Aprendemos com eles

Quem é professor já ouviu este tipo de pergunta: onde vou usar isto?

Vamos começar, então por onde tudo começou.

Tudo começou numa aula de história no ensino fundamental. O assunto eram os povos antigos. Naquele momento não havia referência à filosofia, pois a temática era história. Mas a reflexão depois da aula mostrou a ligação do tema de história com uma filosofia do cotidiano. E a questão é: o mundo antigo continua se manifestando em nosso mundo?

A resposta é sim! Basta observarmos e veremos os retalhos daquilo que os antigos fizeram em alguns ecos dentro de nossa sociedade. São saberes que repercutem em nossa sociedade: O mundo antigo continua ecoando em nosso meio.

Vejamos alguns exemplos.

Vivemos em sociedade: muitos de nós um aglomerado ao qual chamamos de cidade. Como aprendemos isso? Possivelmente a partir dos mesopotâmicos. A vida urbana, até onde sabemos, desenvolveu-se lá. Não podemos precisar se foi este ou aquele povo que começou a primeira cidade, mas sabemos que elas agregaram as pessoas.

E por que as pessoas se agregaram num amontoado urbano? Para solucionar problemas.

Inúmeros problemas que seriam insolúveis ou mortais para os indivíduos, foram resolvidos pelo grupo: caso típico é o da segurança. O grupo oferece segurança ao indivíduo e os indivíduos se protegem mutuamente; segurança que não haveria se permanecessem isolados. A vida urbana, se por um lado trouxe soluções, por outro apresentou problemas: a disputa por território e, evidentemente, por alimento.

Com os problemas se avolumando foi necessário desenvolver mais alguns elementos que permaneceram e entraram em nosso uso cotidiano: as armas e a política, por exemplo. A necessidade de proteção do grupo exigiu a produção de armas e as guerras possibilitaram o desenvolvimento de tecnologias para a utilização dos metais.

Enquanto os agricultores usavam a metalurgia para fabricar arados e enxadas os soldados desenvolviam espadas...

A metalurgia se desenvolveu e está em nosso meio. Os metais são uma das artérias de nossa sociedade tecnológica. Para qualquer lado que olhemos, eles estão presentes. Nossa sociedade depende deles. Garfos e caminhões, relógios e microfones... tudo tem metal modificado: na forma de ferramenta, utensilio ou joias.

Outra coisa que os antigos inventaram foi a política. Consequência da cidade e dos atritos que surgem da vida urbana e social, a política foi criada para minimizar ou gerenciar os conflitos. Vários aspectos de nossa política foi organizada pelos gregos antigos. Eles não a criaram, mas dera-lhe um toque requintado.

Não só em relação aos conceitos da política, como democracia, por exemplo, mas também em relação à forma de fazer política: a arte de falar em público e a eloquência são criações dos sofistas que ensinavam retórica e oratória aos cidadãos atenienses para desenvolver a democracia ali existente.

Noutras situações os sacerdotes antigos olharam para os céus e falaram sobre seus deuses. Movidos pela fé ou pelo medo os antigos ampliaram os conhecimentos. Para isso precisaram compreender a dança das estrelas e a divisão do tempo: dias, meses, anos... e essas dimensões temporais e o seu significado acabou definindo nossa sociedade.

A noção de tempo, outra artéria fluindo o sangue frenético de nossa sociedade, nasceu naquele momento em que os antigos olharam para o céu em busca dos seus deuses.

E, em nossa sociedade, o tempo e os céus, antigos objetos de culto, viraram objeto de exploração.

E assim por diante. Cada vez que buscamos a origem de algo que nos é importante, notaremos sua raiz plantada nos tempos antigos: os antigos nos legram seus saberes.

Começamos esta reflexão, uma filosofia do cotidiano, buscando os ecos do passado em nossos dias. Agora nos vem a indagação crucial: os antigos nos legaram algumas lições e contribuições. E nós, o que legaremos aos nossos descendentes.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO