1        INTRODUÇÃO

 A leitura é de fundamental importância para o desenvolvimento humano, sendo responsável por possibilitar a aprendizagem e a transmissão de conhecimentos entre os homens. Além do mais, hodiernamente, com a vida moderna, o indivíduo precisa cada vez mais elevar seu nível de conhecimento com o intuito de desenvolver-se dentro da sociedade e, é através da leitura, que caminhos são abertos para atingir tal fim, pois, por ser o ato de ler exclusivamente humano, este, individualiza-se à medida que ocupa determinada posição na sociedade, destacando-se, em decorrência de sua capacidade técnica e cultural adquirida, primeiramente, com a leitura.

Não obstante a leitura, segundo sua gênese, restringir-se a interpretação de uma mensagem codificada por signos visuais, o ato de ler transcende a simples decodificação de sinais gráficos uma vez que existem diversas linguagens que podem ser apresentadas por intermédio da realidade.

Entretanto, a verdadeira leitura surge, inicialmente, quando as crianças começam a brincar, a explorar o ambiente, a realizar criações, a participar de tarefas cotidianas, enfim, quando começam a relacionar-se com interlocutores (adultos/crianças), confrontando pontos de vista e desejos, trocando emoções, afetos e informações. Assim, o sujeito vai ampliando suas referências, conquistando sua autonomia, aprendendo a compartilhar, a conviver, etc., ou seja, a criança interage ativamente com seu meio, construindo suas próprias categorias de pensamento, ao mesmo tempo em que organiza o mundo.

Quando a língua é analisada sob o enfoque do ensino/aprendizagem, deve ser considerada tanto como atividade comunicativa, utilizada quando atuamos sobre nossos semelhantes, quanto atividade representativa e cognitiva através da qual lemos/representamos o mundo.

Entendendo-se a leitura nesse sentindo, pode-se afirmar, portanto, que trata-se do conhecimento de mundo onde a criança se comunica e se expressa por diversos meios, ainda mais, quando muitas crianças não conseguem delimitar o que seja uma palavra, nem sabem que todas as palavras faladas podem ser escritas. Assim, expressam-se e comunicam-se através da imitação e dramatização; da música e na dança; no desenho, fotografia, colagem; da modelagem, da escultura; da palavra falada e escrita.

Há uma grande preocupação, por via de conseqüência, em torno do favorecimento de uma “leitura de mundo” pela própria criança, para que esta possa situar-se melhor no meio em que vive; fortificando e ampliando a capacidade de dizer sua palavra, a fim de que possa afirmar-se como sujeito autônomo e solidário com seus pares, o que aumentará suas potencialidades, levando-a mais tarde, a uma reflexão crítica sobre os fatos da realidade.

O progresso da leitura, passando-se da inicial até um nível de leitura crítica, é alcançado pelo indivíduo de forma gradativa e processual, sendo basilar a existência de relações mantidas entre este e o mundo da leitura desde a infância, onde o gosto pela mesma começaria a ser despertado em seus lares e, subseqüentemente, na escola e na biblioteca, constituindo-se como processo que pode vir a contribuir de maneira qualitativa para o desenvolvimento do hábito de ler, em todas as etapas de crescimento do indivíduo.

Por entender que toda iniciativa a partir da leitura prazerosa tem seu sucesso garantido na grande batalha que é a formação de leitores, pretende-se com este estudo, enriquecer o debate a cerca da importância do incentivo à leitura, enfocando este aspecto como instrumento necessário para a formação de leitores críticos e cultos, capazes de ler e reler, analisar e interpretar qualquer tipo de texto, levando-os a refletir sobre a leitura como entretenimento que, além do prazer de ler, coloca o indivíduo em contato com situações, culturas e mundos dos mais diversos, informando e ampliando o seu vocabulário e possibilitando a aquisição da leitura e da escrita, utilizando-se de produções literárias que envolvam o lúdico.

2        CONTEXTO HISTÓRICO DA LEITURA

 A fim de que se possa inferir uma maior compreensão acerca do ato de ler, necessário se faz uma retrospectiva ao processo histórico da leitura, de modo a perceber sua evolução e características no decorrer do tempo.

Até meados do século IV, as obras eram escritas sob a forma de rolo, cuja denominação era “VOLUMEN’ e, por sua difícil manipulação, o movimento dos lábios tornava-se lento no momento da emissão sonora, o que, por conseguinte, atribuiu à pronúncia status de grande importância, descartando-se a leitura silenciosa por ser considerada uma anomalia. Assim, o nascimento da leitura está associado à emissão sonora de um texto.

Surge neste mesmo século o “CONDEX”, com formato diferente, onde as folhas eram costuradas entre si pelas bordas, permitindo um melhor manuseio e tornando a leitura mais dinâmica tendo em vista que o olhar percorria o texto com maior liberdade.

Em face dos livros serem manuscritos, nessa época, tornavam-se raros uma vez que não podiam ser multiplicados e, assim, também eram considerados objetos sagrados, pois reuniam textos importantes sobre a época sagrada.

Com o século XVI surge a Imprensa e, com ela, os livros começaram a ser disseminados, sendo que a Bíblia foi o primeiro deles, recebendo, inclusive, hodiernamente, a posição de livro mais vendido no mundo.

Já no século XVII foram multiplicadas as publicações de pequenos livros, principalmente entre o público popular, em países como a Inglaterra, França e Espanha. Diante desse crescimento e da disposição para a leitura, a aprendizagem tradicional foi ameaçada, pois dava-se em quatro anos (um para as letras, um para as sílabas, um para as palavras e um para as frases), desencorajando aqueles cujo acesso ao conhecimento era dificultado.

Até o final do século XVIII, a leitura é uma atividade realizada no convívio da família, onde se liam e reliam os livros em voz alta para que houvesse a memorização do texto, desta forma, a leitura era feita para si e para os outros, de maneira que tornava-se muito comum a existência de mediadores nas sociedades não-alfabetizadas que transmitiam a leitura.

Essa atividade de ler em voz alta passou a ser exercida, com talento, nos salões mundanos e teve como um dos seus grandes propagandistas Ernest Legouvé, que afirmava ser essa atividade uma verdadeira leitura crítica, a impondo nos programas das escolas primárias em 1882 e, com isso, promovendo o gosto pela leitura.

Para alguns teóricos como Chartier e Hebrad, a leitura em voz alta possibilitava revelar o sentido profundo do texto, o que não ocorria com aquela realizada de forma baixa e rápida, com aspecto silencioso, pois acreditavam ser ineficaz por constituir-se em um obstáculo à verdadeira compreensão do texto.

No decorrer dos anos, muitos métodos de aprendizagem são criados tendo por base, ainda, a leitura em voz alta, todavia, no ano de 1938, o Ministério Francês introduziu a leitura silenciosa nas classes de final de estudo (última série do curso primário), conquistando seu lugar no campo pedagógico e recebendo o rótulo de verdadeira leitura nas Instituições oficiais francesas, pois passava a ser considerada uma prática natural e eficiente que possibilitava a verdadeira compreensão do texto.

Destarte, fazendo-se uma retrospectiva histórica a respeito da presença da leitura nas sociedades, pode-se observar que o modelo da verdadeira leitura foi por muito tempo a leitura em voz alta, sendo substituída progressivamente pela leitura silenciosa. Porém, a sua pertinência em certas funções, que mesmo não inerentes ao ato de ler, são muito importantes.

 3      CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEITURA

 No curso de sua evolução, fica bastante evidenciado, que a leitura passa a envolver as pessoas na comunicação, perpassando da simples decodificação simbólica para assumir o papel dos determinantes sociais, visto que, ao facilitar o processo de comunicação entre os homens está também reorganizando as classes sociais.

Enfatizando o aspecto social da leitura, Kleiman (1989, p. 65), acrescenta que “ao lermos um texto, (...) colocamos em ação todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que se deu a nossa socialização primária”.

O domínio da leitura é, sem dúvida, uma prática de grande utilidade em nossa sociedade, ainda mais quando se leva em consideração a escrita social como presença constante nas atividades do dia-a-dia, através das mais variadas formas, contendo as mais diversas informações. São jornais, cartazes, panfletos, outdoors e etc, cuja leitura é de vital importância para que o homem se sinta incluído no mundo moderno, portanto, essa relação do homem com o mundo moderno pode ser propiciado através da leitura.

Na opinião de Pillon (1996, p.121): “a leitura é um  processo dialético que se insere no processo histórico-social, portanto a leitura não é uma questão de tudo ou nada, faz parte da vida do indivíduo.”

Nesta perspectiva, a leitura já não é vista como um meio que visa adaptar o homem ao mundo, e sim, como um instrumento onde o homem através de uma consciência crítica, torna-se sujeito-mundo ao transformá-lo.

A esse respeito Silva (1992, p.43) afirma que a “...leitura é um dos principais instrumentos que permite ao Ser Humano situar-se com os outros, de discussão e de crítica para se poder chegar à práxis”. Dessa forma, o leitor ao se situar no ato de ler, tem a noção de que o exercício de sua consciência a respeito do texto escrito não objetiva o simples ato de memorizar, mas o compreender e o criticar a partir de uma reflexão. É esse situar-se que assegura o caráter libertador  da leitura.

Deduz-se, então, que através do ato de ler poderemos construir a nossa vida e a sociedade ao nos situar e nos posicionar criticamente em relação ao mundo e ao conhecimento. Nesse sentido a leitura do mundo segundo Paulo Freire, precede, acompanha e dá significado à leitura da palavra escrita. A leitura do texto escrito só tem sentido se contribuir para que a criança se situe melhor no mundo em que vive, se contribui para a ampliação, aprofundamento da “leitura do mundo”. Para que isso ocorra é indispensável, uma conscientização de que para chegar ao mundo da palavra é necessário levar em conta a leitura que se tem do mundo.

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (FREIRE, 1984, p. 21)

Tomando como exemplo a sociedade brasileira observa-se que apesar da leitura ter se expandido ao longo dos anos a uma boa parte da população, isto não implica dizer que os privilégios tenham acabado.

Conforme afirmação de Silva (1993, p.15)

Na sociedade brasileira, constituída de classes com interesses antagônicos, a leitura se apresenta como uma questão de privilégio e não de direito de toda a população; por isso mesmo, a classe dirigente, através de diferentes manobras políticas, não só bloqueia o acesso aos livros como também distorce e fragmenta o conteúdo das obras de modo que a gênese dos fatos do real não seja descoberta através da leitura.

Dessa maneira, a elitização do livro e da leitura faz parte de uma política que procura manter o povo na ignorância com a finalidade de fazer com que a manipulação aconteça sem conflitos.

Essa situação apresentada não é das melhores, mas ela vem mostrar a nossa realidade. No entanto, é indispensável que no momento atual sejam viabilizados programas que visem desenvolver o gosto pela leitura em nosso país. Programas que incluam toda a sociedade, inclusive as instituições voltadas para esta área de trabalho, especificamente: a família, a escola e a biblioteca.

4        INSTITUIÇÕES RESPONSÁVEIS PELA PROMOÇÃO DA LEITURA: a família, a escola e a biblioteca

Os primeiros contatos da criança com a leitura são fundamentais e devem ocorrer desde cedo, na família, ainda quando não conhecem as letras, nem sabem formar as palavras a partir delas. Os pais podem fazer isso favorecendo livros ilustrados e simples para seus filhos, dando oportunidade para a própria criança folheá-los. Lendo para elas histórias interessantes, divertidas, no nível de fácil compreensão, para que elas possam apreciá-la.

Um outro fator que estimula o interesse da criança pela leitura, são as discussões familiares sobre as histórias lidas e, ainda, ver o exemplo: observar que os pais gostam de ler e que estão envolvidos sempre com a leitura.

Outrora, a família era a responsável pelo ensino da leitura entre as crianças, até mesmo pelo fato de que, em tempos passados, não existiam mestres profissionais ou, quando existiam, não eram tão acessíveis economicamente. Todavia, com a evolução da vida moderna, a função educadora da família acabou por ser reduzida, delegando-se às instituições de ensino tal tarefa, seja por inteiro, ou de forma complementar que, através de seus profissionais, procuram suprir as lacunas deixadas pela família.

Para tanto, faz-se necessário que o professor propicie um envolvimento entre alunos e livros em vez de lhes impor de imediato o uso tradicional da cartilha, cuja finalidade é evitar a identificação que muitas vezes se dá do livro apenas como livro didático e da leitura como algo obrigatório.

O professor deve ler para as crianças, contar-lhes histórias, discutir experiências, oferecer-lhes muitas oportunidades para se expressarem oralmente, transformando o livro num forte atrativo para seus alunos, proporcionando-lhes tantos encantos e entretenimentos quanto seus brinquedos ou jogos.

A fim de oferecer tal aprendizagem às crianças, é importante que o professor seja um leitor maduro e tenha, por conseguinte, uma experiência contínua de leitura, ou seja, que goste realmente e tenha o hábito de ler, pois, se o texto não possuir significado algum para ele, não terá como, evidentemente, transmitir sua idéia para seus alunos.

Assim, cabe ao professor estimular o aluno a elaborar e expressar sua própria leitura, fazendo com que ele assuma sua posição de sujeito ativo no ato de ler. Diante desse quadro, ensinar e incentivar a leitura, constituem-se requisitos fundamentais da atividade pedagógica, onde além de permitir à criança a aquisição da capacidade de ler, procura-se despertar e desenvolver o verdadeiro gosto pela leitura.

Entretanto, deve ser evitado o uso excessivo do livro didático pelos profissionais, como se fossem o único recurso utilizado na leitura e escrita com crianças, devendo-se utilizar também recursos como jornais, revistas, livro de literatura, de modo a evitar uma limitação na formação de leitores críticos e criativos. Da mesma forma, é necessário mitigar a idéia de que a leitura deve ser obrigatória e cobrada na aplicação de provas, o que, segundo Martins (1995, p. 93-94) é uma atitude “...capaz de vacinar a criança contra a leitura para sempre”.

Ademais, muitas escolas preocupam-se apenas com a alfabetização das crianças, olvidando, portanto, a importância em disponibilizar meios para despertar e desenvolver, nas mesmas, o hábito da leitura, pois, o hábito de ler às vezes decorre de um exercício que nem sempre se constitui em ato prazeroso para os alunos, mas que deve ser introduzido em sala de aula. Nessa mesma linha de pensamento, adverte Chartier (1993, p.28): “a escola alfabetiza mas não transforma os estudantes alfabetizados em leitores, o que não impede de exigir, um savoir-faire que não ensinou”.

Nessa perspectiva, a escola alfabetiza a criança, mas nem sempre disponibiliza meios que visem desenvolver o prazer de ler, contribuindo, assim, para a formação de leitores passivos, incapazes de fazer da leitura um hábito, pois, não conseguem entender os textos de forma correta, acomodando-se unicamente a ler quando obrigados.

Tendo em vista que a maioria da população brasileira não privilegia a prática da leitura, a formação de leitores passa, então, a ser uma das principais preocupações da instituição biblioteca, até porque, segundo Silva apud Yunes (1984, p.21) “...são cada vez menos procuradas e o espírito de análise crítica, menos exercitado”.

Além desse desinteresse pelos livros, tal situação é corroborada pelo número inexpressivo de bibliotecas no Brasil, o que tem agravado consideravelmente as ações referentes aos programas que visam a promoção de leitura nessa instituição.

Sobre o tema, aduz Martins (1995, p. 95) que “a inexistência de bibliotecas escolares e a carência de bibliotecas públicas muito têm contribuído para a crise da leitura no país.”

A questão referente à crise da leitura funda-se na fragilidade do sistema educacional brasileiro e de uma formação livresca defasada em relação a nossa realidade, tendente a reafirmar a supremacia social, política, econômica  e cultural. Além disso, percebe-se nas bibliotecas brasileiras, a falta de dinamização de suas atividades, tais como: serviço de caixa estante; hora do conto; concursos visando a leitura; e, também, uma grande preocupação com o fazer puramente técnico, que acaba por deixar de lado as produções culturais de interesse da coletividade.

Segundo Silva (1993, p. 72):

[...] não basta que a biblioteca execute somente as tarefas técnicas de difusão da informação, é necessário que ela exerça influência ativa e dinâmica no contexto envolvente, preocupando-se com a origem e necessidades dos usuários com a democratização do seu espaço, e com o planejamento de programas sócio-culturais[...]

Além da função técnica de classificar, catalogar e tombar livros, a biblioteca tem ainda como importância, disseminar o saber e promover a leitura através de atividades que devem estar voltadas para a dimensão social e cultural que a envolve.

A esse respeito Amato (1989, p.15) nos afirma que é necessário dar atenção ao seu suporte técnico-organização, métodos de tratamento do material, garantia de sua manutenção e continuidade. Além de incentivar a leitura, a biblioteca não pode descuidar da criação do hábito de freqüência voluntária, da pesquisa individual.

Observa-se o quanto é importante a presença do fazer técnico engajado ao trabalho intelectual nos espaços das bibliotecas, com a finalidade de que seja criado o hábito da freqüência de usuários nestas instituições. Destarte, as tarefas técnicas são necessárias para manter a biblioteca funcionando, assim como é necessário também, atividades de incentivo à leitura que podem ser consideradas “...a alma da biblioteca”, segundo Amato (1989, p.15).

Dessa forma, poderemos superar as dificuldades que enfrentam nossas bibliotecas, mudando assim, a visão que se tem da mesma como um espaço destinado apenas à pesquisa, onde o aluno faz cópias de livros a fim de obter melhores resultados nos trabalhos escolares.

Apesar dos alunos procurarem a biblioteca com a intenção de cumprir suas tarefas ou ler as obras que o professor indica, estes a fazem de maneira desinteressada; lêem mecanicamente, sem compreender o significado do texto. Dessa forma, cabe à biblioteca, através de ações criativas, procurar assumir uma postura que a leve rumo a transformações, desenvolvendo um espaço que ofereça ao leitor uma gama de opções de leitura e que lhe proporcione um contato agradável com os livros.

Para Martins (1995, p.95), “a biblioteca como espaço para formação do leitor se constitui, portanto, num espaço de ação educativa, de ação cultural, de ação social, de ação política e de convivência”.

Percebe-se, portanto, a biblioteca como espaço adequado à formação de leitores e que, ao proporcionar o livro ao usuário, incentiva e dissemina o gosto pela leitura através de atividades de animação cultural que devem atender às necessidades da criança. Além disso, o contato com os livros deveria começar desde cedo, antes mesmo da criança entrar para escola. Os primeiros contatos com o livro constituem requisitos fundamentais para a formação do bom  leitor, pois desperta a curiosidade e o gosto pela leitura, isto é, faz com que a criança adquira o gosto para procurar outras leituras e, até mesmo, criar e recriar outras histórias.

A biblioteca é o lugar por excelência para se testar os livros onde as crianças podem experimentar sem que a leitura seja imposta. Aos leitores propõem-se uma escolha ampla e gratuita sem intenções utilitárias ou estritamente pedagógicas.. (SANDRONI,1991,p.10).

Este condicionamento é marcado pelo uso limitado de livros pelas crianças na escola, que muitas das vezes são produzidos em séries, não havendo nenhuma conotação intelectual ou artística. A Biblioteca, portanto, deverá contornar este problema ao oferecer à criança uma escolha livre a fim de que se torne agradável para a mesma.

5        A LEITURA INFANTO-JUVENIL NA FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO.

Os educadores elegerem o livro de literatura como o preferido no incentivo à prática da leitura em face do mesmo apresentar características de uma atividade prazerosa. Isto se deve à relação mantida entre o leitor e o texto, onde sobrevem uma maior interação com as idéias do autor, possibilitando, dessa forma, ao leitor criar seu próprio texto a partir do que foi exposto pelo idealizador da obra.

Assim, o leitor passa a construir, ou não, uma realidade imaginária de acordo com suas vivências, à medida que consegue construir seu texto a partir da leitura da obra literária.

A literatura exerce, então, influência na construção da realidade do leitor, através do imaginário e da fantasia, que o leva a tomar consciência sobre si e sobre o mundo que o circunda, isto é, ela não só reflete a realidade como também contribui para sua transformação. Isso acontece porque a literatura é um ato de criação, sendo considerada, portanto, como linguagem artística de representação da realidade.

Sobre o tema, assevera Martins (1994, p. 22-23) que:

[...] a obra literária tem muitos recursos, que encantam e seduzem o leitor, pelo ritmo, imagens, figuras que recria, apontando para as coisas que estão no cotidiano mas não são vistas, levantando possibilidades, contrastando posições, sob a forma cativante da história, em que a vida desfila ante nossos olhos, nas aventuras e situações com que muitas vezes nos identificamos.

O autor cria uma outra realidade ao elaborar o texto literário, denominada realidade artística, através de uma dimensão simbólica que incita o leitor a refletir sobre o sentido daquele mascaramento da realidade. Além do mais, a recriação da realidade através da arte por meio de um poema, um romance, uma frase, pode trazer para o leitor uma espécie diferente de compreensão do mundo.

A literatura, compreendida como uma linguagem artística que cultiva os valores sociais, a subjetividade, a poesia, o lúdico e outros elementos, é um campo do conhecimento que possibilita o retrato da realidade social e cultural, seja como forma de resgatar valores, de protesto e denúncia de uma dada realidade seja como estado de fantasia[...] (MARTINS, 1997, p. 9)

Desse modo, a experiência com os livros de literatura devem começar desde cedo, possibilitando às crianças a formação e o incentivo do gosto pela leitura, de forma prazerosa, ao invés de um meio obrigatório, contribuindo assim para que as mesmas criem um hábito de ler.

A literatura, portanto, oferece a criança, além da oportunidade com o lúdico o despertar da atenção, do raciocínio, da criatividade e permite à criança um contato autêntico com a escrita, não se trata de textos para ensinar a ler. Há um significado e um comportamento com o prazer, ausentes nos textos das cartilhas. (VARLOTA, 1997, p.35)

O prazer proporcionado pelo livro de literatura se dá quando o autor cria uma boa história, que seduz o leitor, sobretudo pela reprodução de imagens e sua cadência musical, prazer este que pode ser comparado com uma boa canção ou peça de teatro, por exemplo.

Os livros de literatura infantil são os mais indicados porque inicia a criança no mundo da linguagem, das idéias, dos valores e dos sentimentos, fazendo parte de sua vida concreta.

A literatura infanto -  juvenil, portanto, pode ser uma aliada para a formação do leitor crítico e criativo que buscará as informações disponíveis nos meios escritos (jornais, revistas e livros), fazendo uma relação do que foi lido com a realidade vivenciada por ele, e consequentemente a reconstrução de um novo texto, bem como, ajudará na formação e aperfeiçoamento da escrita e da oralidade.

6.1 Contextualização histórica

O desenvolvimento da literatura infantil tem suas linhas iniciais no período moderno, sendo que seu surgimento, consequentemente, pode ser considerado recente na história da humanidade e, quanto às suas características originais, é importante frisar que esteve inicialmente ligada à pedagogia, cuja preocupação fundava-se apenas em buscar um método de ensino que permitisse aos mestres transmitir os segredos da língua escrita aos seus alunos.

Segundo MARTINS (1995, p.95). “A literatura infantil e juvenil, de origem relativamente recente, surgiu como instrumento pedagogizante e moralizador que visava transmitir às crianças os valores e imposição do mundo adulto”.

Em virtude do seu caráter pedagógico, a literatura para crianças foi marcada inicialmente por valores do mundo adulto, evidenciando-se através das fábulas, que tinham sua base no caráter moralizante das histórias, que eram narradas de forma curta, em verso ou prosa,. sendo bastante difundidas por La Fontaine que contribuiu para o aspecto pedagógico com sua obra ‘fábulas escolhidas’ e por Esopo, seu antecessor, autor de aproximadamente 359 fábulas, como a “A cigarra e a formiga”, muitas vezes reeditadas, que lhe renderam o título de ‘Pai da Fábula’.

Outrora, haviam muitos livros voltados para os adultos e, nenhum, especificamente destinado ao público infantil, todavia, com o passar do tempo estas obras passaram a ser conhecidas e apreciadas pelas crianças, mormente os contos de fada, onde se destacam “Chapeuzinho Vermelho”, “Branca de Neve e os sete anões”, A bela adormecida, “A gata borralheira”, “As botas de sete léguas”, “Cinderela” e “Rapunzel. Essa grande aceitação dos contos de fada contribuíram para impor o predomínio do lúdico sobre o instrutivo e para a definição de um gênero voltado especificamente para as crianças.

No decorrer da história, vários autores de obras literárias infantis galgaram destaque, entre eles, podem ser citados Andersen, Lewis Carrol, Carlo Collodi, Edmond De Amicis, Mark Twaim, todavia, Perrault e os irmãos Grim, que tiveram seus contos adaptados várias vezes para a literatura infantil, podem ser considerados os primeiros, já que fazem parte da gênese do gênero literário infantil.

A literatura infantil no Brasil foi influenciada pela cultura pertencente aos intimamente ligados à história da formação do país, assim, os europeus, os africanos e os indígenas contribuíram, através da miscigenação de idéias, para a concretização da cultura brasileira que foi difundida através da literatura infantil no Brasil Colônia, estendendo-se até os tempos atuais.

Entretanto, foi com o escritor Monteiro Lobato, que sempre procurou valorizar em seus livros a inteligência infantil, buscando escrever histórias condizentes com a realidade, que a literatura infantil ampliou seu espaço, concretizando-se. Assim, suas obras apresentavam como característica fundamental o elo entre a literatura infantil e as questões sociais vividas no país, como “O Sítio do Pica Pau Amarelo” por exemplo.

Monteiro Lobato cria, entre nós uma estética da literatura infantil, sua obra constituindo-se no grande padrão do texto literário destinado à criança. Sua obra estimula o leitor a ver a realidade através de conceitos próprios. Apresenta  uma interpretação da realidade nacional nos seus aspectos social, econômico, cultural, mas deixa, sempre, espaço para a interlocução com o destinatário. (CARDERMATORI, 1994, p. 51)

Muitos outros autores destacaram-se  na literatura infantil pátria, dentre eles podem ser citados: Manoel Bandeira, Antônio de Pádua Morse, Cecília Meireles, Érico Veríssimo, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Carlos Drumond de Andrade e outros. Todavia, a partir da década de 70, o aspecto pedagogizante que era atribuído à literatura infantil, nas escolas, passou a ser rebatido no Brasil.

Assim, vários outros autores passaram a se destacar no cenário literário nacional, porém, cada um com estilo próprio, como  Lígia Bojunga Nunes, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Orígenes Lessa, Ziraldo, Vânder Piroli, Silvia Orthof, Mary  França, Joel Rufino, que muito têm contribuído para o engrandecimento do gênero.

A realidade da literatura infantil maranhense desenvolveu-se com as obras de Viriato Corrêa e Paulo Barreto, destacando-se o escritor Josué Montello e outros, como, Jorge Muce, Nascimento de Moraes Filho, Suely Moura de Oliveira, Ribamar Fonseca e Wilson Marques.

Passando-se à analise da literatura juvenil, constata-se que seu início coincide com a publicação de livros voltados para o público juvenil a partir de meados do Século XIX, destacando-se, universalmente, os seguintes escritores: Walter Scott, Alexandre Dunas, Júlio Verne, Johan David Wyes e outros.

A história da literatura juvenil passou por três marcos importantes. O primeiro deles refere-se aos anos 70, onde surgiram os livros de aventura, que  eram marcadas por muita ação e quase nenhuma mensagem, destarte, é importante enfatizar que, antes desse marco, eram poucas as obras literárias voltadas para os jovens, sendo as principais, escritas por Monteiro Lobato.

Em seguida, o escritor Marcos Rey introduziu novos elementos nas histórias, a partir dos anos 80, dando uma nova roupagem a este gênero literário, contudo, o desenvolvimento de tais obras só ocorreu 1992, uma vez que os autores passaram a investir mais nos livros em detrimento da maior utilização dos mesmos nas escolas, que passaram a adotá-los em todas as séries.

Dessa forma, a literatura infantil e juvenil destaca-se perante as demais por, além de representar um meio eficiente ao aprendizado do ato de ler, possibilita aos leitores um momento de entretenimento, razão pela qual o gosto pela leitura é efetivamente trabalhado, uma vez que as crianças e jovens mergulham na história, despertando emoções e sentimentos, aguçando a criatividade, enfim, possibilitando uma maior interação, motivo pelo qual, defende-se a idéia de que esse tipo de leitura deve fazer parte do cotidiano das crianças e jovens, não apenas nas escolas, mas em toda sua vida.

 8                    CONCLUSÃO

O presente artigo, intitulado A leitura infanto-juvenil na formação do leitor e cidadão crítico. na perspectiva da leitura-prazer, visa garantir a formação de um leitor crítico e de um escritor eficiente.

Entretanto, ao se vivenciar a realidade da sobredita escola, percebe-se uma grande confusão em relação à questão dos limites da competência e responsabilidades referentes à promoção da leitura por parte da família, escola e biblioteca, o que, ao persistir de forma generalizada, fará com que a situação da leitura no Brasil permaneça a mesma, isto é, marginalizadora e discriminatória.

Visando superar esse momento de crise da leitura em nosso país, espera-se que essas instituições trabalhem de forma integrada, objetivando mitigar a leitura enquanto obrigação ao passo que se expanda a leitura de uma forma prazerosa, que deverá fluir naturalmente entre as crianças.

Nessa perspectiva, a família, a escola e a biblioteca terão um papel importante no desenvolvimento sócio-político-cultural do indivíduo. Em relação à família, acredita-se que o primeiro passo para uma alfabetização eficaz é procurar colocar a criança em contato com os livros, despertando seu interesse pelos mesmos. Os pais podem fazer isso, fornecendo livros simples e ilustrados para seus filhos, dando oportunidade para a própria criança folheá-los, lendo para elas histórias interessantes, divertidas, numa linguagem de fácil compreensão.

As discussões familiares sobre as histórias lidas surgem como outro fator estimulante do interesse da criança pela leitura, bem como, o fato das mesmas observarem que seus pais gostam de ler, tendo isto, então, como exemplo a ser seguido. São estes tipos de atitudes por partes dos pais que irão formar na criança a base do interesse em aprender a ler e a gostar dos livros.

A respeito da escola, a mesma deve dar continuidade ao trabalho iniciado pela família, através da figura do professor que oportunizará o envolvimento entre os alunos e os livros de literatura em vez de lhes impor, de imediato, o uso tradicional da cartilha. Uma forma criativa do professor ampliar o horizonte de conhecimento das crianças é contar-lhes histórias, discutir experiências, oferecer-lhes oportunidades para se expressarem oralmente, transformado o livro no forte atrativo para seus alunos, que lhes proporcionará tantos encantos e entretenimentos, quanto seus brinquedos e jogos.

Enquanto instituição responsável pela leitura, a biblioteca tem, além  da função de catalogar, tombar e controlar a data da entrega dos livros emprestados, a importância como incentivadora da prática do ato de ler. Para tanto, se faz  necessário e inevitável a utilização de diretrizes teóricas da pedagogia nos projetos ou programas referentes à promoção da leitura no espaço das bibliotecas brasileiras. Por conseguinte, essas ações devem acontecer eminentemente de forma criativa e transformadora, propiciando à criança: a) o acesso a um acervo variado com obras de literaturas, jornais e revistas; b) a exposição de livros, como por exemplo, “A Semana do Livro”; c) a participação na “Hora do Conto”, cujo objetivo é a familiarização da criança com o livro de literatura.

Pode-se inferir, diante de tais evidências, que a ausência de profissionais do tipo coordenador pedagógico, psicólogo, bibliotecário e assistente social; a inexistência de biblioteca escolar; a utilização do livro didático (cartilha) como único recurso para o ensino da leitura tem dificultado o trabalho pedagógico com crianças e jovens nas escolas.

A superação de tais obstáculos é possível à medida que os professores romperam com o uso da cartilha em sala de aula, superando, assim, um paradigma fragmentado da língua, que restringe a criatividade e o raciocínio dos alunos nas séries iniciais, substituindo-a por uma diversidade de recursos, tais como: jornais, revistas, receitas, encartes de ofertas e principalmente os livros de literatura.

Acredita-se que esta metodologia de trabalho, onde é dado à criança a oportunidade de conhecer materiais diversos, torna o ato de ler uma experiência gratificante, cheia de emoções e não uma rotineira tarefa escolar.

Dessa forma, a leitura será um processo de fluição natural, permitindo que professores e alunos se juntem numa atividade criativa, que desenvolve o senso crítico. E nesse desenvolvimento há um esforço de desalienação do leitor, possibilitando-lhe acercar-se do real e liberta-se de forma estereotipadas de ver o mundo.

Essa fluição natural só acontecerá quando os pais, professores e bibliotecários trabalharem de forma integrada, desenvolvendo atividades que estimulem na criança o gosto pela leitura; atividades como participação na feira de livros, estimulando a criança a freqüentar a biblioteca, visitar livrarias ou simplesmente deixar ao seu alcance o maior número possível de livros de literatura.

REFERÊNCIAS

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CADEMATORI, Lígia. O que é literatura infantil. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 84p. (Coleção primeiros passos)

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