A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA OS ALFABETIZADORES DO PROGRAMA SALVADOR CIDADE DAS LETRAS-BA[1]

Noly Oliveira[2]

A educação é um processo político, dinâmico e contínuo elaborado pelos sujeitos sociais multifacetados e culturalmente plurais. Neste constante processo de transformação, as ações do homem sobre o mundo são de construção, resignificação e reconstrução do conhecimento, refletindo sobre o processo, criando novas significações.
O presente ensaio propõe-se, especialmente, a efetuar reflexões sobre o lugar e o sentido da Formação Continuada para Alfabetizadores (FCA) do Programa Salvador Cidade das Letras (PSCL)[3] inserido no Programa Brasil Alfabetizado (PBA), que ocorre em Salvador-Bahia, cujo foco pauta-se na formação e prática de educadores para a inclusão de alfabetizandos no segmento SEJA I sendo a mesma notada como fonte permanece de informações necessárias para que educadores possam interajam com mais dinamicidade, sinalizando possibilidades de novas intervenções nos fazeres pedagógicos.
O mesmo justifica-se pela busca da possibilidade de continuar as reflexões iniciadas em prática pedagógica e nos estudos elaborados ao longo do da atuação como Coordenadora de Turma no PSCL. Procurou-se deslindar e identificar elementos relevantes para a compreensão desse processo de modo dialógico.

1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL

A educação representa uma forma de inserção num mundo da cultura e um bem individual-coletivo. Assim, trata-se de um direito que apesar da exigência individual não pode ser compreendido fora do contexto coletivo e inclusivo em escala planetária.
A compreensão e os debates sobre a educação sempre tiveram corpo na sociedade, mas no que se refere à Educação de Jovens e Adultos (EJA), maiores são os embates apesar dos equívocos ainda existentes. Observemos o que nos traz Faria (2009):

A compreensão da Educação de Jovens e Adultos (EJA) como modalidade de atendimento educacional que atravessa transversalmente o Ensino Fundamental ? e também Ensino Médio ? tem resultado em discussões no decorrer das últimas décadas, sobretudo quando se consideram suas bases legais. Merece destaque o fato de que no Brasil a EJA sempre ocupou destaque reduzido no sistema educativo, estando marcada por apresentar um caráter estritamente compensatório e por constituir lugar exclusivo e reconhecido dos desprovidos de valor social. (FARIA, 2009, p. 1)

Por intermédio de Freire (1997; 1986) sobreveio uma mudança na forma de conceber a educação que demarcou espaço, sobretudo para jovens e adultos (modalidade educativa específica detentora de concepções, história, metodologia e políticas próprias) ao afirmar que na verdade, o que existe são educações. Compreendendo a mesma como processo representativo da realidade, não consensual e inevitável, onde todos os sujeitos estão envolvidos. (SILVA; SILVEIRA, 2005)
Segundo a Secretaria Municipal da Educação Cultura Esporte e Lazer (SECULT) pode-se definir a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como

[...] modalidade de ensino que atende na rede municipal ao 1º segmento do ensino fundamental noturno, estruturado em ciclos de estudos assim organizados: PEB - I, correspondente aos 1º e 2º anos de escolarização e PEB ? II, correspondente aos 3º e 4º anos de escolarização. (SECULT, 2010)

A meta proposta pela gestão para o EJA é

[...] construir uma política efetiva de educação de jovens e adultos voltada para a inclusão social, capaz de garantir o acesso, a permanência e o sucesso dos alunos, a partir da implementação de um processo pedagógico mais dinâmico e adaptado às necessidades desta população (Salvador, 2005:21).

Para tal, as estratégias de ensino deverão converger para a dimensão sócio-política e cultural intrínseco ao fazer cotidiano do alfabetizando, com significado para o mesmo e para a comunidade a qual faz parte, valorizando os seus conhecimentos prévios e a prática de sua cidadania.
O Programa Brasil Alfabetizado elaborado pelo Governo Federal e coordenado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) possui como público alvo jovens e adultos, ou seja, pessoas com idade a partir de 15 anos, e objetiva extinguir o analfabetismo no Brasil, tendo por parceiras instituições alfabetizadoras que trabalhem com jovens e adultos.
Os alfabetizadores, em geral, são educadores sociais afro-descendentes, residentes na comunidade onde irá ministrar aulas, possuem uma relação com os moradores locais tanto elabora mobilizações in loco para efetuar as inscrições dos pretensos alfabetizandos no PSCL, portanto reconhecem a realidade em que estes vivem e lidam diariamente. Majoritariamente possuem o Ensino Médio, exigência mínima admissível, detém pouca ou nenhuma experiência sobre a prática profissional docente. Todavia, com o auxílio da Formação Inicial do Alfabetizador (FIA) e da Formação Continuada do Alfabetizador (FCA), os alfabetizadores apreendem a importância da abordagem destes aspectos paulatinamente através do diálogo sobre sua própria prática, da conscientização de suas ações e seus efeitos sobre o alfabetizando, ele próprio e a sociedade.
O objetivo da FCA é contribuir para o avanço do trabalho coletivo, abrindo espaço para manifestações, depoimentos, sugestões dos alfabetizadores sobre seu fazer pedagógico expressando os aspectos teóricos e metodológicos, estimulando-os ao constante ato de aprendizagem, respeitando ao senso comum, a capacidade criadora, os saberes socialmente construídos na prática comunitária.
Logo, não é um mero ato de treinamento, orientação, preparação, capacitação, mas um árduo e constante trabalho pedagógico que cobra do mesmo um novo olhar, um novo fazer sobre sua prática e compromisso reconstruindo sua forma de relacionar, comunicar e entender o mundo, a sociedade e o homem.
A FCA ocorre após concretização da FIA, sendo transmitidas informações referentes à estrutura do programa (administrativo e pedagógico) acorrendo antes do início das aulas promovido pela SECULT e executado por instituições credenciadas pela mesma com certificado.
A FIA possui 40 horas, estruturada da seguinte forma: encontros presenciais: 6 horas diárias; duração: 06 dias; formadores especialistas em EJA contratados para tal período; fornecimento de material necessário: módulo elaborado para o programa e livro didático do PNLA. No que tange a FCA possui a seguinte base: encontros presenciais: 04 horas; duração: 08 meses; encontros quinzenais (02 encontros mensais); pólos de formação localizados próximo das turmas de alfabetização. (SECULT, 2010)
Fato comum observado nas FCA é que os alfabetizadores concentram-se muito pouco nas competências e habilidades que o alfabetizandos poderá desenvolver, na capacidade cognitiva e metacognitiva, interesses e necessidades ultrapassando a obrigatoriedade de ler e escrever somente seu nome, o alfabeto e juntar sílabas.
Neste panorama, o incentivo da equipe diretiva, Coordenadores de Turma e Pedagógico e Gestores, são de substancial importância. A equipe se reúne para potencializar a produção e proporcionar aos alfabetizadores uma releitura do processo alfabetização de jovens e adultos, reintegrar a experiência educativa criadora de uma verdadeira e sólida transformação, autonomia, coerência e ponderação calcada em valores, relações interpessoais e estudos fundamentados nos aspectos antropológicos, axiológicos, políticos e epistemológicos com a função de ampliar o conhecimento e o processo de sistematização da complexa realidade que o rodeia subjetivamente.
Em verdade, através das FCA são acolhidas as percepções de quebra de um grande hiato existente entre os discursos e as práticas pedagógicas voltadas para o EJA.


2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de ensino-aprendizagem para o EJA deve pautar-se nas tramas de relações cognitivas e afetivas, estabelecidas pelos sujeitos ativos do processo. Todavia, uma grande dificuldade em executá-lo reside nas deficiências próprias do processo de formação do educador, sobretudo no que se refere à pesquisa, leitura e produção.
Os alfabetizadores não são técnicos que executam instruções e propostas elaboradas por especialistas, mas sujeitos epistemológicos que em coletivo produzem condições para que a prática pedagógica reafirme a democracia tanto em sala de aula quanto fora dela.
REFERÊNCIA

AQUINO, Julio Groppa. Os mascates da formação contínua. Revista Nova Escola on line, Edição 155, 09/2002. Disponível em: http://homolog.novaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/mascates-formacao-continua-423184.shtml Acesso: 20/Jul/2010.
FARIA, Wendell Fiori de. Educação de jovens e adultos: pedagogia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
FREIRE, P. Política e educação. São Paulo: Cortez, 1997.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Paz e Terra, 1986.
SILVA, Everson Melquiades Araújo; ARAÚJO, Clarissa Martins de. Reflexão em Paulo Freire: uma contribuição para a formação continuada de professores. V Colóquio Internacional Paulo Freire ? Recife, 19 a 22-setembro 2005.
SILVA, José Maria da; SILVEIRA, Emerson Sena da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
SALVADOR CIDADE EDUCADORA. SECULT. Disponível em: http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/projetos-cidade-letras.php Acesso: 20/Jul/2010.


[1] Texto em construção.
[2] Noly Oliveira: Educadora Social, Coordenadora de Turma do Programa Salvador Cidade das Letras, Historiadora (UCSal), Especialista em História e Cultura Afro-brasileira (Fundação Visconde de Cayrú), Consultora em Metodologia Científica.
[3]O Programa Salvador Cidade das Letras é um programa de alfabetização de jovens e adultos promovido pela Prefeitura de Salvador e Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SMEC), em parceria com o Programa Brasil Alfabetizado do MEC, entidades da sociedade civil organizada, universidades, alfabetizadores e alfabetizandos.