Cynthia Moleta COMINESI[1]

Resumo

Este artigo tem como objetivo central a discussão sobre como o meio rural vem sendo discutido através das interpretações dos variados autores que pesquisam sobre o assunto e verificar quais são as principais vertentes teóricas que fundamentam estes pesquisadores. Na atualidade, um dos mais importantes pesquisadores sobre o cenário agrário brasileiro é José de Souza Martins, este autor possui uma vasta obra dentro deste tema e é referencia unânime para quem quer escrever sobre como ocorreu o desenvolvimento do capitalismo brasileiro e as relações que agem dentro deste âmbito, pois o objeto central da pesquisa de Martins é o processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro e não apenas o mundo rural. Martins ainda propõe o desenvolvimento do marxismo com um severo rigor metodológico. Outro autor de grande importância e anterior ao José de Souza Martins, é Caio Prado Júnior, autor marxista de extrema esquerda que acredita que o Brasil contemporâneo é um país plenamente capitalista, que já teria experimenta-do, portanto uma “revolução burguesa”, mas – é esse “mas” que torna tão significativas as suas obras, inclusive no quadro do nosso marxismo – uma revolução do tipo “não clássico”. Sendo assim, verificam-se as várias correntes filosóficas, como o positivismo, dialética marxista, sociologia do conhecimento que influenciaram o pensamento dos pesquisadores brasileiros na construção de uma interpretação do meio rural brasileiro. Palavras chaves: interpretação, meio rural brasileiro, correntes filosóficas.

Abstract

This paper was made together with the Standard of Politic, Economic and Social Brazilian's thinking of the Statue University of Ponta Grossa, PR and it has as the main objective the discussion about how are the countryside being interpreted from the main researchers that search about it and to verify which philosophic standards affects the thoughts of these researchers. One of the most important authors is José de Souza Martins, he has a huge work about the Brazilian's countryside and he is an important reference for who wants to write about how happened the capitalism development in Brazil because this is the central point of Martins' searches. Another author, and actually he even comes before José de Souza Martins, is Caio Prado Júnior, he is a Marxist author and he believes that the Brazilian's nowadays already is a completely capitalism country. On this way we verified that has many ways to interpret the countryside and also have a lot of authors talking about it. The Positivism, Marxism, Dialectic and the Critical Sociology of the Cognizance's standards affected these authors.

Key words: interpretation, the Brazilian's countryside, and philosophies standards.

Introdução

Esta pesquisa foi elaborada junto à disciplina "Correntes do Pensamento Político, Econômico e Social Brasileiro" do mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR e surgiu da minha convicção na impossibilidade de uma ciência ou cientistas completamente neutros, despojados de valores ou posições, mesmo porque devemos lembrar que estes cientistas, antes de o serem são cidadãos e sendo assim fazem parte da sociedade e serão significativamente influenciados pelas situações, condições e contextos em que foram criados e em que vivem.

Considerando o que foi comentado anteriormente, verificam-se as várias possibilidades de se gerar um conhecimento, ou seja, os vários caminhos que se pode seguir para se chegar num determinado ponto. Entretanto saliento que, apesar de falar a respeito de conhecimentos científicos ou métodos científicos, a escolha de um ou outro caminho está muito relacionada com as concepções de mundo, de como ad-mirar, de como se relacionar com o mundo, isto varia de cada pessoa, ou seja, esta escolha é individual, ou seja, será feita de acordo com as experiências vividas, com o meio ou posição que o pesquisador ocupa na sociedade. Mas não quer dizer que um método é melhor do que outro, pois se são todos científicos e seguem padrões rigorosos, imagina-se que eles levariam a uma verdade e que necessariamente não seria a mesma encontrada em todos os métodos, mas que seria dada justamente naquelas condições em que foi realizada a pesquisa. Seria uma face da verdade, mas não a absoluta.

São por estas razões que verifica-se ser de fundamental importância saber exatamente "quem é quem?" dentre os autores que utilizo para a construção do meu pensamento a respeito do meio rural brasileiro. Ariovaldo Umbelino de Oliveira em um artigo publicado em 1999 "A geografia agrária e as transformações territoriais recentes no campo brasileiro" faz menção justamente sobre estas diferenças e mais, comenta que todos estamos inseridos no turbilhão mundial da modernidade. Enquanto uns engajam-se nos establishment, outros criticam-no. Alguns fazem da ciência instrumento de ascensão social e envolvimento político, outros procuram colocar o conhecimento científico a serviço da transformação e da justiça social. Para OLIVEIRA (1999) o importante não é dizer o que está certo ou errado, mas apenas de construir as explicações das diferenças, demarcá-las e revelá-las por inteiro.

Segundo este autor, discutir essas contradições também faz parte da produção acadêmica. Discernir entre o político, o ideológico e o teórico é igualmente tarefa da reflexão intelectual para a necessária reflexão a respeito dessa práxis, dar conta da utopia para pensá-la como instrumento que permita a construção da liberdade, da autonomia e do compromisso social no interior da prática universitária.

Sendo assim, este artigo tem como finalidade principal apresentar uma discussão sobre como o meio rural brasileiro vem sendo discutido na interpretação dos principais pesquisadores sobre o assunto. Além disto procura fazer algumas considerações a respeito das correntes filosóficas que influenciaram estes pesquisadores, principalmente daqueles os quais estou consultando para a elaboração da minha dissertação de mestrado sobre "o modo de vida rural no município de Ivaí, PR".

A correntes filosóficas que influenciaram a Geografia no Brasil

A geografia é uma ciência onde um dos seus objetivos é descrever as relações entre o meio natural e os grupos, sendo assim o meio rural, agrário, agrícola e suas interações com os outros setores da sociedade sempre foram objeto de estudo desta ciência. Muitos dos estudos e, além disso, muitos dos pesquisadores que comentam acerca deste tema são geógrafos e por isto, concordando com os objetivos deste trabalho, verifica-se a necessidade da abordagem a respeito da história da Geografia e quais as principais correntes filosóficas que a influenciaram.

Em um trabalho apresentado por CONCEIÇÃO (2002) comenta que no final do século XIX e início do século XX os discursos da geografia e das ciências sociais estiveram alicerçados nas ideologias científicas do darwinismo social[2], positivismo[3] e o neolamarckismo[4]. Os conceitos biologias de organização (o organicismo) passam a explicar os fenômenos sociais e a sociedade passa a ser compreendida como um todo constituído de partes vivas em analogia ao sistema de movimentos vitais.

Ainda ao tratar da geografia moderna, OLIVEIRA (1999) também afirma que a mesma nasceu no século XIX, do debate filosófico entre o positivismo. Além disso, teve influência do historicismo[5] e da dialética[6]. Tanto OLIVEIRA (1999) quanto CONCEIÇÃO (2002) concordam a respeito da grande influência do positivismo sobre a história do pensamento geográfico na geografia agrária e mais, que o ideário positivista casava-se ao ideário capitalista na sua própria metáfora de ordenação, no estado positivo as explicações tornam-se científicas. A burguesia nascente encontra no positivismo a fórmula mágica para solucionar todos os seus problemas. Segundo OLIVEIRA (1999), alguns autores como Antonio Carlos Robert Moraes e Ruy Moreira, tratam este período da história da geografia como geografia tradicional, entretanto, no ponto de vista de OLIVEIRA (1999), esta expressão não permite revelar a raiz historicista da geografia nem dá conta do importante debate entre o materialismo e o idealismo nas ciências humanas, particularmente no século passado. Esta posição remete a origem da geografia, exclusivamente, ao positivismo e continua desconhecendo as possibilidades de existência de uma terceira raiz do pensamento geográfico, construída sob a influência da dialética.

Já o historicismo, para OLIVEIRA (1999), por sua vez, está na raiz filosófica daquilo que os geógrafos chamam de possibilismo. O excelente capítulo "Metodologia da geografia agrária" do livro Geografia Agrária do Brasil, de Orlando Valverde, é talvez uma espécie de marco histórico na história da geografia agrária brasileira.

Trazida pela influência do pensamento marxista, OLIVEIRA (1999) ainda comenta que a dialética como corrente do pensamento da geografia agrária está na base de um conjunto de trabalhos de Orlando Valverde, Manuel Correia de Andrade, Pasquale Petrone, Manuel Seabra entre outros. Pode-se destacar o condicionamento histórico e social do pensamento, portanto o seu caráter ideológico de classe. Com o marxismo começa a batalha pelo desmascaramento do discurso pretensamente neutro e objetivo presente no positivismo e no empirismo lógico, e mesmo no historicismo.

Interpretações do meio rural no Brasil

Em se tratando da discussão sobre o meio rural brasileiro, o estudo e o debate da questão agrária no Brasil se desenvolveram com muita efervescência durante a década de 1980 até nossos dias. Embora este debate não tenha tido muita repercussão na opinião pública, tem florescido naturalmente e foi difundido através de muitos artigos, textos e livros no decorrer dos últimos quinze anos.

Segundo STÉDILE (1994) tivemos um grande debate durante a década de 60 no mundo acadêmico, nas rodas políticas e nos programas partidários. Este debate foi muito importante, pois a sua interpretação implicava a definição das estratégias de mudanças sócio-econômicas do país. Naquela época, confrontavam-se basicamente: os que analisavam a realidade agrária como um entrave ao desenvolvimento do capitalismo e até com resquícios feudais. OLIVEIRA (1999) concorda com esta afirmação e acrescenta que estes autores advogam a seguinte tese: para que o campo se desenvolva seria preciso acabar com essas relações feudais ou semifeudais e ampliar o trabalho assalariado no campo. Para esses autores, a luta dos camponeses contra os latifundiários exprimia o avanço da sociedade na extinção do feudalismo. Entre os principais estudiosos que seguem essa concepção estão Maurice Dobb, Nelson Werneck Sodré, Alberto Passos Guimarães, Inácio Rangel. O livro Estudo de geografia agrária brasileira, de Orlando Valverde apresenta esta interpretação. STÉDILE (1994) ainda cita Alberto Passos Guimarães (in Quatro séculos de latifúndio), Maurício Vinhas (in: Problemas agrário-camponeses do Brasil) como também pertencentes a esta linha de pensamento filosófico.

STÉDILE (1994) ainda comenta que, de outro lado, defendia-se as teses de que no Brasil nunca havia existido feudalismo, de que o capitalismo estava se desenvolvendo no campo, e que era predominante e, também, que as relações sociais de produção existentes não eram entrave ao desenvolvimento capitalista, mas caracterizava-se por um certo tipo de capitalismo, concentrador, dependente, etc. OLIVEIRA (1999) cita como os principais pensadores dessa corrente estão Karl Kautsky, Vladimir I. Lênin, Léo Huberman, Caio Prado Junior, José Graziano da Silva, Ricardo Abramovay, etc.

De acordo com estas duas correntes filosóficas a visão que se tem sobre o meio rural brasileiro é de que ele está pré-destinado a desaparecer, isto porque estes autores colocam a sociedade capitalista como sendo formada por apenas duas classes sociais: a burguesia (os capitalistas) e o proletariado (os trabalhadores assalariados).

No meio destas duas vertentes de caráter marxista a respeito da interpretação das questões agrárias no Brasil, surge uma terceira, esta mais voltada para uma Sociologia Crítica do Conhecimento[7]. Como fazendo parte desta concepção OLIVEIRA (1999) cita alguns autores como José de Souza Martins, Margarida Maria Moura, José Vicente Tavares da Silva e ele próprio. Estes autores acreditam que o estudo da agricultura brasileira deve ser feito levando-se em conta que processo de desenvolvimento do modo capitalista de produção no território brasileiro é contraditório e combinado. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento avança reproduzindo relações especificamente capitalistas (implantando o trabalho assalariado pela presença do bóia-fria no campo), ele (o capitalismo) produz também, igual e contraditoriamente, relações camponesas de produção (pela presença e aumento do trabalho familiar no campo).

STÉDILE (1994) afirma que após a derrota da ditadura militar ressurgiram os movimentos sociais no campo de luta pela reforma agrária e o debate reacendeu-se a partir dos anos 80. Entretanto desta vez o debate não se concentrava mais no fato do capitalismo predominar ou não nas relações sociais e de produção na agricultura brasileira. Agora todos concordavam neste ponto. Porém, hoje debate-se qual a natureza da reforma agrária. Ela será capitalista ou socialista? Ela será reformista-desenvolvimentista, ou será revolucionária? Para STÉDILE (1994) alguns, mesmo no campo da esquerda, como José Graziano da Silva, levantam teses de que não há mais necessidade de reforma agrária no sentido de distribuição ampla da propriedade da terra, de que os trabalhadores precisam e lutam por outro tipo de mudanças na agricultura.

Principais autores que estudam o meio rural brasileiro

Caio Prado Júnior

O tema central da reflexão do Caio Prado Jr. é a compreensão do Brasil moderno. É o primeiro autor a elaborar uma imagem do Brasil a luz da dialética marxista. Ele, juntamente com Florestan Fernandes[8], são considerados como os precursores do marxismo no Brasil. Como um autor marxista da extrema esquerda e faz parte daquela vertente filosófica que acreditava que o Brasil continuaria a ser um país "atrasado" semifeudal, bloqueado em seu pleno desenvolvimento para o capitalismo pela presença do latifúndio e da dominação imperialista. Entretanto, segundo Coutinho (2000) Caio Prado Júnior rompe com essa visão, para ele o Brasil contemporâneo é um país plenamente capitalista, que já teria experimentado, portanto uma "revolução burguesa", mas – é esse "mas" que torna tão significativas as suas obras, inclusive no quadro do nosso marxismo – uma revolução do tipo "não clássico".

Além disso, PRADO JR. (1994) comenta que para se compreender o caráter da colonização brasileira é preciso recuar no tempo para antes do seu início, e indagar das circunstâncias que a determinara. Para ele, o Brasil ainda trás nas suas feições, até o presente, um forte caráter colonial que este presente na sua formação, ou seja, nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, outro diamante; depois algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.

Em seu livro "A revolução Brasileira" de 1987, Caio Prado Júnior comenta que o principal objetivo do mesmo seria a tentativa de reajustamento da teoria e programa político das esquerdas no Brasil. Além disso, ele faz menção a duas perspectivas que se opõe e que entre as quais se há de optar para o rumo que se almeja para o Brasil. A primeira é de que o Brasil continuaria como sendo uma colônia a serviço dos centros dominantes do sistema, um país extremamente dependente do sistema econômico internacional. E a outra perspectiva, não tão pessimista, de que o Brasil começa a tomar consciência dos fatores profundos que levaram o país à grave situação em que se encontra. PRADO JR. (1987) coloca o debate público em torno dos assuntos como imperialismo e a penetração do capital estrangeiro na economia brasileira como de suma importância para a consciência da real situação do País. Neste livro PRADO JR. (1987) faz uma crítica a burguesia brasileira quando esta optou para solução dos seus problemas de custo da mão-de-obra os regimes de força que abafavam a voz do trabalhador e suas reivindicações, e excluíam da ação política livre e efetiva mesmo sacrificando com isto a sua própria participação na democracia.

José de Souza Martins

Vários autores, como ALVES (2002) e SOTO (2002), afirmam que um dos autores referenciais e que mais refletiram sobre o meio rural, incorporando conceitos que até hoje são importantes em qualquer estudo agrário, é José de Souza Martins, sociólogo da Universidade de São Paulo, considerado um dos grandes interpretadores deste tema no Brasil. Este autor dedicou, e ainda dedica, grande parte de suas obras a interpretar o meio rural brasileiro e os atores sociais nele envolvidos. Sendo assim, em qualquer estudo sobre o meio rural brasileiro, para que demonstre credibilidade, não se pode deixar de lado a análise da vasta obra que este autor publicou a respeito das questões agrárias do país.

Ambos os autores, ALVES (2002) e SOTO (2002) concordam que o método utilizado por Martins é o dialético. Segundo ALVES (2002) Martins propunha um marxismo de rigor metodológico, que levaria a uma nova leitura dos processos agrários no Brasil, mostrando como o capital aprofundara a sua territorialização, e alargara a extração de renda da terra para incorporar os lucros e garantir estabilidade em seus negócios. Entretanto, SOTO (2002) afirma que o autor buscar recuperar a tradição originada em Marx, mas em oposição às interpretações dogmáticas e rígidas dos seguidores de Marx, que esterilizaram o que há de mais rico e estimulante: a dialética de Marx.

Ainda de acordo com estes autores, ALVES (2002) e SOTO (2002), as análises de Martins tomam o "mundo rural" como ponto de partida metodológica, porque nele se expressam de forma mais clara os diferentes ritmos e tempos do desenvolvimento capitalista. O objeto central da pesquisa de Martins é o processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro e não apenas o mundo rural.

Se, por um lado, as primeiras investigações sobre o "mundo rural" de José de Souza Martins encontram-se estreitamente ligadas às preocupações teóricas, empíricas e práticas da Escola Sociológica de Florestan Fernandes, por outro lado, também é verdade que foram marcadas sensivelmente pelas obras de autores que buscavam o diálogo com outras disciplinas como a antropologia.

Segundo SOTO (2002) a explicação sociológica de Martins basea-se na crítica ao evolucionismo e ao uso dogmático dos conceitos de modo de produção e de formação econômico-social, presente na literatura brasileira de origem marxista e especialmente entre as obras dos autores brasileiros que discutiram a origem feudal da sociedade brasileira. José Martins, para solucionar o "vácuo do marxismo[9]" sobre a agricultura e seguindo o pensamento elaborado por Karl Kautsky em seu livro A questão agrária[10], formulou, baseado na lógica dialética, a teoria de que o capitalismo, no Brasil, cria e recria relações não capitalistas para o seu desenvolvimento. É neste ponto que os pensamentos de Martins e OLIVEIRA (1999) convergem. MARTINS (1973 e 1998) comenta sobre estas relações e aponta a existência, aqui no Brasil, de um fazendeiro com uma postura capitalista, mas que dentro de sua fazenda existiam relações não capitalistas como o colonato[11], por exemplo.

Um dos autores que tiveram grande influência sobre Martins foi Florestan Fernandes. Segundo COMINESI (2003), Fernandes comenta que a revolução burguesa tem raízes na escravatura e no antigo regime e que a

segunda fase da revolução burguesa foi formada pela burguesia industrial nascida da agrária, formada desde oficinas e fábricas, trazidas do exterior. Em algumas reflexões sobre as mudanças sociais ocorridas sobre o Brasil, FERNANDES (1976) comenta que nós nos modernizamos por fora e com freqüência nem o verniz agüenta o menor arranhão. É uma modernidade postiça, que se torna temível porque nos leva a ignorar que os sentimentos e os comportamentos profundos da quase totalidade das "pessoas cultas" se voltam contra a modernização.

No livro A imigração e a crise do Brasil Agrário publicado em 1973, José de Souza Martins aborda a realidade brasileira sob um ângulo não convencional. Através do estudo de um grupo de imigrantes italianos marginalizados, no período de implantação do trabalho livre, mostra como se dá um dos fenômenos mais característicos e menos conhecidos da sociedade brasileira: como a situação e a consciência do camponês são a contrapartida das tendências e necessidades de reprodução do capitalismo dependente.

Também é neste mesmo livro que se encontra fundamentação para a utilização do estudo de caso como um método de investigação apropriado para o desenvolvimento da dissertação de mestrado sobre o modo de vida rural no município de Ivaí-P
R. Segundo Martins (1973), a comunidade pode constituir-se numa perspectiva de reconstrução sociológica da realidade social, isto é, pode constituir-se em método. Ele ainda explica que um homem está separado de outro por relações invisíveis tecidas pela mercadoria, que deslocam a dinâmica da existência local para os centros de decisão econômica e política do capitalismo. Por essa razão é que os acotecimentos na sociedade local não se desvendam inteiramente, de modo necessário, para os seus membros, como aconteceria na relação determinista natureza-homem. O que estipula a unicidade do caso no estudo de comunidade é, portanto, a consciência que se exprime na utopia comunitária. Na medida em que se analisa cientificamente o grupo que se vê mediante a utopia comunitária, descobrem-se relações em que se funda a utopia, isto é, descobre-se os vínculos de marginalização do camponês, ou seja, o processo social, como consciência e como dimensão objetiva.

De acordo com ALVES (2002) a crítica de José de Souza Martins aponta na direção de uma sociedade onde não há uma categoria social ou uma classe social que possa desenvolver uma compreensão abrangente e objetiva das contradições sociais e das respectivas saídas e superações dessa mesma sociedade, cujos valores patriarcais são ainda muito fortes, e o pensamento conservador se tornou ativo e transformador.

Autores mais recentes

Ainda seguindo a mesma linha de raciocínio de José de Souza Martins encontramosAriovaldo Umbelino de Oliveira, doutor em geografia e professor da Universidade de São Paulo (USP) e publicou diversos livros e artigos relativos a questão agrária e à geografia do Brasil.

Num testes artigos "O campo brasileiro no final do anos 80" OLIVEIRA (1994) discute vários temas comoa produção do capital, a transformação dos camponeses em capitalistas, a mundialização da economia brasileira, a territorialização do grande capital, a presença do trabalho assalariado e do trabalho familiar no campo e a unidade contraditória entre a cidade e o campo.

Para este autor, o desenvolvimento capitalista se faz movido pelas suas contradições. Ele é, portanto, contraditório e desigual. Isso significa dizer que para que seu desenvolvimento seja possível, ele também tem que desenvolver aqueles aspectos aparentemente contraditórios. Este desenvolvimento contraditório ocorre através de forma articuladas pelos próprios capitalistas que se utilizam dessas relações de trabalho pra não terem que investir na contratação de mão-de-obra uma parte do seu capital. Ao mesmo tempo em que, utilizando-se dessa relação sem remunerá-la, recebem uma parte do fruto do trabalho desses trabalhadores parceiros ou camponeses, convertendo-a em mercadoria, vendendo-a, portanto, e ficando com o dinheiro, ou seja, transformando-a em capital.

Outro autor que possui várias pesquisas sobre o meio rural brasileiro é José Graziano da Silva. Este autor é agrônomo, doutor em Economia Agrícola, professor na UNICAMP e tem vários artigos e livros sobre a questão agrária brasileira. Atuou também como consultor do INCRA, em 1985 e atualmente ocupa um cargo do primeiro escalão do governo Lula.

Na visão de GRAZIANO DA SILVA (1994) há muitas agriculturas brasileiras, seja pela sua diferenciação regional, no país; seja mesmo, dentro de uma mesma região pelo tipo de inserção do produto ou pelo tipo de articulação entre os capitais que se fazem nessa agricultura. Quer dizer, a agricultura brasileira evoluiu basicamente daquilo que poderíamos chamar de vários complexos rurais, grandes fazendas, grandes propriedades que tinham nível de consumo interno e produção de subsistência interna na propriedade, para aquilo que hoje se chama complexos agroindustriais.

Este autor é defensor de que o meio rural tende a desaparecer. Verifica-se este fato quando GRAZIANO DA SILVA (1994) aponta três tendências fundamentais nos anos 80: com constituição desses complexos agroindustriais começa a haver e se aprofundar uma integração entre capitais; a redução do papel da pequena produção nesse processo de desenvolvimento capitalista - a pequena produção seja produção familiar ou produção camponesa, vem perdendo a partir dos anos 70 rapidamente seu espaço, quer seja produtora de bens, quer seja como reserva de mão-de-obra; redução da sazonalidade do trabalho temporário causado pela substituição por culturas mais fortemente mecanizadas, ou seja, pela introdução da mecanização em culturas que até então tinham graus muito menores de mecanização na colheita.

Nos debates mais atuais sobre o meio rural Brasileiro Graziano da Silva[12] aparece com bastante freqüência. Em seu livro O novo rural brasileiro publicado em 1999, comenta sobre o surgimento de uma nova conformação do meio rural brasileiro, para ele o espaço rural se urbanizou, e agricultura familiar que por vocação possuía seu próprio mercado de trabalho e equilíbrio interno, se integrou no contexto da economia recriando novas maneiras de geração de renda como estratégia de sobrevivência do pequeno produtor no campo. Esta nova conformação é denominada por ele de "Novo Rural". Outro autor que também discute sobre o Novo Rural Brasileiro é DEL GROSSI (2002), este autor comenta que as atividades até então consideradas como hobbies pessoais ou pequenos negócios foram transformados em importantes alternativas de emprego e renda no meio rural nos anos mais recentes.

Com relação à reforma agrária no Brasil, GRAZIANO DA SILVA (1994) possui uma posição contrária a fração de esquerda do país, pois ele afirma que a reforma agrária do ponto de vista do desenvolvimento capitalista, do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas no campo não é mais uma necessidade, seja pra a burguesia, seja para as classes produtoras. Isso não quer dizer que ela não seja uma possibilidade. Quer dizer apenas que a reforma agráriana década de 80, era uma necessidade dos trabalhadores rurais, não mais do patronato brasileiro. Ou seja, nesta afirmação de um lado ele tira a responsabilidade das elites dominantes na luta contra a reforma agrária, no momento em que afirma ela não ser mais necessária para o desenvolvimento econômico do país. Por outro lado, lança esta responsabilidade sobre os trabalhadores em geral. Ora, sabemos bem que desta maneira será muito mais difícil a concretização da reforma agrária uma vez que quem ainda dita as regras na sociedade brasileira ainda às classes pertencentes à burguesia e ao patronato brasileiro, sendo assim, que interesse estas classes teriam em se desfazerem dos seus grandes latifúndios? Simplesmente a promoção do bem social? A sociedade capitalista impera em nosso país e no mundo e até que isto mude o capital dita as regras e com isto o bem social sempre ficará em segundo plano.

José Eli da Veiga é outro autor ao qual pode-se identificar alguns pontos de sua obra em comum com os aspectos que serão abordados na minha dissertação de mestrado. Ele é um economista, doutor, professor da USP. Foi diretor do Instituto de Assuntos Fundiários e superintendente do INCRA no estado de São Paulo (1984-88). Publicou vários artigos sobre a questão da reforma agrária e ainda traz no seu currículo a participação no processo de reforma agrária portuguesa da Revolução dos Cravos, 1975.

Este autor é defensor da reforma agrária e mais, no artigo Fundamentos do Agrorreformismo, VEIGA (1994) deixa claro seu ponto de vista contrário ao GRAZIANO DA SILVA (1994) quando este afirma que a reforma agrária não é necessária para o desenvolvimento da economia do país. VEIGA (1994) afirma que a primeira pergunta que deve ser feita é a seguinte: será mesmo correto afirmar que a distribuição de riqueza não é condição necessária para a retomada do crescimento econômico? Para ele, se a resposta for positiva, isto é, se o país puder avançar no seu desenvolvimento sem que haja distribuição, a reforma agrária não tem mesmo sentido econômico. No entanto, se a tese inversa for aceita e a redistribuição for vista como uma exigência do progresso, então será forçoso admitir o papel crucial desse tipo de programa, pois são poucas as políticas públicas com impactos comparáveis na distribuição da riqueza.

Mais recentemente, em seu último livro "Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se supõe" publicado em 2002 lança um novo debate sobre a relação campo-cidade e faz uma argumentação contrária aos autores GRAZIANO DA SILVA (1999) e DEL GROSSI (2002) no que se refere a crescente urbanização do Brasil ou sobre a crença destes autores no desaparecimento do meio rural Brasileiro. Para VEIGA (2002a) o Brasil é um país bem menos urbanizado do que se imagina. A tese defendida por este autor é de que o resultado encontrado pelo IBGE (2000) com relação ao índice de urbanização do país, 81,2%, é um mito[13]. Além disto, este resultado tem uma influência negativa no que se refere às políticas públicas direcionadas para a população residente na área rural, que é subestimada.

Outro ponto abordado por VEIGA (2002b) é inerente a distorcida visão que predomina no País sobre a relação entre o território rural e os três setores da economia. Para o autor, o território rural não é – e nunca foi – base de atividades exclusivamente primárias. As atividades agrícolas ou minerais, por exemplo, jamais estiveram distantes de muitas atividades comerciais e de transporte. E o crescimento econômico moderno as vincula umbilicalmente a certas atividades industriais e a inúmeros outros tipos de serviços. Daí porque é falso o estereótipo dominante segundo o qual "rural=agropecuário". Isso nunca teve, não tem, nem nunca terá nada que ver com a realidade dos fatos. Mas é outra forte distorção diariamente reproduzida pelos meios de comunicação e pelo sistema educacional.

Segundo VEIGA (2002b) são gravíssimos os impactos desse duplo equívoco sobre as políticas governamentais. A começar pela irracional e injusta repartição dos recursos fiscais. As capitais ficam com um terço da receita final, apesar de só abrigarem pouco mais de um quinto dos habitantes. E quem mais arca com o prejuízo é o terço da população brasileira que reside em municípios rurais.

Considerações finais

Verifica-se que são vários os trabalhos e pesquisadores que têm se preocupado com as transformações pelas quais o meio rural tem se deparado, e mais, fica claro que os estudos a acerca de como se dão as relações no campo podem demonstrar, de uma forma geral, todo o processo da instauração do capitalismo no Brasil, sempre lembrando que aqui, este capitalismo se desenvolveu de formas diferentes, de uma maneira dialética, construindo e re-construindo o seu modo de produção.

Além disto, também fica evidente que existem várias maneiras de se interpretar o meio rural, cada qual dependendo do ponto de vista em que o observador está inserido, seja ele de esquerda, marxista ou faça parte de uma sociologia mais crítica do conhecimento. É claro que, existem certas preferências, por exemplo, dentro da dissertação de mestrado que estuda o modo de vida rural no município de Ivaí, encontram-se algumas idéias mais em comum com o José de Souza Martins, Ariovaldo Umbelino de Oliveira e José Eli da Veiga, mas não quer dizer que não consideramos importantes as obras dos outros autores como do Caio Prado Jr ou do José Graziano da Silva. Acreditamos que são justamente nas idéias divergentes é que se pode encontrar argumentos e aprimorar os conhecimentos e convicções sobre o meio rural brasileiro.

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Modo de vida



[1] Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR.

[2] Escola do Pensamento surgida no final do séc. XIX cujo postulado básico era aplicação do modelo biológico das espécies às sociedades humanas, entendendo que sua dinâmica seria dada pela lei da sobrevivência do mais apto na luta pela vida (Grande Enciclopédia Larousse Cultura, 1988).

[3] Doutrina elaborada por Auguste Comte que propunha a neutralidade axiológica do saber, ideologia conservadora identificada com a ordem industrial burguesa estabelecida e conduziu à negação ou a que os seguidores ignorassem o condicionamento histórico-social do conhecimento.

[4] Teoria explicativa da evolução que reconhece os princípios de Lamarck, mas os corrige. Para Lamarck a influência das variações do meio determina e explica a evolução dos seres vivos (Grande Enciclopédia Larousse Cultura, 1988).

[5] Doutrina filosófica segunda a qual, para compreender os fatos humanos, sociais, culturais e políticos é necessário considerá-los como fenômenos dinâmicos que se desenvolvem no tempo.Tais fatos são considerados como elos de uma cadeia, como partes de um todo maior em permanente evolução (Enciclopédia Larousse Cultural, 1988).

[6] Método de raciocínio que consiste em analisar a realidade pondo em evidências suas contradições e buscando superá-las. Para a dialética hegeliana, as contradições só se resolvem na filosofia; para a dialética marxista, só podem se resolver na atividade histórica e social (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1988).

[7] A sociologia do conhecimento trata das relações entre o pensamento humano e o contexto social dentro do qual surge. Pode dizer-se assim que a sociologia do conhecimento constitui o foco sociológico de um problema muito mais geral, o da determinação existencial do pensamento enquanto tal.

Os antecedentes intelectuais imediatos da sociologia do conhecimento são três criações do pensamento alemão do século XIX, o pensamento marxista, o nietzcheano e o historicista. A sociologia do conhecimento tem sua raiz na proposição de Marx que declara se a consciência do homem determinada pelo seu social (Berger, 1999).

[8]Fundador da sociologia crítica no Brasil;uso da dialética: reflexões críticas entre o pensamento e o pensado; Marxismo: horizonte da questão; Interpretação do Brasil: pesquisas com base na colonização, a escravatura e a revolução burguesa (COMINESI, 2003).

[9] Segundo Kautsky (1998, p. 17) ... Marx soube dizer coisas importantes no concernente ao tema agrário, mas sua teoria da evolução que se baseia no crescimento do número dos grandes estabelecimentos agrícolas e na proletarização das massas, que dessa evolução faz decorrer a necessidade de existência do socialismo, essa teoria é clara apenas para a evolução industrial. Ela não é clara para o desenvolvimento agrário e me parece que a pesquisa científica terá que preencher essa lacuna...

[10] Segundo Kautsky ... a oposição que existe entre a classe dos capitalistas e o proletariado assalariado não são a única forma de oposição social de nossa época. Ao lado dessas classes e entre ambas existem ainda muitas outras entre as quais figuram tanto os expoentes como a faixa sedimenta da sociedade; de um lado os monarcas e respectivos cortesãos, de outro os diferentes tipos de lumpemproletariado -, classes que, em parte são produzidas pelas próprias necessidades do capitalismo (KAUTSKY, 1998 p. 33)

[11] Regime de colonato nas fazendas de café: constituído de relações de trabalho que foram historicamente criadas na própria substituição do trabalhador escravo, conforme as necessidades do capital, sem que no final viesse a se definir um regime de trabalho assalariado nos cafezais. Da mesma forma, esse processo não recuperou relações de produção pré-capitalistas.(MARTINS, 1998 p. 3).

[12] Já em 1997 José Graziano da Silva,coordena um projeto chamado de "Rurbano" que tinha como finalidade analisar as principais transformações ocorridas no meio rural brasileiro nas últimas décadas com base na Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) dos anos 1992, 1993, 1995, 1996 e 1997.

[13] Para Veiga (2002a) este processo é confirmado pelos Censos Demográficos porque no Brasil existe uma norma legal que define a população urbana. Esta norma diz que é urbano no Brasil todo o domicílio que estiver no interior dos perímetros das cidades e das vilas, isto é, as sedes dos municípios e dos distritos. E o Brasil tinha – legalmente falando – 5507 cidades em 2000, data de realização do último Censo Demográfico. Basta que os habitantes do Pantanal e da Campanha prefiram residir nas sedes dos municípios para que eles acusem graus de urbanização bem superiores aos de municípios das regiões metropolitanas.