Inicialmente, para falarmos em Educação, temos que pensar na leitura, como fator primordial à alfabetização do aluno. Infelizmente no Brasil poucas pessoas possuem o hábito de ler, bem como são poucas as escolas que proporcionam o acesso à leitura aos estudantes. A leitura como fator educacional, constrói dentro do ser humano, um campo enorme de conhecimento, seja do mundo, como de si mesmo.

A leitura é a base do processo de alfabetização e também da formação da cidadania. Ao ler uma história a criança desenvolve todo um potencial crítico: pensar, duvidar, questionar. "Ler é estimulante" (SILVA, 2009). Sem a escrita e a leitura o homem deixa de se comunicar adequadamente com seus semelhantes e se torna um ser insensato em relação ao mundo.

Ao falar da alfabetização, não se pode descartar o letramento. Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Ou seja: um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita. Alfabetizar letrando, é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita.

"O sentido ampliado da alfabetização, o letramento, [...], designa práticas de leitura e escrita. A entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de leitura e escrita. Ou seja, para entrar nesse universo do letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar um jornal para ler, de freqüentar revistarias, livrarias, e com esse convívio efetivo com a leitura, apropriar-se do sistema de escrita". (ESPÍNDOLA, 2009, p. 01).

Não basta a escola ter como objetivos alfabetizar os alunos: ela tem o dever de criar condições para que eles aprendam a escrever textos adequados às suas intenções e aos contextos em que serão lidos e utilizados. 

1. A importância da leitura

Etimologicamente, ler deriva do latim "lego/legere", que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta reflexão, enfatizamos a leitura da palavra escrita.

Mas o que seria leitura? A leitura é uma experiência pessoal, a qual não depende somente da decodificação de símbolos gráficos, mas de todo o contexto ligado à história de vida de cada indivíduo, para que este possa relacionar seus conceitos prévios com o conteúdo do texto, e desta forma construir o sentido.(POSSEBON, 2008).

A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos de certa forma lendo, embora, muitas vezes, não nos demos conta.

As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura de livros de lado, isso resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres.

A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interação. Muitas pessoas dizem não ter paciência em ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito rotineiro as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo.

A literatura de modo geral amplia e diversifica nossas visões e interpretações sobre o mundo e da vida como um todo. O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim com certeza ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz.

"Num contexto onde a escrita e a leitura fazem parte das práticas cotidianas, a criança tem a oportunidade de observar adultos utilizando a leitura de jornais, bulas, instruções, guias para consulta e busca de informações específicas ou gerais; o uso da escrita para confecções de listas, preenchimento de cheques e documentos, pequenas comunicações e atos de leitura dirigidos a ela (ouvir histórias lidas). A participação nessas atividades ou a observação de como os adultos interagem com a escrita e a leitura gera oportunidades para que a criança reflita sobre o seu significado para os adultos". (AZENHA, 1999, p. 44).

Através da leitura todos se tornam iguais, com as mesmas oportunidades. A leitura, além de tornar o homem mais livre, possibilita que ele vá a muitos lugares que, sem a leitura jamais iria. "Através da leitura todos se tornam iguais, com as mesmas oportunidades. A leitura, além de tornar o homem mais livre, possibilita que ele vá a muitos lugares que sem a leitura jamais iria" (HOFFMANN, 2009).

A leitura para uns é uma atividade prazerosa para outros um desafio a conquistar, que somente será alcançado através de muito incentivo, das escolas das famílias e na sociedade. Um bom leitor não é aquele que lê muitas vezes o mesmo tipo de texto, mas aquele que lê diversos tipos de texto com profundidade.

Na formação de cada cidadão bem como de um povo, a leitura é de máxima importância, representando um papel essencial, pois se revela como uma das vias no processo de construção do conhecimento, como fonte de informação e formação cultural. Ademais, ler é benéfico à saúde mental, pois é uma atividade 'neuróbica', ou seja, a atividade da leitura faz reforçar as conexões entre os neurônios. Para a mente, ainda não inventaram melhor exercício do que ler atentamente e refletir sobre o texto.

A pessoa que lê conhece o mundo e conhecendo-o terá condições de atuar sobre ele modificando-o e tornando-o melhor, por que a leitura é o principal aspecto constituinte do pensamento crítico. O homem que não tem oportunidade de aprender a ler, certamente será 'excluído' da sociedade, ou melhor, não terá a mesma participação que aqueles que têm essa oportunidade.

2. A Leitura e a Alfabetização

Para alguns educadores alfabetização é a aquisição do sistema alfabético de escrita; outros, um processo pelo qual a pessoa se torna capaz de ler, compreender o texto e se expressar por escrito.

Paulo Freire responde através de uma carta a pergunta: para que alfabetizar?"[...] para que as pessoas que vivem numa cultura que conhece as letras não continuem roubadas de um direito – o de somar à 'leitura' que já fazem do mundo a leitura da palavra, que ainda não fazem". (FREIRE apud BARRETO apud MORAES, 2005)

A escola deve começar a ler para os alunos o mais cedo possível. Para os de família de baixa renda, está a cargo do professor provocar situações desse tipo, de que os outros dispõem desde que nascem. "A alfabetização não é um luxo nem uma obrigação; é um direito" (FERREIRO apud MORAES, 2005). O ensino inicial da leitura deve assegurar a interação significativa e funcional da criança com a língua escrita. Propiciar essa interação implica a presença incluída do escrito na aula, nos livros, nos cartazes que anunciam determinadas atividades, nas etiquetas que tenham sentido.

Implica, sobretudo, que os adultos encarregados na educação das crianças usem a língua escrita, quando for possível e necessário, diante delas, fazendo-as compreender, assim, seu valor comunicativo. Implica também realizar atividades que fomentem o prazer de ler (como ler para as crianças) e que permitam experimentar o poder da leitura para transportar-nos a outros mundos reais ou imaginários.

É importante desenvolver na escola projetos de leitura, pois; ao contar uma história para uma criança, tem-se a oportunidade de compartilhar emoções, despertar o prazer de escutar o outro e de estar em convivência com o grupo. Ao ouvir uma história, pode-se fazer e refazer, produzir e reproduzir, no sentido de reconstruir imagens na mente, imagens do passado, estimular a criatividade.

Infelizmente hoje a alfabetização passa numa lógica contrária.

"A alfabetização vem percorrendo caminhos [...] em que a leitura passou de elemento propulsor para elemento colaborador, substituindo o conceito de alfabetizar como ensinar a ler pelo de alfabetizar como ensinar a escrever, e a concepção de avaliação através de testes de leitura pela de avaliação através de testes de escrita. Nesse percurso, os livros para aprender a ler deram lugar a sucessivas folhas de exercícios que muitas vezes reproduzem em parte as páginas que neles havia". (ROSA; PEREIRA, 2008, p.48)

Muitas coisas que aprendemos na escola são esquecidas com o tempo, pois não a praticamos, através da leitura rotineira tais conhecimentos se fixariam de forma a não serem esquecidos posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam ser sanadas pelo hábito de ler, talvez nem a tivéssemos, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado.

As avaliações nacionais de 2003 evidenciam um percentual de 55,4% de alunos que apresentam problemas sérios de leitura, sendo que 18,7% deles foram classificados no nível 'muito crítico' (BELINTANE, 2006).

Devido a esses dados, a inserção da leitura, no contexto escolar, deve ser de forma dinâmica e agradável, utilizando e, por exemplo, do caráter lúdico que pode ser dado às estratégias de leitura. Dessa forma, enquanto o aluno "aprende a ler", estará, ao mesmo tempo, desenvolvendo a sua noção de 'ser social', integrado num contexto ético e crítico.

O gosto de ler, portanto, será adquirido gradativamente, através da prática e de exercícios constantes. Nesse caso, o professor, sendo o principal agente no processo de melhoria da qualidade do ensino, poderá realizar uma série de atividades que favoreçam a aproximação do educando com a leitura, pois ela é a condição essencial para o bom desempenho da linguagem oral e escrita.

Sabe-se, também, que a escola tem papel fundamental na construção da identidade e da autonomia de cada aluno. Por isso, faz-se necessário, trabalhar não apenas leitura, mas todas as leituras que se apresentam no nosso dia-a-dia. Nas escolas em que circulam diversos tipos de textos, os alunos leem e escrevem mais rapidamente e se tornam capazes de buscar as informações de que necessitam.

Segundo Paulo Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra (FREIRE, 1989). Aprendemos a ler o mundo antes mesmo de decodificar os sinais gráficos das letras. Assim, ler o mundo é tão importante quanto ler a palavra. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade. No fundo esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma "leitura da leitura" anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e "re-escrita" do lido.

Em outras palavras Freire entende que se um texto só pode ser lido se o reescrevemos, o mesmo ocorre com a leitura da realidade. Para ele, não lemos apenas as palavras, os textos e os livros; lemos o mundo, isto é, tudo aquilo que está ao nosso redor. O mundo em que vivemos é um texto que exige uma leitura mais crítica. A leitura realmente passa a ter sentido quando lemos a realidade, a partir de nossos interesses e necessidades, para nos transformar e transformar o mundo.

O hábito da leitura é de extrema importância na formação intelectual do indivíduo, pois através dela, cria-se o espírito crítico-social. Ensinar a ler e escrever é alfabetizar, levar o aluno ao domínio do código escrito, isso feito principalmente na sala de aula, pois a mesma é o lugar da criação de um vínculo com a leitura.

O hábito de ler ou contar histórias constitui um precioso instrumento para o relacionamento, trata-se de um momento de aproximações, descontração e trocas. A leitura passa a ter uma importância muito grande, pois favorece as relações afetivas entre alunos e professores propiciando um momento de maior aproximação. Entre eles:

·Possibilita ampliação de vocabulário, organização de pensamento numa seqüência lógica (começo, meio, fim).

·Estimula a fantasia e a criatividade, desenvolvendo a imaginação.

·Ajuda a criança a elaborar e refletir sobre seus medos, ansiedades e perdas.

·Ajuda a criança a ter um posicionamento crítico, responsável e construtivo nas diferentes situações sociais, participando nas mediações de conflitos e nas decisões coletivas.

·Melhorar a utilização da linguagem para aperfeiçoar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capaz de expressar seus sentimentos, idéias e opiniões, relatar experiências, acolhendo, interpretando, considerando e respeitando os diferentes modos de falar.

Aprende-se a ler vendo outras pessoas lendo, prestando atenção às leituras que o professor realiza oralmente, tentando ler, experimentando e errando, em um processo cujo resultado inicial será seguramente menos convencional do que o esperado, mas não muito diferente do que se produz com outras aprendizagens.

Atualmente, damos valor ao mercado de carros, computadores, petróleo, bolsa de valores, mas não percebemos que o mercado da leitura e da inteligência é de primordial importância. Devido a isto, é de suma importância desenvolver em nós uma "cultura de leitura", pois só assim seremos aprendizes e formadores de opinião em todo ambiente social e democrático que estivermos.

Referências

AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro. 7ª ed. São Paulo: Ática, 1999.

BELINTANE, Claudemir. Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca para além

da polarização. São Paulo, 2006. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ep/v32n2/a04v32n2.pdf. Acesso em: 09 de Junho de 2009.

CABRERA, Leila Aparecida. Projeto de Produção de Texto e Leitura na Alfabetização através do uso das Tecnologias. Campo Grande, 2006. Disponível em: http://www.ebah.com.br/projeto-de-producao-de-texto-e-leitura-na-alfabetizacao-atraves-do-uso-das-tecnologias-l175474.html. Acesso em: 15 de Junho de 2009.

COPES, Regina Janiaki. Leitura: Construção do Conhecimento. Ponta Grossa, 2008. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/12542/1/leitura-construcao-do-conhecimento/pagina1.html. Acesso em: 12 de Junho de 2009.

ESPÍNDOLA, Vamilson Souza d'. Letramento, Leitura e Escrita. Laguna, 2009. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/18622/1/letramento-leitura-e-escrita/pagina1.html. Acesso em: 09 de Junho de 2009.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23ªed. São Paulo: Cortez, 1989. Disponível em: www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/A_importancia_do_ato_de_ler.pdf. Acesso em: 13 de Junho de 2009.

HOFFMANN, Jussara. Texto de Hoffmann relacionado à Leitura. 2009. Disponível em: http://doidoeusodeperto.blogspot.com/2009/05/texto-de-hoffmann-relacionado-leitura.html. Acesso em: 09 de Junho de 2009.

MORAES, Mariléia Gollo de. Alfabetização, Leitura do Mundo, Leitura da Palavra e Letramento: algumas aproximações. Erechim, 2005. Disponível em:www.sicoda.fw.uri.br/revistas/artigos/1_3_26.pdf. Acesso em: 09 de Junho de 2009.

POSSEBON, Carolina. Práticas De Leitura na Educação Infantil. Vargem Grande, 2008. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/9312/1/praticas-de-leitura-na-educacao-infantil/pagina1.html. Acesso em: 12 de Junho de 2009.

ROSSA, Adriana; PEREIRA, Vera Wannmacher. Leitura e alfabetização. Porto Alegre, 2008. Disponível em:http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/4753/3582. Acesso em: 09 de Junho de 2009.

SILVA, Cleide C. G. R. da. A Importância da Leitura. Várzea Grande, 2009. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/18110/1/a-importancia-da-leitura/pagina1.html. Acesso em: 12 de Junho de 2009.