O funcionamento de todo ser em desenvolvimento, a princípio, parece ser o mesmo.

Crescer, descobrir o mundo, deixar-se descobrir pelos outros, experimentar possibilidades, encantar-se com as descobertas que abrem inúmeras possibilidades, mas que ao mesmo tempo, excluem outras. Não deveria ser assim, pois o sol não exclui a lua nem as estrelas. O dia não exclui a noite e ambos aceitam a chuva e os ventos, fugindo da rotina e aceitando as mudanças que com eles advêm. Generosamente, compartilham espaços, olhares, encantamentos daqueles que tem olhos de ver, coração à flor da pele e alma cigana que é capaz de estar em todo lugar, que não tem território próprio porque todo território é seu.

É possível crescer em várias direções; para o alto buscando o céu, para o lado espalhando galhos que são braços, que protegem e abraçam de maneira carinhosa e acolhedora, para baixo fincando fortes raízes que se firmam dando suporte a tudo aquilo que está acima da terra e abaixo do céu (ou além dele), à vista dos olhos, ao alcance do olfato apurado capaz de distinguir cheiro de chuva molhada, de fruto maduro, de flor desabrochando; ouvidos afinados que ouvem o canto do sabiá, do bem-te-vi e do beija-flor que plana no ar, leve como os pensamentos inocentes e puros das crianças.

Toda a existência cresceu dentro daquilo que era esperado, proporcionando segurança, proteção, aconchego, alegria e sombra sob a qual repousaram corpos cansados e mentes sonhadoras que ali, a seus pés, arquitetaram idéias, sonhos que ganharam o mundo em cada tentativa desafiadora ou conquista obtida.

Teve espinhos que cutucaram (é para isto que servem, para desinquietarem, despertarem) cumprindo seu papel, mas também teve em si anjos que abençoaram, braços e abraços repletos de ternura e de alegria com os balanços das crianças que sustentou fortemente.

A experimentação, o desafio do novo significa a janela que mostra novos horizontes e o caminho para experimentar novos modos de vida, que poderão até não se constituírem naquilo que é esperado, ou no vislumbrado, mas que servirão para mostrar o que vale a pena.

É necessário ter o olhar bem mais além da linha do horizonte, querendo sempre transpor barreiras, desafiando o já dito e questionando o costume, a norma, o construído, o sentido (nas entrelinhas, no visível e no não dito, em outros dizeres que permeiam o caminho e que podem se constituir em novos saberes) criando novos desafios e novos espaços de experimentação. Este percurso pode mostrar o medo, instalar a dúvida do caminho a ser trilhado, desejando retornar a territórios conhecidos, identificados que apresentam características de normalidade, de estabilidade, de segurança, numa total contradição entre a segurança do conhecido e as inúmeras perspectivas do inexplorado.

Nesta trajetória-espaço, tempo - de ser e não ser, de subir e chegar às nuvens ao mesmo tempo em que aprofunda raízes, de crescer e se deixar podar, de viver e de morrer, de ser árvore frondosa ou rio que corre e não deita raízes, é capaz de (mesmo com o coração partido, a seiva a sangrar) deixar-se cortar para em cada labareda da chama da vida ou do fogo ardente e gélido da morte que acompanha o homem por toda a eternidade, esquentar os corações, virar fumaça que sobe para voltar em gotas de chuva que regam as sementes que tornarão a brotar num ciclo interminável de vida, doação, morte e renascimento.

Enquanto isto, outro tipo de raiz, não aquela plantada no solo, mas a que é plantada no coração daqueles que servimos permanece viva, nutrindo o espírito que se eleva por entre as nuvens, as quais é possível ver de outra dimensão.