A relação teoria e prática no cotidiano escolar

Educar é uma ação intencional, isto é, exige todo um processo de atividades que são desenvolvidas a cerca de teorias, tendências pedagógicas que norteiam a prática docente, logo torna-se necessário planejar, traçar os objetivos, selecionar os conteúdos, metódos, recursos e pensar como será avaliado essas ações ou refletir sobre a relação teoria e prática no cotidiano escolar. Neste sentido, veremos a seguir relatos teóricos da professora Margarida Britto (resumo da entevista), e compará-los com a sua prática em sala de aula (relatório de observação da aula) fazendo uma breve avaliação. Para isso, iremos nos pautar nas idéias defendidas pela autora Regina Haidt , em seu texto Avaliação do Processo de Ensino - Aprendizagem.
A professora Margarida Brandão Britto, tem 28 anos de Magistério, começou a cursar Licenciatura no Curso de História na UNOPAR, mas por motivos maiores trancou o curso. É lotada na escola Estadual de 1º Grau João XXIII. Desde que assumiu a função, nunca foi remanejada ou afastou-se desta Unidade Escolar, a não ser durante as Licenças Prêmio e Médicas, também não desenvolve outra função além de lecionar. Sempre atuou na Educação Básica, começou no antigo curso Primário, hoje ensino Fundamental de 1° ao 5º ano. Atualmente lecionar nas últimas séries do ensino Fundamental (6º ao 9º ano).
Segundo a professora, iniciou sua atividade docente nesta mesma instituição, lecionando uma turma Multiseriada (1ª a 4ª série), em março de 1981. Foi muito difícil os primeiros anos, pois eram alunos com niveis de aprendizagens diferentes, uma sala muito numerosa, o professor era considerado o centro do saber, as aulas se resumiam a aulas expositivas, a copia e transcrição de respostas pelos alunos, mas por outro lado, tínhamos também pontos positivos, a exemplo a disciplina, o respeito ao professor e aos colegas e a presença constante dos pais.
Sem dúvida, minha trajetoria até aqui, é marcada por muitas mudanças tanto em relação as práticas de ensino, a forma de se pensar e organizar a escola, como as fundamentações teóricas, os pressupostos, a forma de refletir sobre minha prática, isto é, fazer uma auto avaliação do meu trabalho. Planejar tem sido uma ação significativa para mim,nos últimos anos, pois devo confessar que antes eu via o planejamento como algo desnecessário, apenas uma exigência burocática, perca de tempo, que ignorância a minha. Agora, não sei entrar na sala sem ele, vejo como algo fundamental na atuação do professor, afinal se não se traça um caminho, não se chega a lugar algúm.
Com as Tendências pedagógicas atuais, o ensino na Educação Básica, especificamente no Curso Fundamental, tem o compromisso com a construção da cidadania e pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade sócio-cultural, e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal e coletiva e a formação do principio da formação política. Neste sentido, o ensino de História, desempenha um papel essencial, pois é de sua responsabilidade e fonte de estudo o homem em suas múltiplas relações com o meio em que vive em todos os aspectos: político, econômico, cultural, social e educacional, ao longo do tempo.
Assim, um dos objetivos que espero que meus alunos alcaçem é que compreendam que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são conquistas decorrentes de conflitos, lutas sociais e acordos entre os homens em diferentes tempos e espaços. Levando-os a perceberem que eles fazem parte da sociedade, portanto interagem e a transformam positiva ou negativamente, dependendo de suas ações.
Quanto aos metódos, apesar de tentar está sempre dinamizando nos métodos, como exige o Construtivismo, mantenho caracteristicas tradicionais como por exemplo, a rotina de leituras em sala, individual e silenciosa, bem como coletivamente. Mas também utilizo exercícios em classe e extra classe, pesquisas, debates, seminários, juri simulado, dramatização, entrevista etc. Procuro sempre fazer uso da antecipação do conteúdo com questões dirigidas, aproveitando o conhecimento prévio do aluno sobre o tema e em alguns casos, levantado hipóteses com eles, para que após a investigação possamos confirmá-las ou não.
Quanto aos recursos, não dispomos do que considero ideal para realizar um excelente trabalho, porém não me limito ao que a escola oferece. Os que mais utilizo são os mapas, imagens, filmes (DVD), músicas, xérox (apostilas) e o livro didático. No entanto, procuro sempre trabalhar com palestras, documentários, projetos e ir a campo com meus alunos para que eles sintam a maravilha de poder vivenciar a investigação, a pesquisa e conhecer a história do ponto de vista, não apenas dos historiadores, mas de cidadãos comuns, em especial a história local.
Durante anos a escolha dos conteúdos era feita de acordo a sequência no livro didático, e deveria ser trabalho o livro inteiro durante o ano letivo, sem preocupação alguma com a aprendizagem e significado desses conteúdos para o aluno. Mas, atualmente, essa seleção é feita de acordo com a idade, o nivél de aprendizado e sua importância para a compreensão da sociedade em que o aluno está inserido, há uma intencionalidade, metas e objetivos a serem alcaçados. A forma de avaliação é processual e somativa, isto é, realizo quatro atividades avaliativas durante cada unidade, sendo uma permanente a avaliação escrita no valor de 4,00 pontos, as outras variam de acordo a unidade, sendo seminário, debate, trabalho de pesquisa etc. Infelizmente, mesmo com várias atividades ainda existe reprovação sim, pois temos muitos allunos que são obrigados a ir para a escola, outros não gostam da disciplina e ainda há os que raramente assistem aulas, sendo esta clientela geralmente os que são reprovados.
Minha relação com os alunos é bastante aberta, democrática, participativa. Eles tem total liverdade para fazer críticas, dá sugestões e avaliar meu desempenho. Essa é uma atividade que realizo a cada final de Unidade, distribuo uma ficha de Avaliação do trabalho do professor, onde os alunos registram suas reclamações e sugestões. Com base nas fichas procuro refletir, avaliar e aperfeiçoar minha prática. Tenho trabalhando numa linha de pensamento Construtivista, também embasado na diretrizes e bases da educação (LDB 9394/96) por isso adotei uma prática flexivel a intervenções seja dos alunos,da direção e coordenação.
A Educação brasileira vive atualmente mudanças importantes em sua estrutura, é a luta por uma Educação Participativa, democrática, e a eleição de dirigentes escolares é um passo significativo neste sentido. Por outro lado, não podemos negar que a escola tem deixado de lado uma de suas funções, a educação de valores. A falta de imposição de limites, respeito ao próximo, tem sido alguns dos principais desafios para a prática docente, bem como a educação adaptada aos recursos tecnológicos e a diversidade da informação.
Enquanto educadora tenho tentado fortalecer a relação entre comunidade e escola, ao desenvolvermos projetos, palestras e abrindo espaço para a participação e interação da comunidade externa, um exemplo é o projeto Olhar em preto e branco, voltado para a cultura afrodescendente. Me defino como uma eterna aprendiz, apaixonada pela educação e por meus alunos, mesmo não tendo nivel superior, não sendo pedagoga, tenho uma boa bagagem teóica e aprendi na prática que sempre somos capazes de aprender e nos adaptar as inovações. Sei que vivemos um momento maravilhoso, de grandes mudanças na Educação, sobretudo em relação à valorização do Educador. Acredito que teremos dias melhores, e lutarei por isto, pois é nosso dever garantir melhorias sociais e culturais, para as novas gerações, sobretudo o resgate dos valores.
Vimos acima, os argumentos e idéias defendidas pela professora a cerca de sua prática e bagagem teórica. Neste segundomomento vamos analisar sua prática, tendo como referência o registro da observação de uma de suas aulas.
A aula da professora Margarida Britto, observada no dia 25/03 foi no 8º ano (7ª série), das 14:40 às 15:30 minutos, no turno Vespertino. O objetivo da aula era: Perceber a influência do movimento iluminista no processo de Independência dos Estados Unidos. O conteúdo abordado foi O Iluminismo e a Independência dos Estados Unidos. A professora introduziu de forma dinâmica o conteúdo, fazendo algumas questões de antecipação do tema, tais como: vocês já ouviram falar em Iluminismo e a Independência dos Estados Unidos? O que seria o Iluminismo, quais idéias eram defendidas pelos iluministas? De que forma essas idéias influenciaram no processo de independência dos EUA? Algúem sabe que país mantinha domínio sobre as 13 Colônias, hoje atual EUA? Vocês já imaginaram quais razões levaram um país americano de origem colonial como o EUA a se tornarem a maior potência econômica mundial?
Após a provocação inicial, a pró pediu que eles levantassem algumas hipóteses a cerca da última questão, para que ao final do estudo do conteúdo abordado, eles pudessem confirmá-las ou não. Em seguida, destribui entre os alunos algumas reportagens do Jornal da História (documento histórico extraído do livro didático: História Integrada : os séculos XVIII e XIX: Brasil geral? 7ª série/Claudio Vicentino. ? São Paulo: Scipione,1995. Págs. 15 e 16.).
Em seguida, ela pediu que os alunos sentassem em duplas e também que abrissem o livro didático para fazerem a leitura do texto: O Iluminismo e a Independência dos EUA , e à medida que fossem lendo ambos os textos, pontuasse alguns aspectos: o que foi, onde e quando aconteceu o Iluminismo; quais foram os representantes desse movimento, quais idéias eles defendiam, quais as influências dessas idéias no processo de Independência dos EUA e para o restante do mundo, como se deu a independência dos EUA (causas) e qual a repercussão da independência das Colônias norte-americanas (EUA) para a América e os demais continentes, e por fim, analisar se as idéias iluministas ainda estão presentes em nosso cotidiano, em caso positivo de que forma, e relatar qual a atual situação dos EUA, fazendo uma comparação entre o período de independência e os dias atuais.
Observei, que a pró tem domínio de conteúdo e utiliza uma linguagem que simplifica bastante a compreensão dos alunos. A relação professor-aluno e aluno-aluno é muito positiva, há respeito, interação e liberdade de expressão de ambas as partes, claro com exceções, pois não existe homogenidade em sala de aula. A metodologia utilizada, foi aula expositiva com questões dirigidas, levantamento de hipóteses, leitura em duplas dos textos solicitados, e registro de pontos relevantes pelos alunos a respeito do tema em discussão, sendo os recursos os textos, as questões e o registro.
Como instrumento de avaliação foi utilizado, o registro e a exposição oral, ora dos pontos registrados pelas duplas socializados, ora pela participação ativa durante as aulas, e a análise coletiva das hipóteses inicialmente levantadas. É importante descatar, que a todo tempo a professora estava a disposição dos alunos, sanando suas dúvidas em relação as atividades desenvolvidas, isto é, a docente se mostrou muito comprometida com seu papel de mediadora.
Agora que já temos duas fontes que nortearão nossa discussão, os fundamentos teóricos da pró Margarida, registrados através da entrevista e de sua prática registrado no relatório de observação da aula, podemos levantar algumas questões a cerca de sua atuação enquanto educadora, tais como: existe relação entre teoria e prática em seu dia-a-dia em sala de aula, ou seja, ela executa as ações abordadas em seu plano anual e diário? há fundamentação teorica em sua prática ou se trata de práticas isoladas? qual(ais) tendências pedagógicas norteiam sua prática?
Os metódos utilizados favorecem para alcançar os objetivos? Que tipo de cidadão está sendo formado? Existe relação entre o legal e o real? De que forma a professora pode enriquecer sua prática?como podemos avaliar sua atuação, baseado em que fonte teórica?
Todas essas questões acima se referem ao pensar na Educação num ponto de vista Construtivista, pois um dos objetivos dessa Tendência é mediar a reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem, desde o planejamento, a função da escola e em especial, a prática do docente (metódos, recursos,e sistema de avaliação).
Nessa perspectiva, a atuação externa, isto é, o ensino, deve ser entendido, necessiariamente na concepção construtivista, como uma ajuda ao processo de ensino-aprendizagem. Ajuda necessária, porque sem ela é altamente improvável que os alunos cheguem a aprender da maneira mais significativa possível, os aconecimentos necessários ao seu desenvolvimento pessoal e à sua capacidade de compreensão da realidade e de ataução nela, que a escola tem a responsabilidade social de transmitir. Mas apenas ajuda, porque o ensino não deve substituir a atividade mental construtiva do aluno nem ocupar seu lugar. ( COLL, 1986, 1990).
Na mesma linha de pensamento, a autora Regina Haidt define a ação educativa, como finalística, isto é, pressupõe objetivos a serem alcançados. Por isso, cabe ao professor estabelecer metas para seu trabalho. Como ensinar e aprender são processos intimamnete relacionados, à medida que o professor propõe os objetivos de seu ensino, está também prevendo os objetivos que devem ser alcançados por seus alunos.
Segundo Regina Haidt, a elaboração do plano de ensino com a definição dos objetivos tornou-se importante sobretudo com a ampliação do conceito de aprendizagem, pois atualmente aprender é algo muito mais que simples memorização de informações. A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos di nâmicos, que requerem a mobilização dos esquemas cognitivos.
Um terceiro ponto abordado pela autora, que não dve deixar de ser mencionado aqui, é as Técnicas e instrumentos de avaliação da Aprendizagem. Para ela, são os objetivos que norteiam o processo de ensino-aprendizagem, determina-se o que e como julgar, ou seja, o que e como avaliar. Daí a necessidade de se pensar em técnicas e instrumentos de avaliação, como o próprio nome determina "variedade", de atividades realizadas durante todo o processo, visando alcançar os objetivos traçados, não apenas aplicar Testes e Provas como meios únicos de avaliação. Assim, ela define a avaliação como um processo de análise e coleta de dados, e os meios utilizados para avaliar são divididos em três categorias: Técnicas, Instrumentos e Objetivos Básicos. Quanto maior for os instrumentos utilizados, desde que respeitem a faixa etária e o desenvolvimento cognitivo do aluno, mas se pode proporcionar uma aprendizagem significativa.
De modo geral, analisando as idéias apontadas pelo professor, o relato de observação de suas aulas e os pressupostos apresentados pelo pensamento da autora Regina Hidt, podemos perceber que há de fato uma relação constante entre a teória e a prática da docente Margarida Britto. De fato, ela vem desenvolvendo seu trabalho dentro das propostas educacionais atuais e abordadas na Legislação LDB 9394/96, bem como atua numa visão construtivista, onde o aluno é sujeito do processo e o professor mediador.
Respondendo as questões anteriormente levantadas, podemos perceber que sua prática favorece para a formação de um cidadão ativo, capaz de compreender a sociedade em que está inserido. Quanto a professora sua postura é muito positiva, pois tem se mostrado comprometida com sua função, reflete sobre sua ação, permitindo que o aluno interfira, crítique, de sugestões e interaga, contribuindo para o fortalecimento da democracia em sala de aula, atingindo a proposta de uma escola Participativa.
Em suma, tendo como base as idéias de Regina Haidt sobre a Avaliação do Processo de Ensino Aprendizagem, concluimos que a pró Margarida tem se esforçado bastante para dá aos seus alunos um padrão mínimo de qualidade de ensino, que tem caminhado nessa trilha tão cheia de armadilhas. Porém, sabemos o quanto ainda estamos longe de aplicar no real todas os presssupostos que norteiam a prática educativa, descritos na Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96). Mas sem dúvida a pró já deu um passo significativo neste sentido.

REFERÊNCIAS :

HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática. São Paulo: Atica, 1994,p.286-319.

ONRUBIA, J. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. COLL, C. et al. O Construtivismo em sala de aula. São Paulo: Ática, 199, p. 123-150.

SANTOS, Adriana Regina de Jesus, Edilaine Vagula, Sandra Regina dos Reis Rampazzo. Didática: História. São Paulo: Pearson EDucation do Brasil, 2009.

MOIMAZ, Érica Ramos. Metodologias do ensino de História - São Paulo: Pearson EDucation do Brasil, 2009.