O tema avaliação e como é trabalhado o currículo escolar nunca foram tão comentados como nos dias atuais. Seja através do meio acadêmico, através de pesquisas, ou até mesmo por professores de forma empírica, baseados somente em suas práticas no ensino básico e médio, estes assuntos geram inúmeras reflexões que muitas vezes em nada frutificam.
Estas discussões se devem pelo fato que o professor nos dias atuais não está conseguindo prender o aluno aos conteúdos escolares em vista das tecnologias que o rodeiam. Segundo Werneck (2003), o que é ensinado nas escolas aos alunos está muito distante de sua realidade, motivo pelo qual há a defasagem escolar, a nota baixa na hora da avaliação e conseqüentemente muitas reprovações. O professor para que consiga ter sucesso em seu trabalho deve antes de tudo ter consciência que ele não é um ditador, impondo saberes goela abaixo. Deve ter em mente que o aprendizado se forma entre ele e o aluno. Será o mediador e não o ditador. Infelizmente, em pleno século vinte e um existem professores que persistem em transformar a sala de aula em um lugar monótono, ensinando de uma maneira superficial, esquecendo que a escola deve ser uma projeção da sociedade.
Deste modo, veremos que deve mudar não é propriamente o currículo escolar, mas a forma como ele é trabalhado. Se pensarmos desta forma, teremos aulas mais motivadoras e, conseqüentemente, uma melhora no aprendizado. Outro aspecto a ser discutido que complementa o currículo escolar é o referente a avaliação escolar. Muitos alunos quando se deparam com uma avaliação escolar, embora tenha compreendido o assunto ensinado pelo professor, ainda tem tido sérios transtornos. Entende-se como avaliação de aprendizagem segundo Luckesi (2005) ,como um ato amoroso, porque será através dela que o professor irá acolher as dúvidas dos alunos que aparecerem nas avaliações e poderá remediá- las. E é isso que as escolas em geral não praticam, um ato amoroso e acolhedor. Sendo que é muito fácil aplicar uma prova a fim de diagnosticar o aprendizado, mas é raro o professor que a utiliza como suporte de aprendizagem a fim esclarecer as eventuais dúvidas. Com isso, há nota baixa, não foram esclarecidas as dúvidas do aluno, aumentando suas angústias porque verificou que a prova é simplesmente um método avaliativo em que a maioria vão mal.
Este artigo também irá demonstrar que a avaliação de aprendizagem não precisa ser somente pautada em provas e sim que ela se faz constantemente no convívio escolar. Entretanto, toda avaliação antes de ser sugerida pelo professor deverá ter previamente um objetivo a ser atingido. O professor deve refletir qual era o conhecimento que os alunos tinham antes de ensinar um determinado assunto e qual a sua contribuição no final do processo avaliativo.
O presente artigo tem como base teóricos como Werneck ( 2003),Lukasi (1999) e Antunes (1997) e busca refletir quais as concepções atuais sobre a forma que são trabalhados os conteúdos Curriculares e qual o verdadeiro papel da avaliação escolar nas escolas.

2 A UTILIDADE MOTIVA

Quem não se sentiu frustrado, depressivo ou ansioso por lidar com uma coisa que desconhece ou não gosta. Com os adolescentes, momento em que os hormônios começam a aparecer, as inquietações são muito mais comuns, pois essas mudanças também afetam o psicológico humano. O aluno para se sentir seguro e confiante no chão que pisa, precisa ter ganchos entre o ensinado pelo professor e a sociedade que ele vive. Sendo assim, a escola será um complemento da sociedade e não dois corpos opostos. Segundo Werneck (2003, p.53) a utilidade é importante porque:
Se uma pessoa começa a perceber que sua vida é inútil vai se tornando depressiva e cada vez mais desanimada. Quando verifica que faz coisas úteis, melhora sua auto- estima, a alegria contamina todo o seu organismo. O mesmo acontece com os alunos : se uma sala de aula é cheia de inutilidades, ela consegue desanimar qualquer estudante; se, ao contrário, ele percebe que os assuntos são úteis , sente mais prazer em estudar.


Conforme mostra o autor é muito penoso para o estudante aprender um conteúdo que não seja para a vida, ou que não tenha uma ligação com o cotidiano. O aluno chega à escola permeado de novidades de sua cidade, bairro, família, etc. Traz com ele uma enorme bagagem cultural e, que muitas vezes, ao chegar na escola são abandonadas. Todo o seu conhecimento passa a ser inútil perante a escola, porque a escola se estigmatiza somente no conteúdo didático. Ensina-se muitos verbos, contas e mais contas, exercícios são resolvidos com a ajuda do professor, entretanto, não passando do superficial. È muito comum, alunos serem péssimos em matemática em casa, ou não souberem falar corretamente com adultos na sociedade, mas serem ótimos alunos na escola. Isso se deve porque a escola ensinou para a escola e não para a vida, não há a ponte entre os dois espaços.
Sem a ponte entre os dois mundos verifica-s ,muitas vezes, a não motivação por parte dos alunos, em permanecerem na escola. Sendo que não são todos que se enquadram nos moldes de ensino da escola, ocasionando deste modo a repetência e, muitas vezes, alunos inteligentíssimos ,por causa deste sistema, preferem o trabalho à escola.
O autor Matêncio (1994,p, 15)diz que "... a vida está dentro e fora da escola! E freqüentemente o aprendizado do aluno fora dos limites da instituição escolar lhe é muito mais motivador, a linguagem da escola nem sempre é a do aluno". É muito importante o uso da escrita em situações reais, em que os alunos possam escrever sobre situações que permeiam o seu convívio, e ver que a linguagem escrita se faz presente não somente na escola, e sim em todo o seu contexto. Aplicando os textos, através das experiências do aluno, este saberá o que dizer, e para quem dizer, seja a um amigo ou ao pai, etc. Com essas relações, o professor poderá aplicar os conteúdos didáticos da escola. O mesmo acontecerá com a matemática e outras disciplinas, usando o cotidiano como forma de motivação.

2 O IMPORTANTE NÃO É A QUANTIDADE, MAS A UTILIDADE

Tentamos agora nos lembrar de tudo o que nos foi ensinado na escola e todos os livros que nos orientaram como material didático. O que conseguimos lembrar será certamente o que nos foi proveitoso, o que teve utilidade e, o resto certamente foi perda de tempo. Segundo Werneck (2003 p.32):
Nosso ensino exige um absurdo dos estudantes, em termos quantitativos, todos devem estar aptos em todas as áreas de conhecimento, como se todos indistintamente, tivessem grau máximo nas múltiplas inteligências pesquisadas. O resultado disso é o desânimo por parte dos alunos e a completa entrega e desleixo diante das dificuldades que se apresentam como impossíveis de serem superadas.

Segundo o autor esta é uma característica dos países de terceiro mundo em que o excesso de conteúdos e, muitas vezes, de forma descontextualizada, sem a ponte com a realidade do aluno, privilegiam uns, mas esquecem de outros. Sendo que, nem todos os alunos conseguem aprender o conteúdo superficialmente , resultando na deficiência de aprendizagem. Outro fato é que cada pessoa possui uma velocidade de aprendizagem, e se os conteúdos são passados de forma rápida devido aos outros conteúdos que faltam ser vistos, tudo é muito superficial e, por isso, esquece-se.
Deste modo, segundo Werneck (2003) a educação do terceiro mundo fica nas mãos das elites, devido que elas terão maiores condições de dar continuidade no ensino de seus filhos. Já as pessoas sem condições financeiras, dificilmente terão condições de almejar algo superior, pois os que chegam a acabar o segundo grau dificilmente conseguirão passar numa universidade pública devido ao ensino superficial. Isso quando o sistema escolar quantitativo e superficial não os desanima antes e os encaminhem mais cedo para o trabalho. Para aquele que tem condições financeiras é muito mais fácil, porque geralmente estudou em colégios particulares, tendo professores qualificados. Se não teve, certamente poderá pagar um bom cursinho de pré-vestibular e ingressar em uma universidade particular, quando não pública.
Segundo Roldão (2006, p.1) Doutora em Teoria e Desenvolvimento Curricular pela Simon Fraser University (Canadá) em palestra realizada durante o 12º Educar sobre currículo escolar : " Transformações contínuas estão acontecendo na sociedade, conseqüentemente na educação formal, mas o currículo escolar permanece seguindo os moldes do século XIX " . De acordo com a colaboradora da Unesco na América Latina, a escola vem transmitido o saber de uma forma muito estática e passiva. Alunos ouvem, decoram a matéria exposta pelo professor e, depois não conseguem ver uso naquilo que lhes foi ensinado. Para Roldão, a escola não deve se limitar a avaliar se o aluno aprendeu ou não a disciplina proposta, mas sim oferecer a ele elementos básicos que contribuam para seu crescimento.
A autora reforça a idéia que não será a quantidade, mas a qualidade, pois o que vale é o crescimento cognitivo. O currículo escolar deve ser trabalhado de maneira diferenciada, acrescida de novas habilidades que surgiram com o avanço da tecnologia e da arte. Segundo a autora o professor deve " ensinar o aluno a ir à busca do conhecimento, instigá-lo e não entregar pronto. Deste modo, vemos que desde cedo o aluno terá o hábito de pesquisar e ter suas próprias conclusões, enriquecendo o seu conhecimento de mundo e tendo como hábito a leitura que automaticamente influenciará em sua escrita. Outro aspecto importante, que já foi mencionado acima, é que o currículo escolar deixa de lado aspectos artísticos como "científico, musical, cultural e às novas tecnologias reforçam a apropriação do aprendizado e podem despertar as potencialidades do aluno.
A autora em sua palestra pela Unesco afirma que o professor ainda continua a ser o detentor único do conhecimento e, segundo ela isso não é ensinar. Não abre espaço para as necessidades dos alunos, do que ele gosta , lida no dia-a- dia e isso somente tornará cidadãos medrosos, sem ânimo de estudar, de falar em público, porque a escola não cultivou essas habilidades no meio escolar.
Embora seja um dos elementos mais importantes dentro da teoria da educação,o currículo vem sendo encarado como um elemento de pouca importância. Em quase todas as discussões que envolvam questões relacionadas à educação não se menciona o currículo escolar como elemento relevante.
Só é dada alguma importância ao currículo escolar quando se discute a inserção ou a eliminação de uma disciplina em um currículo já existente. Portanto, o currículo escolar é entendido como um elemento dentro da teoria da educação não merecedor de uma discussão mais aprofundada, mais séria (Moreira et al, 1995).

O mesmo autor diz que a globalização surgiu de uma tal maneira que a educação não conseguiu acompanhar a evolução das tecnologias, pois até pouco tempo atrás pareciam impossíveis de existirem. Todo esse ambiente de modificações fez com que os currículos escolares reflitam uma realidade de um mundo social que não mais existe.
Como saída, a doutora Roldão (2006, p. 2) propõe que as escolas têm que repensar a situação atual de aprendizado. "Temos que modificar este quadro para que isso não se repita continuamente na educação. A escola tem de se evoluir e caminhar num objetivo comum que é o de tornar nossos alunos cidadãos e indivíduos competentes".


3 AVALIAR, UM ATO AMOROSO

A escola compromissada com as potencialidades dos alunos, com uma educação compromissada, embora trabalhe com o contexto social do aluno e aguce as potencialidades já vistas, muitas ainda tendem a avaliar o aluno de forma errada.
A avaliação escolar se faz constantemente e, uso de novas técnicas em sala de aula, como exploração da música, tecnologias, ou diálogos informais com os alunos, jogos deverão ser sempre levados em conta e não somente avaliar o aluno no dia da prova. Se os conteúdos estiverem voltados para o desenvolvimento do aluno, e não como mero volume de conteúdos , cada aula poderá ser uma avaliação .
Umas das formas de avaliar o aluno é através das múltiplas inteligências que o indivíduo precisa ter. Para isso, o professor terá que trabalhá-las, usando-as desde a creche até o ensino médio. São elas: inteligência espacial, Cinestégica Corporal, lógico- matemática, naturalista, sonora, Lingüística, Intrapessoal.
Na inteligência Espacial, é muito importante que o professor trabalhe com gráficos, imagens e símbolos. Esse trabalho pode ser desenvolvido através de colagens, confecções de gráficos, atividades que desenvolvam o tato, etc. Também o uso de síntese textuais, irão ajudar a desenvolver a noção de espaço textual.
Já a inteligência Cinestésica Corporal irá desenvolver o uso do Corpo. Seja através do teatro, das mais variadas feições que a face pode representar, esporte, dança, etc. Como instrumento o professor poderá utilizar jogos que necessitem de manipulação da coordenação motora, Lego, mapas corporais, instrumentos esportivos, etc.
A inteligência lógico-matemática o professor poderá desenvolver, além do conteúdo, desafios , problemas, enigmas , concursos , resoluções lógicas, pesquisas de preços nos supermercados, etc. Poderá usar como material de apoio, calculadoras ,ábacos , jogos matemáticos, uso de escalas que explorem diversas grandezas, etc.
A inteligência naturalista poderá ser desenvolvida através de excursões em zoológicos, ou a parques ambientais, pesquisas sobre o mundo animal e organização dos ecossistemas. O professor poderá propor desafios que envolvam conhecimentos de animais e plantas, diários de campo, relatório, etc.
A sonora está inserida junto ao ritmo, apresentação de corais abordando temas escolares, criação de músicas, paródias envolvendo os conteúdos estudados.Com trabalho poderá ser inibida a timidez e poderá quem sabe surgir futuros artistas.
A inteligência Lingüísticas é a mais complexa de todas, porque de uma simples palavra pode surgir um grande debate em sala de aula. E cabe ao professor, desenvolver essas situações. Também podem serem feitas atividades como organização de tele-jornais ou jornais impressos, jogos de palavras que explorem a ortografia, ou os gêneros textuais como a narração, leitura ou a redação. Debates sobre filmes, clubes literários, elaboração de gibis, etc. O professor poderá se apoiar para desenvolver está habilidade em livros didáticos ou literários, dicionários, jornais e revistas, portifólios , concurso de redação, trovas e outros.
A última, a intrapessoal irá desenvolver trabalhos em grupos, aceitação da opinião do outro, projetos de apoio comunitário, etc. Como recurso o professor pode trabalhar com jogos coletivos, relação de atividades sociais , gincanas, em que propiciem o eu com o outro, etc.
Essas inteligências poderão ser praticadas e avaliadas no decorrer das aulas pelo professor. Dependendo da disciplina poderá estar utilizando uma ou mais dessas habilidades e ver a evolução do aluno do decorrer das atividades. Porém, afirma Luckesi (2005, p.152) que o professor deve desenvolver atividades previamente planejadas a fim de conseguir um resultado satisfatório e saber qual a meta que deseja alcançar com seus alunos, isto é:
O ser humano age em função de algum resultado, seja econômico, material, político, amoroso ou até mesmo o simples prazer do momento. Uma ação presidida de desejos inconscientes poderá chegar a caminhos satisfatórios, mas por caminhos que ainda não são claros. Contudo o ser humano necessita estabelecer metas definidas, clareando o que deseja, para agir em função delas.


Para que todo o planejamento ocorra de maneira satisfatória a autora diz que o professor deverá fazer este trabalho com prazer e não com o simples objetivo da nota. Todo o planejamento visa à um trabalho a ser alcançado com um determinado assunto e se verifica o aprendizado através de uma avaliação. Porém, como foi demonstrado, a avaliação não precisa ser somente através de provas e sim através de outros trabalhos conforme já foi demonstrado.
Entretanto, a prova escrita tem um peso que as outras avaliações não possuem. Com ela é muito mais fácil diagnosticar o grau de entendimento do aluno sobre um determinado assunto. Luckesi (2005) entende que o ato avaliativo é amoroso porque o professor recebe as dificuldades dos alunos, percebe o grau de aprendizagem, e num ato amoroso busca soluções.
Outra importância que desempenha a avaliação escolar é porque desempenha uma necessidade social. È ela que confira aos alunos o grau de inteligência que será notificado nos históricos escolares e que irá tachar se ele teve ou não um bom desempenho escolar. Enfim, o veredito é dado pela escola. O importante segundo a autora é estarmos conscientes que as duas funções possuem o seu papel. Um que representa o indivíduo na sociedade, com boa formação ,boas notas, em toda trajetória escolar, ajudando até quem sabe em bolsas de estudos. Outro porque será o método de avaliar individualmente cada aluno e verificar a aprendizagem dos alunos como também seu trabalho docente.