UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

THIAGO NOGUEIRA SOBRAL

 

DEPRESSÃO E  ROMANTISMO

 

OSASCO

2009

 

THIAGO NOGUEIRA SOBRAL

CURSO DE PSICOLOGIA

 

DEPRESSÃO E  ROMANTISMO

 

Trabalho de conclusão do curso de Psicologia da Universidade Bandeirante de São Paulo, sob orientação da Professora Jurema Teixeira.

 

RESUMO

 

SOBRAL, Thiago. N. Depressão e Romantismo. 2009. 57 f. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Curso de Psicologia, Universidade Bandeirante de São Paulo, Osasco, 2009.

 

Entendendo a depressão como um sentimento de negação pela vida, procuro relacionar neste trabalho, os traços depressivos com relação às características do romantismo, tendo como objeto de estudo a Depressão e Romantismo. Assim, procurei expor neste trabalho, a possibilidade da depressão e o romantismo estarem ligados, pois resultam da impossibilidade da realização do sonho absoluto do eu. Compreendendo que o melhor caminho para obter tais respostas, foi analisar as obras literárias: “Werther” de Goethe e “Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo, verificadas pela psicanálise e o romantismo. Contudo, foram obtidas respostas para tal questão, o sintoma depressivo, como a falta de esperança, pessimismo, isolamento, sentimento de culpa e os impulsos suicidas foram identificados nos romances analisados. E no romantismo, como as características se assemelham na depressão, pelo pessimismo, pela falta do fortalecimento do ego, da negação da vida pela idealização do amor, auto-imagem negativa e impulsos suicidas. Procurei relacionar neste trabalho, os traços depressivos que se identificam com as características românticas.

          Palavras-chaves: Psicanálise; Psiquiatria; Romantismo.

1 INTRODUÇÃO

          Compreendendo a depressão como um sentimento de pessimismo, solidão, inquietação e tédio pela vida, assim, procuro abordar a relação entre a depressão e o movimento romântico em seu conteúdo e forma influenciada pela cultura, tendo como objeto de estudo a depressão e o romantismo.

          O marco histórico contribui para o entendimento de tal questão, foi no século XIX que fortes mudanças sociais, políticas e culturais ocorreram devido aos acontecimentos no final do século XVIII, a revolução industrial gerou inventos com o objetivo de solucionar problemas técnicos do aumento de produção, houve a divisão do trabalho e o início da especialização da mão-de-obra, e pela revolução francesa que lutava por uma sociedade mais harmônica, em que os direitos individuais fossem respeitados, o romantismo aparece mais diretamente ligado à ascensão da burguesia e aos movimentos de independência nacional, com a elevação da burguesia em conseqüência da revolução francesa de 1789, foi impulsionada a produção em massa em conquista de novos mercados, como a América Latina pelos industriais ingleses, enquanto a França teve de limitar-se à Europa. Portanto na própria Europa o processo de industrialização não se realizou como um todo, verificou-se a formação de alguns países desenvolvidos e outros subdesenvolvidos.

          O processo de revolução industrial trouxe conseqüências gerais, como urbanização rápida e intensa; progresso das regiões industriais em relação às rurais; incremento do comércio interno e intencional; aperfeiçoamento dos meios de transporte; crescimento demográfico; redistribuição da riqueza e poder; primeiro entre os países da Europa, como prova o declínio relativo à França junto aos seus ideais de liberdade e depois do mundo, no qual o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, privando-o desta liberdade, por isso, de averiguar a relação da depressão com o romantismo exagerado devido a esta mudança.

          Pretendo estudar este fenômeno nas relações entre depressão e o romance romântico. Desenvolvendo neste trabalho a possibilidade da depressão e o romantismo estarem ligados, pois resultam da impossibilidade de realização do sonho absoluto do eu.

          Neste trabalho, analisarei as seguintes obras literárias: “Werther” de Goethe e “Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo. Tais obras serão compreendidas pela psicanálise.

          Trabalharei, por um lado, a depressão no entendimento da origem orgânica, psicológica e social, os sintomas aparentes e a relação desta com as primeiras manifestações do romantismo, que teve início a partir do século XVIII nos países europeus como na Alemanha e na Inglaterra e que em 1774, foi o romance de Werther, do escritor alemão Goethe que marcou a escola romântica na Europa, com a história de uma paixão literalmente devastadora e sofrida do jovem Werther.

          Valorizando as características individuais, no romantismo foram utilizadas algumas expressões poéticas como na liberdade de criação, criação como impulso e ruptura de regras, valorização do eu, ênfase no primeiro amor e na pureza feminina, vitória do bem sobre o mal, valorização da pátria, pessimismo e mal-do-século, culto ao fantástico e ao sonho, valores burgueses e no que se confronta com os temores e se revelam os mais profundos sentimentos e desejos da alma.

          Podemos citar o romantismo como a principal referência à cultura obscura e como uma reação contra os ideais Iluministas, onde o homem poderia chegar ao conhecimento através da razão, da valorização do culto à razão, ou seja, do homem no domínio da natureza. No entanto, o romantismo traz as principais características na potencialização das emoções, o individualismo, o subjetivismo desenvolvidos a partir da liberdade do criar.

          No Ultra-Romantismo com seu estilo maior ao sentimentalismo, perde-se a consciência do coletivo social, o "eu" passa a se sobrepor e a se intensificar, gera o egocentrismo exacerbado. Entretanto, a rivalidade acontece entre a realidade objetiva e o mundo subjetivo que produz a falta de fortalecimento do ego, a frustração e o tédio levam a evasão romântica vivida pelos poetas e a fuga desta realidade, o romântico foge no tempo e no espaço em busca desta completude sentida pela morte, as constantes idealizações da sociedade, do amor exagerado que é levado as últimas conseqüências.

          O Ultra-Romantismo marca a segunda geração dos poetas românticos, afasta-se da realidade em troca da fantasia, entrega-se aos próprios fantasmas, oculta-se do mundo passando a ser ele mesmo o seu mundo. Assim, o poeta se sente liberto, nega a vida pelo delírio da morte, ao excessivo egocentrismo, à nostalgia de um passado medieval, idealizado, mais nobre e menos estúpido. Entretanto, o romantismo foi influenciado pelas obras de Lord Byron e Álvares de Azevedo, que o noturno, o aventuresco, o macabro, o satânico, o depressivo, o incestuoso são elementos do romantismo maldito. Abrangem o amor e a morte sob uma forma individualista. Portanto, alguns autores fazem parte da segunda geração romântica brasileira e estes deram seqüência as obras literárias e apresentam características em comum: como o medo de amar. Entendido como essência, do medo da perda pela virgindade, de entregar-se ao prazer carnal, de destruir o próprio amor no sentido do pecado e da impureza.

          Procuro relacionar neste trabalho as características do romantismo como o tédio constante, morbidez, sofrimento, pessimismo, negativismo, satanismo, masoquismo, cinismo, autodestruição, fuga da realidade, desilusão adolescente, idealização do amor e da mulher, subjetivismo, gosto pelo noturno, consciência da solidão e da morte na fuga definitiva da vida como solução para os sofrimentos. E junto destas características, fazer a identificação com os sintomas da depressão como a apatia, a fadiga, dificuldade de concentração, isolamento, dores crônicas e excesso de sono, auto imagem negativa, falta de apetite, irritabilidade e impulsos suicidas.

2 PSICANÁLISE

          Sigmund Freud (1856 -1939), compreende os processos psicopatológicos do psiquismo humano e desenvolve a Psicanálise postulada por ele, como um método de investigação interpretativa do sintoma manifesto, busca o significado oculto daquilo que se apresenta por meio do que é dito, as associações livres, os atos falhos no tratamento da busca pelo autoconhecimento e da cura através da análise.        

 Freud, o grande gênio da psicanálise, doutrina que criou para explicar a dinâmica do comportamento humano (e, ao mesmo tempo, um tipo específico de psicoterapia), já dizia, em seu trabalho Luto e Melancolia, que, embora a tristeza envolva graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, jamais pode ser considerada como algo patológico. E, ainda mais, ele pensava que esse lapso de tempo, em que o indivíduo se isola em sua dor, é importante para o seu equilíbrio emocional posterior, assim como condenava, nesse caso, qualquer interferência de tratamento médico. Inclusive, quando a expressão de luto não se dá, deve ser estimulada, a fim de se evitar sintomas patológicos posteriores. (TELES, 1992, p.8,9)

          A relação entre melancolia e o luto parece apresentar condições diferentes, o luto assume a perda de um ente querido, como a perda do ideal de alguém, comparando-se com o afeto normal do luto. Em algumas pessoas o mesmo luto desenvolve a melancolia em colocação patológica. Contudo, podemos considerar o luto no que se refere a uma atitude normal e natural da pessoa e não como uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico.

          O luto é superado com o tempo e não podemos fazer nenhuma interferência em relação a ele. Entretanto, na melancolia o envolvimento se dá pelo desânimo profundo, o desinteresse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de auto-recriminação, em que é mais elevado e delirante de punição.

          O fato é que o objeto amado não existe mais, a energia vital deixa de ser investida, ou seja, é retirado de suas ligações com aquele objeto, o domínio da realidade se faz presente e penosa, é percebível que este desprazer seja aceito como natural. Assim, o trabalho do luto se conclui e o ego fica outra vez desinibido.

          Na melancolia as causas excitantes se mostram diferentes das do luto. O objeto talvez não tenha realmente morrido, o ego fica identificado com o objeto perdido enquanto objeto de amor, a diminuição da auto-estima ocorre, o empobrecimento do ego é notável, o paciente representa seu ego para nós como sendo desprovido de valor, de não realização e moralmente desprezível a ponto de ser punido. É o próprio paciente que faz acusações contra o seu próprio ego.

          O melancólico perde seu amor próprio e a sua analogia com o luto nos leva a compreender que ele sofrera a perda do objeto, por isso, uma perda relativa a seu ego.

          O ego que escolhe o objeto e deseja incorporar a si mesmo este objeto, é na fase oral que o desenvolvimento libidinal ocorre. No entanto, a tendência a adoecer de melancolia reside no aspecto narcisista da escolha objetal, no acolhimento do material empírico e das observações realizadas.

          A melancolia empresta do luto alguns dos seus traços do processo de regressão, da escolha objetal narcisista para o narcisismo. É, portanto, o luto uma reação à perda real de um objeto amado e acima de tudo, determina que se acha ausente do luto normal e o que estiver presente, transforma este em um luto patológico. Contudo, a melancolia assume ocasiões que dão margem à doença e a culpabilização pela perda do objeto amado, ou seja, o que foi desejado.

          Os sentimentos de amor e ódio reforçam tal ambivalência já existente, no amor pelo objeto, do amor que não pode ser renunciado, do refugio na identificação narcisista, fazendo-o sofrer, em ambas as desordens dos pacientes que fazem sua autopunição, em ocasionar a desordem emocional deste no ambiente imediato.

          Na melancolia o ego só pode se matar, no retorno da catexia objetal, tratando de si mesmo como um objeto, mostra certamente uma hostilidade relacionada a um objeto e representa a reação original do ego, para com os objetos do mundo externo.

 

Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. Esse quadro torna-se um pouco mais inteligível quando consideramos que, com uma única exceção, os mesmos traços são encontrados no luto. (FREUD, 1917)

 

          No luto é necessário o tempo para com o domínio da realidade, no qual o ego consiga libertar-se da libido do objeto perdido. Agora, na melancolia tal situação se comporta como uma ferida aberta, proveniente desta identificação com o objeto perdido, o ego está totalmente empobrecido. Em alguns casos revelam a alteração regular de fases melancólicas e maníacas que leva a hipótese de uma insanidade circular permanente, que em outras palavras o conteúdo de mania em nada difere do da melancolia para os investigadores psicanalíticos e que ambas as desordens lutam com o mesmo complexo, na melancolia o ego sucumbe a este complexo, enquanto a mania o põe de lado. Nesta situação caracterizam os sinais de descarga da emoção e, contudo determinada ação da mania (falsa alegria) no contraste com a depressão e tal inibição da melancolia.

          Nos processos mentais verifica-se a conexão das catexias objetais inconscientes abandonadas, e que parte em conexão com o seu substituto, por identificação no ego. Essa apresentação (da coisa) inconsciente do objeto é abandonada pela libido, essas impressões ficam isoladas (traços inconscientes) e essa retirada da libido não é um processo realizado no memento, mas de certo, como no luto, é um processo extremamente prolongado e gradual.

          A melancolia contém algo mais que um luto normal, a relação com o objeto não é simples, existe um conflito e uma ambivalência, ou seja, toda relação amorosa é formada pelo ego e envolve experiências que podem levar a ameaça da perda do objeto. Portanto, as causas excitantes da melancolia possuem uma amplitude maior do que as do luto e que muitas vezes é ocasionado pela perda real do objeto, por sua morte. Na melancolia travam-se inúmeras lutas em torno do objeto, nas quais o ódio e o amor se confrontam, um procura separar a libido do objeto e o outro a defender esta libido contra algo.

          No luto os esforços para separar a libido são enviados, mas neste caso; nada impede que esses processos sigam o caminho normal, até a consciência de fato. E vemos que na melancolia o ego se degrada e se enfurece contra si mesmo, mas compreendemos que isto pode modificar-se. Do mesmo modo que o luto desista do objeto amado, este declara o como morto e oferece ao ego o incentivo de continuar a viver, é possível que o processo no inconsciente chega a um fim. Não podemos garantir tais possibilidades para levar a melancolia a um fim, nem quando este término chegará, o ego é quem deriva a satisfação que seja superior ao objeto identificado.

A melancolia, portanto, toma emprestado do luto alguns dos seus traços e, do processo de regressão, desde a escolha objetal narcisista para o narcisismo, os outros. É por um lado, como o luto, uma reação à perda real de um objeto amado; mas, acima de tudo isso, é assinalada por uma determinante que se acha ausente no luto normal ou que, se estiver presente, transforma este em luto patológico. A perda de um objeto amoroso constitui excelente oportunidade para que a ambivalência nas relações amorosas se faça efetiva e manifesta. (FREUD,1917)

          Na expectativa de melhora no qual a melancolia deva ceder, encontra-se nas precondições, a perda do objeto, a ambivalência e a regressão da libido ao ego, nas duas primeiras se encontram nas auto-recriminações obsessivas que surgem após um evento de morte. E é esta ambivalência que mantém o conflito e depois de terminado o conflito, o ego se assemelha ao triunfo de um estado de mente maníaco. Somos levados assim a considerar o terceiro fator como o único responsável pelo resultado e ao termino do trabalho da melancolia, fazendo com que a mania se ligue à regressão da libido ao narcisismo do ego. [...]