Quando a imigração polonesa começou no Brasil, não existia mais o Estado Polonês na Europa, somente a nação. A Polônia, após ter sido um dos maiores países europeus nos séculos dezesseis e dezessete, foi invadido no século dezoito pelos seus três poderosos vizinhos, Rússia, Áustria e Prússia. Devido afalta de terra para plantar e os maus tratos sofridos, os poloneses começaram a emigrar.

A parte ocupada pelos Prussianos compreendeu a Pomerânia e a Silésia. Foram destas regiões que partiram os primeiros contingentes imigratórios. As causas principais foram as duras perseguições impostas aos poloneses pelos invasores germânicos, como a Proibição da língua polonesa nas escolas primárias, normais e secundárias, Campanha sistemática para a "despolonização" dos nomes de acidentes geográficos, ruas, praças e até nomes e sobrenomes de pessoas. Proibição para os padres católicos proferirem sermões em língua polonesa, Forte censura na imprensa polonesa e Venda obrigatória das terras agrícolas dos poloneses. Essa campanha pela despolonização da população foi denominada de Kulturkampf.

Os Russos, por sua vez, ocuparam a maior parte central e Leste das terras polonesas e da mesma forma impuseram drásticas medidas para apagar qualquer traço polonês na face da terra. As medidas draconianas previam: Proibição do idioma polonês nos atos oficiais, Perseguição na igreja católica e imposição da igreja ortodoxa, Proibição do idioma polonês nas escolas e também a Proibição aos poloneses de ocuparem cargos na administração publica.

Habitada pelos eslavos em tempos remotos, a região é ocupada pela Áustria-Hungria na Primeira Guerra Mundial e declara sua independência em 1918. Em 19[1]39, a área é invadida pela URSS e pela Alemanha, que dividem o país ao meio (com a implementação do "corredor polonês"). Cerca de seis milhões de cidadãos poloneses são mortos durante a Segunda Guerra, a metade deles judeus. Com o fim da guerra, a Polônia é agregada ao bloco de influência soviética. Durante esse período, o país passa por momentos conturbados e consideráveis obscuros. Inúmeras revoltas agrícolas são levadas a cabo e líderes religiosos são presos e assassinados. Com os primeiros indícios da iminente derrocada soviética, no final da década de 80, a oposição fortifica-se e, em 1990, Lech Walesa, líder do partido Solidariedade, chega ao poder.
Finalmente, os austríacos foram um pouco menos duros. O Império Austro-Húngaro foi obrigado a fazer concessões para as nacionalidades que viviam em terras polonesas. O Tratado de Viena renomeou a região para o nome de Galícia e a transformou numas das regiões mais pobres e de maior atraso e estagnação do Império. Essa política de repressão comandada em conjunto pelos invasores causou enorme sentimento de revolta. Nos anos de 1830, 1864 e 1905 ocorreram violentas revoluções em solo polonês contra o domínio invasor.

Portanto, é compreensível que muitos poloneses, vivendo nestas circunstâncias pensassem em emigrar. Os primeiros grupos de emigrantes partiram justamente das terras ocupadas pelos germânicos e em alguns momentos foram confundidos como sendo alemães, em razão dos nomes que portavam nos documentos, devido a uma das imposições dos invasores: a troca de nomes polacos por germânicos. Por isso mesmo, tem muito descendente polonês no Brasil pensando que sua origem é alemã por causa do sobrenome.

O século seguinte foi marcado por insurreições sangrentas e frustradoras. Houveram desesperados manifestos de resistências para impedir o definitivo desaparecimento da nação, mas as grandes potências já haviam dominado e traçado para a Polônia um futuro sombrio: mantendo-a num Estado de atraso, submissão e dependência.

A Revolução Industrial transformava a Europa. Na Polônia, um regime arcaico composto de uma economia agrária mantinha o controle de uma população camponês isolada, conservador ao extremo, resistente às mudanças. Os campon[2]eses tinham cada vez menos acesso às terras. Trabalhavam como arrendatários ou como empregados temporários em terra alheia e em condições de estrema miséria.

Para os pequenos proprietários, as sucessivas divisões da propriedade familiar inviabilizavam a produção. Era necessário emigrar para novos espaços para sobreviver. A repressão política e a opressão interna fez com que os poloneses se tornassem pessoas impermeáveis à pessoas estrangeiras, sendo marcados por profunda desconfiança.

Enquanto na Polônia faltavam terras no Brasil sobravam espaços perigosamente desocupados. Desde 1808, o Príncipe Regente tornara possível a propriedade de terra aos estrangeiros, motivado principalmente pela necessidade de ocupar os chamados vazios demográficos, que ameaçavam o domínio português.

Num primeiro momento o Brasil precisava de colonizadores, aos quais ofereciam grandes oportunidades. Com argumentos fortes e promessas eloqüentes, o país procurava atrair os europeus. A intensificação do movimento abolicionista misturava-se aos projetos de colonização um outro motivo conjunturalmente mais forte: substituir a mão-de-obra escrava. O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, mas os reflexos das lutas abolicionistas perturbavam o fluxo de negros para os trabalhos na lavoura, reduzindo a produção de alimentos, pressionando os preços e ameaçando a produção destinada ao mercado interno.

Em 1888 é decretado o término da escravidão no Brasil: 800 mil imigrantes foram lançados ao mercado como mão-de-obra assalariada. Governo brasileiro celebrou convênios com companheiras de navegação transoceânica, pagando, (per capita) de acordo com o número de imigrantes que chegassem ao Rio de Janeiro, correndo por sua conta a passagem e manutenção dos imigrantes. A propaganda de estimulo às imigrações era convincente: o Brasil era apresentado como um verdadeiro paraíso.

Durante a "febre brasileira" como foi chamado o período da maioria das imigrações para o Brasil, chegou a correr na Polônia uma lenda, espalhada pelos agentes de recrutamento nas aldeias camponesas. Dizia a lenda que havia uma terra encoberta por névoas, desconhecida de todos. Era uma terra onde corria leite e mel. A virgem de Czestochowa – padroeira da Polônia, ouvindo compadecidos os apelos que lhe dirigiam os sofridos camponeses, dispersou o nevoeiro e destinou aos emigrantes poloneses a nova terra. Esta terra prometida era o Paraná.



[1] Zeus, Edmundo. A febre brasileira na emigração polonesa . In: Anais da Comunidade Brasileiro-Polonesa. V.1.1970.

[2]LEÃO, Ermelino de. Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná.