O artigo apresenta um breve estudo acerca da concepção da docente na perspectiva da educação infantil. Destacamos a relevância da formação docente para Educação Infantil, o conceito de infância e também a relação infância e educação. Embasado através de autores que influenciaram as ideias pedagógicas na infância, mostrando suas relações com as configurações sociais, que caracterizam a modernidade, e ao modo como ainda hoje a criança é vista e tratada. Observamos a prática de duas professoras da Educação Infantil com a finalidade de confrontar o discurso e a prática das docentes acerca da Educação Infantil e também como a concepção de infância e de Educação Infantil influencia na prática pedagógica das mesmas. A metodologia utilizada para a realização do trabalho lançou mão de observações não participante e a aplicação de um questionário semi-estruturado.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o objetivo de verificar as concepções de infância de duas professoras da Educação Infantil da Rede Municipal de Jaboatão. Para alcançar tal objetivo foi necessário observar como ocorre a prática docente numa turma de Educação Infantil; analisar o comportamento e a relação das docentes com os alunos da turma e por fim, coletar e analisar informações em um questionário semi-estruturado respondido pelas docentes que participaram da nossa pesquisa.

Para fazer essa análise atuamos em uma instituição da Rede Municipal de Ensino da cidade do Jaboatão dos Guararapes, localizada no bairro de Barra de Jangada. Observamos a prática de duas professoras da Educação Infantil com a finalidade de confrontar o discurso e a prática das docentes acerca da modalidade de ensino e também como a concepção de infância e de Educação Infantil influencia na prática pedagógica das mesmas.

A sala de aula pesquisada da Professora A[1] possui vinte alunos matriculados, sendo onze meninas e nove meninos, porém durante a observação estavam presentes quinze alunos (nove meninas e seis meninos). A sala de aula da Professora B possui dezoito alunos matriculados, sendo doze meninas e seis meninos, mas no período da observação estavam presentes dezesseis alunos (dez meninos e seis meninas).

Essa pesquisa também mostra o conceito de infância; a relação de infância e educação e pontua acerca da formação do docente para a educação infantil, além disso, aborda a importância desses para o desenvolvimento da criança no processo de ensino - aprendizagem. Sendo apresentado a partir das discussões de teóricos que fundamentam a importância da concepção do docente na educação infantil para o desenvolvimento da criança nas dimensões motoras, cognitivas, afetivas e sociais.

Jean Piaget (1896-1980), biólogo com preocupações eminentemente epistemológicas (teoria do conhecimento), realizou inúmeras pesquisas com crianças, sendo esta uma importante característica de seus trabalhos e convém ressaltar a importância de sua pesquisa para a compreensão da construção do conhecimento e do desenvolvimento cognitivo dos infantes.

Como metodologia utilizamos observações para verificar a prática docente e a aplicação de um questionário semi-estruturado contendo perguntas de suma relevância para a análise da pesquisa.

A fim de contribuir na formação docente acerca da importância da educação infantil, buscamos através desse artigo responder a seguinte pergunta: Qual a concepção de infância do professor de educação infantil?

REFERENCIAL TEÓRICO

Uma grande parte das crianças, apesar de viverem tão inseridas no mundo dos adultos, não são tratadas como cidadãos com direitos. Cabe aos educadores tomarem consciência de questão tão importante e redirecionarem suas práticas com o reconhecimento da criança como sujeito atuante das práticas sociais.

A criança deve aprender a lidar com seus desejos e conhecer seus limites. Através do excessivo otimismo em relação ao caráter da natureza boa do homem ao nascer é que Rousseau faz severas críticas à educação autoritária, onde o fim da educação para ele é a inserção social, após a criança ter recebido uma educação individualizada.

"A pobre criança que nada sabe, que não pode nada, nem nada conhece, não está a vossa mercê? "(...) Sem dúvida ela deve fazer só o que deve, porém deve querer só o que vós quereis que ela faça."( ROUSSEAU, 1995)

Em Rousseau tanto o estudo da infância, cuja existência normatiza e nomeia como a ação educativa aplicável, por ele amplamente desenvolvida no Emílio, podem efetuar-se de acordo com sua natureza.Diz ele: "Cada idade, cada etapa da vida tem sua perfeição conveniente, a espécie de maturidade que lhe é própria". Esta afirmação, apesar de integrar um conjunto de máximas que em sua obra inaugura uma forma própria de pensar a educação da "criança da natureza" e pela natureza, não significa deixar a criança a própria sorte, evoluir espontaneamente. Esta leitura geralmente feita por educadores, desconsidera outros aspectos de sua obra, que mesmo sendo extremamente contraditória, exalta o papel do educador na condução das crianças, às quais deve orientar em direção ao que é natural.

Para Rousseau (1995) a infância e seu desenvolvimento são definidos da seguinte forma:

Os primeiros desenvolvimentos da infância dão-se quase todos ao mesmo tempo. A criança aprende a falar, a comer e a andar aproximadamente ao mesmo tempo. Esta é propriamente a primeira fase de sua vida. Antes, não é nada mais do que aquilo que era no ventre da mãe; não tem nenhum sentimento, nenhuma idéia; mal tem sensaçõese nem mesmo percebe a sua própria existência.(...) Eis a Segunda fase da vida, aquela onde acaba propriamente a infância, pois as palavras infans e puer não são sinônimas. A primeira está contida na segunda e significa quem não pode falar, daí em Valério Máximo encontrarmos puerum infantem. Mas continuo a me servir dessa palavra segundo o costume de nossa língua, até a idade para a qual ela possui outros nomes.

Além de referir-se à criança e tratar de suas diferenças em relação ao adulto, esse pensador descreve o modo como elas eram tratadas logo ao nascer, principalmente por suas mães, crítica que apresenta no primeiro capítulo de Emílio, onde lemos:

Ao nascer, uma criança grita; sua primeira infância passa-se chorando. Ora sacodem e a mimam para acalmá-la, ora a ameaçam e lhe batem para que fique quieta. Ou lhe fazemos o que lhe agrada, ou exigimos dela o que nos agrada, ou nos submetemos às suas fantasias, ou a submetemos às nossas: não há meio-termo, ela deve dar ordens ou recebê-las. Assim suas primeiras idéias são de domínio e servidão. Antes de saber falar ela dá ordens, antes de poder agir ela obedece e, às vezes, castigam-na antes que depois imputamos à natureza, e após nos termos esforçado para torná-la má, queixamo-nos de vê-la assim. (Rousseau, 1995)

Vários outros pensadores que influenciaram o pensamento pedagógico e as concepções sobre infância, destacando-se os importantes trabalhos de Pestalozzi e Froebel. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) preocupava-se principalmente com as crianças pobres, foi fundador de várias escolas onde recolhia órfãos e mendigos. Seguiu as ideias de Rousseau, acreditando que o homem nasce inocente e bom, sendo a função da educação a humanização e estimulação do desenvolvimento espontâneo da criança. A partir de suas experiências nas escolas populares e suas crenças no pensamento rousseauniano, criou um método que priorizava a atividade do aluno, acreditando que se devia partir de objetos simples à atividades mais complexas, do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, do particular para o geral. Para Pestalozzi a educação poderia ser relacionada à natureza, segundo ele:

Uma educação perfeita é para mim simbolizada por uma árvore plantada perto de águas fertilizantes. Uma pequena semente que contém o germe da árvore, sua forma e suas propriedades é colocada no solo. A árvore inteira é uma cadeia ininterrupta de partes orgânicas, cujo plano existia na semente e na raiz. O homem é como a árvore. Na criança recém-nascida estão ocultas as faculdades que lhe hão de desdobrar-se durante a vida: os órgãos do seu ser gradualmente se formam, em uníssono, e constroem a humanidade à imagem de Deus. A educação do homem é um resultado puramente moral (Pestalozzi in Gadotti, 1997).

Friedrich Froebel (1782-1852) segue as ideias de Pestalozzi e sofre influências dos filósofos idealistas. Sua principal preocupação foi com as crianças da primeira infância, antes do período do ensino elementar. Foi ele quem fundou os jardins de infância, estando a denominação relacionada com o jardineiro que cuida das plantas desde pequeninas, cultivando-as para que cresçam bem, pois considera a infância como fase fundamental no desenvolvimento do homem. Priorizava o caráter lúdico da aprendizagem e defendia a ideia da evolução natural da criança, com uma concepção positivista de que as atividades levam espontaneamente ao conhecimento ( Froebel in Kramer, 2003). Com essa mesma concepção, também encontramos Decroly (1871-1932). Além disso, cria os centros de interesse, que conforme Decroly constituíam-se a partir de temas de interesse dos alunos reunindo as áreas mais importantes do conhecimento científico. Era uma estratégia que objetivava superar a disciplinarização dos conteúdos. As explicações sobre a operacionalização dos centros de interesse tratam até mesmo das fases de sua implantação: observação, associação, expressão.

No final do século XIX e início do século XX começaram a surgir preocupações e estudos sobre a criança, até porque esse período esteve marcado pela crença no progresso da ciência, resultando em muitas investigações e pesquisas; dessa forma seria possível ainda citar vários autores que pensaram a educação e/ou a infância durante esse século e que de alguma forma contribuíram para as concepções que hoje temos sobre o tema, como: Maria Montessori, Célestin Freinet, Walter Benjamin, Jean Piaget, Lev S. Vygotsky, Paulo Freire. Adiante serão apresentadas as ideias de alguns desses estudiosos.

Maria Montessori (1870-1952), primeira mulher italiana a se tornar médica, elaborou uma pedagogia a partir de seu trabalho prático com crianças. Montessori criou uma escola com características diferentes, que recebeu o nome de Casa dei bambini, dando origem à rede de instituições educativas. Preocupava-se com a educação das crianças e com a formação de seus professores. Ficou muito conhecida como médica e militante dos direitos femininos. Para Montessori, a educação tradicional modelava as crianças, sujeitando-as às concepções adultas. A palavra-chave de sua pedagogia é a normalização, que significa a interação das forças corporais e espirituais, ou seja, corpo, inteligência e vontade. Esta reunificação de forças pelas crianças ocorreria à medida em que elas trabalhassem com atenção e concentração. Montessori atribuía grande espaço aos fatores biológicos, porém, sem vê-los como determinantes do desenvolvimento, já que um meio favorável poderia modificar certos traços herdados. Segundo ela, as atividades manuais e físicas, com objetos definidos, ajudavam à organização interna das crianças. Criou uma metodologia de ensino a partir de uma série de materiais didáticos, organizados em cinco grupos: material de exercícios para a vida cotidiana, material sensorial, de linguagem, de matemática e de ciências. Essa metodologia foi muito difundida devido a seus resultados positivos, tornando-se muito conhecida no mundo todo, inspirando diversas propostas pedagógicas durante todo o século XX. Apesar de reconhecer a grande contribuição dada por esta educadora, Sônia Kramer, em seu livro Com a Pré-escola nas mãos, faz críticas sobre o método utilizado por Montessori se utilizado no Brasil. Segundo Kramer, esse método não leva em consideração a heterogeneidade social e o papel político que a pré-escola desempenha no contexto mais amplo da educação e da sociedade brasileira.

As contribuições de Celèstin Freinet (1896-1966) também merecem destaque. Este francês, no início do século, foi designado para lecionar em uma pequena vila no interior de seu país. Em sua atividade, percebeu que as crianças que eram alegres e curiosas fora do ambiente escolar, neste se mostravam apáticas e desinteressadas. Constatou que o trabalho dentro da sala de aula era distanciado da vida que acontecia fora da escola, por isso era monótona para os alunos; então preocupou-se em criar um modo de ligar a escola à vida das crianças. Criou as chamadas aulas-passeio, onde os alunos ficavam em contato com a natureza e com o mundo social e cultural. Criou, também, o livro da vida, onde as crianças registravam suas experiências. Piaget faz a seguinte referência a Freinet:

Quanto às iniciativas individuais de mestres de escola particularmente inventivos ou devotados à infância e que se encontram por meio da inteligência do coração os processos mais adaptados à inteligência propriamente dita (como outrora Pestalozzi), poder-se –ia citar um grande número nos países mais diversos de língua francesa, alemã (...), italiana, inglesa, etc.. Entretanto, limitar-nos-emos, como exemplo do que pode ser feito com os modestos meios e sem nenhum incentivo particular por parte dos ministérios responsáveis, a lembrar a notável obra realizada por Freinet, que espalhou às mais diversas regiões francófonas, entre as quais se inclui o Canadá. Sem cuidar muito da psicologia da criança e movido sobretudo pelas preocupações sociais, (...) Freinet interessou-se mais em fazer da escola um centro de atividades permanecendo em comunicação com as da coletividade do ambiente. (Piaget apud Sampaio, 1989)

Freinet acreditava que se os conteúdos e conceitos das diferentes áreas do conhecimento fossem discutidos de forma viva e integrada, a escola se tornaria mais interessante àquelas crianças. É possível concluir que a Pedagogia Freinet foi criada para atender às necessidades da criança. Suas ideias trouxeram contribuições muito valiosas a muitas reflexões na área da educação.

Na visão de Kramer (2003) as teorias de Freinet são utópicas em relação ao poder transformador da escola. Outra crítica que a pesquisa faz é que falta nessa teoria é uma explicitação psicológica, do processo de desenvolvimento das crianças.

Pode-se afirmar que no limiar do século XXI começam a surgir outros modos de olhar e tratar a criança, através de novas concepções acerca da infância. Um dos trabalhos mais sistematizados sobre esse pensar diferente a criança chega através da obra de Sônia Kramer (1996), que faz um estudo sobre as concepções de infância, e coloca a criança como sujeito social, criadora de cultura, desveladora de contradições e com outro modo de ver a realidade. Kramer (1996) apresenta junto com outras autoras essa concepção, tendo como referenciais Walter Benjamin, Lev S. Vygotsky e Mikhail Bakhtin.. Convém destacar que encontro na obra dessa autora, diretamente ligada à área da educação, um estudo elaborado acerca da ideia de infância que serve como referencial. Para Kramer (1996):

(...) a criança é concebida na sua condição de sujeito histórico que verte e subverte a ordem e a vida social. Analiso, então a importância de uma antropologia filosófica (nos termos que dela falava Walter Benjamin), perspectiva que, efetuando uma ruptura conceitual e paradigmática, toma a infância na sua dimensão não-infantilizada, desnaturalizando-a e destacando a centralidade da linguagem no interior de uma concepção que encara as crianças como produzidas na e produtoras de cultura.

Os aspectos relacionados à concepção de infância e sobre como as crianças eram tratadas e educadas permitem analisar e refletir melhor sobre as concepções hoje existentes, também possibilitando uma reflexão sobre a educação e a escola hoje.

1- CONCEITO DE INFÂNCIA NA ATUALIDADE

A maneira como a infância é vista atualmente é mostrado no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasília, 1998), que vem afirmar que "as crianças possuem uma natureza singular, que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio". Sendo assim, durante o processo de construção do conhecimento, "as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que procuram desvendar". Este conhecimento constituído pelas crianças "é fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação". Ainda convém salientar que compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina, etc. possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998, p.22).

A partir do momento em que alcançou – se uma consciência sobre a importância das experiências da primeira infância foi criada várias políticas e programas que visassem promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças, que por sua vez, passaram a ocupar lugar de destaque na sociedade.

No Brasil temos, atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, que ressaltou a importância da educação infantil. A educação é dever da família e do estado inspiradas nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Esta citação encontra respaldo no art. 4º, IV que diz: "o dever do Estado com educação escolar pública está efetivado mediante a garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas as crianças de zero a seis anos de idade".

Houve também a criação do Conselho da Criança e do Adolescente, no ano 1990, que

explicitou melhor cada um dos direitos da criança e do adolescente bem como os princípios que devem nortear as políticas de atendimento. Determinou ainda a criação dos Conselhos da Criança e do adolescente e dos Conselhos Tutelares. Os primeiros devem traçar as diretrizes políticas e os segundos devem zelar pelo respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, entre os quais o direito à educação, que para as crianças pequenas incluirá o direito a creches e pré-escolas. ( CRAIDY, 2001)

Na visão de muitos autores a criação do Conselho da Criança e do Adolescente é vista como um marco no que diz respeito ao reconhecimento e valorização da infância por parte das políticas públicas. Torna-se relevante citar também o Plano Nacional de Educação (PNE), que em consonância com os princípios da Educação para Todos, estabelece metas relevantes de expansão e de melhoria da qualidade da educação infantil. A atuação, nesse sentido, tem como objetivo concretizar as metas estabelecidas no PNE e incentivar estados e municípios a elaborem seus planos locais de educação, contemplando neles a educação infantil ressaltando assim a importância destinada á infância na sociedade atual.

Resta também, nos questionarmos sobre a qualidade da educação oferecida para estas crianças dentro das creches e pré - escolas, visto que a origem das mesmas tinha por objetivo atender somente a população carente o que significou em muitas situações atuar de forma compensatória para sanar as supostas faltas e carências das e crianças e suas famílias.


Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do estado diante das crianças pequenas.

(Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998).

Fazendo-se necessária uma avaliação sobre os nossos conceitos no que se refere à infância.

2 - RELAÇÃO INFÂNCIA E EDUCAÇÃO

Esta pesquisa visa conceituar Infância e Educação Infantil, sendo que antigamente nem sempre a criança era reconhecida, como um ser que merecesse atenção, carinho, respeito, que precisa ser trabalhada e educada. Já a Educação Infantil era basicamente para atender as crianças pobres, abandonadas, ou seja, aquelas que não tinham onde morar e atuavam assim como cáritas. Mas hoje em dia a educação infantil é uma das principais modalidades de Ensino. Hoje, é dever do Estado ofertar à todas as crianças de zero a seis anos de idade atendimento em creche e pré-escola (Constituição Brasileira de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069/90 ,art 54, inciso IV, entre outras), embora não haja legislação especifica que assegure o efetivo cumprimento dessa determinação.

Desde quando a criança nasce ela precisa de alguém que cuide e a ensine, pois ela é um ser que mereça atenção, carinho, respeito, afeto, e muito mais amor e ser compreendida. Mas antigamente a criança não era vista assim e varia de acordo com a cultura de onde ela esta concebida.

As crianças são o maior tesouro da humanidade, por esta razão cabe a cada profissional da Educação Infantil aprofundar os temas relacionados a esta etapa da educação básica podendo assim, com conhecimento, desempenhar bem o seu papel e contribuir para uma Educação Infantil de qualidade, que atenda os indicadores estabelecidos.

Com a exigência do atual momento histórico, vários são os fatores sócio-culturais que permitem a compreensão da atual conjuntura em que estão inseridas as instituições educativas que devem atender as crianças de 0 à 6 anos. É importante destacar, alguns deles nas duas últimas décadas foram inúmeros as modificações sócio-demograficas ocorridas em nossa sociedade em geral, e nas famílias em especial, também houve um grande aumento de produção de conhecimento cientifico, nas mais diferentes áreas-linguistica, historia, sociologia, antropologia, psicologia, entre outras. A respeito das especificidades das crianças nesta faixa etária; os movimentos da cidadania conquistaram direitos sociais e houve um avanço significativo no âmbito da lei e política publica que dão uma nova configuração para com a educação da criança.

Considerando que a arte de educar e de cuidar são características inerentes à raça humana, e que desde sempre houve uma preocupação em cuidar e educar as crianças desde cedo. Deste modo, presenciou-se também, além de sua importância, a educação infantil e as suas políticas, o que mostra especificamente a educação infantil nas creches e nas pré-escolas. Contudo, fez-se também necessário apresentar as propostas pedagógicas e práticas para o educador na creche e nas pré-escolas, já que são atuantes na educação básica, o que caracterizou e especificou ainda mais a importância desse local para a inserção da criança no mundo social e também na instituição escolar, posteriormente. Assim, apresentou-se as políticas até o ano de 1988, a Constituição Nacional vigente, de 1988, bem como as leis do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e o RCN (Referenciais Curriculares Nacionais), apresentando também suas especificidades. Contudo evidenciou-se que assim como o ensino fundamental é de extrema importância para o desenvolvimento do indivíduo, já que ele é tido como essencial e obrigatório por lei, a educação básica, com o ensino nas creches e pré-escolas também tem a sua importância ímpar, já que tem por base todas as características inerentes à criança e é responsável por se desenvolvimento psicológico, intelectual e cognitivo.

3 – FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL


A formação dos professores é um tema que tem ocupado um lugar central no debate acadêmico, ao mesmo tempo em que se faz cada vez mais presente em programas de governo e nos meios de comunicação. Esse destaque se dá especialmente a partir da década de 90, marcada por várias reformas, entre elas a da educação básica e da formação de seus professores. Os autores da reforma a proclamam como "inovadora", por tratar-se de indicações para a formação dos professores das três etapas da educação básica; esse fato tornou relevante investigar o conteúdo da inovação, especialmente no tocante ao professor de educação infantil.

A relação instituição de educação infantil com a família faz parte do desenvolvimento do trabalho do professor na educação da criança de 0 a 6 anos, especialmente na construção de vínculos afetivos, no compartilhar obrigações, posto que estabelece uma boa relação com a família está intimamente ligado com a acolhida da criança e a necessidade de um trabalho articulado. A criança requer olhar atento e ações comprometidas e articuladas por parte dos adultos que com ela convivem quer no espaço institucional quer no familiar, exercendo funções distintas. Além disso, os estudos sobre formação do professor de creche e pré-escola aos poucos têm se voltado para os saberes necessários ao trabalho docente e para a formação da identidade do professor da educação infantil.

Fazendo uma análise desse resgate histórico nos indagamos como será atualmente a concepção do profissional docente sobre a Educação Infantil, pois entendemos que esta influencia diretamente no seu fazer pedagógico.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Essa pesquisa foi realizada na Instituição de Ensino pública, localizada no bairro de Barra de Jangada no município de Jaboatão dos Guararapes, com uma turma de Grupo V – com crianças de até cinco anos.

O presente trabalho divide-se em três momentos: 1- Observação da sala de aula; 2 – Coleta de dados (Entrevistas) e 3 - Análise das entrevistas.

1 - Observação da sala de aula

Esse estudo basea-se primeiramente, numa pesquisa etnográfica objetivando conhecer a concepção da professora acerca da importância da educação infantil. O processo de observação considerou os seguintes critérios: a relação professor-aluno, o conteúdo aplicado pelas docentes na aula observada.

 

2 – Coleta de dados

 

A entrevista vem a corroborar com a análise do discurso das docentes para confrontarmos com a experiência de observação da sua prática pedagógica.

 

3 - Análise das entrevistas.

 

Para essa análise, tomaremos como base tanto a abordagem da "análise do discurso" como a "análise de conteúdos". Serão consideradas algumas estratégias discursivas utilizadas pelas professoras ao falarem de suas práticas de ensino (como elas falam), assim como os conteúdos de suas falas (o que elas falam), com base em Bardin (2000). Além desse autor buscamos fundamentar nossa pesquisa nos conhecimentos epistemológicos discutidos no componente curricular, Educação Infantil e Currículo, ministrado pela professora Bruna Ferraz.

ANÁLISE DOS DADOS

Participaram da pesquisa duas professoras, na qual uma possui 05 anos de docência e a outra 08 anos, ambas na educação infantil. As docentes foram submetidas a uma entrevista semi-estruturada contendo perguntas pertinentes acerca do tema em questão. Diante de suas respostas traçamos um perfil comparativo (tabela 01). Foram feitas uma observação para cada professora da pesquisa. Mesmo sendo na mesma escola e mesma seriação as turmas de apresentaram de maneiras diferentes quanto a presença dos observadores. Ficou evidente que a professora da turma A não mostrou à vontade com a presença dos observadores e que de, certa forma, forçou os alunos em uma atividade que não era costumeira. Propôs uma pesquisa de fotografias de animais presentes em jornais, um aluno perguntou se naquele dia não iriam desenhar, ela respondeu que não, que seria uma atividade diferente, entretanto ao apresentar-lhe os jornais os alunos não sabiam como manuseá-lo, alguns pisoteavam, uns amassavam, rasgavam, gerando assim a impaciência da professora. A otimização do trabalho foi realizada quando a professora sentou-se com os alunos e explicou como seria o trabalho com o jornal e o objetivo da atividade.

Já na turma da professora B os alunos estavam trabalhando massa de modelar que ela distribuiu para eles fazerem formas geométricas sólidos. Ela desenhava no quadro uma forma geométrica e os alunos iriam modelar os objetos que se aproximavam ou pareciam com a figura do quadro. Para finalizar a atividade a professora exposição para que todos os alunos mostrassem seu trabalho (e que cada artista deveria apresentar sua obra).

Como podemos observar as atividades propostas na educação infantil devem condizer com a proposta pedagógica prevista pela modalidade, proposta pedagógica da escola e os objetivos pressupostos para a formação dos alunos.

A prática da professora A revela que os alunos não têm acesso a uma diversidade de material na sala de aula. E que antes de trabalhar a atividade deve-se fazer uma explicação prévia dos objetivos das atividades.

Entrevistas e respostas

Tabela 1. Síntese das entrevistas realizadas pelas professoras.

Questões

Professora A

Professora B

1 - O que é educação para você?

Preparação da criança para atuar em uma sociedade de mudança descobrindo e respeitando o caminho dos outros.

Todo o processo de desenvolvimento do ser humano em seus diversos ambientes sociais.

2 – Como você se percebe/vê professor(a) da Educação Infantil? Você gosta dessa profissão?

Apta e em busca de novos conhecimentos.

Gosto e tento desenvolver o meu trabalho de forma afetiva.

Percebo-me paciente e preocupada com a educação das crianças e gosto do que faço.

3 – O que você acha importante estudar para o exercício da docência na Educação Infantil?

Os valores humanos.

Os níveis de desenvolvimento da criança e as metodologias.

4 - A partir da sua prática como você avaliar o curso de formação profissional (Normal Médio ou Superior) que você?

Considera de grande importância, pois abre novos horizontes e a faz um ser pensante.

Ambos os cursos vem buscando um aperfeiçoamento, proporcionando profissionais autônomos e críticos.

5 - Quais as disciplinas (ou conhecimentos) que você identifica como importante na formação de um professor?

Psicologia, Filosofia,

Didática e metodologias.

Psicologia, metodologias e didática.

6 - Em sua opinião, quais os principais desafios no trabalho com a Educação Infantil?

Ter disciplina, obedecer a regras e o trabalhar com os valores morais.

Ensinar as crianças a ter paciência.

7 - Você encontra dificuldade para exercer sua pratica pedagógica na Educação Infantil? Justifique?

Sim. Devido às estruturas físicas e institucionais.

Sim.Porque as crianças são muito inquietas.

Professora A

A docente tem 34 anos e possui o Normal Médio e no momento é graduanda do curso de Pedagogia e leciona há cinco anos na Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes. Podemos perceber que a mesma entende a educação como preparação da criança para atuar em sociedade (KRAMER, ROUSSEAU, WALLON, VIGOTSKY, entre outros) e se vê apta a desenvolver o trabalho na docência da educação infantil, reconhecendo os valores humanos fundamentais para o exercício de função. Além disso, a docente identifica as disciplina/conhecimentos Psicologia, Didática e Filosofia como primordiais na sua formação. Por fim, ela estabelece como um desafio, que enfrenta diariamente, manter a disciplina na sala de aula e fazer com que os alunos obedeçam às regras e pratique os valores morais.

Professora B

A docente tem 32 anos e fez o Normal Médio e é graduada em Pedagogia e no momento esta cursando pós-graduação em Educação Especial e leciona há oito anos na Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes. A Professora B entende a educação como processo de desenvolvimento do ser humano nos aspectos cognitivo, físico e psicológico. Essa docente percebe-se como uma profissional paciente e preocupada em oferecer uma base sólida para o desenvolvimento futuro de seus alunos e para isso identifica como de fundamental importância para a sua prática docente as disciplinas de Didática, Psicologia, planejamento em sala de aula e elaboração de projetos. Já no que se referem os principais desafios no trabalho com esta área ela salienta a paciência e gostar de ensinar crianças.

Analisando as respostas das professoras acerca da concepção em relação à educação infantil, os relatos indicam diferentes apropriações do binômio teoria-prática: ao narrar como desempenhavam suas atividades, as professoras descreviam como completas de teoria e jogando o insucesso das atividades aos alunos e a infra-estrutura oferecida pela escola. Conhecer teoria, saber as razões de uma atividade, avaliar se as práticas executadas eram certas ou não, parecem ser elementos que orientam as falas das entrevistadas, que fazem uso de termos como "parte pedagógica", "dar atividades", "cuidar", "formação especial ou profissional". O uso freqüente da conjunção adversativa permite inferir a importância que a teoria assume no discurso das educadoras em formação ou formadas.Faz parte do ser professor planejar e organizar a ação pedagógica; saberes que são tomados como referência para se compreender aquilo que era inadequado no passado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a concepção de educação infantil, as creches passam a ser também um espaço de educação. A mesma atende uma clientela especial: crianças pobres, geralmente com comportamento indisciplinado e que por isso precisam de professores com competências adequadas para lhe dar com suas características peculiares. Nesse estudo acerca da temática, Concepção de infância do professor de educação infantil. Verificamos como são amplas, as discussões de teóricos sobre a educação infantil acerca da importância do fazer docente. Além disso, nos propiciou o conhecimento, entendimento e reflexão sobre a educação infantil e também analisarmos a importância do papel do educador nesse contexto escolar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BARDIN, Laurence.(2000). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70.

·BRASIL. Lei n.9394, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Editora do

Brasil.

·BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular

nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.

·CRAIDY, Carmem Maria.(2001). Educação Infantil e as Novas Definições da

Legislação. In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. (orgs.). Educação

Infantil pra que te quero?. Porto Alegre: Artmed.

·FREINET, Élise. (1979). O itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na pedagogia Freinet. Rio de Janeiro, Francisco Alves.

·GADOTTI. Moacir. (1997). História das Idéias Pedagógicas. SP: Ática.

·KRAMER, Sônia.(2003). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a educação infantil. SP: Ática.

·KRAMER, Sônia; LEITE, Maria Isabel.(1996). Infância: Fios e Desafios da Pesquisa. SP: Papirus.

·ROUSSEAU, Jean-Jacques. (1995). Emílio ou Da educação. São Paulo: Martins Fontes.

·SAMPAIO, Rosa Maria W. F.( 1989). Freinet: evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione.



[1] Nomearemos as professoras participantes da pesquisa do seguinte modo: Professora A e Professora B.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o objetivo de verificar as concepções de infância de duas professoras da Educação Infantil da Rede Municipal de Jaboatão. Para alcançar tal objetivo foi necessário observar como ocorre a prática docente numa turma de Educação Infantil; analisar o comportamento e a relação das docentes com os alunos da turma e por fim, coletar e analisar informações em um questionário semi-estruturado respondido pelas docentes que participaram da nossa pesquisa.

Para fazer essa análise atuamos em uma instituição da Rede Municipal de Ensino da cidade do Jaboatão dos Guararapes, localizada no bairro de Barra de Jangada. Observamos a prática de duas professoras da Educação Infantil com a finalidade de confrontar o discurso e a prática das docentes acerca da modalidade de ensino e também como a concepção de infância e de Educação Infantil influencia na prática pedagógica das mesmas.

A sala de aula pesquisada da Professora A[1] possui vinte alunos matriculados, sendo onze meninas e nove meninos, porém durante a observação estavam presentes quinze alunos (nove meninas e seis meninos). A sala de aula da Professora B possui dezoito alunos matriculados, sendo doze meninas e seis meninos, mas no período da observação estavam presentes dezesseis alunos (dez meninos e seis meninas).

Essa pesquisa também mostra o conceito de infância; a relação de infância e educação e pontua acerca da formação do docente para a educação infantil, além disso, aborda a importância desses para o desenvolvimento da criança no processo de ensino - aprendizagem. Sendo apresentado a partir das discussões de teóricos que fundamentam a importância da concepção do docente na educação infantil para o desenvolvimento da criança nas dimensões motoras, cognitivas, afetivas e sociais.

Jean Piaget (1896-1980), biólogo com preocupações eminentemente epistemológicas (teoria do conhecimento), realizou inúmeras pesquisas com crianças, sendo esta uma importante característica de seus trabalhos e convém ressaltar a importância de sua pesquisa para a compreensão da construção do conhecimento e do desenvolvimento cognitivo dos infantes.

Como metodologia utilizamos observações para verificar a prática docente e a aplicação de um questionário semi-estruturado contendo perguntas de suma relevância para a análise da pesquisa.

A fim de contribuir na formação docente acerca da importância da educação infantil, buscamos através desse artigo responder a seguinte pergunta: Qual a concepção de infância do professor de educação infantil?

REFERENCIAL TEÓRICO

Uma grande parte das crianças, apesar de viverem tão inseridas no mundo dos adultos, não são tratadas como cidadãos com direitos. Cabe aos educadores tomarem consciência de questão tão importante e redirecionarem suas práticas com o reconhecimento da criança como sujeito atuante das práticas sociais.

A criança deve aprender a lidar com seus desejos e conhecer seus limites. Através do excessivo otimismo em relação ao caráter da natureza boa do homem ao nascer é que Rousseau faz severas críticas à educação autoritária, onde o fim da educação para ele é a inserção social, após a criança ter recebido uma educação individualizada.

"A pobre criança que nada sabe, que não pode nada, nem nada conhece, não está a vossa mercê? "(...) Sem dúvida ela deve fazer só o que deve, porém deve querer só o que vós quereis que ela faça."( ROUSSEAU, 1995)

Em Rousseau tanto o estudo da infância, cuja existência normatiza e nomeia como a ação educativa aplicável, por ele amplamente desenvolvida no Emílio, podem efetuar-se de acordo com sua natureza.Diz ele: "Cada idade, cada etapa da vida tem sua perfeição conveniente, a espécie de maturidade que lhe é própria". Esta afirmação, apesar de integrar um conjunto de máximas que em sua obra inaugura uma forma própria de pensar a educação da "criança da natureza" e pela natureza, não significa deixar a criança a própria sorte, evoluir espontaneamente. Esta leitura geralmente feita por educadores, desconsidera outros aspectos de sua obra, que mesmo sendo extremamente contraditória, exalta o papel do educador na condução das crianças, às quais deve orientar em direção ao que é natural.

Para Rousseau (1995) a infância e seu desenvolvimento são definidos da seguinte forma:

Os primeiros desenvolvimentos da infância dão-se quase todos ao mesmo tempo. A criança aprende a falar, a comer e a andar aproximadamente ao mesmo tempo. Esta é propriamente a primeira fase de sua vida. Antes, não é nada mais do que aquilo que era no ventre da mãe; não tem nenhum sentimento, nenhuma idéia; mal tem sensaçõese nem mesmo percebe a sua própria existência.(...) Eis a Segunda fase da vida, aquela onde acaba propriamente a infância, pois as palavras infans e puer não são sinônimas. A primeira está contida na segunda e significa quem não pode falar, daí em Valério Máximo encontrarmos puerum infantem. Mas continuo a me servir dessa palavra segundo o costume de nossa língua, até a idade para a qual ela possui outros nomes.

Além de referir-se à criança e tratar de suas diferenças em relação ao adulto, esse pensador descreve o modo como elas eram tratadas logo ao nascer, principalmente por suas mães, crítica que apresenta no primeiro capítulo de Emílio, onde lemos:

Ao nascer, uma criança grita; sua primeira infância passa-se chorando. Ora sacodem e a mimam para acalmá-la, ora a ameaçam e lhe batem para que fique quieta. Ou lhe fazemos o que lhe agrada, ou exigimos dela o que nos agrada, ou nos submetemos às suas fantasias, ou a submetemos às nossas: não há meio-termo, ela deve dar ordens ou recebê-las. Assim suas primeiras idéias são de domínio e servidão. Antes de saber falar ela dá ordens, antes de poder agir ela obedece e, às vezes, castigam-na antes que depois imputamos à natureza, e após nos termos esforçado para torná-la má, queixamo-nos de vê-la assim. (Rousseau, 1995)

Vários outros pensadores que influenciaram o pensamento pedagógico e as concepções sobre infância, destacando-se os importantes trabalhos de Pestalozzi e Froebel. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) preocupava-se principalmente com as crianças pobres, foi fundador de várias escolas onde recolhia órfãos e mendigos. Seguiu as ideias de Rousseau, acreditando que o homem nasce inocente e bom, sendo a função da educação a humanização e estimulação do desenvolvimento espontâneo da criança. A partir de suas experiências nas escolas populares e suas crenças no pensamento rousseauniano, criou um método que priorizava a atividade do aluno, acreditando que se devia partir de objetos simples à atividades mais complexas, do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, do particular para o geral. Para Pestalozzi a educação poderia ser relacionada à natureza, segundo ele:

Uma educação perfeita é para mim simbolizada por uma árvore plantada perto de águas fertilizantes. Uma pequena semente que contém o germe da árvore, sua forma e suas propriedades é colocada no solo. A árvore inteira é uma cadeia ininterrupta de partes orgânicas, cujo plano existia na semente e na raiz. O homem é como a árvore. Na criança recém-nascida estão ocultas as faculdades que lhe hão de desdobrar-se durante a vida: os órgãos do seu ser gradualmente se formam, em uníssono, e constroem a humanidade à imagem de Deus. A educação do homem é um resultado puramente moral (Pestalozzi in Gadotti, 1997).

Friedrich Froebel (1782-1852) segue as ideias de Pestalozzi e sofre influências dos filósofos idealistas. Sua principal preocupação foi com as crianças da primeira infância, antes do período do ensino elementar. Foi ele quem fundou os jardins de infância, estando a denominação relacionada com o jardineiro que cuida das plantas desde pequeninas, cultivando-as para que cresçam bem, pois considera a infância como fase fundamental no desenvolvimento do homem. Priorizava o caráter lúdico da aprendizagem e defendia a ideia da evolução natural da criança, com uma concepção positivista de que as atividades levam espontaneamente ao conhecimento ( Froebel in Kramer, 2003). Com essa mesma concepção, também encontramos Decroly (1871-1932). Além disso, cria os centros de interesse, que conforme Decroly constituíam-se a partir de temas de interesse dos alunos reunindo as áreas mais importantes do conhecimento científico. Era uma estratégia que objetivava superar a disciplinarização dos conteúdos. As explicações sobre a operacionalização dos centros de interesse tratam até mesmo das fases de sua implantação: observação, associação, expressão.

No final do século XIX e início do século XX começaram a surgir preocupações e estudos sobre a criança, até porque esse período esteve marcado pela crença no progresso da ciência, resultando em muitas investigações e pesquisas; dessa forma seria possível ainda citar vários autores que pensaram a educação e/ou a infância durante esse século e que de alguma forma contribuíram para as concepções que hoje temos sobre o tema, como: Maria Montessori, Célestin Freinet, Walter Benjamin, Jean Piaget, Lev S. Vygotsky, Paulo Freire. Adiante serão apresentadas as ideias de alguns desses estudiosos.

Maria Montessori (1870-1952), primeira mulher italiana a se tornar médica, elaborou uma pedagogia a partir de seu trabalho prático com crianças. Montessori criou uma escola com características diferentes, que recebeu o nome de Casa dei bambini, dando origem à rede de instituições educativas. Preocupava-se com a educação das crianças e com a formação de seus professores. Ficou muito conhecida como médica e militante dos direitos femininos. Para Montessori, a educação tradicional modelava as crianças, sujeitando-as às concepções adultas. A palavra-chave de sua pedagogia é a normalização, que significa a interação das forças corporais e espirituais, ou seja, corpo, inteligência e vontade. Esta reunificação de forças pelas crianças ocorreria à medida em que elas trabalhassem com atenção e concentração. Montessori atribuía grande espaço aos fatores biológicos, porém, sem vê-los como determinantes do desenvolvimento, já que um meio favorável poderia modificar certos traços herdados. Segundo ela, as atividades manuais e físicas, com objetos definidos, ajudavam à organização interna das crianças. Criou uma metodologia de ensino a partir de uma série de materiais didáticos, organizados em cinco grupos: material de exercícios para a vida cotidiana, material sensorial, de linguagem, de matemática e de ciências. Essa metodologia foi muito difundida devido a seus resultados positivos, tornando-se muito conhecida no mundo todo, inspirando diversas propostas pedagógicas durante todo o século XX. Apesar de reconhecer a grande contribuição dada por esta educadora, Sônia Kramer, em seu livro Com a Pré-escola nas mãos, faz críticas sobre o método utilizado por Montessori se utilizado no Brasil. Segundo Kramer, esse método não leva em consideração a heterogeneidade social e o papel político que a pré-escola desempenha no contexto mais amplo da educação e da sociedade brasileira.

As contribuições de Celèstin Freinet (1896-1966) também merecem destaque. Este francês, no início do século, foi designado para lecionar em uma pequena vila no interior de seu país. Em sua atividade, percebeu que as crianças que eram alegres e curiosas fora do ambiente escolar, neste se mostravam apáticas e desinteressadas. Constatou que o trabalho dentro da sala de aula era distanciado da vida que acontecia fora da escola, por isso era monótona para os alunos; então preocupou-se em criar um modo de ligar a escola à vida das crianças. Criou as chamadas aulas-passeio, onde os alunos ficavam em contato com a natureza e com o mundo social e cultural. Criou, também, o livro da vida, onde as crianças registravam suas experiências. Piaget faz a seguinte referência a Freinet:

Quanto às iniciativas individuais de mestres de escola particularmente inventivos ou devotados à infância e que se encontram por meio da inteligência do coração os processos mais adaptados à inteligência propriamente dita (como outrora Pestalozzi), poder-se –ia citar um grande número nos países mais diversos de língua francesa, alemã (...), italiana, inglesa, etc.. Entretanto, limitar-nos-emos, como exemplo do que pode ser feito com os modestos meios e sem nenhum incentivo particular por parte dos ministérios responsáveis, a lembrar a notável obra realizada por Freinet, que espalhou às mais diversas regiões francófonas, entre as quais se inclui o Canadá. Sem cuidar muito da psicologia da criança e movido sobretudo pelas preocupações sociais, (...) Freinet interessou-se mais em fazer da escola um centro de atividades permanecendo em comunicação com as da coletividade do ambiente. (Piaget apud Sampaio, 1989)

Freinet acreditava que se os conteúdos e conceitos das diferentes áreas do conhecimento fossem discutidos de forma viva e integrada, a escola se tornaria mais interessante àquelas crianças. É possível concluir que a Pedagogia Freinet foi criada para atender às necessidades da criança. Suas ideias trouxeram contribuições muito valiosas a muitas reflexões na área da educação.

Na visão de Kramer (2003) as teorias de Freinet são utópicas em relação ao poder transformador da escola. Outra crítica que a pesquisa faz é que falta nessa teoria é uma explicitação psicológica, do processo de desenvolvimento das crianças.

Pode-se afirmar que no limiar do século XXI começam a surgir outros modos de olhar e tratar a criança, através de novas concepções acerca da infância. Um dos trabalhos mais sistematizados sobre esse pensar diferente a criança chega através da obra de Sônia Kramer (1996), que faz um estudo sobre as concepções de infância, e coloca a criança como sujeito social, criadora de cultura, desveladora de contradições e com outro modo de ver a realidade. Kramer (1996) apresenta junto com outras autoras essa concepção, tendo como referenciais Walter Benjamin, Lev S. Vygotsky e Mikhail Bakhtin.. Convém destacar que encontro na obra dessa autora, diretamente ligada à área da educação, um estudo elaborado acerca da ideia de infância que serve como referencial. Para Kramer (1996):

(...) a criança é concebida na sua condição de sujeito histórico que verte e subverte a ordem e a vida social. Analiso, então a importância de uma antropologia filosófica (nos termos que dela falava Walter Benjamin), perspectiva que, efetuando uma ruptura conceitual e paradigmática, toma a infância na sua dimensão não-infantilizada, desnaturalizando-a e destacando a centralidade da linguagem no interior de uma concepção que encara as crianças como produzidas na e produtoras de cultura.

Os aspectos relacionados à concepção de infância e sobre como as crianças eram tratadas e educadas permitem analisar e refletir melhor sobre as concepções hoje existentes, também possibilitando uma reflexão sobre a educação e a escola hoje.

1- CONCEITO DE INFÂNCIA NA ATUALIDADE

A maneira como a infância é vista atualmente é mostrado no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasília, 1998), que vem afirmar que "as crianças possuem uma natureza singular, que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio". Sendo assim, durante o processo de construção do conhecimento, "as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que procuram desvendar". Este conhecimento constituído pelas crianças "é fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação". Ainda convém salientar que compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina, etc. possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998, p.22).

A partir do momento em que alcançou – se uma consciência sobre a importância das experiências da primeira infância foi criada várias políticas e programas que visassem promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças, que por sua vez, passaram a ocupar lugar de destaque na sociedade.

No Brasil temos, atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, que ressaltou a importância da educação infantil. A educação é dever da família e do estado inspiradas nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Esta citação encontra respaldo no art. 4º, IV que diz: "o dever do Estado com educação escolar pública está efetivado mediante a garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas as crianças de zero a seis anos de idade".

Houve também a criação do Conselho da Criança e do Adolescente, no ano 1990, que

explicitou melhor cada um dos direitos da criança e do adolescente bem como os princípios que devem nortear as políticas de atendimento. Determinou ainda a criação dos Conselhos da Criança e do adolescente e dos Conselhos Tutelares. Os primeiros devem traçar as diretrizes políticas e os segundos devem zelar pelo respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, entre os quais o direito à educação, que para as crianças pequenas incluirá o direito a creches e pré-escolas. ( CRAIDY, 2001)

Na visão de muitos autores a criação do Conselho da Criança e do Adolescente é vista como um marco no que diz respeito ao reconhecimento e valorização da infância por parte das políticas públicas. Torna-se relevante citar também o Plano Nacional de Educação (PNE), que em consonância com os princípios da Educação para Todos, estabelece metas relevantes de expansão e de melhoria da qualidade da educação infantil. A atuação, nesse sentido, tem como objetivo concretizar as metas estabelecidas no PNE e incentivar estados e municípios a elaborem seus planos locais de educação, contemplando neles a educação infantil ressaltando assim a importância destinada á infância na sociedade atual.

Resta também, nos questionarmos sobre a qualidade da educação oferecida para estas crianças dentro das creches e pré - escolas, visto que a origem das mesmas tinha por objetivo atender somente a população carente o que significou em muitas situações atuar de forma compensatória para sanar as supostas faltas e carências das e crianças e suas famílias.


Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do estado diante das crianças pequenas.

(Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998).

Fazendo-se necessária uma avaliação sobre os nossos conceitos no que se refere à infância.

2 - RELAÇÃO INFÂNCIA E EDUCAÇÃO

Esta pesquisa visa conceituar Infância e Educação Infantil, sendo que antigamente nem sempre a criança era reconhecida, como um ser que merecesse atenção, carinho, respeito, que precisa ser trabalhada e educada. Já a Educação Infantil era basicamente para atender as crianças pobres, abandonadas, ou seja, aquelas que não tinham onde morar e atuavam assim como cáritas. Mas hoje em dia a educação infantil é uma das principais modalidades de Ensino. Hoje, é dever do Estado ofertar à todas as crianças de zero a seis anos de idade atendimento em creche e pré-escola (Constituição Brasileira de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069/90 ,art 54, inciso IV, entre outras), embora não haja legislação especifica que assegure o efetivo cumprimento dessa determinação.

Desde quando a criança nasce ela precisa de alguém que cuide e a ensine, pois ela é um ser que mereça atenção, carinho, respeito, afeto, e muito mais amor e ser compreendida. Mas antigamente a criança não era vista assim e varia de acordo com a cultura de onde ela esta concebida.

As crianças são o maior tesouro da humanidade, por esta razão cabe a cada profissional da Educação Infantil aprofundar os temas relacionados a esta etapa da educação básica podendo assim, com conhecimento, desempenhar bem o seu papel e contribuir para uma Educação Infantil de qualidade, que atenda os indicadores estabelecidos.

Com a exigência do atual momento histórico, vários são os fatores sócio-culturais que permitem a compreensão da atual conjuntura em que estão inseridas as instituições educativas que devem atender as crianças de 0 à 6 anos. É importante destacar, alguns deles nas duas últimas décadas foram inúmeros as modificações sócio-demograficas ocorridas em nossa sociedade em geral, e nas famílias em especial, também houve um grande aumento de produção de conhecimento cientifico, nas mais diferentes áreas-linguistica, historia, sociologia, antropologia, psicologia, entre outras. A respeito das especificidades das crianças nesta faixa etária; os movimentos da cidadania conquistaram direitos sociais e houve um avanço significativo no âmbito da lei e política publica que dão uma nova configuração para com a educação da criança.

Considerando que a arte de educar e de cuidar são características inerentes à raça humana, e que desde sempre houve uma preocupação em cuidar e educar as crianças desde cedo. Deste modo, presenciou-se também, além de sua importância, a educação infantil e as suas políticas, o que mostra especificamente a educação infantil nas creches e nas pré-escolas. Contudo, fez-se também necessário apresentar as propostas pedagógicas e práticas para o educador na creche e nas pré-escolas, já que são atuantes na educação básica, o que caracterizou e especificou ainda mais a importância desse local para a inserção da criança no mundo social e também na instituição escolar, posteriormente. Assim, apresentou-se as políticas até o ano de 1988, a Constituição Nacional vigente, de 1988, bem como as leis do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e o RCN (Referenciais Curriculares Nacionais), apresentando também suas especificidades. Contudo evidenciou-se que assim como o ensino fundamental é de extrema importância para o desenvolvimento do indivíduo, já que ele é tido como essencial e obrigatório por lei, a educação básica, com o ensino nas creches e pré-escolas também tem a sua importância ímpar, já que tem por base todas as características inerentes à criança e é responsável por se desenvolvimento psicológico, intelectual e cognitivo.

3 – FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL


A formação dos professores é um tema que tem ocupado um lugar central no debate acadêmico, ao mesmo tempo em que se faz cada vez mais presente em programas de governo e nos meios de comunicação. Esse destaque se dá especialmente a partir da década de 90, marcada por várias reformas, entre elas a da educação básica e da formação de seus professores. Os autores da reforma a proclamam como "inovadora", por tratar-se de indicações para a formação dos professores das três etapas da educação básica; esse fato tornou relevante investigar o conteúdo da inovação, especialmente no tocante ao professor de educação infantil.

A relação instituição de educação infantil com a família faz parte do desenvolvimento do trabalho do professor na educação da criança de 0 a 6 anos, especialmente na construção de vínculos afetivos, no compartilhar obrigações, posto que estabelece uma boa relação com a família está intimamente ligado com a acolhida da criança e a necessidade de um trabalho articulado. A criança requer olhar atento e ações comprometidas e articuladas por parte dos adultos que com ela convivem quer no espaço institucional quer no familiar, exercendo funções distintas. Além disso, os estudos sobre formação do professor de creche e pré-escola aos poucos têm se voltado para os saberes necessários ao trabalho docente e para a formação da identidade do professor da educação infantil.

Fazendo uma análise desse resgate histórico nos indagamos como será atualmente a concepção do profissional docente sobre a Educação Infantil, pois entendemos que esta influencia diretamente no seu fazer pedagógico.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Essa pesquisa foi realizada na Instituição de Ensino pública, localizada no bairro de Barra de Jangada no município de Jaboatão dos Guararapes, com uma turma de Grupo V – com crianças de até cinco anos.

O presente trabalho divide-se em três momentos: 1- Observação da sala de aula; 2 – Coleta de dados (Entrevistas) e 3 - Análise das entrevistas.

1 - Observação da sala de aula

Esse estudo basea-se primeiramente, numa pesquisa etnográfica objetivando conhecer a concepção da professora acerca da importância da educação infantil. O processo de observação considerou os seguintes critérios: a relação professor-aluno, o conteúdo aplicado pelas docentes na aula observada.

 

2 – Coleta de dados

 

A entrevista vem a corroborar com a análise do discurso das docentes para confrontarmos com a experiência de observação da sua prática pedagógica.

 

3 - Análise das entrevistas.

 

Para essa análise, tomaremos como base tanto a abordagem da "análise do discurso" como a "análise de conteúdos". Serão consideradas algumas estratégias discursivas utilizadas pelas professoras ao falarem de suas práticas de ensino (como elas falam), assim como os conteúdos de suas falas (o que elas falam), com base em Bardin (2000). Além desse autor buscamos fundamentar nossa pesquisa nos conhecimentos epistemológicos discutidos no componente curricular, Educação Infantil e Currículo, ministrado pela professora Bruna Ferraz.

ANÁLISE DOS DADOS

Participaram da pesquisa duas professoras, na qual uma possui 05 anos de docência e a outra 08 anos, ambas na educação infantil. As docentes foram submetidas a uma entrevista semi-estruturada contendo perguntas pertinentes acerca do tema em questão. Diante de suas respostas traçamos um perfil comparativo (tabela 01). Foram feitas uma observação para cada professora da pesquisa. Mesmo sendo na mesma escola e mesma seriação as turmas de apresentaram de maneiras diferentes quanto a presença dos observadores. Ficou evidente que a professora da turma A não mostrou à vontade com a presença dos observadores e que de, certa forma, forçou os alunos em uma atividade que não era costumeira. Propôs uma pesquisa de fotografias de animais presentes em jornais, um aluno perguntou se naquele dia não iriam desenhar, ela respondeu que não, que seria uma atividade diferente, entretanto ao apresentar-lhe os jornais os alunos não sabiam como manuseá-lo, alguns pisoteavam, uns amassavam, rasgavam, gerando assim a impaciência da professora. A otimização do trabalho foi realizada quando a professora sentou-se com os alunos e explicou como seria o trabalho com o jornal e o objetivo da atividade.

Já na turma da professora B os alunos estavam trabalhando massa de modelar que ela distribuiu para eles fazerem formas geométricas sólidos. Ela desenhava no quadro uma forma geométrica e os alunos iriam modelar os objetos que se aproximavam ou pareciam com a figura do quadro. Para finalizar a atividade a professora exposição para que todos os alunos mostrassem seu trabalho (e que cada artista deveria apresentar sua obra).

Como podemos observar as atividades propostas na educação infantil devem condizer com a proposta pedagógica prevista pela modalidade, proposta pedagógica da escola e os objetivos pressupostos para a formação dos alunos.

A prática da professora A revela que os alunos não têm acesso a uma diversidade de material na sala de aula. E que antes de trabalhar a atividade deve-se fazer uma explicação prévia dos objetivos das atividades.

Entrevistas e respostas

Tabela 1. Síntese das entrevistas realizadas pelas professoras.

Questões

Professora A

Professora B

1 - O que é educação para você?

Preparação da criança para atuar em uma sociedade de mudança descobrindo e respeitando o caminho dos outros.

Todo o processo de desenvolvimento do ser humano em seus diversos ambientes sociais.

2 – Como você se percebe/vê professor(a) da Educação Infantil? Você gosta dessa profissão?

Apta e em busca de novos conhecimentos.

Gosto e tento desenvolver o meu trabalho de forma afetiva.

Percebo-me paciente e preocupada com a educação das crianças e gosto do que faço.

3 – O que você acha importante estudar para o exercício da docência na Educação Infantil?

Os valores humanos.

Os níveis de desenvolvimento da criança e as metodologias.

4 - A partir da sua prática como você avaliar o curso de formação profissional (Normal Médio ou Superior) que você?

Considera de grande importância, pois abre novos horizontes e a faz um ser pensante.

Ambos os cursos vem buscando um aperfeiçoamento, proporcionando profissionais autônomos e críticos.

5 - Quais as disciplinas (ou conhecimentos) que você identifica como importante na formação de um professor?

Psicologia, Filosofia,

Didática e metodologias.

Psicologia, metodologias e didática.

6 - Em sua opinião, quais os principais desafios no trabalho com a Educação Infantil?

Ter disciplina, obedecer a regras e o trabalhar com os valores morais.

Ensinar as crianças a ter paciência.

7 - Você encontra dificuldade para exercer sua pratica pedagógica na Educação Infantil? Justifique?

Sim. Devido às estruturas físicas e institucionais.

Sim.Porque as crianças são muito inquietas.

Professora A

A docente tem 34 anos e possui o Normal Médio e no momento é graduanda do curso de Pedagogia e leciona há cinco anos na Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes. Podemos perceber que a mesma entende a educação como preparação da criança para atuar em sociedade (KRAMER, ROUSSEAU, WALLON, VIGOTSKY, entre outros) e se vê apta a desenvolver o trabalho na docência da educação infantil, reconhecendo os valores humanos fundamentais para o exercício de função. Além disso, a docente identifica as disciplina/conhecimentos Psicologia, Didática e Filosofia como primordiais na sua formação. Por fim, ela estabelece como um desafio, que enfrenta diariamente, manter a disciplina na sala de aula e fazer com que os alunos obedeçam às regras e pratique os valores morais.

Professora B

A docente tem 32 anos e fez o Normal Médio e é graduada em Pedagogia e no momento esta cursando pós-graduação em Educação Especial e leciona há oito anos na Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes. A Professora B entende a educação como processo de desenvolvimento do ser humano nos aspectos cognitivo, físico e psicológico. Essa docente percebe-se como uma profissional paciente e preocupada em oferecer uma base sólida para o desenvolvimento futuro de seus alunos e para isso identifica como de fundamental importância para a sua prática docente as disciplinas de Didática, Psicologia, planejamento em sala de aula e elaboração de projetos. Já no que se referem os principais desafios no trabalho com esta área ela salienta a paciência e gostar de ensinar crianças.

Analisando as respostas das professoras acerca da concepção em relação à educação infantil, os relatos indicam diferentes apropriações do binômio teoria-prática: ao narrar como desempenhavam suas atividades, as professoras descreviam como completas de teoria e jogando o insucesso das atividades aos alunos e a infra-estrutura oferecida pela escola. Conhecer teoria, saber as razões de uma atividade, avaliar se as práticas executadas eram certas ou não, parecem ser elementos que orientam as falas das entrevistadas, que fazem uso de termos como "parte pedagógica", "dar atividades", "cuidar", "formação especial ou profissional". O uso freqüente da conjunção adversativa permite inferir a importância que a teoria assume no discurso das educadoras em formação ou formadas.Faz parte do ser professor planejar e organizar a ação pedagógica; saberes que são tomados como referência para se compreender aquilo que era inadequado no passado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a concepção de educação infantil, as creches passam a ser também um espaço de educação. A mesma atende uma clientela especial: crianças pobres, geralmente com comportamento indisciplinado e que por isso precisam de professores com competências adequadas para lhe dar com suas características peculiares. Nesse estudo acerca da temática, Concepção de infância do professor de educação infantil. Verificamos como são amplas, as discussões de teóricos sobre a educação infantil acerca da importância do fazer docente. Além disso, nos propiciou o conhecimento, entendimento e reflexão sobre a educação infantil e também analisarmos a importância do papel do educador nesse contexto escolar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BARDIN, Laurence.(2000). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70.

·BRASIL. Lei n.9394, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Editora do

Brasil.

·BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular

nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.

·CRAIDY, Carmem Maria.(2001). Educação Infantil e as Novas Definições da

Legislação. In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. (orgs.). Educação

Infantil pra que te quero?. Porto Alegre: Artmed.

·FREINET, Élise. (1979). O itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na pedagogia Freinet. Rio de Janeiro, Francisco Alves.

·GADOTTI. Moacir. (1997). História das Idéias Pedagógicas. SP: Ática.

·KRAMER, Sônia.(2003). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a educação infantil. SP: Ática.

·KRAMER, Sônia; LEITE, Maria Isabel.(1996). Infância: Fios e Desafios da Pesquisa. SP: Papirus.

·ROUSSEAU, Jean-Jacques. (1995). Emílio ou Da educação. São Paulo: Martins Fontes.

·SAMPAIO, Rosa Maria W. F.( 1989). Freinet: evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione.



[1] Nomearemos as professoras participantes da pesquisa do seguinte modo: Professora A e Professora B.