As empresas de tecnologia da informação procuram desesperadamente profissionais que atendam suas necessidades e preencham suas vagas.      Pesquisa realizada nesse início de segundo semestre de 2010, entre empresas desse setor, dá conta que 86% delas procuram programadores, 50% estão contratando analistas de sistemas e 34% querem inserir novos profissionais de suporte técnico (helpdesk) em seus quadros.     Ainda analisando números a Fundação Getúlio Vargas estima que até 2020 haverá um déficit de 200mil profissionais para cobrir todas as vagas abertas do mercado de TI e, para reforçar essa expectativa, o IDC prevê, apenas para esse semestre, um crescimento de 22% no faturamento das empresas do setor.

A ausência de pessoas capacitadas para suprir essa demanda dá-se pela defasagem tecnológica dos profissionais em relação às necessidades do mercado e pelo desinteresse do jovem, que possui condições de se preparar para o mercado de trabalho, em ingressar nesse setor, preferindo os chamados mercados clássicos, utilizando o aprendizado tecnológico apenas para descobrir ferramentas de apoio ou para o lazer.

Na outra ponta dessa realidade empregatícia estão os milhares de jovens egressos de escolas públicas precárias, moradores de comunidades carentes, com pouca ou nenhuma estrutura que lhes permitam competir por uma vaga que propicie alguma perspectiva de crescimento profissional e melhoria na qualidade de vida.

Em um breve exercício de imaginação, ou “brainstorming” como preferem os profissionais do ramo, cruza-se esses dois cenários e obtém-se uma fórmula mágica que terá como resultados a solução para boa parte da carência do setor de TI e o realinhamento social de diversas famílias e comunidades.     Mas como?

O mercado de Tecnologia da Informação se recente de profissionais alinhados com as suas necessidades e qualificações que já foram mapeadas e são recorrentemente debatidas e apontadas.    O jovem carente se recente de oportunidade e capacitação adequada e compatível, oferecidas dentro de suas próprias comunidades, gratuitamente, por instituições dispostas a apostar no seu empenho e ampará-lo na aquisição da primeira conquista profissional.

Pode-se argumentar que as ETECs, o sistema “S” (SENAI, SESI, SENAC, etc.) e outras instituições públicas, em tese, oferecem essa possibilidade mas, ao olharmos de forma bem realista, apenas os jovens com alguma estrutura educacional anterior e, não raro, provenientes de escolas particulares, conseguem essas tão sonhadas vagas, pois estão preparados para enfrentarem os sistemas de “filtragem” promovidos pelos vestibulinhos, mantendo o jovem carente a margem dessas oportunidades.

Proponho continuarmos o “brainstorming” analisando o aproveitamento dos diversos programas sociais existentes que se dedicam na formação de musicistas que tocam tambores de latão, capoeiristas, esportistas e artistas circenses dentre outras coisas.  Elas também são dignas de reverência, pois promove a cidadania, a consciência e o respeito nesses jovens, porém, não oferecem oportunidades reais de um futuro mais digno, afinal, quantas vagas de trabalho para artistas circenses ou capoeiristas estão disponíveis hoje no mercado?

A idéia de aproveitar as ações sociais para formar profissionais cidadãos não é nova e, felizmente, muitas instituições já direcionam seus recursos nesse sentido, promovendo o nascimento profissional e a consciência cidadã, porém, a grande maioria se restringe a apenas retirar o jovem da rua.  

Para não ficarmos apenas na critica e no estímulo a imaginação, propomos uma solução cuja receita é bastante simples, nos moldes do projeto “me torno cidadão” (www.metornocidadao.com.br).     Basta vontade já que o investimento inicial é pequeno, (uma sala e alguns computadores) e a mão de obra para transferir o conhecimento necessário se obtém facilmente através do voluntariado e, com um pouco de empenho, consegue-se o apoio financeiro e humano junto às próprias empresas de tecnologia, que são as principais interessadas.  Ao juntarmos tudo teremos um ótimo projeto social e profissional que pode ser constituído de 2 etapas.

Na primeira encontra-se o aprendizado, tanto teórico quanto prático, onde o candidato a “novo profissional” terá contato com a tecnologia e receberá o conhecimento adequado para se comunicar, trabalhar em equipe, respeitar cronogramas, manter a postura profissional e o comportamento social, além de criar e empreender.

Na segunda etapa o “novo profissional”, será oferecido ao mercado de trabalho através de um dos diversos programas de empregabilidade oferecidos pelos governos federal, estadual e municipal ou ainda através de parcerias estabelecidas entre a instituição e as empresas.

Enquanto aguardam sua chance poderão aproveitar a estrutura da instituição para criar uma cooperativa que ofereça serviços a própria comunidade, favorecendo o “mercadinho da esquina”, a “padaria do seu Zé”, a “loja da Mariana”, enfim, todos aqueles que necessitam, mas não possuem condições, de informatizarem seus negócios.

Para tornar esse projeto ainda mais interessante, parte da receita obtida com a comercialização dos serviços será revertida ao projeto, tornando-o auto-sustentável enquanto a outra parte será rateada entre os seus membros, proporcionando uma renda aos “novos profissionais”.     Além da receita, esses membros adquirirão experiência profissional, tornando-os mais atrativos ao mercado formal.

Os céticos podem argumentar que sem uma boa base educacional, proveniente dos anos vividos na escola fundamental e média, o jovem carente não tem condições de atingir níveis exigidos pelo mercado, porém, ignoram que esses mesmos jovens se submetem a qualquer trabalho, inclusive sub-empregos, para garantir a manutenção de suas famílias, demonstrando vontade, coragem e interesse e esses são os ingredientes necessários para se criar um bom profissional, bastando apenas adicionar uma pequena dose de oportunidade..

Como vemos a idéia é simples, aplicável e expansível a outros setores carentes de profissionais.     A questão financeira para se montar a estrutura e até para se contratar profissionais é facilmente solucionável, basta aproveitar melhor a verba disponibilizada às ONGs e Fundações pelo governo federal, pela iniciativa privada, ou obtida através das mega-campanhas.

Como cidadão e como profissional de TI há mais de 20 anos é impossível me manter impassível frente a essas duas questões antagônicas.    Jamais a demanda por profissionais foi tão grande, assim como jamais o jovem carente foi mantido tão a margem das oportunidades como hoje, então, por que não haver uma convergência e assim promover a inclusão desse jovem e a diminuição do distanciamento social?