Caracterização da Linguagem Oral e Escrita através da interpretação e transcrição de textos na 4ª Série "B" do Ensino Fundamental da Escola Municipal Ricieri Berté.

Vinicius Batista da Silva1

Universidade do Estado de Mato Grosso

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João Valdir de Almeida Filho2

Universidade do Estado de Mato Grosso

Ivone Lima de Almeida3

Universidade do Estado de Mato Grosso

Uraneide Oliveira Ribeiro4

Universidade do Estado de Mato Grosso

RESUMO

Este estudo visa caracterizar a linguagem oral e escrita através da interpretação e transcrição de textos com os alunos da 4ª serie "B" da escola municipal Ricieri Berté, realizado mediante umlevantamento qualitativo-quantitativo, bibliográfico e analítico, utilizando a aplicação do texto "menina bonita do laço de fita" de Ana Maria Machado. Constatou-se que a aquisição da oralidade e escrita na série em estudo pode ser melhor adquirida quando há inovações nas práticas docentes, pois notou-se que a metodologia utilizada, possibilitou um melhor aproveitamento por parte dos alunos, onde os mesmos se demonstraram interessados e envolvidos com o estudo. A pesquisa aborda fatores como: se os alunos escrevem o que entendem; se conseguem fazer interpretações orais do texto, fazendo relações com as práticas do seu cotidiano, além de expor através de teorias a importância da oralidade e da escrita no processo de aprendizagem.

Palavras chaves: Linguagem oral e escrita; interpretação; transcrição.

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1: Vinicius Batista da silva, Graduando em Pedagogia pela Universidadedo Estado de Mato Grosso 2: João Valdir de Almeida Filho, Graduando em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso. 3: Ivone Lima de Almeida, Graduanda em Pedagogia pela Universidadedo Estado de Mato Grosso. 4: Uraneide Oliveira Ribeiro, Graduanda em Pedagogia pela Universidadedo Estado de Mato Grosso- UNEMAT

INTRODUÇÃO

As praticas escolares vigentes privilegiam o discurso verbal escrito, fato inconcebível se fosse o contrario, pois, afinal, vivemos em uma cultura letrada, e a escola esteve associada à escrita desde sua origem. No entanto, o mundo acadêmico, atualmente, se volta também para estudos e valorização da oralidade. Com isso, observamos que a literatura de base oral e as atividades de contação de histórias também devem estar presentes no dia-a-dia-escolar, uma vez que a oralidade faz parte da experiência humana desde sua criação e que a escrita é um produto cultural imposto ao homem.

Levando em conta que a escola é um lugar que se devem conduzir os alunos ao aprendizado de práticas sociais orais e das escritas comuns no seu dia-a-dia, para que eles não só aprendam, mas também sintam o prazer de ler de forma reflexiva e participativa e possam exercer plenamente a sua cidadania. É neste sentido que neste trabalho, pretendemos caracterizar a linguagem oral e escrita na 4ª série "B" do ensino fundamental da escola municipal Ricieri Berté (constituída por 19 alunos com idades entre 9 a 12 anos), através da interpretação oral e transcrição de textos, identificando se os alunos escrevem o que entendem, alem de aplicar as lições extraídas das leituras em seu dia-a-dia.

A pesquisa foi desenvolvida através do levantamento qualitativo, quantitativo, bibliográfico e analítico utilizando a aplicação do texto "menina bonita do laço de fita" de Ana Maria Machado, onde foi explorado o processo de análise da aquisição da linguagem oral e escrita, através da interpretação e transcrição do texto.

O primeiro capitulo deste artigo fundamenta a caracterização da linguagem oral e escrita com base em alguns teóricos.

No segundo capítulo estão expostos os resultados e discussões apresentados no decorrer da pesquisa representados em alguns momentos por gráficos.

CARACTERIZAÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA

O domínio da língua oral e escrita é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visão de mundo e produz conhecimento.

A oralidade é tida como a forma de comunicação mais antiga e a mais importante e usada ainda hoje, por ser natural, espontânea, que todos usam no dia-a-dia, estando relacionada à fala.Embora exista essa relação a oralidade extrapola esse âmbito, uma vez que o suporte específico onde ancora-se é o corpo humano que é capaz de expressar-se, de comunicar-se através de características próprias de uma situação social. Para Goffmam (1989), em uma situação social em que os atores se encontram face a face, eles sofrem, em suas ações, influência recíproca uns dos outros. A autora fala da importância dos princípios próprios dos autores de determinada comunicação social para a caracterização desse dado.

De acordo com Marcuschi (1997), a fala é uma atividade muito mais central do que a escrita no dia-a-dia da maioria das pessoas. Contudo, as instituições escolares dão à fala atenção quase inversa à sua centralidade na relação com a escrita. Crucial neste caso é que não se trata de uma contradição, mas de uma postura. O autor se refere sobre a diferença de abordagem de textos orais e escritos em sala de aula que vem sendo muito questionada ultimamente, devido ao professor ainda continuar sem saber o que fazer para trabalhar a oralidade nas aulas.

Cagliari (1996), diz que a escrita é algo com o qual nós, adultos, estamos tão envolvidos que nem nos damos conta de como vive alguém que não lê e não escreve, de como a criança encara estas atividades, de como de fato funciona esse mundo caótico e complexo que nos parece tão familiar e de uso fácil [...] é absurdo que todas as atividades de português da escola girem em torno da escrita, a escrita é uma atividade nova para a criança, e por isso mesmo requer um tratamento especial na alfabetização.

Ler e escrever são atividades que se complementam. Os bons leitores tem grandes chances de escrever bem já que a leitura fornece a matéria prima para a escrita, quanto mais variados, interessantes e divertidos forem os textos que os professores apresentarem as crianças, maiores serão as chances de elas se tornarem leitores hábeis.

A língua portuguesa comporta duas modalidades: O português escrito e o português falado. Num mesmo nível, as duas não têm as mesmas formas, nem a mesma gramática, nem os mesmos "recursos expressivos"; cada uma possui características próprias. Isso não significa, porém, que fala e a escrita devam ser vistas de forma dicotômica, como era comum até há algum tempo e, por vezes, acontece ainda hoje. Vem-se postulando que os diversos tipos de práticas sociais de produção textual situam-se ao longo de um contínuo tipológico, em cujas extremidades estariam, de um lado a escrita formal e, de outro, a conversação espontânea, coloquial (Marcuschi,1995) escreve: "As diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais e não na relação dicotômica de dois pólos opostos".

O que podemos observar concretamente é que há uma interdependência entre oralidade e escrita. Elas se constroem em reciprocidade, interpenetram-se e complementam-se. A escrita pode intensificar a oralidade ao extrair do contexto oral enunciados, analisá-los e remodelá-los na cultura escrita, devolvendo-os em seguida ao contexto oral com vigor e força renovados. A oralidade pode intensificar a escrita, á medida que só a oralização faz do escrever um ato de significar, ou seja, só tem sentido escrever se estiverem supostos leitores que irão dar ao texto os muitos sentidos possíveis, incorporando esses sentidos às suas falas.

Segundo Possari & Neder (2006), no ensino da linguagem tradicional ou precritivo que tem como base a linguagem como expressão do pensamento e por conseqüência a gramática tradicional, a língua escrita tem predomínio sobre a língua falada.

Manifestações da linguagem oral e escrita são manifestações da língua, então para se entender a língua em sua totalidade, precisa-se estudar o oral também e não só o escrito.

Uma das características mais importantes da oralidade é que ela é a um só tempo, processo e produto, ou seja, decorre de uma interação face a face, a escrita por sua vez permite a interação a distância, a criação individual do autor e a possibilidade de revisão que não há no texto falado: " o que foi dito, foi dito, não há como apagar". Pode-se dizer ainda que a fala possui mais traços de fragmentação e a escrita de integração. No entanto não se pode afirmar que haja diferenças rígidas entre o texto escrito e o falado. Essas diferenças vão decorrer das condições de produção, ou seja, da situação, se há mais ou menos formalidades, etc.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's), a língua portuguesa focaliza a necessidade de dar ao aluno condições de ampliar o domínio da língua e da linguagem, aprendizagem fundamental para o exercício da cidadania, propõem ainda que a escola organize o ensino de modo que o aluno possa desenvolver seus conhecimentos discursivos e lingüísticos, sabendo: ler e escrever conforme seus propósitos e demandas sociais; expressar-se apropriadamente em situações de interação oral diferentes daquelas próprias de seu universo imediato; refletir sobre os fenômenos da linguagem, particularmente os que tocam a questão da variedade lingüística, combatendo a estigmatização, discriminaçãoe preconceitos relativos ao uso da língua. As propostas didáticas de ensino de língua portuguesa deve organizar-se tomando o texto oral ou escrito como unidade básica de trabalho.

RESULTADOS E DISCUSÕES

Desde os primeiros contatos que as crianças têm com o texto, o professor deve incentivá-la a escrever, nas mais diferentes situações utilizando os referenciais que ela já tem sobre a escrita. A criança, mesmo antes de ir para a escola, já manteve contato com a escrita. O professor deve ampliar e sistematizar esse conhecimento que ela traz consigo usando para isso diferentes materiais.

Se refletirmos por um momento, sobre o processo de aquisição da linguagem oral, veremos que as crianças aprendem a falar naturalmente. Dotada de características genéticas para falar, em contato com o modelo, uma criança em pouquíssimo tempo adquire o domínio verbal de sua língua. Nesse contato, tem a oportunidade de atuar sobre a fala, de formular hipóteses sobre suas formas.

No estudo realizado na 4ª serie "B" do ensino fundamental da escola municipal Ricieri Berté, constituída por 19 alunos, aplicou-se o texto "Menina bonita do laço de fita" de Ana Maria Machado onde a autora através de uma narrativa simples, nos mostra que na ausência de preconceito racial, as diferenças podem se tornar algo chamativo, aceitável e até mesmo desejável, expondo questões de cruzamentos raciais onde aprendemos a origem das diferenças, além de incentivar a luta por ideais almejados.

Com referência no texto aplicado aos alunos, observou-se que este despertou a curiosidade e atenção daqueles, que ao ouvir a leitura, em determinados momentos, chegaram a interrompê-la com perguntas e inferências pessoais, demonstrando entusiasmo pra saber o final da história.

Embora a pesquisa realizada sobre a aquisição da linguagem oral e escrita, através da interpretação e transcrição de textos na 4ª série "B" do ensino fundamental tenha caráter qualitativo e ainda finalidades específicas no levantamento de subsídios para o planejamento da pesquisa quantitativa, a riqueza de dados e informações produzidas autoriza a formulação de algumas reflexões a partir da análise dos resultados como: Como se caracteriza a linguagem oral e escrita na 4ª série "B" do ensino Fundamental da escola Municipal Ricieri Berté; Observar se os alunos conseguem fazer interpretações orais dos textos; Os alunos conseguem transcrever interpretações que obtém de textos; Verificar se os alunos conseguem extrair lições de vida da leitura.


·Caracterização da linguagem oral e escrita na 4ª série "B" do ensino Fundamental da escola Municipal Ricieri Berté.


        A caracterização da linguagem oral e escrita na série em estudo se da através de um processo lento e com base nos trabalhos realizados, verificou-se que quanto à interpretação oral, a maioria dos alunos conseguiram demonstrar com grande afinco e motivação seus pontos de vistas e interpretações condizentes com a idéia central do texto. Quanto a transcrição de suas interpretações, constatou-se que grande parte dos alunos apresentaram dificuldades em transcrevê-las, deixando a desejar em pontos fundamentais conforme o domínio dos elementos que provem um texto com sua necessária coerência e coesão, alem de diversos erros ortográficos.

Diante do exposto, foi possível observar que é necessário que sejam aplicadas metodologias que envolvam estes alunos com a finalidade de reduzir as dificuldades apresentadas e que os alunos sintam prazer em ler e escrever uma vez que processo de leitura e escrita, são elementos fundamentais no processo de ensino aprendizagem, e cabe ao professor inovar suas praticas para que as aulas se tornem mais atrativas e agradáveis promovendo uma interação entre alunos e professores num processo que possibilite a construção produtiva dando aos alunos liberdade de expressão e exposição de suas idéias.

·Observação das interpretações orais dos alunos sobre o texto: através das observações realizadas, foi possível verificar que 42,2% dos alunos apresentaram uma ótima interpretação oral em relação ao texto que foi trabalhado, 31,5 % obtiveram um bom desempenho quanto a suas exposições orais e 26,3 % foi considerado regular, pois encontraram algumas dificuldades em expor seus entendimentos com relação ao texto.

·Transcrição das interpretações que os alunos obtiveram do texto: É necessário entender que a transcrição do texto não se limita a ensinar apenas a escrever corretamente, mas a utilizar com competência os recursos lingüísticos para o entendimento correto da mensagem que desejamos transmitir. De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que em aspectos gerais, a maioria dos alunos apresentaram uma boa transcrição, por transcreverem o entendimento da mensagem conforme apresentaram oralmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desta pesquisa propõem reflexões sobre a importância da literatura no contexto escolar, abrindo caminhos no âmbito da oralidade, bem como a transcrição da mesma. Constata-se a necessidade de os docentes sempre estarem inovando suas práticas no sentido de proporcionar aulas cada vez mais atraentes e criativas, despertando o interesse pela leitura e interação do aluno com as atividades desenvolvidas. Com base neste pressuposto, constatou-se que a aquisição da oralidade e escrita na série em estudo pode ser melhor adquirida quando há inovações nas práticas docentes, pois notou-se que a metodologia utilizada no trabalho, possibilitou um melhor aproveitamento por parte dos alunos, onde os mesmos se demonstraram interessados e envolvidos com o trabalho.

Ao termino deste estudo, descobriu-se que a maioria dos alunos, conseguiram obter uma boa interpretação do texto trazendo relações de vivencias e experiências, demonstrando grande entusiasmo e participação e ainda conseguiram transcrevê-las conforme as suas interpretações, mas porem apresentaram algumas dificuldades no sentido de organização das idéias, diversos erros ortográficos e organização textual, mas vale ressaltar que o principal objetivo deste estudo não é analisar textos conforme a gramática normativa, mas simanalisar a aquisição da linguagem oral e escrita, através da interpretação e transcrição de textos.

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

B823P Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.

CAGLIARI, L.C. Alfabetização & lingüística. Scipione, 9ª edição. 1996.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social/ Antonio Carlos Gil. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 1999.

GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1989.

MACHADO, A.M. Menina Bonita do Laço de Fita – Ática 1986.

MARCUSCHI, L. A. "Contextualização e explicitude na fala e na escrita", 1995 (mimeo).

MARCUSCHI, L. A. Concepção de língua falada nos manuais de português de 1º e 2º grau: uma visão critica. Trabalhos em lingüística aplicada, 1997.

POSSARI, L. H. V & NEDER, M.L.C. Linguagem (O ensino: o entorno, o percurso). Fascículo 2: 2ª edição revisada, Cuiabá, EDUFMT,2006.