Amélia Almeida Myga

Resumo

Alfabetizar é propiciar condições para que o indivíduo – criança ou adulto – tenha acesso ao mundo da escrita, tornando-se capaz não só de ler e escrever, enquanto habilidades de codificação e decodificação do sistema de escrita, mas, sobretudo, de fazer uso real e adequado da escrita com todas as funções que ela tem em nossa sociedade e como instrumento na luta pela conquista da cidadania plena. Existem algumas sugestões quanto ao ensino que podem ser até modificadas, onde o professor pode trabalhar com materiais de apoio no ensino da linguagem oral, composição escrita, leitura com interpretação, jogos e brincadeiras e uma infinidade de materiais que servem como material de apoio na alfabetização. O objetivo da alfabetização é de favorecer o desenvolvimento da comunicação e expressão com ênfase no processo e utilização de textos e garantir a utilização dos mecanismos básicos da leitura e escrita.

Reflexões sobre a história da alfabetização

Na imaginação popular, a alfabetização é a característica distintiva mais importante de um homem civilizado e de uma sociedade civilizada. Expressões dessas atitudes são prontamente colhidas na imprensa popular. Embora os historiadores que têm abordado a alfabetização como um fenômeno histórico tenha em geral medido seu progresso em termos da história da escrita, as reais condições da alfabetização dependem não apenas da história da escrita, mas da história da leitura. Ao lidar com o passado, é obviamente muito mais difícil estar seguro sobre a prática da leitura, sua conduta e amplitude, que sobre a da escrita. Para certos usos da linguagem, a alfabetização é não apenas irrelevante, mas um obstáculo decisivo. Pelo contrário diz o autor, elas são exemplos importantes das correções e das revisões que apenas agora estão começando com respeito à compreensão dos supostos efeitos e conseqüências da alfabetização. Pelos dois últimos séculos, eles têm estado inextricável e inseparavelmente ligados às teorias sociais e pós-iluministas, "liberais" e às expectativas contemporâneas com respeito ao papel da alfabetização e da escolarização no desenvolvimento sócio-econômico, na ordem social e no progresso individual. Esse elenco de conjunturas "presentes na teoria, no pensamento, na percepção e nas expectativas" é enormemente importante. Os resultados dos fracassos estão ao nosso redor. Eles impedem que conheçamos até mesmo as dimensões das mudanças qualitativas nas habilidades populares para empregar de forma útil ou funcional as capacidades da leitura e escrita hoje. Expectativas e suposições a respeito da primazia e da prioridade da alfabetização e da imprensa, para a sociedade e para o indivíduo; a necessidade de habilidades "funcionais" para a sobrevivência; ou a condição de massa da alfabetização como um índice da condição da civilização, todas essas coisas se mantêm de forma insatisfatória e inadequada como substitutos para uma compreensão mais profunda, fundamentada, das questões e problemas. De forma mais importante, a alfabetização é excessivamente valorizada por causa da própria estrutura da escolarização formal. A moeda corrente da escola é constituída de palavras, palavras, que são moldadas de acordo com as exigências da alfabetização. Podemos ter uma visão distorcida tanto da criança quanto das realidades sociais se acha que os valores e os prazeres da alfabetização são tão grandes que podem se tornar fácil ou difícil, leve à riqueza ou a poder... Muito influenciada pela psicologia behaviorista, acredita que a criança é um branco sobre o qual o professor vai depositar o conhecimento. Desse trabalho, resultou um conhecimento precioso, que era deslocar o foco da questão mais importante até então que era a de como o professor ensina, para outra questão, a de como a criança aprende. A teoria construtivista piagetiana mostra que a criança constrói o seu conhecimento de acordo com estágio de desenvolvimento em que esteja através da ação. Essa ação da criança, no ambiente escolar, significa que é ela própria quem escolhe, elimina, coordena, ajusta, organiza e reorganiza os dados que, em seu nível de desenvolvimento, ela pode assimilar. Em outras palavras, a criança não aprende acumulando conhecimento,mas construindo conhecimento. E esse aprender é um processo absolutamente revolucionário, pois cada novo conhecimento construído remaneja o conhecimento que a criança já tem. Em cada momento e em todo o decorrer da vida humana, o processo adaptativo tem funcionamento idêntico, precedido por dois mecanismos indissoluvelmente ligados: assimilação e acomodação: Assimilação: há um organismo que assimila o meio, um sujeito que busca o objetivo de conhecimento (assim como existem órgãos que assimilam alimentos), tudo conforme as possibilidades da organização, ou seja, conforme a estrutura mental de que dispõe o sujeito, seus esquemas assimiladores em atividade. Acomodação: a atividade deassimilaçãolevaaumaacomodaçãodaprópria estrutura, que se modifica em resultado daquela atividade, seja desenvolvendo novos esquemas, seja diferenciando-os ou coordenando-os uns aos outros. Inicialmente, a estrutura mental do recém-nascido está presa a seu equipamento biológico, aos atos reflexos, ás montagens hereditárias, das quais derivam os primeiros esquemas de ações efetivas. Perguntar-se-ia: onde está o começo da ação adaptativa? Na influência do meio? Na iniciativa do sujeito? Piaget explica o processo por uma indiferenciação inicial entre o sujeito e o objeto, da qual derivam os dois movimentos, uma atividade incorporadora de assimilação e uma atividade acomodatícia. Denomina auto-regulação ou equilibração ao fator que é a própria atividade relacionada do sujeito com o objetivo e que explica todo processo. No círculo indissolúvel que leva por meio de acomodação e assimilação, à elaboração da atividade é predominante. Decididamente, a atividade – auto – atividade – pertence ao sujeito, seja assimilado o meio ou acomodando-se a ela, e determina a sua organização interna e a sua adaptação ao meio. É assim que Piaget coloca o conceito da atividade no centro de suainterpretaçãoda vida mental e com papel relevante na explicação do processo adaptativo e no decurso de todo processo, pois onde há vida há adaptação.

A condenação ao tipo de erro cometido pelos alunos, o professor terá condições de fornecer-lhes possibilidades para que o supere. Isso transforma a avaliação num momento produtivo e ao mesmo tempo favorável à aprendizagem. Portanto os erros dos alunos servem de pistas para sabermos em que fases do conhecimento se encontram. Percebemos, então, a integração dessas duas forças da vida humana, num processo contínuo de superação de etapas desenvolvimento. A busca contínua de equilíbrio está ligada em todas as interações do organismo e do ambiente, particularmente na cognição. Diante dos estágios de desenvolvimento do raciocínio pode-se verificar várias transformações nos sujeitos que estão em constante construção do conhecimento, passando ao amadurecimento de suas idéias.

Na maioria dos casos a produção de um erro indica em si mesma uma conquista. Ela sempre se refere a um momento evolutivo da criança. Assim, devemos considerá-lo e fazer uso dele como fonte da construção do conhecimento, aproveitando o que o mesmo traz de conhecimento e desenvolvimento para o indivíduo que o produz. Nesta parte do trabalho queremos mostrar que na construção do conhecimento há erros e erros que podem ser considerados ou não como construtivos, ou seja, nem todos os erros são construtivos, queremos, neste ponto, deixar claro que, por tratar especificamente deste assunto, tomamos como referências Ferreiro (1986, p. 56), que foi discípula de Piaget e construiu sua pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita de acordo com a teoria de seu mestre, e Teberosky (1986, p. 74). O que notamos é que Piaget não trabalhou com os erros denominados construtivos, o que fez foi estruturar a concepção teórica sobre o processo de desenvolvimento cognitivo da inteligência da criança, tratando tal assunto como estrutura do pensamento (assimilação, acomodação) como já retratamos anteriormente. Assim, um professor que pretende ensinar algo sem procurar conhecer os seus alunos, está agindo às cegas, por ensaio e erro, e seu trabalho arrisca-se, no máximo, a causar danos à vida intelectual das crianças.

Características das crianças com dificuldades

Todos os anos são identificadas crianças, dentre as que freqüentam escolas, aquelas que, por alguma razão, não conseguem cumprir de modo satisfatório as expectativas da escola e/ ou dos pais. Habitualmente, os familiares ou responsáveis por estas crianças são orientadas no sentido de procurar um profissional a fim de que este possa diagnosticar o "problema da criança" com o objetivo de corrigir ou sanar as dificuldades presentes. Os professores consideram que a causa dos erros cometidos pelos alunos se deve à falta de conhecimento para o qual preconizam a terapia clássica de repetição da explicação e dos exercícios. Este conceito é fruto da teoria de Piaget, que oferece uma discriminação extremamente interessante sobre o desenvolvimento cognitivo do ser humano, dentro de uma concepção construtivista do processo de aprendizagem. Erros construtivos são aqueles que permitem ao professor observar o percurso intelectual do aluno. Quando são discutidos com a criança, ela também pode acompanhar seu próprio desenvolvimento. O erro construtivo indica a hipótese que a criança faz sobre determinado problema. Esse diálogo vai gerar o desenvolvimento cognitivo da criança. Erros por falta de informações:- no que se refere a um conhecimento das normasouconvenções (como em algunscasosdasregrasortográficasounamatemática).

O erro passa a ser entendido como parte do processo de aprendizagem, como um momento transitório revelador do movimento do indivíduo em seu processo de conhecimento. Para que haja um avanço na aprendizagem, também é necessário que a criança perceba que pode "errar" na construção de seu conhecimento e que nem sempre o caminho por ela escolhido é o mais adequado.

Assim, vemos os erros como necessário na construção do conhecimento. Portanto é preciso que as teorias sejam explícitas fazendo do erro, passos inerentes ao processo de construção.

Os métodos tradicionais estão totalmente desintegrados do meio social. Suas finalidades, suas regras, suas prioridades são diferentes das necessidades reais da criança. A realidade muda constantemente e as aulas pararam no tempo e no espaço,por sua rotina e principalmente pela repetitividade das técnicas de ensino. O repetitivo se torna um dos fatores mais decisivos para a passividade do aluno. Não existem apelos à criatividade, ao raciocínio. O aluno não consegue resultados satisfatórios, sendo rotulados de problemas ou alunos indisciplinados, sem concentração. "A alfabetização ou o ensino da leitura deve partir do todo, para posteriormente passar para decomposição".

Partia ele do princípio de que o processo do ensino da leitura deveria partir de uma palavra que a criança conhecesse, pois este deveria trazer consigo uma idéia interessante e apresentada sob uma forma divertida. Se observar as bases pedagógicas lançadas por Adams, notamos que estas sugerem princípios, que hoje postos em prática, nos parecem invenções atuais: - a globalização; - palavras que pertencem à linguagem da criança; - Adaptação à Psicologia da criança, onde a alfabetização deve explorar os recursos do jogo do movimento; - organização da sala de aula – onde a criança possa agir com naturalidade e quetenhaasuadisposição material de uso comum. A alfabetização deve partir de uma frase. Lança-se a frase e analisa junto à criança os elementos destacando o mais importante, passando da análise para a síntese. Como atualmente, também naquela época as pessoas reagiam às inovações: isto implicava em sair da rotina e mais, implicaria acima de tudo numa tomada de posição, questionando seu próprio trabalho e não simplesmente atribuir a não aprendizagem ao aluno.

Do século XIX ao XX, esta passaria por Claparede, Ernest Renan, Decroly, Montessori, Piaget, Wallon, Freinet. Todos deram sua contribuição para o aprofundamento e enriquecimento dos Métodos Globais. Entre estes, Decroly e Freinet foram os que mais esforços fizeram, de forma prática, adaptando o ensino da leitura e da escrita à nova corrente. Decroly conseguiu através da prática fundamentar todo o seu trabalho nesta nova proposta. Ambos exigem que o ensino seja apropriado aos interesses da criança e julgam útil iniciar sempre com as mais primitivas necessidades da humanidade em contato com o meio: necessidades de nutrir-se, de vestir-se, de trabalhar em harmonia com a coletividade. Preconiza ainda que as escolas sejam laboratórios e não auditórios, exigindo o concurso dos trabalhos manuais para a aquisição dos conhecimentos. O ideal comum é, pois, aproximar a vida à escola e ensinar a criança a agir, fazendo-a agir. O jogo lúdico é, sem dúvida nenhuma, a maneira mais natural de despertar na criança a atenção para uma atividade. "O jogo é um traço de união entre a criança e a vida no domínio da escola'".

Conforme Decroly apud Freinet (1998, p. 34) "a escola há de ser para o menino e não o menino para a escola". A afirmação deixa bastante evidente o objetivo da educação para Decroly. Decroly concentra sua atenção muito mais nos meios, na técnica, na realidade viva que o menino representa. O método fundamenta-se norespeito à criança, cuja personalidade é sagrada e servirá de centro de toda complexidade de seu programa. É o aluno, com sua realidade, interesse e capacidade que definirá o fim da educação – o esforço para que cada criança alcance seu grau de perfeição de que seja capaz. A figura da criança deverá ser inteiramente ativa, livre, espontânea, onde o aluno e professor definem juntos as regras do jogo, que garantirão uma disciplina, uma organização.

Princípios da Liberdade: A liberdade na escola é fundamental para a criança desenvolver-se sem coações, sem imposição de situações, conhecimentos previamente concebidos. Decroly, para realizar este princípio propõe um programa amplo, elástico, formulado dentro das características da faixa etária, este programa elaborado deve ser escolhido pelas próprias crianças.

A atividade educativa é condicionada por vários fatores, como faixa etária, sexo, saúde, as habilidades do professor. Em face disto, para que a criança consiga trabalhar com autonomia, é preciso recorrer a um outro princípio – o da Individualidade, pois como afirma o próprio Decroly, "não há nada nem pode haver senão liberdade na escola. Atividades da criança: Outra característica do Método é o de provocar o trabalho espontâneo e constante. Este princípio tem sua fundamentação na Psicologia, a qual explica que a característica da criança nesta idade é a inquietude e o movimento, sendo seus interesses dominantes o brinquedo e o jogo. Através do jogo a criança aprende a resolver problemas sociais, intelectuais e morais, desenvolve o raciocínio, a reflexão. A atividade lúdica deve fazer parte do programa escolar, pois é só através desta atividade que a criança realmente conseguirá trabalhar espontaneamente. A sala de aula deve estar organizada de tal forma que as crianças realmente possam agir, trabalhar espontaneamente e circular livremente, e que o material esteja ao alcance da criança. A sala deve apresentar materiais que a criança mesma colecionou. A ação da criança deve seguir uma graduação, da simples observação a observação estruturada, até exercícios de elaboração.

A Intuição: Princípio que proclama a necessidade de substituir a palavra como forma exclusiva para o ensino, propondo então o ensino através do contato direto com o objeto em estudo. Ainda baseando-se na Psicologia ativista, a criança só aprende quando pode intervir livre e diretamente na realidade. A criança deve ter o domínio completo do objeto em estudo. A função do professor já não é mais de determinar definir a observação, mas de aclarar dúvidas e as conclusões dela, a resolver as perguntas da criança, a motivar as associações.

Para despertar a observação na criança, Decroly recorre ao meio mais rico e inesgotável – a Natureza. Decroly fez do meio ambiente o elemento criador de seu programa, uma vez que o artificial afasta a criança do seu mundo, do seu interesse em explorar e de suas possibilidades de aprender a elaborar.

nos seres vivos, nos elementos naturais; que a criança sinta o sabor das frutas, o cheiro das flores e suas observações, associações... ali, no contato com o real.

O tema central do programa: O tema central do programa de Decroly está na preocupação, quase que exclusiva, de a criança, por si mesma, desenvolver de maneira sistemática o estudo da vida física e dos caracteres psíquicos da infância, suas necessidades dominantes e suas relações com a sociedade em que vive.

O conhecimento da própria personalidade, consciência de si mesma, de suas necessidades, aspirações, deveres e ideal;

Conhecimento das condições do meio natural e humano em que ela vive, do qual depende e sobre o qual deve agir.

A Globalização é a única via da alfabetização. Um dos valores de seu sistema de ensino é o de questionar a divisão de disciplinas, de matérias, pois esta divisão não permite o conhecimento da realidade viva, total. O ensino fragmentado não favorece o desenvolvimento da inteligência, pois reduz a aprendizagem a uma transmissão isolada, levando, inclusive, a criança a desinteressar-se pela escola.

A criança com uma visão total do mundo, não tem condições de perceber para posteriormente reconstruir esta realidade.

Conforme Garcia (1995, p. 73), para o ensino da leitura Decroly usava um processo que pode ser chamado visonatural, ideovisual ou visoideográfico.

Fundamenta sua proposta através da prática. Geralmente quando uma criança aprende a ler, a compreensão visual dos sinais gráficos, a expressão verbal e a associação dos sons e sua representação gráfica, a expressão escrita e a ortografia desses sinais se formam um único todo.

A leitura compreende diferentes funções:

função visual e verbal;

função auditiva;

função motora da linguagem ou da escrita;

uma função superior para a interpretação.

Se esse processo é eficiente para a aquisição da fala, por que não usar o mesmo na aprendizagem da leitura?

Frases escritas, traduzindo pensamentos, constituem o aspecto mais concreto de uma idéia expressa verbalmente.

A criança na medida em que compreende a linguagem falada, traduz oralmente cada vez mais, com mais precisão e complexidade seu pensamento. Em relação à escrita, ocorre o mesmo processo, já que a criança tem desenvolvido sua capacidade de percepção e compreensão da linguagem.

De acordo com Micotti (1990, p. 81), é preciso, pois, preconizar: o método visual da leitura; emprego da sentença, da palavra concreta; repetições numerosas, facilitadas pelo interesse e pelos jogos; uma decomposição natural, pela criança; leitura associada às diferentes noções dadas. Para alfabetizar, é um enunciado óbvio afirmar que é preciso começar do simples para o composto; do concreto para o abstrato.A letra e o som são a última expressão do trabalho de análise feito pelo espírito humano.

O método de Decroly prevê dois princípios para a operacionalização da mesma: associarasimagensescritas das coisas e dos fatos a essas mesmas coisas e fatos; associar a leitura às outras matérias do programa; facilitar oportunamente a decomposição para o reconhecimento das imagens de outras palavras que não tenham sido apresentadas à criança. É um método que cumpre o princípio do concreto para o abstrato; pois segue um caminho natural.A criança precisa de pré-requisitos que quase nunca são observados. É preferível desenvolver a observação da criança em maior tempo possível, do que se precipitar o ensino da leitura. O não desenvolvimento destas habilidades influi diretamente no êxito da leitura.

O ensino escolar deve estar baseado na primazia da ação do aluno. Sem ação do aluno não há aprendizagem. Todo conhecimento procede da ação.

Não há foro íntimo no processo da aprendizagem. O conceito de interatividade aplica-se à relação do aluno com o meio ambiente, com as pessoas e com os instrumentos de trabalho, na interatividade se fortalece a autonomia e a aprendizagem de procedimentos e atitudes sadias como cooperação, respeito, responsabilidade, segurança, independência intelectual, auto-estima, etc.

Pois bom aluno, é aquele que também ensina, e bom professor é aquele que sempre sabe aprender. Vygostsky (1991, p. 30) enfatiza a importância que o meio social tem na aprendizagem e o papel do outro que interage com a criança – um adulto ou uma criança mais capaz que ela. O autor não nega que é na relação entre o homem e seu mundo que ocorre o desenvolvimento, mas sem deixar de considerar o papel importante do sujeito nas suas trocas com o meio, coloca o meio como fator determinante deste desenvolvimento. Sua ênfase está no papel da interação social, no desenvolvimento, pois entende que este se dá em função de características do meio social em que o sujeito vive.

Na perspectiva do autor acima, as funções mentais superiores têm sua origem nas trocas do sujeito com o meio social em que vive, onde o "outro" se apresenta como objetivo social que interage desempenhando um papel determinante na constituição destas funções. O aprendizado humano se estabelece, então, por meio da interação social do homem com os elementos sociais. Entende o autor que a freqüência da comunicação que se estabelece entre as crianças e as pessoas que a cercam, permitem-na penetrar na vida intelectual destas pessoas num processo em que integra a assimilação das experiências sócio-culturais acumuladas pela humanidade com a formação do pensamento.

O caráter democratizador, mediador, transformadore globalizador da escola pelo professor.

Com efeito, a validade da aplicação dos principio pedagógicos depende da atitude do professor, tido como mediador na interação dos alunos entre si, o meio social e os objetos do conhecimento.

Portanto, o professor tem a importante tarefa de exercer o papel de mediador e isto, só será possível, se ele tiver conhecimento do aluno e do objeto de ensino.

Pretender desenvolver atividades pedagógicas sem levar em consideração o nível conceitual do aluno e seu estado de espírito é temerário. Da mesma forma, insistir em ensinar para o aluno aquilo que ele já sabe, é tedioso. Aqui está a sabedoria do trabalho docente curricular. O professor é o condutor da curiosidade de crianças e jovens, por seu intermédio, o aluno encontrará na escola as ferramentas e os métodos da sistematização do conhecimento, aumentando a responsabilidade e a importância do professor. A ação do aluno como paradigma do processo pedagógico, só acontecerá na medida da criatividade, da competência e do desenvolvimento emocional do professor. Nesse sentido, todas as conclusões do aluno tem valor. Pedagogicamente, avaliar é dar valor, objetivando o aperfeiçoamento da capacidade criativa e construtora.

No enfoque sócio-construtivista, escola, professores e alunos devem ser avaliados não apenas pelo volume de informações adquiridas, mas, sobretudo, pelo desenvolvimento da capacidade de produzir conhecimento. O professor é o agente deste progresso, na medida em que intermedia de forma planejada a relação do aluno com o objeto de conhecimento e com os outros alunos através de propostas estruturadas com finalidade definida.

Se há erros, estes devem ser considerados pistas para o professor:

Organizar sua prática, orientando-a para conteúdo ou finalidade específica;

Entender o que o aluno já pensa a respeito daquilo que vai aprender e como está assimilando as informações;

Os erros, assim como as perguntas dos alunos, devem ser interpretadas e analisadas e depois trabalhados, em função do resultado desta análise. O caráter transformador da escola é determinado pelo nível de consciência e instrumentalização cientifica, técnica, criativa, que os alunos venham alcançar para assumirem, de fato, seu papel na história. A escola compete, ainda, exercer um caráter mediador, ou seja, através do domínio do código científico e de suas diversidades linguagens, o cidadão escolarizado potencializa suas relações com a natureza e sociedade. Pela escola, o cidadão não só avança na capacidade de interpretar a realidade, mas, sobretudo, de fazer-se a si mesmo ao interagir com a realidade de forma crítica, consciente e produtiva.

A inclusão escolar é um movimento que visa acabar com a segregação, favorecendo, assim, as interações sociais de estudantes deficientes com estudantes considerados normais. Atualmente já é possível perceber resultados positivos a nível do ensino e da aprendizagem (Englert e al., Integração escolar é um conceito complexo, comportando diferentes mudanças que sofreram um verdadeiro processo de evolução no decorrer das últimas décadas. Apesar de lentamente desenvolvido, ele é igualmente presente na maioria dos países europeus.

A inclusão do deficiente mental é um interesse internacional, mas especialmente de interesse nacional neste momento histórico, uma vez que pode se tornar um problema maior do que são, por exemplo, as classes especiais para deficientes mentais do Estado de São Paulo, merecendo, portanto, uma reflexão.

Quando efetuada sem as devidas precauções, a integração do deficiente mental com a criança normal pode provocar sérios problemas nos aspectos sociais, afetivos e cognitivos de ambos. Algumas razões justificam um ensino especializado:

As classes especiais permitem a homogeneidade dos grupos;

Um programa de ensino especializado permite integrar objetivos perseguidos pela escola para a integração sócio-profissional na idade adulta;

Existem professores especializados que, após muitos anos de formação, estão aptos a responder às necessidades destas crianças.

Primeiro porque existe muito mais diferenças intra-individuais numa classe especial do que numa classe comum. Segundo, o ensino especializado, na maioria das vezes, não é senão uma adaptação do ensino tradicional ou o ensino tradicional mesmo aplicado de forma mais lenta. Nota-se que os partidários da segregação do deficiente mental o vê essencialmente diferente do sujeito normal com as exigências de uma educação adaptada às suas necessidades. Logo, para eles a constituição das classes, a definição do conteúdo pedagógico e a formação dos professores devem ser diferentes daquelas encontrados no ensino regular.

Mergulhá-los num meio normal, sem as devidas precauções, testemunha uma ignorância grave dos mecanismos de aprendizagem destes sujeitos que pode ter uma conseqüência grave, ou seja, o crescimento do retardo. A inclusão não deve ser considerada como uma simples etiqueta: certas crianças não são mais chamadas deficientes mentais ao retornarem ao ensino regular, mesmo que, outrora, tenham sido colocadas no ensino especial. Esta posição não saiu da pesquisa educacional, mas de critérios sócio-políticos, os deficientes mentais têm sido assimilados aos outros grupos minoritários da sociedade. Veja-se alguns procedimentos importantes na busca desta integração.

Referências

ESTEBAN, J.G.S. Educação especial brasileira: a integração/segregação do aluno diferente.Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

FREINET, C. Alfabetização.São Paulo: Saraiva, 1995.

HEDEGAARA, Â. Alfabetização: reflexão e atitudes. São Paulo: Cortez, 1996.