PENSAMENTO E LINGUAGEM

A mediação por sistemas simbólicos contribui para o pensamento e linguagem da criança.

Para Vygotsky uma das principais funções é o intercambio social, pois a criança ficando junto aos seus semelhantes e se comunicando, ela utiliza os sistemas de linguagem. É o que acontecem com os bebês, não sabem falar, mas se comunicam os seus desejos e suas emoções através de expressões.

Para que outros indivíduos se comuniquem satisfatoriamente não basta que a linguagem se manifeste por “desconfortos” ou “prazer”, como ocorre nos bebês, mas sim a utilização de signos, que são compreensivos por outras pessoas e que traga idéia, sentimentos, vontades e pensamentos precisos.

Como cada individuo vive o seu modo de vida diferentes de outras pessoas e particular, o que é vivido precisa ser traduzido em signos, que possam ser transmitidos a outros.

Como exemplo, em um grupo a palavra cachorro, tem significados precisos pelas crianças, pelos usuários da língua portuguesa. Independentemente várias raças de cachorros, para as crianças pertencem ao signo cachorro, chamamos isso de pensamento generalizante. A linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos e categoria.

Ao saber o que é um cachorro, a criança diferencia elementos de outras categorias, como exemplo se ela vir uma mesa ela saberá que aquilo não é um cachorro, vai saber classificar.

O pensamento e a linguagem têm origens diferentes e se desenvolvem uma independente da outra.

Para Vygotsky consideram-se dois processos:

A fase pré-verbal do desenvolvimento e linguagem

A fase pré-intelectual do desenvolvimento da linguagem.

Na fase pré-verbal, onde existe a inteligência prática, que independe da linguagem para solucionar problemas. Como também existe forma de pensamento pré-verbal, através de expressões faciais, que tem a função de alivio, emocional, ex um bebê, utiliza várias expressões para obter o que ele almeja. Essa linguagem dispensa a função do signo.

A trajetória do pensamento desvinculada da linguagem e a trajetória da linguagem independem do pensamento.

No desenvolvimento filogenético, essas duas trajetórias se unem e o pensamento se torna verbal e a linguagem racional.

Precisamos dessa trajetória devido à necessidade do individuo durante o trabalho humano.

No trabalho precisamos de instrumentos para a transformação da natureza e do planejamento, ação coletiva e a comunicação social.

Para agirmos cada vez melhor, devemos criar um sistema de comunicação que nos permitam troca de informação especificas e significados compartilhados pelos indivíduos no projeto coletivo.

É o que acontece com as crianças com algum déficit cognitivo com a relação mãe-filho.

Entretanto com o surgimento do pensamento verbal e linguagem como sistemas de signos é um fato importante para o desenvolvimento humano, biológico que se transforma no sócio-historico.

Na evolução do individuo, observando desde o seu nascimento, temos um processo semelhante aquele descrito para a historia da espécie.

Antes do pensamento e a linguagem se juntarem, se associarem, existe na criança pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem.

Antes da linguagem a criança tem capacidade de resolver problemas práticos e usar mediadores para atingir, conseguir o que ela deseja.

Por exemplo, ela sobe na cadeira para pegar determinado brinquedo, ou utiliza diferentes formas para atingir o que ela realmente almeja.

Semelhante ao Chimpanzé, a criança pré-verbal, usa a inteligência pré-verbal, usa a inteligência pratica sem o uso da linguagem.

Nessa fase, enquanto não domina a linguagem, ela se utiliza de outros métodos para se comunicar, seja pelo choro, pelo riso, que servem para o contato social com comunicação difusa com outras pessoas.

Por volta dos dois anos de idade o percurso do pensamento encontra-se com o da linguagem e inicia uma forma de funcionamento psicológico: a fala torna-se intelectual, com função simbólica, generalizante e o pensamento torna-se verbal, mediado por significados dados pela linguagem.

No desenvolvimento filogenético foi necessário do intercambio dos indivíduos durante o trabalho, que impulsionou a vinculação de pensamento e linguagem.

Na ontogênese esse impulso é pela inserção da criança no meio social/cultural.

A interação com pessoas maduras e que tenham linguagem e culturas estruturadas é que vai provocar o salto qualitativo para o pensamento verbal.

Quando os processos de pensamentos e linguagens se unem, o ser humano tem um funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelo sistema simbólico de linguagem.

Para Vygotsky, o surgimento desse processo não elimina a presença da linguagem sem pensamento e nem do pensamento sem linguagem (inteligência pratica).

Quando o pensamento torna-se verbal, onde os processos mentais superiores interessam, para compreensão do funcionamento do homem enquanto ser sócio-histórico.

Na analise de Vygotsky que fez entre o pensamento e linguagem, o significado ocupa o lugar central.

Ou seja, o significado é importante, pois com ele, existe uma generalização.

Isso resulta que o significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal.

Como por exemplo, a generalização está organizando o mundo real de forma de que alguns objetos (ex sapatos), esse significado se aplica a outros. Saberei distinguir o que pertence aquele objeto.

É o que ocorre entre o intercambio social e o pensamento generalizante.

O significado proporciona a mediação simbólica entre o individuo e o mundo real, constituindo um filtro, através da qual o individuo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele, não só isso, o significado de uma palavra representa uma amalgama entre pensamento e linguagem, que fica difícil saber com precisão se é fenômeno da fala ou do pensamento.

Uma palavra sem significado é um som vazio, pois o significado é o critério da fala, que poderia ser visto como fenômeno da fala. Mas pela psicologia, o significado da fala é generalizante ou um conceito e como esses são inegavelmente atos de pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno do pensamento.

Os significados estão em constantes transformações, nasce para designar conceitos e vai sofrendo modificações, acréscimo.

Um exemplo da língua russa, mencionada por Vygotsky é apropriada para explicar o que eu relatei anteriormente.

A palavra sutki significa dia e noite (24 horas). Mas essa palavra originalmente significava costura, junção de duas peças de roupa e depois passou a designar um canto, uma esquina.

Na nossa língua temos como exemplo a palavra Mancebo, que significava escravo, mas pelo fato de referirem a moço, jovem, forte. Depois começamos a usar essa palavra Mancebo para designar “cabide onde se penduram roupas e chapéus”.

Como ocorre a transformação das palavras, dos significados, isso também ocorre no processo de aquisição da linguagem para a criança. As generalizações mudam ao longo do desenvolvimento.

Na aquisição de um novo conceito aprendido, ex a palavra lua, qualquer objeto semelhante com focos de luz, para a criança pode significar uma lua.

Ao descobrirem os significados a criança aplica no seu universo de conhecimento, vida real e experiências.

E estando junto a um adulto a criança vai ajustando seus conceitos e significados do grupo cultural e lingüístico da qual faz parte.

Essa transformação de significados ocorre quando a criança esta adquirindo a linguagem, tanto no seu vocabulário e conhecimento real em qual a criança vive.

Esse processo da transformação de significados na aquisição da linguagem ocorre sobre o mundo concreto e a experiência pessoal de cada criança.

Os significados ocorrem desde a fase de transformação da linguagem até quando se inicia a fase do processo escolar. Então entra o conceito mediação do professor na estrutura dos significados.

As transformações de significados ocorrem também a partir de definições, referencias e ordenações de diferentes sistemas de conceitos mediados pelo conhecimento consolidado pela cultura e não apenas a partir de experiências vividas.

Como a criança ao longo do processo já sabe, já aprendeu a distinguir a lua da luz do abajur, vai aprender também que a lua é um satélite e que também é diferente de outros astros, o sol, as estrelas, planetas, etc.

Agora sim, o significado é um conceito estabelecido pela cultura.

No aprendizado escolar é o saber nas diferentes disciplinas cientificas.

Vygotsky distingue:

O significado da palavra: o significado propriamente dito, ou seja, relações objetivas que se formou no processo do desenvolvimento da palavra, compreensão da palavra compartilhada por todos.

O sentido: significado da palavra para cada indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto e as vivencias afetivas de cada indivíduo.

Podemos simplificar o que foi descrito:

A palavra “carro” , para alguns tem diferentes significados quando lembram, podemos escrever como veículo de quatro rodas, instrumento de trabalho para taxista, lazer para adolescente que gosta de dirigir e para o pedestre que foi atropelado pelo carro, traz lembranças do sofrimento e do ocorrido.

Ou seja, o sentido da palavra liga ao seu significado objetivo no contexto de uso da língua e seus motivos afetivos e pessoais de seus usuários.

 

O discurso e a fala egocêntrica

 

É função generalizante da linguagem que se torna um instrumento para o pensamento.

Sem linguagem o ser humano não pensaria de forma generalizante e abstrata.

Mas o uso da linguagem como instrumento de pensamento, não serve apenas para falar com outras pessoas, o individuo desenvolve o “discurso interior” que é uma linguagem dirigida para o seu próprio “eu”.

É um discurso sem vocalização voltada para o pensamento, com objetivo de auxiliar o individuo nas suas operações psicológicas.

Como exemplo temos, para chegarmos a determinado local, a pessoa não fala alto, mas realiza o discurso interior, raciocínia, pensa em qual melhor percurso a fazer.

No dialogo interior para um percurso de carro, o formato seria, exemplo direira-Brasil-Obelisco-Domingos e não a fala completa, como eu vou entrar a direita na Av. Brasil, seguir até o obelisco, fazer o contorno, pegar a rua e chegar até a Domingos de Moraes. Essa versão seria redundante demais para o dialogo egocêntrico.

Segundo Vygotsky, a criança utiliza a fala socializada com a função de se comunicar, de manter o contato social, com o passar do tempo ela passa a ser capaz de usar a linguagem como instrumento de pensamento, mas isso ocorre gradualmente até chegar à internalizaçao do discurso, que chegará a fases avançadas da aquisição da linguagem.

Para Vygotsky, no estudo entre essa transição, Vygotsky recorre á fala egocêntrica para a compreensão dessa transição.

A fala egocêntrica acompanha a atividade da criança e começa a ter função pessoal, ligada a necessidade do pensamento e também utilizada para resolver problemas esse tipo de pensamento.

A fala egocêntrica foi um ponto entre divergência entre Piaget e Vygotsky.

Para Piaget a fala egocêntrica é o oposto aquela proposta por Vygotsky, pois para Piaget a fala egocêntrica postula uma trajetória de dentro para fora, enquanto Vygotsky pensa o contrário.

O pensamento não é expresso somente em palavras: por isso que ela existe.

Cada pensamento se move, amadurece e se desenvolve e soluciona problemas.

O que esse estudo revela é a necessidade de se distinguir os dois planos da fala - semântica e significativa e o exterior-fonético.

A fala é complexa e não homogênea.