UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU
CENTRO DE LETRAS E ARTES
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS
CURRICULO E SABERES DA AÇÃO DOCENTE
PROFª. MS. LIDIA AZEVEDO







CÍCERA ELISEUDA DE MARIA



CURRICULO: SABERES E PROFISSIONALIDADE DOCENTE














SOBRAL ? 2011


CURRÍCULO TERORIA E PRÁXIS

Introdução

Repensar o currículo seria o primeiro passo que as escolas deveriam dá,pois trabalha-se com um currículo diferente da realidade do aluno, se fala muito em adequação, mas isto fica apenas na teoria do discurso,pois na prática o que se vê acontecer é outra coisa.
Não é fácil para um gestor escolar, quebrar esse paradigma é muito difícil mudar o pensamento de quem está do lado de fora da realidade, pois essa mudança deve acontecer naqueles que detém o poder.

Conceituando Currículo

O texto de PACHECO começa definindo o que é currículo em várias instâncias, mas embora tenha várias significações, resumo como um conjunto de informações de uma trajetória seja ela de vivência pessoal ou educativa.
O currículo se comparado a um jogo com regras, torna-se, pela sua própria natureza e dimensão, bastante problemático e conflitual sempre que se procura defini-lo. Cada definição não é neutral, senão que nos define e situa em relação a esse campo. Insistir numa definição abrangente de currículo poder-se-á tornar extemporâneo e negativo dado que , apesar da recente emergência do currículo como campo de estudos e como conhecimento especializado, ainda não existe um acordo generalizado sobre o que verdadeiramente significa. (PACHECO,2001,p 16)

Pacheco faz comparações entre as implicações do currículo como as de um jogo, cheio de regras complexas, que gera conflitos e problemáticas. È fácil perceber essas implicações no dia-a-dia da escola, quando o professor tem que seguir um roteiro que muitas vezes está fora da realidade do aluno.
Tanner, define currículo em duas perspectivas, como um plano de ação pedagógica e como um conjunto de conteúdos a ensinar, organizados por disciplinas,temas ou áreas de estudo.
Integram-se na 1ª perspectiva as definições que apontam para o currículo como um conjunto de conteúdos a ensinar(organizados por disciplinas,temas, áreas de estudo)e como o plano de acção pedagógica, fundamentado e implementado num sistema tecnológico; na 2ª perspectiva, lugar para as definições que caracterizam o currículo como um conjunto de experiências educativas e como um sistema dinâmico, probabilístico e complexo sem uma estrutura predeterminada.

Concordo em parte, porque na minha concepção o currículo não se resume a penas a isso, ele é bem mais abrangente.
Embora considere que as divergências seja um dos aspectos positivos do campo curricular, porque segundo ela manterá mais interessante a investigação.
O currículo, enquanto projeto educativo e projeto didático, encerra três idéias-chave: de um proposito educativo planificado no tempo e no espaço em função de finalidades; de um processo ensino-aprendizagem, com referência a conteúdos e actividades; de um contexto especifico ? o da escola ou organização formativa.(TANER e TANNER, 1987).

Grundy(1987, p.5) afirma que o currículo não é um conceito mas uma construção social.
"O currículo não é, no entanto, um conceito; é uma construção cultural, isto é, não é um conceito abstrato que possui alguma existência exterior e alguma experiência humana. Pelo contrario, é um modo de organizar um conjunto de práticas educativas humanas."

É bem interessante a forma como Grundy, define o currículo, como um conjunto de práticas educativas humanas, onde engloba a construção de uma cultura e não apenas como um conceito abstrato.
Em consonância com a definição de Grundy, (KEMMIS,1988,p 44) descreve currículo como uma construção que deve ser estudada na relação com as condições históricas e sociais em que se produzem as diversas realizações concretas e na ordenação particular do seu discurso.

Teoria e desenvolvimento curricular

Segundo Contreras (1990, p182), a origem do currículo como campo de estudo e investigação não é fruto de um interesse meramente acadêmico, mas de uma preocupação social e política por tratar e resolver necessidades e problemas educativos; é uma conveniência administrativa e não uma necessidade intelectual.
Essa teoria de Contreras tem fundamento com a realidade na qual estamos vivendo, hoje podemos observar, embora de forma tímida, que há certa preocupação das autoridades com o currículo que é dado na escola.

Currículo: Tendências e Filosofia
As tendências filosóficas do currículo nos convidam a fazer e conhecer sua genealogia. A partir da gênese de seu conceito, buscando verificar em que contextos e lugares se constituíram.
Busca-se entender que o currículo é o resultado de discursividades diferentes, de intencionalidades diversas, de variadas representações, nem sempre mostra, na sua superfície, tudo o que pode mostrar ou significar, em termos de conseqüências. (MCNEIL,1995).
A colocação de McNeil, vem nos mostrar que de fato o currículo é multicultural embora apresente várias definições, mas será sempre currículo, e suas adaptações de uso serão de acordo com a realidade das comunidades envolvidas.
O currículo, do ponto de vista pedagógico, é visto como um conjunto estruturado de disciplinas e atividades, organizado com o objetivo de possibilitar que as metas fixadas em função de um planejamento educativo sejam alcançadas.

Sociologia e Teoria Crítica do Currículo: uma introdução

Para Tomaz Tadeu, o currículo há muito tempo deixou de ser apenas uma área meramente técnica, voltada para questões relativas a procedimentos, técnicas e métodos.
Segundo ele já se pode falar hoje em uma tradição crítica do currículo, guiada por questões sociológicas, políticas, epistemológicas. (SILVA, T.T, 1994).
Tomaz Tadeu tocou num ponto importante ao mencionar que o currículo é guiado por questões sociológicas e políticas, porque de fato é o que se vê acontecendo nas escolas. O currículo escolar obedece a um padrão pronto provindo das secretarias de educação, e o professor tem que fazer tal e qual.

Currículo e ideologia

Argumenta Althusser apud (1983), que a educação constituiria um dos principais dispositivos através do qual a classe dominante transmitiria suas idéias sobre o mundo social, garantindo assim a reprodução da estrutura social existente. Essas idéias seriam diferencialmente transmitidas, na escola, às crianças das diferentes classes sociais;uma visão de mundo apropriada aos que estavam destinados a dominar,outra aos que se destinavam às posições sociais subordinadas.
Podemos observar que no ensaio de Althusser "A ideologia e os Aparelhos Ideológicos do Estado" nos remete a um pensamento crítico a cerca do currículo ofertado, pois difere a transmissão das idéias para cada tipo de classes sociais, a que as crianças estejam inseridas.
Currículo e cultura

Na visão de Tomaz Tadeu, a educação e o currículo são vistos como profundamente envolvidos com o processo cultural. Segundo ele na tradição crítica, a cultura não é vista como um conjunto inerte e estático de valores e conhecimentos a serem transmitidos de forma não-problemática a uma nova geração, nem ela existe de forma unitária e homogênea.
" o currículo é considerado um artefato social e cultural. Isso significa que ele é colocado na moldura mais ampla de suas determinações sociais, de sua história, de sua produção contextual. O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares.(SILVA, T.T, 1995).

Tomaz Tadeu,frisa bem a questão da identidade do currículo que ele tem suas particularidades, sua história na organização da sociedade e da educação.

Currículo e poder

O poder é visão crítica de que a educação e o currículo estão profundamente implicados em relações de poder que dá à teriozação educacional crítica seu caráter fundamentalmente político. Isso não quer dizer que a conceituação daquilo que constitui o
poder, no contexto da educação e do currículo, seja uma questão facilmente resolvida." O conhecimento corporificado no currículo é tanto o resultado de relações de poder quanto seu constituidor."
As profundas relações entre currículo e produção de identidades sociais e individuais, tantas vezes destacadas na teriorização crítica tem levado os educadores e educadoras engajados nessa tradição, a formular projetos educacionais e curriculares que se contraponham às características que fazem com que o currículo e a escola reforcem as desigualdades da presente estrutura social(POPKEWITZ,1994, p 9).
Esse é o ponto que precisa ser questionado, o currículo não é uma questão em que podemos resolver fácil, há suas implicações na sociedade, o impacto na quebra desse paradigma pode gerar conflito com a classe dominante.



Globalização, Multiculturalismo e Currículo.

No campo educacional, o currículo tem passado por uma constante mudança, pois o processo de globalização mostra que temos a necessidade de preservar os valores relativos à qualidade de vida e do planeta.
Essa reação homogênea imposta pela classe dominante, intensifica, de forma crescente a articulação de diferentes movimentos de afirmação do direito à diferença e o fortalecimento de grupos marginalizados social e culturalmente. Isso faz um deliamento de múltiplos desafios para educação.
E como trabalhar o currículo, o qual está em constante processo? Dificilmente se conseguirá fazer grandes feitos, pois hoje podemos vê uma ruptura na preservação dos valores culturais de nosso povo, em algumas regiões ainda se preserva a cultural local, mas essa cultura não e vista pelo mundo. Lá fora o Brasil é conhecido apenas pelo futebol,carnaval e as belas mulatas do Rio de Janeiro. E o resto do País, não tem cultura?

A globalização e suas contradições.

É hipocrisia dizer que a globalização não nos causa preocupação, pois nos coloca diante de uma série de problemas, questões relacionadas tanto do ponto de visto econômico quanto político.
Belloni (1994, p 40),diz que de maneira geral, a globalização da economia por um lado tem acentuado o processo de dependência tecnológica, financeira e cultural, assim como tem evidenciado a indiferença crescente dos países desenvolvidos em relação aos problemas enfrentados pelos chamados países de terceiro Mundo. Por outro lado, segundo el,não se pode deixar de reconhecer que , nesse processo de globalização, foi sendo ampliado a visão de de algumas lideranças políticas e de grupos ativistas sociais de diferentes países. Os quais tornaram-se mais consciente da extensão de problemas políticos, sociais e ecológicos, mostrando a necessidade de buscar soluções que vão além das fronteiras nacionais, em busca de alternativas de longo alcance.
Diz ainda que a globalização da cultura é uma estratégia importante, no plano econômico, uma vez que cria condições para a produção de mercadorias com interesses e gostos dos consumidores de todo o planeta.
Podemos fazer o seguinte questionamento: o que tem haver globalização com currículo? Diria que praticamente tudo, pois estamos vivendo na era digital, e temos que nos adaptar com os novos paradigmas, a inclusão digital esta em alta, as escolas em sua maioria já contam com laboratórios de informática, com objetivo de colocar o aluno interligado com o mundo.
Essa interligação muitas vezes nos causa preocupação, pois até que ponto é saudável essa inclusão. Considero a globalização, como motivo de preocupação, pois a mídia propaga muitos eventos de violência ocorridos no mundo, o que gera na cabeça dos jovens certa admiração, e em muitos casos, abre suas mentes para realizarem os mesmos eventos, temos como exemplo o massacre que ocorreu em Realengo no Rio de Janeiro, em abril deste ano. Isso nada mais foi do que a fixação de uma idéia já maturada na consciência daquele jovem, gerada a partir de divulgação de um ato parecido ocorrido nos Estados Unidos.

A busca da identidade cultural.

É necessário entender que o processo de globalização criou condições para intensificação do debate em torno da questão do direito a diferença.
É importante a valorização da identidade cultural de uma comunidade, pois é uma forma de propagar a cultura local. Em 2003, com a Lei de nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, foi implantado no currículo escolar a disciplina história afro brasileira, com intuito de resgatar a história da origem cultural e étnica do povo brasileiro.
Rouanet (1994,p 80) em seu texto afirma que:"A questão da identidade nacional, étnica ou cultural parece, em nossos dias, ter-se tornado mais importante que o fato de se pertencer ao gênero humano".
Em alguns aspectos esta afirmação de Rouanet pode se considerar uma verdade, mas não podemos esquecer que a cultura faz parte da identidade da pessoa humana, não é fato dela estar tornando-se mais importante que o gênero humano, e sim dela fazer parte da constituição do mundo social.

O direito à diferença.

De acordo com Silva, o direito à diferença engloba os conceitos de multiculturalismo, interculturalismo e outros que procuram dar explicações sobre a diversidade cultural no interior do moderno estado-Nação. Ele cita como exemplo os Estados Unidos, que se utiliza tanto do termo "interculturalismo" como "multiculturalismo" que segundo os seus especialistas os dois termos tratam da mesma coisa. Muitos setores da sociedade americana continuam fazendo esforços para manter separadas as diferentes culturas presentes no país.
McLaren e Gutierrez(1996, p.30), chamam a atenção para a necessidade de se superar posições liberais no trato com a questão da diferença. Segundo suas abordagens, abre-se uma questão central sobre como as diferentes identidades sociais e culturais são construídas por diferentes discursos.
Segundo eles o processo de globalização tem intensificado nos últimos anos à homogeneização cultural e desabafa dizendo que:
"O desafio para nós educadores é desenvolver um conceito de unidade e diferença que reconfigure o sentido de diferença como mobilização política mais do que autenticidade cultural". (1996, p.33-34)

Cultura e diversidade cultural.

A reflexão que Forquin(1993, p 13-14) faz sobre educação e cultura é que o que se tem mostrado é que o empreendimento educativo tem como responsabilidade transmitir e perpetuar a experiencia humana considerada como cultura. E que nesse sentido, pode-se dizer que "a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última.(...)Mas, reciprocamente, dir-se-á(...) que a educação "realiza a cultura"
A sociologia da educação abre discussões acerca da educação escolar, e a forma como seleciona os conteúdos culturais para torná-los transmissíveis para os seus alunos. Seleção esta que a escola termina por trabalhar apenas com uma parcela restrita da experiência humana. Além disso, esses conteúdos selecionados,sobretudo em termos de conhecimentos, experiências, valores e atitudes, constitui aquilo que é denominado de versão autorizada ou legitima da cultura.
Grignon (1995, p 183) diz que a diversidade cultural continuará sendo "um obstáculo permanente para a solidariedade popular e para a unidade do movimento operário (..), uma fonte inesgotável de oposições, de conflitos e de lutas internas: ofícios contra ofícios, povos contra povos, bairros contra bairros."
Essa suposição de Grignon a cerca da diversidade cultural, nos convida a fazer uma reflexão sobre nosso fazer pedagógico, como educadores será que estamos propagando nossos valores culturais, ou será que estamos vendo a diversidade cultural como um obstáculo? Façamos então uma profunda reflexão a cerca deste questionamento.
CONCLUSÃO


A pratica da docência não é tarefa fácil nos dias atuais, pois estamos convivendo com mentes multiculturais, que tem a seu alcance o avanço da tecnologia e o contingente processo da globalização. Pretende-se falar de cultura na sala de aula, mas como falar de cultura quando o aluno não conhece que se tem.
A escola precisa por em prática, o que pretende o seu currículo e não deixar apenas no papel.