Nome do(s) aluno(s):  Alminda Gonçalves Sabino

                                   Lucia Elizabete de Lima Maier

 

Estado: Rio grande do Sul                Município: São Francisco Assis

Tema: Ludicidade

Título: A Importância do Lúdico no Trabalho com a Pré-escola e Séries Iniciais

Autores: Alminda Gonçalves Sabino e Lucia Elizabete de Lima Maier

 

 

 

RESUMO

 

 

            O presente artigo trata da questão do lúdico, procurando mostrar como a união entre ludicidade e educação pode trazer relevantes contribuições na construção do saber da criança e que, ao trabalhar ludicamente, não se está abandonando a seriedade e a importância dos conteúdos a serem apresentados. As atividades lúdicas são indispensáveis para o desenvolvimento sadio do educando e para a apreensão dos conhecimentos, pois possibilitam o desenvolvimento dos sentimentos, percepção, imaginação e fantasia. É necessário uma articulação entre as práticas do currículo formal e o brincar, transformando e aprimorando a qualidade da educação nas instituições escolares.

 

 

 

            Palavras-chave:

            Criança-ludicidade-educação

 

 

           

            1-Realidade Escolar

 

            O paradigma da abordagem lúdica na educação, como um meio de tornar este processo prazeroso, ainda não é totalmente concebível para a sociedade em geral e também para muitos professores. Esta questão perpassa pela cultura que está arraigada em nossas mentes, pois ainda se atribui à educação e ao lúdico espaços diferentes e muito bem definidos.

            O trabalho lúdico na escola também enfrenta a resistência dos pais, que ainda não compreenderam a importância de uma educação diferenciada, de qualidade, que atraia a criança para a escola, proporcionando prazer no desenvolvimento das atividades, uma vez que a maioria dos pais ainda está atrelada aos aspectos cognitivos da aprendizagem e acabam taxando qualquer iniciativa dos professores, nesse sentido, de perda de tempo.    

            O lúdico, apesar de propiciar prazer ao indivíduo, foi banido da dimensão educacional, cedendo lugar a uma prática pedagógica centrada somente nos conteúdos, sendo que são poucas as escolas que incentivam, apóiam e contribuem para o desenvolvimento desse tipo de trabalho em sala de aula.  E como afirma Rubem Alves: “Muitas escolas  não passam de jacarés. Devoram as crianças em nome do vigor, do ensino apertado, da boa base, do preparo para o vestibular. É com essa propaganda que elas convencem os pais e cobram mais caro... Mas e a infância? E o dia que não se repetirá nunca mais?” (Rubem Alves)

             Vários professores tornam-se reticentes no que diz respeito ao lúdico na sala de aula. Alguns o encaram como um recurso pedagógico a mais, cuja finalidade é ser usado no desenvolvimento das aulas. Outros, porém, tentam realizar atividades lúdicas e acabam esbarrando na agitação, no barulho e na aparente desordem, que concorrem para dissuadir o professor, mas é preciso renunciar ao controle onipresente da turma e manter a confiança no potencial pedagógico do jogo, pois de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil,

 

“(...) um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que vários elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento não podem ser entendidos como dispersão ou desordem, mas sim como uma manifestação natural da criança.” (vol.3, p.19).

 

            Defender uma prática pedagógica, centrada no brincar, traz mudanças significativas no processo ensino-aprendizagem, transformando a escola num espaço integrador, dinâmico, onde não se prioriza somente o cognitivo, mas contempla uma educação de qualidade, buscando o desenvolvimento pleno do aluno. 

            O trabalho nesse sentido é um modo diferenciado de ensinar e aprender, sendo mais compatível com a própria essência da vida, estando mais próximo do mundo infantil e consequentemente tornando-se mais atrativo e prazeroso, valorizando todas as dimensões humanas do educando em sala de aula.  

 

 

            2 - A Criança, o Lúdico e a Educação

           

            O brincar é uma atividade natural da criança. É através da brincadeira que este pequeno ser vai satisfazendo grande parte de seus desejos e interesses particulares. Também é aí que a criança libera as energias, expande a criatividade, a imaginação, aprende a respeitar regras e a conviver com os outros.

            É brincando que a criança faz uma relação entre o seu mundo de fantasia com o mundo real e, a partir disso, vai assimilando novos conhecimentos. Consequentemente, aprendendo e adaptando-se ao mundo em que vive. 

            Nesse sentido o desenvolvimento de atividades lúdicas com a criança é indispensável e de suma importância, como podemos constatar com o pensamento de Pagani (2003): “Toda a criança brinca porque gosta. Para as que ainda não falam, brincar é uma forma de expressar o que estão sentindo, suas experiências e vivências anteriores. Brincar, para a criança, é tão vital quanto comer e dormir.”

            Ao brincar, a criança demonstra satisfação, prazer, alegria. Durante as brincadeiras, elas revelam atração pelo objetivo das atividades, para o seu prosseguimento com atenção, sendo incansáveis na sua realização. Estes aspectos são o que a educação formal mais se esforça para conseguir, mas, infelizmente, as brincadeiras e jogos são pouco encontrados nas atividades escolares, principalmente naquelas que exigem maior concentração e atenção, assim como afirma Piaget,

(...) o jogo é um caso típico de condutas negligenciadas pela escola tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de significado funcional. Para a pedagogia corrente, é apenas um descanso ou o desgaste de um excedente de energia. Mas esta visão simplista não explica nem a importância que as crianças atribuem aos seus jogos "(...) A criança que joga desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus instintos sociais etc.”. Piaget (1975)

                Outro aspecto que está presente na vida de todas as crianças, que é muito pouco explorado em sala de aula, é a dança como expressão cultural e social, a qual, na maioria das vezes, restringe-se a apresentações em datas comemorativas com coreografias, tendo geralmente a participação somente de um grupo de meninas.  A dança deve ser uma atividade para ambos os sexos, pois explora diversos movimentos, envolvendo várias atividades motoras e desenvolvendo a sensibilidade, bem como o ritmo, e, com isso, contribuindo para o desenvolvimento integral do educando.

            Ao falarmos da dança, não podemos esquecer do trabalho com a música, uma vez que estas duas atividades estão interligadas e ambas contribuem para o desenvolvimento integrado da mente e do corpo, facilitando a aprendizagem e o desenvolvimento motor. Também, nesse sentido, devemos lembrar os oito tipos de inteligências de Gardner, onde consta a inteligência musical, como uma das primeiras inteligências humanas demonstrada na vida social, bem como a inteligência espaço-temporal que pode ser muito bem trabalhada através da dança.

            Outra forma importantíssima de se trabalhar o lúdico em sala de aula é através da realização de atividades envolvendo expressão dramática. Com esse tipo de trabalho, a criança desenvolve o poder imaginativo, explora a expressão corporal, fazendo com que ela crie e recrie constantemente o seu universo, traçando relações entre a realidade e a fantasia. É a oportunidade da criança, vivenciar diferentes papéis, ampliando sua imaginação e criatividade de modo prazeroso e alegre.

           

            3 - O Papel do Professor

            Como vimos, os jogos, brincadeiras e outras atividades lúdicas são indispensáveis em sala de aula e muito podem contribuir para o desenvolvimento da criança, bem como para a fixação dos conteúdos propostos, mas qual seria o papel do professor, uma vez que o brincar é algo inato ao indivíduo, que qualquer criança faz, sem precisar de alguém que lhe ensine?

            Assim, em primeiro lugar, o professor deve ter a consciência da importância do desenvolvimento de atividades lúdicas em sala de aula e conhecimento da importância das mesmas no desenvolvimento infantil.

            Posteriormente, espera-se que o professor possibilite este tipo de atividade em aula, assumindo uma função de orientador, intervindo para conduzir o pensamento do aluno em direção ao objetivo proposto e criando situações apropriadas para a efetivação da aprendizagem, isto é, espera-se que o professor insira o brincar em atividades educativas, o que supõe intencionalidade, ou seja, ter objetivos e consciência da importância da atividade proposta e da sua ação, para a concretização da aprendizagem, pois:

“A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros, bem como a sistematização de conceitos em outras situações que não os jogos. Ao utilizar, de modo metafórico, a forma lúdica (objeto suporte da brincadeira) para estimular a construção do conhecimento, o brinquedo educativo conquistou um espaço definitivo na educação infantil.” (Kishimoto 1996).

 

            Outro aspecto importante é que o professor sinta-se parte do grupo e que não seja uma mera figura decorativa durante a realização das atividades, mas que faça parte do grupo e brinque com seus alunos, assumindo uma postura diferenciada daquela que é normalmente associada ao ensino, pois, nessas atividades, é importante que os papéis em sala de aula não tenham aquela rigidez e estereotipia, onde o professor pode ensinar e aprender e os alunos possam ensinar além de aprender.

            O professor deve ter consciência da importância de seu trabalho na vida do educando e que, apesar de não receber o apoio necessário, trabalhar, muitas vezes, em situações precárias, recebendo baixos salários, entre tantos outros percalços por que passa a carreira do professor, a criança que está ali na sua frente é a esperança de um mundo melhor.

“Na instituição de educação infantil o professor constitui-se, portanto, no parceiro mais experiente por excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório, de experiências educativas e sociais variadas.” (BRASIL 1998).

            Durante a realização dos estágios que o presente curso nos proporcionou, podemos constatar, na prática, como o lúdico está ausente das salas de aula, sendo que o trabalho está se tornando cada vez mais cansativo e distante da realidade dos educandos. Consequentemente existem crianças desestimuladas em ir para a escola, pois sabem que lá não encontrarão a alegria, entusiasmo, desafio e encantamento que têm em outros locais, como cyber, internet, jogos eletrônicos e até numa simples brincadeira de bonecas, casinha, futebol, entre tantos outros jogos e brincadeiras de fácil acesso nos dias atuais.

            As escolas e professores devem ter consciência que o tipo de trabalho que vem sendo realizado e os métodos usados estão ultrapassados, não mais atingindo o motivo principal da existência da escola, que é o aluno. Para isso, é necessário mudanças na forma de realização do trabalho em sala de aula, bem como na sensibilidade do professor de reconhecer que necessita de capacitação e reformulação de sua proposta pedagógica. Esse objetivo poderia ser alcançado através de uma formação continuada dos professores, com trocas de experiências vivenciadas, participação em cursos, seminários, palestras, bem como a busca de conhecimentos nos diversos meios que estão ao alcance de todos .      

            Enfim, a implantação de uma proposta lúdica em sala de aula é um trabalho árduo e exige muita dedicação e empenho do professor, bem como apoio das instituições escolares. Isso não é algo impossível de se realizar e exige mudanças consideráveis na prática pedagógica, mas nossos alunos estão sedentos e pedindo um trabalho de qualidade, que os atraia para a escola e lhes dê prazer em aprender. Essa seria a recompensa imensurável que qualquer professor gostaria de conquistar. 

 

 

 

 

 Referências Bibliográficas

 

ALVES, Rubem. Estórias de quem Gosta de Ensinar: O Fim dos Vestibulares. 9 ed.  São Paulo: papirus,2000.

BRASIL (1998) Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 3 vols.

PAGANI, T.S.(2003). “A entrada de uma criança na escola”. Folha de São Paulo (Caderno Folha Equilíbrio), 12/6, p.12.

PIAGET, J.(1974). “Aprendizagem e Conhecimento”. In: CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida e LUCENA Regina Ferreira de. Jogos e Brincadeiras na Educação Infantil – Campinhas, SP:Papirus, 2004.

SILVA, Daniel Vieira da e HAETINGER, Max Gunther. Ludicidade e Psicomotricidade – Curitiba:IESDE. Brasil S.A, 2007. 

KISHIMOTO, T.M (1996) “O jogo e a educação infantil”. In: CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida e LUCENA, Regina Ferreira de. Jogos e Brincadeiras na Educação Infantil – Campinas, SP: Papirus, 2004.