos caminhos que podem transformar a concepção de que ensinar é algo difícil e pouco recompensador e que consolida a tese da autora, é o fato de que a motivação para o aprender e a incorporação da disciplina parte sobretudo do professor, pois quando um professor prepara com cuidado os conteúdos a serem transmitidos o aluno é capaz de entende-los e aprender com prazer, pois o seu interesse pela matéria vai ser despertado e coloca-lo-á a disposição do professor, para que este, estimule a sua criatividade. Para isto, convém ressaltar que o bom humor, o respeito humano e a disciplinas são elementos indispensáveis para que este objetivo de ensinar com prazer seja atingido.

Quando o professor integra-se da informação que vai transmitir e consegue estabelecer a transmissão dos conteúdos relacionados com a realidade, os alunos fatalmente se interessam pelo que está sendo apresentado e desejam se apropria deste saber para colocá-los em prática no seu dia a dia.

"O professor tem o papel essencial como fonte emissora do conhecimento que os alunos captam com a informação. alguns estudantes adoram ou detestam um certa matéria justamente por causa do professor"(7).

Portanto, o professor deve buscar provocar, seus alunos a fim de obter deles a atenção que deseja. Despertando a atenção dos alunos o professor estará trabalhando com a forma visual, e evidentemente é mais fácil se assimilar aquilo que se vê, pois "a vivência jamais se apaga"(8).

Como último passo neste desafio, que o professor tem pela frente, a sua postura e o modo de como ele atua com as diferentes turmas tem de ser própria, ou seja, ele tem de se adaptar a cada uma respeitando o seu modo de ser e de agir, valorizando a presença do outro, desta forma, ele deve levar em consideração todos os aspectos que compões um a turma fim de aproveitar as oportunidades que surgem a sua frente, para enriquecer o relacionamento que ele tem com seus alunos.

Pudemos verificar juntamente com a obra de Tiba, que a comparação entre os professores, é outro importante fator para compreender a indisciplina, pois se o professor ou for "bonzinho" demais ou "rígido demais" ele pode estar inviabilizando a aula para si e até mesmo para seus colegas.

O problema mais grave que a educação enfrenta, é a falta de disciplina e de responsabilidade, pois os professores ainda carecem em sua formação de tomarem atitudes de autoridade coerentes com a sua função, isto é, deixam de colocar para seus alunos exigências temendo ser enquadrados como autoritários, tornando-se desta maneira anti-predagógicos.

Este problema poderia ser solucionado, se os professores pudessem ter um referencial de comportamento onde encarassem as exigências aos alunos como meio não de castigo ou avaliação rígida, mas como meio de fornecer aos alunos responsabilidades e auto avaliação.

Trazendo a discussão para o campo mais amplo, percebemos que ao problema que o Brasil enfrenta referente a questão da disciplina nas escolas, coloca um quadro sombrio para o país, pois o grande problema que contribui também, para o agravamento deste, é a questão da má formação dos professores, que não são adequadamente preparados para enfrentas esta situação, desconhecem a importância da educação dos alunos e se tornam materiais de comércio, ou seja, são visto como os trabalhadores da educação que podem ser substituídos caso não estejam correspondendo as expectativas da escola.

Estes tipos de problemas constatados em âmbito mais amplo colocam em crise a relações entre o professor e aluno que se desenrola diariamente na sala de aula. Ou seja, a ética do capitalismo transforma as relações de ensino em comércio que trata o valor da educação como um valor de mercadoria.

Por exemplo: Os professores que recebem um salário menos e aceitam isto, nem sempre tem capacidade didática para tal cargo; o aluno é visto como freguês, e sempre deve ter razão, o pagamento não inclui a preparação prévia do professor que deve prepara sua aula em casa, desta maneira o desestimula a preparar a aula mais seriamente e deixa o mesmo sem ânimo para apresentá-la, etc.

Concluímos este capítulo verificando que a indisciplina, muitas vezes esta ligada a falta de preparo do professor e que esta em sua maior expressão é um desafio a que o professor deve enfrenta a fim de superar este problema.

Percebemos que a falta de valorização do professor, contribui para agravar mais este quadro da disciplina, pois um profissional que não é valorizado, dificilmente poderá trabalhar dignamente, portanto, aí esta a dimensão do desafia que o professor tem pela frente.

O profissional de educação deverá ter claro que o processo de mudança somente poderá ocorrer, se ele primeiramente tomar consciência de sua condição, buscar sair dela para assim criar meios para mudanças mais profundas em toda a estrutura de ensino a qual faz parte.

CAPÍTULO III

3 - MOTIVOS QUE ACARRETAM A INDISCIPLINA E PROPOSTAS PARA MELHORAS

Neste capítulo, iremos tratar dos problemas que acarretam a indisciplina, mas buscando colocar níveis que não foram devidamente estudados. Para isto, queremos após esta constatação verificar também quais são as propostas mais viáveis para o combate a mesma.

Diferentemente do capítulo anterior verificaremos três níveis que contribuem para a indisciplina, e que não estão somente situados na responsabilidade de professor. Estes níveis que ocorrem de indisciplina podem se dar nos níveis: Didático; Emocional e Social.

3.1 - NÍVEL DIDÁTICO

Há uma grande disparidade, ou melhor dizendo, há uma grande distância entre o aluno que aprende na escola, seguindo um currículo, e uma aluno que aprende no cotidiano. Devido a esta pequena constatação, mas de grande importância percebe-se que devido a falta de uma estrutura para o aprendizado, ou seja, um aprendizado sem didática por parte do aluno que aprende no cotidiano, este aluno corre o riso de se tornar ou apático ou rebelde em sala de aula.

Portado, deve-se ressaltar que os conteúdos acumulados pelos professores de diversas disciplinas, muitas vezes ocorre como os alunos que aprendem no cotidiano, pois estes trabalham com referencias didáticos de livros dotados, sem acrescentar maiores informações e novos métodos, desta forma, eles tornam-se desvinculados de um saber real e inserido na realidade e contribuem para que os alunos não sejam motivados e possa até mesmo ocorrem indisciplina devido a este aparentemente simples motivo.

Para afirmar esta posição, encontramos Lorenzoni que diz: "A posição do professor que leciona, sua profundidade no domínio do conteúdo e a facilidade e transferir esse conteúdo com aplicação compreensiva as experiências vitais, são de sobremodo importantes para o sucesso de sua ação"(9).

Portanto, percebemos que a falta de didática em um professor , não permite que o mesmo possa estar seguro e sendo incentivados na transmissão de conhecimentos, favorecendo assim para o agravamento do quadro de indisciplina.

3.2 - NÍVEL EMOCIONAL

No nível emocional encontramos os problemas referentes aos alunos que são carentes afetivamente, pois estes são o mais freqüentes em nossa escolas. Eles buscam de qualquer forma, chamar a atenção do professor e dos colegas de modo inadequado para os padrões de sala de aula. Portanto, não é difícil que ocorra em muitos casos apego excessivo com uma professora e desprezo e não aceitação de outra.

O que se percebe com este tipo de constatação, é que a família desempenha um papel de suma importância na formação da personalidade da criança, pois é ela que ela assimila valores que permanecem por toda a sua vida e sempre estarão atuando no desenrolar de sua existência. Portanto, os pais são os modelos básicos para a criança e são os que dão segurança a crianças, ou seja, a criança sabe que pode contar com aqueles pessoa. Quando a criança é insegura ela fatalmente apresentara problemas e indisciplina.

Segundo a autora Ferreira, existem duas posições educativas assumidas pelas famílias dos alunos: a autoritária e a progressiva.

Na primeira é colocando mais importância na individualidade na auto-expressão da criança. Assim, procura-se gerar nesta um sentimento de segurança, recorrendo para isto as fontes externas, (pertencer a uma grupo), fontes internas (viver sem sobre carga de atividades). Portanto, é uma forma de dar segurança a fazer com que a criança seja uma pessoa emocionalmente equilibrada. A forma progressiva de se tratar com as crianças, evita o mau comportamento em sala de aula. Agora, já no segundo caso o caso da família autoritária, a disciplina não provém de um processo natural como no primeiro caso, mas provém de uma repressão dos instintos, onde estes são sublimados em atividades intelectuais. Portanto, este tipo de família traz para a criança a insegurança emocional e conseqüentemente acarreta a indisciplina, pois não valoriza uma fixação de valores através de ma autoridade progressiva, mas o faz através de uma autoridade repressor.

Segundo Arendt. "... ao emancipar-se a autoridade dos adultos, a criança não foi libertada, e sim sujeita a uma autoridade muito terrível e verdadeiramente tirânica, seria a tirania da maioria"(10). Este tipo de pensamento da autora serve para nos mostrar o quão ineficaz é uma tipo de família repressora na questão da contribuição para a disciplina escolar.

Por fim, gostaríamos de salientar que os alunos em alguns caso da família progressiva, se eximem de sua responsabilidade dando muito espaço par a auto expressão, ou seja, esta autoridade do adulto se perde e vai para a criança, porém, este processo não é saudável, pois a criança não pode decidir sozinha sobre tudo o que lhe agrada, devemos vê-la como um ser humano em potencial, que esta aí para ser desenvolvido e transformado em um ser que pode decidir sozinho o que deseja, mas para isto ele tem de passa por um processo de amadurecimento e auto-valorização.

3.3 - NÍVEL SOCIAL

Os fatores sócio econômicos, possuem uma conotação negativa dentro da escola, onde alguns destes argumentos são: as crianças subnutridas, os alunos de favelas da periferia urbana os mais velhos, tem dificuldade em respeitar o professor, as crianças desta condições não tem materiais para estudar, ficam na rua, não possuem pais responsáveis para exigir que elas estudem, são crianças que também apresentam a característica da indisciplina.

Verifica-se que esta comunidade que detém o poder de mandar, dar autoridade e exigir obediência, não leva em consideração de que a criança, na realidade não tem culpa do que aconteceu com ela no seu desenrolar social, pois ela somente é um elemento que esta exposta a um vastidão e significados da sociedade que certamente vão influencia-la.

Neste contexto, percebe-se que a disciplina possui uma grande importância nos aspectos sociais, econômicos e culturais da sociedade e que devido as estes aspectos o professor adota como indisciplina apenas uma característica deste quadro, por exemplo a indisciplina pode figurar como um problema cultural do aluno, pois uma família e o ambiente em que vive é um ambiente que não favorece a disciplina.

Assim, a realidade sócio-cultural-econômica do aluno, deve ser levada em consideração, antes de queremos enquadrá-lo no quadro de indisciplina, buscando com isto, criar bases sólidas para a compreensão deste problema na realidade escolar.

3.4 - PROPOSTAS PARA MELHORIA DA DISCIPLINA

Eis algumas propostas para a gravidade este quadro apresentado possa ser ao menos amenizado.

Em nível didático:

·adaptar e contextualizar, formas inovadoras de transmissão de conhecimentos;

·os professores devem buscar formas de motivas os alunos para o aprendizado;

·buscar criar um projeto comum interdisciplinar

·facilitar a troca de experiências de outros professores de outras áreas;

·fornecer um formação que permite analisar a aluno como parte integrante de um contexto;

·transmitir não só o conhecimento, mas valores de cultura;

·a sociedade deve fornecer para o professor subsídios para a realização de seu trabalho, desde os níveis materiais até cognitivos.

·Em nível emocional:

·o professor deve conhecer a relação e autoridade existente na família a fim de ter um meio para se guiar com o caso dos alunos indisciplinados;

·realização de uma ficha individual de cada aluno para facilitar a compreensão de cada caso de indisciplina;

·identificar as dificuldades dos alunos indisciplinados;

·sugerir tratamento com as pessoas da área de Assistência social, quando o caso for mais sério;

·o professor deve trabalhar com respeito pela pessoa do estudante mantendo sempre a sua autonomia em relação a ele.

·Em nível social:

·buscar conhecer a realidade da qual vêm os alunos;

·realizar uma aproximação do aluno com a nova realidade, que é a escola;

·trabalhar conteúdo inseridos na realidade;

·reorganizar a distribuição dos alunos de acordo com as dificuldades;

·eliminar a visão preconceituosa do professor relação ao aluno, tanto no seu modo social, como no seu modo cultural.

Acreditamos que as soluções apresentadas neste capítulo contribuem para não a solução total do problema acerca da disciplina na escolas, mas que elas ajudam a dar uma orientação mais correta para este problema que trata em sua grande parte do desrespeito de um ser humano para o outro. Portanto, o problema para entender a disciplina esta situado mais no campo da compreensão e do amor do que o do seguimento explicito de regras que sequer podem estar contidas na vivência de cada um. Assim, o respeito a cada um e sua forma de ser é o que poderá constituir uma nova forma de se encara a disciplina e poder assim encaminhar a vivência da escola para toda a vivência da sociedade.

CONCLUSÃO

Ao final deste estudo pudemos observar que a questão da disciplina escolar, é um problema que se reflete no interior das escolas, porém, é um problema que não esta restrito somente a professores, alunos, sociedade e família, mas é um problema que está em toda a estrutura do país.

Fica claro para nós que em todo o grupo de pessoas haverá o problema social da disciplina, contudo esta questão pode ser ao menos amenizado caso sejam revistas as formas de se tratar com a disciplina, buscando encará-la não como um problema puramente de comportamento, mas é um problema de estrutura social que afeta as relações.

Percebemos que há um estrutura do ensino quando o aluno culpa o professor, o professor culpa o aluno e os funcionários culpam o professor pelos problemas que surgem dentro da sala de aula.

É a partir do contexto social do educado, da realidade do professor, e da formação mais adequada do corpo de funcionários da escola, é que se poderá encontra estratégias para ajudá-lo a superar suas reações agressivas e defensivas.

Portanto, a questão da disciplina escolar, não esta centrada somente nos objetivos a que se quer chegar, mas esta situada na dinâmica das relações que constituirão a base mais sólida para o aprofundamento desta questão.

Não pretendemos esgotar o problemas, pois percebemos que esta é uma questão que merece ser melhor aprofundada para encontrar-se soluções mais viáveis, para resolvermos a indisciplina nas escolas, pois com a solução deste problema, a comunidade poderá refletir melhor uma nova forma de vivenciar o social, onde todo possam saber se respeitar e se fazer respeitar.

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

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(2) VIANNA, Oliveira de Almeida. In: D'ANTOLA, Berta et alii Disciplina na Escola: Autoridade versus Autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989 p. 13

(3) D'ANTOLA, Berta et alii. A Realidade Psicológica do Menor Carente. Revista de Educação. Rio Grande do Sul: Puc-RS, No. 6-7, p. 150-156, 1983. p. 38

(4) SCHMIDT, Leide M. In: D'ANTOLA, Berta et alii Disciplina na Escola: Autoridade versus Autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989 p.9

(5)KHOURI, Yvonne. In: D'ANTOLA, Berta et alii Disciplina na Escola: Autoridade versus Autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989 p. 41

(6) TIBA, Içani. Disciplina: Limite na Medida Certa. 13a. ed. São Paulo: Editora Gente, 1996. p. 105

(7) TIBA, Içani. Disciplina: Limite na Medida Certa. 13a. ed. São Paulo: Editora Gente, 1996. p. 107

(8) TIBA, Içani. Disciplina: Limite na Medida Certa. 13a. ed. São Paulo: Editora Gente, 1996. p. 109

(9) LORENZONI, Maria Lucinda. Aproximação dos Conteúdos de Ensino às experiências dos Alunos: Situações Práticas Estimulantes ou Receitas Prontas?, Porto Alegre, ano 15, No. 23, p.165.

(10) ARENDT, Hannah. A crise na educação. In: Entre o Passado e o Futuro. São Paulo: EPU, 1978.p. 30-31.

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