O objetivo desse trabalho foi entender se o ato de cuidar estava associado ou dissociado do ato de educar, e, para tal se fez necessário uma busca histórica da concepção de criança. Pois, é sabido que o contexto sócio-histórico em que a criança está inserida é de revelável importância no entendimento sobre a infância e posteriormente o entendimento das relações entre cuidado e educação. O problema em questão é entender qual a relação existente no binômio cuidar-educar e o que este implica para se obter uma qualidade na Educação Infantil, sabendo que nos primeiros anos de vida é de extrema importância o desenvolvimento dos aspectos físico, cognitivo, afetivo e emocional.
Palavras-chave: Cuidar, educar, Educação Infantil e infância.

1.0 Introdução

Esse texto se preocupou em buscar historicamente a concepção de infância para entender melhor a relação entre cuidar e educar na Educação Infantil já que entende-se que este binômio é o cerne da Educação Infantil. Esse artigo é parte de um projeto mais amplo, um projeto monográfico, e que desde já pretende-se contribuir com os estudos na área da Educação Infantil.

Este tema partiu das indagações que fiz ao tentar entender o que seria preciso para desenvolver as capacidades, competências e habilidades das crianças, o que seria preciso para obter uma Educação Infantil de qualidade.

Ao retratar o cuidar na Educação Infantil se fez necessário buscar a trajetória da concepção de infância ao longo da história. Da criança-adulto à criança sujeito social de direitos. A expansão da revolução industrial foi um fator que contribuiu para a conquista da identidade social da criança. No decorrer do processo de evolução histórico da sociedade as concepções de infância foram se transformando. A priori tinha-se um cuidar assistencialista(guarda da criança, voltado apenas para a saúde, alimentação e higiene).

Com o progresso das ciências humanas, principalmente a psicologia do desenvolvimento, a criança passa a ser o epicentro do interesse educativo dos adultos. O cuidar passa gradativamente a adquirir um caráter essencial. Contudo, deve-se ressaltar que esse aspecto assistencialista ainda perdura em algumas instituições de Educação Infantil.

Este artigo foi divido em duas partes a primeira falando da concepção de infância , uma busca histórica, e dentro desta encontra-se uma abordagem sobre a criança sujeito de direitos. A Segunda parte trata da relação entre cuidar e educar, e no interior deste tópico encontra-se uma abordagem sobre os desafios do cuidar na Educação infantil. Segue então as considerações finais, ou seja, algumas conclusões a partir do texto apresentado.

2.0 Histórico da concepção de infância

Entende-se por "criança" um ser humano de pouca idade e no sentido figurado como uma pessoa ingênua ou infantil. Quando nos referimos a um adulto por ser "como criança" tal expressão é tomado como uma ofensa, pois ninguém que ser entendido como um infantil, ou seja, um tolo, uma pessoa sem maturidade.

Percebe-se que a criança se opõe ao adulto no que concerne a falta de idade ou de maturidade. Porém não se pode horizontalizar esse pensamento e arbitrariamente confirmar a existência de uma população infantil homogênea, já que ao fator idade estão associados determinados papéis e desempenhos específicos, dependendo da classe sociala qual a criança está inserida.

É preciso levar em consideração sua participação no processo produtivo, a sua escolarização, o processo de socialização no interior familiar e da comunidade e suas atividades cotidianas, pois estes fatores estão intrinsecamente ligados a posição da criança e de sua família na estrutura sócio-econômica. Sendo assim, é inadequado supor uma homogeneidade infantil quando se pensa numa concepção de criança.

Ao falar de família e de como esta instituição tem uma efetiva participação na identidade da criança, se faz importante buscar historicamente a participação da família e a sua relação com o sentimentoou sentimentos de infância e sua descoberta.

Ariès(1981) em seus estudos sobre a história social da criançae da família, chega a conclusão que até por volta do século XVII a arte medieval desconhecia a infância ou segundo ele não tentava representá-la. O historiador cita alguns exemplos para comprovar essa afirmativa. Um deles é a cena do evangelho em que Jesus pede que deixe vir a ele as criancinhas. A miniatura otoniana[1] do séc. XI é representada com oito homens sem características de crianças em torno de Jesus, o que os distinguedos adultos seria apenas o tamanho.

Outro exemplo seria no evangeliário da Sainte-Chapelle do século XIII, na passagem da multiplicação dos pães, Cristo e um apóstolo ficam ao lado de um homenzinho que bate em sua cintura, certamente, deveria ser a criança que trazia o peixe. Com base nesses exemplos,Ariès(1981: 51) diz que:

No mundo das fórmulas românicas e até o fim do século XIII, não existem crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido.

De acordo com estas idéias nota-seque a criança era vista como um adulto em miniatura nesse período, não se percebe uma caracterização do ser infante. A criança-adulto, aquela que assim que atingia certa idade se misturava aos adultos e vivia como tal. Tinha apenas um período que era visto como "criança" de fato, que brincava que era paparicada, era justamente a fase que Ariès(1981) denominou de paparicação[2]. Quando esta morria nesta fase, como muitas vezes ocorria, alguns ficavam entristecidos, mas não faziam muito caso, pois, logo outra criança substituiria. "A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato" Ariès(1981: 10).

Depois que a criança passava pelos obstáculos dos primeiros anos de vida, ou seja, conseguia sobreviver ao tempo da "paparicação", era muito comum que esta criança vivesse em outra casa, não sendo esta a casa de sua família. Acredita-se que por motivo de trabalho.

A partir do fim do século XVII a criança deixa de ser misturada aos adultos e de aprender a vida com o contato direto com eles. O objeto dessa separação entre adulto e criança toma corpo no que chama-se de escola. Esta substituiria a aprendizagem como meio de educação. Ariès(1981: 11) ainda sobre este assunto, comenta que:

Começouentão um longo processo de enclausuramento das crianças(como dos loucos, dos pobres e das prostitutas) que se estenderia até nossos dias, e ao qual se dá o nome de escolarização.

 

 

Em concordância com as idéias de Ariès, entenda-se por este processo, como o causador da moralização da criança com ajuda da igreja e da família. Começa-se então uma espécie de confinamento das crianças nas instituições escolares. A educação passa a ter uma notável importância.

A famíliapassa a se preocupar com a educação dos seus filhos, com os seus estudos e os acompanhavam com um certo interesse nos séculos XIX e XX e um outro sentimento nasce: a preocupação com o filho, a criança.A família passa a se preocuparem cuidar e educar suas crianças. O que pode se perceber até aqui é que a civilização medieval não tinha idéia da educação, mas hoje nossa sociedade e sabe que seu sucesso depende também, muitas vezes,de uma boa educação. Ariès(1981: 12) a esse respeito fala que:

A família começou então a se organizar em torno da criança ea lhe dar uma tal importância, que a criança saia do seu antigo anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem enorme dor, que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela.

 

 

Nota-se uma preocupação com o "cuidar das crianças", mais precisamente com a articulação do que pode vir a ser cuidar e educar. Já que, a família começou a preocupar-se em reduzir o número de crianças para lhe oferecer melhor assistência, maior atenção, ou seja, uma melhor educação. A família começa a conceber a criança como criança ecomo disse Rousseau(1712-1778)em sua obra Emílio "A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens". E sendo a família o local de "dominação" das crianças, esta é a formadora da nossa primeira identidade social.

Talcott Parsons citado por Reis(1984: 100) diz que: "A família teria por função desenvolver a socialização básica numa sociedade que tem sua essência no conjunto de valores e de papéis." Entende-se que a família seria, então, a principal arkhé[3] formadora do cidadão. Daí porque a concepção de criança está enraizada com a forma de organização das famílias que antes entendia a criança como um adulto em potencial e com a industrialização, houve umanecessidade de se ter um lugar para guarda[4] as crianças enquanto seus pais estavam na jornada de trabalho, mais tarde evoluiria e passamos achamar de pré-escola este local de "depósito".

A criança passa a ser o centro das atenções dos adultos e também o centro dos interesses, pois é empregada nas crianças a esperança de um futuro melhor para a família, financeiramente falando. Na contemporaneidade, ao nascer uma criança principalmente com elevado nível social, os pais, em sua maioria, já fala em profissões para os pequenos: "Ah! Esse será um médico de sucesso", tá certo que pensando no bemdas suas "crias", mas claro que nas entrelinhas sabe-se que o objetivo é a continuação de um elevado nível social e porque não de dominação. Sabendo-se é claro que ninguém vai querer regredir e pensar: "Ah! quero que meu filho seja um mártir e morra de fome pelos pobres, fracos e oprimidos".

A intenção aqui é deixar claro que a criança depois de passar por um longo processo de anonimato vai conquistando à duras penas um lugar de importância no seio da família, um espaço de esperança, melhoria de vida, vão sendo conquistados direitos por pessoas, instituições e organizações sensíveis a sua causa, que vêem a criança como uma pessoa peculiar, ou seja, um sujeito social de direitos.

2.1 A criança como sujeito social de direitos

O desenvolvimento das ciências humanas, principalmente a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, da psicanálise do desenvolvimento e da biologia, trouxeram novas luzes sobre a criança e a influência de seus primeiros anos em seu desenvolvimento posterior a pré-escola com a proposta na visão psicológica de atender a criança de tenra idade, antes de seu ingresso formal na escola.

Estes fatores provocaram na sociedade uma consciência da importância das experiências da primeira infância, o que motiva demandas por uma Educação Institucional para a criança de zero a seis anos.

No Brasil, a constituinte que culminou com a promulgação da carta magna de 1988, representoumomento de grande participação da sociedade civil e de organismos governamentais na afirmação dos direitos das crianças, e entre eles, o direito à Educação Infantil, incluído no Inciso IV do artigo 208 da Constituição Federal do Brasil(1988), o qual explicita que: "O dever do Estado com a Educação será efetivado(...)mediante garantia de atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos". Este direito é reafirmado no ECA[5], em seu artigo 53.

A criança é vista com sujeito de direito social. A criança não é apenas uma promessa de futuro, tem-se que pensar na criança no presente, na sua condição de criança, pois estas são peças fundamentais no processo de troca, interação e transformação da sociedade, são atores sociais. A infância é fruto da construção histórico, social e cultural das sociedades e de um determinado tempo e lugar. A criança como ser social de direitos recebe a garantia de um desenvolvimento integral assegurado por lei.

A Educação é um direito e não mais um "artifício" para atender as necessidades dos pais. Um marco também de grande significação para a Educação Infantil é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada em dezembro de 1996. É a primeira vez que a expressão "Educação Infantil" aparece numa lei nacional de educação. Recebe um destaque inexistente nas legislações anteriores, sendo tratadas em uma seção específica. É definida como primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade.

Esta visão de escolarização da criança pequena, a qual passa a fazer parte da primeira etapa do ensino básico, vai gradativamente apagando a terminologia pré-escolar, pois esta denominação é considerada como fase anterior a escolarização propriamente dita, que é a 1ª série, abominando assim a relevância da educação de 0 a 6 anos. Com a LDB(9394/96), a criança tem direito a uma educação de base e não mais a uma prévia escolarização, como antes era denominado depré-escola, o termo "Educação Infantil" aparece denotando a importância desta fase.

A importância da Educação na vida de qualquer ser humano é incontestável, apesar da Educação Infantil ser o pontapé inicial para este tipo de educação formal, vale ressaltar o papelda família neste processo.

Betty M. Caldwell(1975), faz uma reflexão a respeito da importância da família, ela entende que o ambiente ideal da aprendizagem para a criança pequena é aquele, no qual a criança pequena é criada: a sua própria casa; no contexto de uma relação emocional afetuosa e nutriente, com sua mãe e também sob condições de estimulação sensorial e cognitiva variada.

Assim como Caldwell e também João Henrique Pestalozzi(1746-1827) defende-se aqui a idéia de que a criança começa sua aprendizagem desde o nascimento, a infância não é um mero período latente de esperar para ficar adulto. Pestalozzi acreditava que só através da educação os pobres poderiam modificar sua condição de miséria. Ele indicava o estudo da criança como caminho para melhor dirigir os incentivos ao seu crescimento.

Portanto, quando nasce um bebê, não se troca sua fralda, alimenta e educa fazendo um favor a este novo ser, mas estamos fazendo o que lhe é de direito, pois este não conhece ainda seus direitos e tão pouco pode brigar pelos mesmos. A criança não pede para nascer e se veio ao mundo, assim como todo cidadão, deve ter garantido seus direitos e deveres, e um deste direitos é que na sua fase inicial na escola goze de uma boa educação, o que implica intrinsecamente em cuidados essenciais.

3.0 A relação entre cuidar e educar: assistência ou essência?

Conforme o dicionário[6] o termo "cuidar" significa: imaginar, meditar, julgar, supor, tratar, Ter desvelo por. Fazer os preparativos. Acautelar-se, assistir, Ter cuidado: cuidar das crianças. Empregar a atenção. Ter cuidado consigo mesmo, tratar-se( da saúde, etc.). Este seria o conceito de cuidar isoladamente, mas o que seria o cuidar na Educação Infantil?

A princípio faz-se necessário definir o que seria "educar". De acordo com as idéias contidas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(1998), o educar significa:

Propiciar situações de cuidado, brincadeira e aprendizagens orientadas, de forma que possa contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança e o acesso pela criança aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.

Denota-se ai dentro do que seria educar, uma propensão ao cuidar. Percebe-se desde já que entre esses dois termos existe uma relação. A luz do R.C.N o cuidar aparece totalmente imbricado no educar, deixando claro que o cuidar na Educação Infantil deve ser realizado de forma que ajude no desenvolvimento integral da criança auxiliando assim na construção de sua autonomia.

Todavia, o R.C.N não apresenta pesquisas com experiências que confirmem as idéias apresentadas. O Referencial curricular Nacional para a Educação Infantil é um documento produzido por um organismo público, entretanto, a maioria das instituições escolares da rede pública não correspondem, muitas vezes, com as indicações referidas por esse documento.

Voltando um pouco para o período industrial, neste tinha-se a necessidade de guardar a criança enquanto seus pais estavam trabalhando. As crianças eram assistidas, ou seja, cuidadas de forma assistencialista, sem nenhuma proposta pedagógica. Então, pode-se tirar aqui uma definição para o cuidar assistencialista que seria diferente do cuidar essencial, já que o primeiro só preocupa-se com alimentação, higiene e saúde da criança, não integrando essas ações ao ato de educar.

Segundo Campos(1994) todas as atividades ligadas à proteção e apoio necessários ao cotidiano de qualquer criança: alimentar, lavar, trocar, curar, proteger, consolar, enfim cuidar, todas fazem parte integrante do que se entende por educar. Além do caráter assistencialista o cuidar compreende também o caráter instrucional, educar e cuidar.

Defende-se aqui a idéia de que cuidar é uma espécie de subconjunto[7] do educar, ou seja, o educar abarca o cuidar de forma que os cuidados físicos, emocionais, sociais, cognitivos se façam presentes no âmago do educar, sendo assim o cuidar na Educação Infantil está entrelaçado com o educar.

Nota-se que toda forma de educação implica em um cuidado e ao cuidar o professor também está educando, ressaltando que educar vai além de cuidar. Por exemplo, o profissional da Educação infantil quando prepara a aula que dará noção de direção para as crianças, ou seja, longe e perto, direita e esquerda, a criança ao mesmo tempo em que está construindo conceitos de direção, o professor também automaticamente cuidará do aspecto psicomotor.

O cuidar é algo dinâmico, instantâneo, mas não significa dizer que o educar não esteja presente nesse momento. Porém o educar é mais profundo é mais abrangente, é um processo. Ao educar o professor despertará o sujeito a buscar entender certas indagações(porquê? Como? Para quê?) possibilitando assim que este sujeito reflita e construa conhecimentos que vai além do ato de educar. Ressaltando que este "cuidar" apesar de dinâmico não implica em dizer que a criança aprende instantaneamente também tais conhecimentos.

Ao tratar da ação instantânea do cuidar, pretendia-se mensurar esta questão, penando que estas relações acontecem dentro de um determinado tempo. Assim sendo caracteriza-se o ato de cuidar como essencial, e não desvincula do ato de educar, mas salientando que é um processo que requer mais elaboração, planejamento etc. Portanto, o ato de educar a criança está inegavelmente integrado ao ato de cuidá-la.

O problema da separação entre cuidado e educação é uma decorrência da tentativa de superação do caráter assistencial substituindo-o pelo caráter pedagógico. Para confirmar este pensamento, Weis (1999: 108) diz que:

 

 

O cuidado na Educação Infantil é uma ação cidadã, onde educadores pessoas consciente dos direitos das crianças, empenham em contribuir favoravelmente ao crescimento e desenvolvimento das crianças. O cuidar é visto aqui como uma prática pedagógica e como forma de mediação, que se constitui pela interação através da dialogicidade e quer possibilitar à criança leituras da realidade e apropriação de conhecimentos.

 

 

Portanto, na Educação Infantil, o ato de cuidar e educar são indissociáveis, não tem como separar essas duas ações. O cuidar e o educar estão nas coisas mais simples da rotina pedagógica da Educação Infantil; desde a hora em que se está trocando uma frauda, alimentando a criança, no momento da higiene, todos esses aspectos que parecem ser simplesmente "cuidados", eles também podem e devem ser trabalhados dentro do aspecto educativo. Quando realizamos estas atividade é preciso conversar com a criança a respeito da necessidade daquele procedimento e já incentivando que ela tente fazer sozinha, para assim contribuir para a independência da criança.

3.1 Os desafios do cuidar na Educação Infantil

Os desafios do ato de cuidar na Educação Infantil, como já se sabe, tem uma forte relação com o ato de educar. Para vencer estes desafios se faz necessário um profissional que possua um perfil polivalente, ou seja, um educador que trabalhe com conteúdos de naturezas diversas, abrangendo desde cuidados básicos e essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento.

Nos primeiros anos de vida de uma criança é de extrema importância que o professor propicie o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, físico, afetivo e emocional. Para tanto não poderá desvincular-se da questão do espaço, tempo, segurança e das brincadeiras, que consequentemente influenciará no desenvolvimento integral da criança. Estes aspectos são a base para a estruturação da personalidade e construção da identidade do sujeito. Será destacado aqui, brevemente, esses aspectos.

3.1.1 O cuidar e o aspecto cognitivo na Educação Infantil

O professor enquanto mediador deve estimular a capacidade intelectual da criança. É grande a responsabilidade desse profissional, pois terá o papel de provocar à criança para que no cotidiano escolar esta possa desenvolver o raciocínio, a criatividade e aumente sua capacidade de imaginação. Utilizar recursos como jogos, histórias, e usufruir das várias linguagens existentes como: arte, teatro, música, dança, dentre outras, torna-se imprescindível como instrumentos didáticos para atingir uma melhor qualidade de ensino.

3.1.2 O cuidar e o aspecto físico e afetivo na Educação Infantil

Para promover o desenvolvimento físico da criança o ideal é que se faça coadunado com os cuidados afetivos. Defende-se aqui que o cuidar é preocupar-se , doar-se e querer bem ao outro. Por isso nessa relação de cuidado, adulto e criança nas situações de conversa, brincadeira ou de aprendizagem orientada, devem interagir, comunicar-se e expressar-se, demonstrando seus modos de agir e sentir, estabelecendo assim um vínculo afetivo.

Este processo, certamente desenvolverá benefícios perante o aspecto emocional, tanto para a criança quanto para o adulto. Porém atingirá com grnde relevância o plano emocional da criança, o qual deve ser tratado com atenção privilegiada.

3.1.3O cuidar e o aspecto emocional na Educação infantil

O aspecto emocional funciona como instrumento que dá suporte ao progresso nos diferentes âmbitos do desenvolvimento infantil. Tudo na Educação infantil é influenciado pelos aspectos emocionais: desde o desenvolvimento psicomotor, até o intelectual, o social e o cultural.

A descoberta e a observação são capacidades que auxiliam as crianças a construir um processo de diferenciação dos outros e consequentemente sua identidade. Dessa forma, a conduta do professor pode suscitar prejuízos de longa duração na vida da criança. A medida que o profissional de Educação Infantil lida com a criança designando determinadas rotulações pode, nesse momento, construir uma identidade negativa, já que o indivíduo costuma ser como o outro o vê.

3.1.4 O cuidar e as brincadeiras na Educação infantil

De acordo com as idéias de Frabboni(1998) os jogos constituem a ocasião própria para a socialização e a aprendizagem. Aquela idéia de aprender brincando e brincando de aprender, remete ao princípio de que brincar é fundamental na educação infantil. "O professor ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Ele organiza sua base estrutural, ajeitando brinquedos, objetos, fantasia, delimitando os espaços e o tempo para brincar" (RCN,1998).

Froebel(1782-1852) o idealizador do jardim de infância, pregava uma pedagogia da ação, e mais particularmente do jogo. Ele dizia que a criança não deveria apenas olhar e escutar, mas agir e produzir.

Considerações finais

Considera-se aqui a criança como um ser diferente do adulto, diferenciando-se deste na idade e na maturidade. Fora estes fatores o limite entre criança e adulto é complexo, pois este limite está associado à cultura, ao momento histórico e aos papéis determinados pela sociedade. Estes papéis dependem da classe social e econômica em que está inserida a criança e sua família.

A valorização e sentimentos atribuídos a infância nem sempre existiram de forma como hoje são concebidas, as mudanças econômicas e políticas da estrutura social tem grande influência e participação na modificação desses sentimentos.

Conclui-se aqui que para uma Educação infantil de qualidade, é de extrema importância que cuidar e educar estejam imbricados. Para que o indivíduo seja educado ele precisa passar por cuidados essenciais (cognitivo, afetivo, emocional, físico e social), que compreendam o desenvolvimento integral da criança, sem os quais seu crescimento estaria comprometido. Não apenas assistência, como a concepção assistencial da educação da criança, mas como essencial, implicando nos cuidados citados acima.

Sendo assim, confirmou-se nesse artigo que cuidar-educar não se separa, a visão de higiene, alimentação e saúde é uma visão limitada do cuidar. Acredita-se que cuidar é ter responsabilidade e ajudar na promoção de capacidades. Concebe-se aqui que é necessário cuidar para educar.

Este trabalho foi significativo para entender que o cuidar é a base de todas as relações existentes na educação. Assim sendo, é um tema abrangente e novo no que concerne a literatura sobre o assunto, logo requer mais pesquisas e estudos que venham a suscitar novas discussões.

Sente-se a necessidade de ir a campo para assim realizar um estudo mais profunda e ao mesmotempo prático desta relação entre cuidar e educar, a fim de pesquisar como este binômio interfere na qualidade da Educação infantil.

Referências

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BRASIL: Ministério da Educação e do desporto. Por uma política de formação do profissional em educação infantil. Brasília: MEC/SEF/Coedi, p.

BRASIL: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 1: Introdução.

CALDWELL, Betty e M. Qual é o ambiente ideal de aprendizagem para a criança pequena? In: WITTER, Geraldina Port et ali. Privação Cultural e desenvolvimento. São Paulo: Pioneira, 1975.

CAMPOS, M. M. Educar e cuidar: questões sobre o perfil do profissional de Educação Infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n 78, 1991.

 

FERNANDES, Francisco,LUFT, Celso Pedro e GUIMARÃES, Marques. Dicionário Brasileiro Globo. 21. Ed. São Paulo: Globo, 1991.

Lane, SílviaT. Me WANDERLEY Codo(organizadores). Psicologia social: o homem em movimento. In: REIS, José Roberto. Família, emoção e ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1984.

WEISS, Elfy Marfrit Gohring. O cuidado na escola infantil: contribuições da área da saúde. Perspectiva: revista do centro de ciências da educação. Florianópolis. Vol. 17,n. especial; 1999.

Legislação:

Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, Brasília, Senado Federal, gráfica, 1988.

Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Federal 9.394/1996. Brasília, congresso nacional, 1996.

Estatuto da Criança e do adolescente. Lei nº 8.069/1990, de 13 de julho de 1990. São Paulo: CBIA-SP, 1991.

Sites:

AZEVEDO, Heloísa Helena Oliveira de.

SCHNTZLER, Roseli Pacheco. "O binômio cuidar-educar na educação infantil e a formação inicial de seus profissionais". GT: Educação de crianças de 0 a 6 anos/n. 07Disponível em: <http://www.anped.org.br>Acesso em 19 de jan de 2006.

COUTINHO, Ângela Maria Scalabrin. Educação Infantil: Espaço de educação e cuidado. GT: Educação de crianças de 0 a 6 anos/ n. 07. Disponível em: <http://www.anped.org.br> Acesso em 19 de nov de 2006.

 

________________________

[1] Evangeliário de Oto III, Munique.

[2] Denominação dada por Ariès aos primeiros anos de vida da criança, em que esta brincava e era paparicada, ou seja, faziam-se mimos tinham um cuidado maior.

[3] Termo de origem grega. Significa princípio,base, origem.

[4] Termo usado no sentido de; tomar conta, depósito, asilo.

[5] ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, publicado em 13 de julho de 1990.

[6]Dicionário brasileiro GLOBO,publicado em 1991.

[7] Significa que o cuidar está inserido no educar.