Era uma vez dois reinos, amigos, vizinhos e poderosos. Eles resolveram dividir o mundo entre si, contando com a ajuda de sábios e fidalgos que os auxiliavam nas estratégias de governar terras e mares. Esses reinos fizeram amizade e combinaram, através de um rei geral, um plano para expandir seus territórios: determinaram que seus exércitos conquistassem terras firmes e águas profundas do mundo todo. Fundaram uma escola, para a qual trouxeram sábios de outros reinos, com o objetivo de aprender a combater, navegar, desenhar mapas e estabelecer comunicação com outros povos, amigos, inimigos e desconhecidos. Inventaram uma língua cheia de palavras emprestadas, importadas de todos os reinos, mas mantendo uma raiz de domínio que serviria, ao mesmo tempo de exemplo de modernidade, bem como para se impor a lei aos reinos amigos e combater os inimigos com facilidade.
Depois de aprender todas as táticas para conquistar novos espaços, foi promovida uma olimpíada por mares nunca dantes navegados em que os favoritos entre todos os reinos inscritos eram os dois reinos amigos desta história. As burguesias desses dois reinos patrocinavam as maratonas, mais tudo bem planejado: uma equipe ia pelo oeste, outra pelo leste, lançados ao mar em várias caravelas e barcos. Os representantes do reino que chegaram pelo Oeste trouxeram notícias de um paraíso e até viram Adão e Eva no Jardim do Éden, trajados à moda da natureza, aguardando a chegada dos misteriosos representantes de Deus para redimir os primitivos do pecado original. Enquanto isso, os navegadores do lado Leste demoraram a chegar mas não esqueceram de registrar a data de sua chegada; aí encontraram já os filhos de Adão e Eva com trajes típicos, próprios para ciceroneá - los pelas praias, prontos para mostrar-lhes onde havia ouro e outras riquezas.
Os heróis do Leste, embora não soubessem onde estavam nem o que encontrariam, pensaram estar em solo indiano e montaram o cerimonial da festa de Achamento, inclusive discursos em latim, comes e bebes, missas e danças. Talvez esses sábios, profetas e adivinhos já os tivesse prevenido antes de partir: “...levem presentes para os anjos, roupas para o evento de posse e celebrem o ritual de louvor a Deus por ter lhe ofertado uma baía com um porto seguro no paraíso. E assim, falando uma língua nobre de reis , o nosso mundo latino teve seu I Evento Lingüístico Internacional; estava inventada a História do Descobrimento Português do Brasil”
E os outros navegantes e aventureiros dessa competição? Dizem que uns naufragaram antes da chegada e que outros ficaram morando para sempre no novo mundo. Dizem também que alguns ganharam prêmios para ficaram calados. Contam que a soberania foi o troféu ganho pelos representantes do reino detentor de uma língua poderosa e criativa capaz de dominar vários povos e de convencer o mundo da força do conhecimento da escrita. Esta é uma narrativa de ficção, quase parábola, quase-fábula, quase literatura, quase história. Qualquer semelhança com a História do Descobrimento do Brasil é mera coincidência.