Currículo, Cultura e Conhecimento Escolar

*Eliana Costa Bessa

 

Os estudos e reflexões sobre currículo são amplamente discutidos nos cursos formação; graduação, pós-graduação e outros cursos, além disso,  o processo de transferência do conhecimento desenvolvido socialmente para o conhecimento escolar, identificados nos currículos da Escolas também é alvo de análises. Essa discussão tem se tornado mais calorosa e intensa com a relação currículo e culturas já que o sistema educativo percebeu a diversidade e multiculturalismo, como parte constitutiva do currículo. Cabe, portanto, à escola cumprir o objetivo antropológico de garantir a continuidade da espécie humana, socializando para as novas gerações o que resulta do seu desenvolvimento cultural, como base para essa continuidade (LIMA, 2006).

Historicamente tem se refletido sobre o que deve ser ensinado nas escolas, para alguns as novas gerações devem aprender aquilo que a humanidade descobriu até o presente nas diversas áreas de conhecimento, seja no aspecto social, cientifico ou cultural. No entanto, a sociedade atual atormentada com uma carga muito grande problemas espera da escola não  só o ensino sistemático voltado para o mercado trabalho, como também um conhecimento humanizador que trate de questões como; a Educação ambiental, prevenção de doenças, violência de forma geral e principalmente que promova os indivíduos em sua singularidade mesmo estando em um pais tão plural.

Para MOREIRA e CANDAU “A problemática das relações entre escola e cultura é inerente a todo processo educativo. Não há educação que não esteja imersa na cultura da humanidade e, particularmente, do momento histórico em que se situa.” Dessa forma as manifestações culturais devem ser contempladas no currículo de forma a torná-lo significativo para os alunos e professores.

*Professora rede estadual de Mato Grosso, Licenciada em Letras Pela UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), Pedagogia para as séries iniciais e ensino fundamental pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e pós-graduada em Educação Especial.

O currículo vem assumindo centralidade nas políticas educacionais no mundo globalizado. Portanto, as reformas educacionais são constituídas pelas mais diversas ações, compreendendo mudanças nas legislações, nas formas de financiamento, na relação entre as diferentes instâncias do poder oficial (poder central, estados e municípios), na gestão das escolas, nos dispositivos de controle da formação profissional, especialmente na formação de professores, na instituição de processos de avaliação centralizada nos resultados.

 (MOREIRA e CANDAU, 2003).

 

As mudanças nas políticas curriculares, entretanto, têm maior destaque, a ponto de serem analisadas como se fossem em si a reforma educacional.

 A educação e a cultura são indissociáveis, portanto inerentes a todo processo de ensino. No âmbito educacional o currículo ainda tem se mostrado uma prática fechada e em muitos casos incoerente com a realidade do aluno. Os livros didáticos, por exemplo, são elaborados por especialistas que pensam em uma determinada realidade, cabe, portanto ao professor adaptá-lo ao contexto de cada escola.

            O Projeto Político Pedagógico, especificamente o currículo escolar precisa ter objetivo para longo prazo, para o futuro pensando no todo da sociedade e não apenas nos aspectos econômicos do mercado de trabalho, uma vez lá se encontram e convivem os diferentes que certamente contribuirão para os avanços e a compreensão humana.

... é possível construir, sim, um projeto político pedagógico (PPP) para cada unidade de ensino, mas que não fique circunscrito a ela. Ele deve se refletir nos planos de Educação do município e da nação, já que nasceu da cultura atual, viva, produzida no seio da escola e de seus arredores, aliando-se politicamente à formação de uma nação democrática e republicana. Dessa forma, a escola nunca será uma oficina de formar agentes para o mercado flutuante de trabalho, mas uma instituição de onde saem cidadãos que se habilitam a trabalhar e participar da cultura e dos destinos da comunidade e do país.(ALMEIDA, Nova Escola, 2013).

O currículo escolar precisa atentar  também para a  diversidade como uma forma de combater o racismo e a discriminação no cotidiano. “se pretendemos abrir espaço na escola para a complexa interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural, garantindo a centralidade da cultura nas práticas pedagógicas, tanto as manifestações culturais hegemônicas como as subalternizadas precisam integrar o currículo, devendo ser confrontadas e desafiadas.”(MOREIRA e CANDAU).  As escolas são palco de preconceitos muitas vezes relatados como bulling, mas não há um trabalho pedagógico para essas questões. O corpo docente se prende ao conteudismo, ou seja ao currículo como se ele fosse inflexível, considerando perca de tempo qualquer prática que saia daquela sequencia. “Preconceitos e diferentes formas de discriminação estão presentes no cotidiano escolar e precisam ser problematizados, desvelados, desnaturalizados. Caso contrário, a escola estará a serviço da reprodução de padrões de conduta reforçadores dos processos discriminadores presentes na sociedade.” (MOREIRA e CANDAU).

Referências Bibliográficas

 

LIMA, E. S. Indagações sobre currículo: currículo e desenvolvimento humano . Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 56 p.

MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa  e  CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Rev. Bras. Educ. [online]. 2003, n.23.

MASETTO, Marcos T. Cultura educacional e gestão em mudançaIn: VIEIRA, A.T., ALMEIDA, M.E. B. e ALONSO, M. Gestão educacional e tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003. p.69-84.