José Osmar G. Silva

O presente trabalho acadêmico tem por finalidade apresentar a família e seus valores em meio ás ameaças, desafios do nosso tempo. Dando ênfase no valor da família em si mesma, para a Igreja e para a sociedade, como também nossa missão na defesa de seus valores fundamentais, enfatizando ainda a virtude da esperança como âncora da família.

Desde a sua origem a família tem sido submetida a várias mudanças. Atualmente a família dentre as demais instituições tem sido posta em questão pelas profundas e rápidas transformações da sociedade. Nestes últimos tempos ela vem experimentando uma mudança dramática, sendo, pois, submetida a uma série de novos desafios, sobretudo, pelas várias transformações legislativas e políticas em matéria de matrimônio, e em relação à vida.

Atualmente existem muitos sinais de degradação de alguns valores fundamentais da família, entre eles vemos, por exemplo: o número crescente do divórcio, a instauração cada vez mais freqüente de uma mentalidade contraceptiva, e as novas tecnologias que facilita o controle da natalidade possibilitando, sobretudo, o aborto ou ainda a má formação de consciência contra valores familiares que muito tem ameaçado a estrutura familiar.A família célula vital da sociedade, santuário da vida, obra prima do criador desde sua origem traz em si inúmeros valores que por nenhuma razão, causa ou circunstancias podem ser ofuscados, tolhidos ou desprezados, pois, são de suma importância tanto para a Igreja, quanto para a sociedade.

A família sempre foi considerada como a primeira e fundamental expressão da natureza social do homem, ela é o lugar e ao mesmo tempo o instrumento mais eficazde personalização da sociedade; sociedade esta que infelizmente vem sendocada vez mais despersonificada, desumana ao mesmo tempo desumanizante, sobretudo, com o crescimento assustador da violência, da miséria, das drogas,e tantas outras desordens que tem ferido o âmago da família.

O futuro da sociedade passa pela família, por isso mesmo diante dos inúmeros desafios e das mais diversas ameaças, ela representa uma esperança, tendo em vista que é um dos tesouros mais importantes da sociedade, sendo, pois, patrimônio do mundo inteiro.Enfim, falar da família é falar da grandeza de Deus que quis ser família. Por isso, é dever de todos nós, Presbíteros, Diáconos, Religiosos, Seminaristas e Leigos a defesa fundamental da família, da sua dignidade, dos seus valores fundamentais.

A FAMÍLIA E SEUS VALORES EM MEIO ÀS AMEAÇAS E DESAFIOS DO NOSSO TEMPO

1. GÊNESE E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA FAMÍLIA

1.2 A Instituição da família

A definição do termo "família" tem sua raiz etimológica do hebraico bêt'ab, ("casa do pai") indica um conjunto de pessoas ligadas por um vínculo de parentesco e os agregados. Na atualidade em todos os países desenvolvidos, este corpo familiar ficou restrito somente aos cônjuges e seus filhos. O modelo de família torna-se monogâmico, expressão perfeita do amor cristão.

Antes de tudo, a família é uma instituição natural, uma comunidade simples estabelecida pelo próprio Deus (cf. Gn 1,28). Após concluir a obra da criação, Ele por sua benevolência e vontade, cria o homem e a mulher a sua imagem e os enviou a povoar a terra (cf. Gn 1,28). Formando "uma só carne" (cf. Gn 2,24; f. Mt 19,5-6). A família delineia-se no desígnio do Criador, como "lugar primário da 'humanização' da pessoa e da sociedade" e "berço da vida e do amor". (Exortação Apostólica Chistifideles laici n.40). No sentido bíblico a família não é somente um dado sociológico; no sentido de conviver um com o outro, ou sentido econômico de proteção, embora, também envolva isso, mas a família é o lugar onde o homem aprende a crescer na sua integridade de pessoa humana.

Observa-se, pois, que a família é a primeira sociedade humana, saída do coração de Deus, de um valor imensurável para o ensino e a transmissão dos valores culturais, éticos, sociais, espirituais e religiosos, na qual contribui de modo único e insubstituível para o bem da sociedade.

1.3. Breve abordagem histórica acerca da família

Para compreendermos a história da família é necessário, antes de qualquer coisa, reconhecer que a configuração desta última esteve submetida a uma mudança dinâmica desde a sua origem.

A Família no Antigo Testamento incluía todos os membros do mesmo sangue ou que viviam numa habitação comum. Incluía o pai, chefe da família, sua esposa ou esposas, concubinas, seus filhos, escravos e servos, clientes e os hóspedes estrangeiros, filhas viúvas ou repudiada, os filhos e filhas solteiros. Essa concepção de família é evidente ao longo do Antigo testamento, na qual tem seu prolongamento até primeiros os séculos da nossa era.

No século II na família romana se integrava a esposa, os filhos os escravos e demais propriedades e o cabeça de todos eles, o pater-familias que se colocava acima de todos.. Só progressivamente a partir do século III se começou a empregar o vocábulo família para significar antes de tudo as relações de sangue existentes entre os seus membros.

Em fins no século V os povos germânicos que sucederam à autoridade romana tinham três métodos legítimos de contrair matrimônio: por rapto, por compra e por mútuo consentimento. O concubinato muito presente, não era mal visto; também se permitia o divórcio com a possibilidade de casar novamente, sobretudo durante o primeiro ano de matrimônio.

Durante os séculos VI ao IX se produz um surgimento daquilo que foi interpretado como um novo tipo de estrutura familiar e conseqüentemente, uma redefinição da família na Europa ocidental entendida como uma sociedade natural constituída por um varão e uma mulher baseado essencialmente na relação paterno-filial.

A família experimentou uma nova mudança dramática no começo do século XI. Neste período a virgindade se manteve como ideal de vida, enquanto que o matrimônio ocupava um lugar inferior na escala de valores.

O mundo moderno de fins do século XX lança uma série de novos desafios para a família. Alguns afirmam que vivemos numa sociedade pós-matrimonial. Os sistemas jurídicos de quase todos os países ocidentais já não apóiam o matrimonio entendido de acordo com os bens agostinianos. Atualmente fala-se muito de família mesclada, família recriada família ampliada, família reconstituída, e ainda as chamadas "Uniões de fato".

2. VALORES PERENES DA FAMÍLIA

"A família é a primeira escola das virtudes sociais de que a sociedade tem necessidade" (Diretório da pastoral familiar CNBB. n.116). Frente a esta realidade a família traz em si inúmeros valores essenciais que por nada pode ser ofuscado, tolhido ou menosprezado, pois a família não é somente lugar um de crescimento pessoal, dos afetos, da transmissão da cultura entre as gerações, mas sim uma comunidade de amor, o lugar do direito e do princípio do cuidado, da solidariedade, partilha, amizade, companheirismo, respeito e unidade.

2.1. Valores da família em si mesma

A família é imagem de Deus do qual tem sua origem, seu modelo perfeito, motivação e fim último na comunhão de amor das três pessoas. E ao tornar-se pais, os esposos recebem de Deus o dom de uma nova responsabilidade. O seu amor paternal é chamado a tornar-se para os filhos o sinal visível do próprio amor de Deus, pois, "È de Deus qual deriva toda a paternidade no céu e na terra" (Familiaris consortio. n 14).

2.1.1. O matrimônio

Etimologicamente, "matrimonio" significa ofício ou tarefa da mãe (do latim: mater, mãe e munium ou múnus, oficio) de forma análoga, fala-se de patrimônio (do latim: pater, pai, e munium, ou munus, ofício), caracterizando-se dessa maneira a função do pai. De acordo com esses vocábulos, corresponde à mãe a tarefa de cuidar do lar e dos filhos, e ao pai, prover ao sustento da família.

Em consonância com o código de direito canônico por matrimônio entende-se "o pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, ordenado por uma índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole" (CIC 1055,1) "Origina-se o matrimonio por consentimento entre pessoas hábeis por direito, legitimamente manifestado, o qual não pode ser suprido por nenhum poder humano" (CIC 1057,1). Ou seja, é um pacto irrevogável em que se entregam e recebem mutuamente por um vínculo perpétuo e exclusivo.

O matrimônio é uma participação especial na obra criador de Deus. Por isso, abençoou o homem e a mulher com as palavras: "Sede fecundos e multiplicai-vos" (Gn 1, 28). Assim, enquanto comunidade de vida familiar existe desde a criação do mundo (Gn 1,28). E devido sua dignidade foi elevado por Cristo a dignidade de sacramento (Mt 19,4-5) para conservação e a propagação do gênero humano, convertendo-se em fonte de graças divinas para a santificação pessoal do marido e da mulher, adquirindo valor de sinal eficaz da aliança de Cristo e da Igreja (Ef 5,32) e de participação no mistério do amor fecundo de Cristo. "Do amor esponsal de Cristo de Cristo pela Igreja que mostra a sua plenitude na oferta consumada na cruz promana a sacramentalidade do matrimônio, cuja graça conforma o amor dos esposos ao amor de Cristo pela Igreja" (CDSI 219).

O sacramento do matrimônio é de vital importância para sociedade. Por ele, homem e mulher podem constituir uma família e gerar novos membros para a sociedade. Ele é o núcleo originante da família, fundada no amor e na benção de Deus.

Em vista desta verdadeo fato da "cópula" entre pessoas do mesmo sexo não pode garantir o matrimônio, não faz parte de sua natureza. Não existe possibilidade alguma, pois, o matrimônio natural tem propriedades e finalidades que são intransferíveis. Portanto, é errado chamar de "matrimônio" a união entre homossexuais que jamais pode ser equiparável à instituição do matrimônio que é algo divino. Em contraposição a esta realidade assim se expressa a Congregação para doutrina da fé.

"O matrimônio não é uma união qualquer entre pessoas humanas; fora fundado pelo Criador, com uma natureza, propriedades essenciais e finalidades. Nenhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe no matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente, que através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas. Assim se aperfeiçoam mutuamente para colaborar com Deus na geração e educação de novas vidas" (considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais. n .2)..

Portanto, não existe nenhum fundamento para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo que remotas, entre as 'uniões homossexuais' e o plano de Deus sobre o matrimônio e a família. O matrimônioé ofundamento da mais ampla comunidade da família, ele é santo, ao passo que as relações homossexuais estão em contraste com a lei moral natural. Na Sagrada Escritura, as relações homossexuais "são condenadas como graves depravações (cf. Rm 1 24-27; 1 Cor 6, 10; 1 Tm 1, 10). Portanto, o Estado e a sociedades em geral, devem contribuir e incentivar o matrimônio para que a família continue sendo a célula vital da sociedade, santuário da vida e lugar de santificação.

2.1.1.1. Propriedades do matrimônio

2.1.1.1.1.Unidade

O Matrimônio não se reduz ao aspecto puramente físico do relacionamento sexual. É muito mais abrangente, envolve a capacidade total e irrestrita da doação de si mesmo a outra parte (cf. Ef, 5,25). Deve ter valorização recíproca, renúncias, responsabilidades, integração de ambos, sentimentos de partilha e de acolhida. "A unidade do matrimônio, confirmada, manifesta-se também claramente na igual dignidade pessoal da mulher e do homem que se deve reconhecer no mútuo e pleno amor". (Gaudium et Spes, 49). A unidade ou monogamia de um homem e de uma mulher que se doa com um amor total e exclusivo opõem-se radicalmente à poligamia, a poliandria; ou mesmo a "promiscuidade sexual" que segundo o diretório familiar que viria a ser um sistema em que coincidem a poligamia e poliandria de maneira anárquica e indefinida". (diretório da pastoral familiar CNBB, n. 180.).

2.1.1.1.2. Indissolubilidade

Em virtude da aliança do amor conjugal, o homem e mulher "já não são dois mais uma só carne" (cf. Mt. 19, 6; Gn. 2, 24).chamados a crescer continuamente em comunhão plena pela fidelidade cotidiana do recíproco amor total. A comunhão conjugal caracteriza-se não só pela unidade, mas também pela sua indissolubilidade. "Testemunhar o valor inestimável da indissolubilidade e da fidelidade matrimonial é uma das tarefas mais preciosas e mais urgentes dos casais cristãos do nosso tempo" (Familiares consortio n. 20).A indissolubilidade perpetua o vínculo matrimonial opondo-se assim ao divórcio, entendido como dissolução do vinculo matrimonial.

2.1.1.2.Finalidades do matrimônio

2.1.1.2.1.Bens do conjugue

Quanto ao bem dos cônjuges, permite que a doação recíproca entre homem e a mulher seja definitiva. O consentimento matrimonial pressupõe fidelidade tanto na saúde como na enfermidade, isto é, para além do que possa ocorrer ao longo da vida. Ambos se comprometem reciprocamente ao amor e ao respeito durante toda a vida, numa entrega sem reservas, tendo em vista que o matrimônio não é um simples contrato mutável e passível de revisão e muito menos uma escolha qualquer com estruturas e elementos meramente transitórios. Assim a idéia de que "viveremos juntos enquanto o amor não acabar, enquanto não se desgastar, enquanto você for fiel, enquanto você não envelhecer", entre tantas outras máximas, não constituem um ideal.

2.1.1,2.2. Geração e educação da prole

A transmissão da vida é tarefa fundamental da família. Realizar através da história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração (cf. Gn 5,1-3). O matrimônio e o amor conjugal por sua própria índole se ordenam à procriação e educação dos filhos.

A fecundidade é o fruto e ao mesmo tempo o sinal do amor conjugal, testemunho vivo da plena doação recíproca dos esposos: o cultivo do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí promana sem desprezar os outros fins do matrimônio, tendem a dispor os cônjuges a cooperar corajosamente com o amor do Criador e do Salvador que por intermédio dos esposos aumenta e enriquece diariamente a família.

2.1.2. Os filhos

Os filhos, no qual fora chamados por João Paulo II de "primavera da família e da sociedade" (III encontro mundial do papa com as famílias n.1). É um outro valor da família em si mesma. Dom mais excelente do matrimônio; constituem um benefício máximo para os próprios pais e ao mesmo tempo constitui uma participação especial na obra criadora de Deus, "Crescei e multiplicai-vos" (Gên 1,28)

Sendo, pois os filhos um esplêndido dom de Deus. Logo, desde o momento da concepção, a vida de qualquer ser humano deve ser respeitada de modo absoluto do início ao fim; e em nenhuma circunstância pode ser lidipendiada, menosprezada, ou destruída. Assim afirma o Catecismo: "A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção" (CEC 2270). Ou ainda:"tudo o que atentar contra à própria vida como qualquer espécie de homicídios, o genocídio, aborto, a eutanásia e o próprio suicídio voluntário (...) é efetivamente digno de sensura." (GS 27). Ainda mais, "a vitalidade e o equilíbrio da sociedade exigem que os filhos venham ao mundo no seio de uma família e que esta seja estavelmente fundada no matrimônio". (Donum Vitae n. 35).

Por fim se expressa a CNBB: "É no seio da família que as crianças, na sua primeira convivência com os outros, aprendem as leis básicas do comportamento social e da vida cristã. (Orientações pastorais sobre o matrimônio, CNBB. n. 12).

3. VALORES DA FAMÍLIA PARA A SOCIEDADE

Tendo em vista que Deus constituiu o matrimônio princípio fundamental da sociedade, a família tornou-se a célula primeira e vital da mesma.É da família que saem os cidadãos e também é no seio da família que se encontra a primeira escola das virtudes sociais; conhecidas como a alma da sociedade.

A família foi sempre considerada como a primeira e fundamental expressão da natureza social do homem. "A família delineia-se, no desígnio do Criador, como lugar primário da "humanização" da pessoa e da sociedade e berço da vida e do amor" (Christifideles laici, 40).

A família é o lugar e ao mesmo tempo o instrumento mais eficaz de humanização e de personificação da sociedade. Não obstante, em nossos tempos é possível constatarmos uma sociedade cada vez mais despersonificada, desumana e desumanizante. Observamos por exemplo: o crescimento da violência de forma assustadora, a miséria e a fome, as drogas, pornografia e tantas outras desordens que fere a essência da família.

Segundo o compêndio de doutrina social "A família, comunidade natural contribui de modo único e insubstituível para o bem da sociedade. Ela é a primeira sociedade humana, tendo em vista que ela é uma comunhão de pessoas". (CDSI, 213).

A família estar em conexão intima com a sociedade, e esta em resposta a sua participação não deve deixar de lado o seu dever de respeitar e promover a família tendo em vista que ela constitui um valor indispensável e irrenunciável, possui direitos próprios, inalienáveis, que jamais podem ser rechaçados. Assim afirma a exortação apostólica: (...) "As autoridades públicas devem fazer o possível por assegurar todas aquelas ajudas – econômicas, sociais, educativas, políticas, culturais – de que têm necessidade para fazer frente, de modo humano, a todas as suas responsabilidades". (Familiaris consortio n. 45).

Infelizmente em nossos tempos a família célula base da sociedade sujeito de direitos e deveres tanto do Estado como de qualquer outra comunidade encontra-semuitas vezes como vítima da sociedade da lentidão das suas intervenções e das suas patentes injustiças.

A família não é criação humana, nem do estado, nem da Igreja. É constituição ligada à natureza do homem e da mulher, para o bem e a felicidade pessoal, da sociedade e da Igreja. "Pois que o Criador de todas as coisas constituiu o matrimônio princípio e fundamento da sociedade humana" (Apostolicam Actuositatem, n. 11).

Em suma, as famílias cristãs devem assumir sua vocação, devem ser verdadeiras igrejas domésticas tratando das realidades temporais ordenando-as segundo Deus. Pois, são chamadas por graça a uma aliança com seu criador; devem, pois, oferecer-lhe uma resposta de fé e amor.

4. VALORES DA FAMÍLIA PARA A IGREJA

Como sabemos, é antes de tudo a santa mãe Igreja que gera, educa e edifica a família cristã. A Igreja guia e anima a família a serviço do amor. Em resposta a isto "A família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão de modo próprio e original, colocando-se a serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e amor". (Familiaris consórtio n.50).

Os cônjuges enquanto casal, os pais e os filhos devem viver a serviço da Igreja e do mundo sendo sinal da fé, tendo "um só coração uma só alma" (cf. At 4,32). "A família deve viver sua extraordinária riqueza de valores e de totalidade, unicidade, fidelidade e fecundidade no amor conjugal familiar" (Humanae vitae n.9).

Enfim, a família como santuário da vida deve ser uma comunidade evangelizadora, de constante diálogo, oração e serviço ao homem, de profunda experiência no amor, deve ser testemunha da aliança pascal de cristo, lugar onde se transmite o evangelho, sementeira de vocações e promotora da vida.

5. NOSSA MISSÃO DIANTE DAS AMEAÇAS E DESAFIOS DA FAMÍLIA.

Hoje muitas ideologias não consideram a família como um bem, um valor para a sociedade; tendem a ver na família fundada sobre o matrimônio um obstáculo que fere a liberdade. No tempo hodierno nem sempre a família é lugar de diálogo. Nem sempre os filhos são apreciados como um dom, mas como um peso e uma pesada responsabilidade, onde em muitos lares se procura evitar.

Muitos vêem a família não como uma realidade natural, mas como uma estrutura social mais ou menos artificial que procede de circunstancias susceptíveis de mudanças; ou ainda a tendência a atribuir a responsabilidade dos fracassos individuais às instituições do matrimônio e da família e não as pessoas nelas contidas. Entretanto, para demonstrar o imenso valor da família para a sociedade o Lexicon, utilizando uma citação de Aristóteles que afirma: "A sociedade política só existe a partir da família e sempre na família" (A política 1,1). Conclui-se, portanto, que se faz necessário afirmar que sociedade e família estão intrinsecamente interligadas, ou seja, alterando a sociedade, altera-se a família e destruindo a família, destrói-se a sociedade (Lexicon, pontifício conselho para a família. n 378).

5.1. Ameaças que fere a dignidade da família

Acredito que nestes últimos tempos, mais do que outrora, a família santuário da vida e célula vital da sociedade vem sendo afetada por difíceis condições de vida que ameaçam sua instituição. Atualmente estamos presenciando uma sociedade cada vez mais secularizada, hedonista, consumista, utilitarista, e porque não dizer niilista.

Envolta a estas ideologias cada dia que passa a sociedade corre o perigo de ser cada vez mais despersonalizada e massificada, e, portanto, inumana e desumanizadora, com os resultados negativos de tantas formas de evasão que ameaçam e se opõem a instituição da família.

Ao falar da família no mundo de hoje a CNBB em um dos seus documentos tendo como referência a exortação apostólica Familiaris Consortio n.6, apresenta vários aspectos negativos da família. Assim estar escrito: "não faltam sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambigüidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos;as dificuldades concretas que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; o número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais freqüente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva" (Diretório da pastoral familiar. n.14).

Acredito que fora consciente da realidade deste mundo cada vez mais desafiador, que uma das expressões mais repetida pelo Papa João Paulo II era a seguinte: "O futuro da humanidade se forja na família" (A família na América Latina, p.129). Ou ainda, "A humanidade será melhor ou pior, dependendo da maneira com se viver a família" (A família na América Latina, desafios e esperanças. p. 130).

Falando da situação da família em nossos tempos assim afirma o Papa Bento XVI ao abrir o congresso eclesial na diocese de Roma: "As diferentes formas atuais de dissolução do matrimônio, como as uniões livres e o 'matrimônio de prova', até o pseudomatrimônio entre as pessoas do mesmo sexo, são (...) expressões de uma liberdade anárquica que se apresenta erroneamente como libertação autêntica do homem" (Doc. A família na América Latina, desafios e esperanças. p. 13).

Graças a Deus, muitas famílias vivem na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar.Outras, Infelizmente, tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais.

Diante desses fatos, nós como ministros da paz, somos chamados a sermos testemunhas do amor, discípulos e missionários de Cristo como afirma o documento de Aparecida em sua parte introdutória, ser fermento na massa, sal da terra e luz no mundo, para que a situação seja transformada.

"A evangelização do matrimônio e da família é missão de toda a Igreja, em que todos os fiéis devem cooperar segundo as próprias condições e vocações". Deve partir do conceito exato de matrimônio e de família á luz da revelação, segundo o Magistério da Igreja (Orientações pastorais sobre o matrimônio, CNBB, introdução).

Por isso, é dever de todos nós, Presbíteros, Diáconos, Religiosos, Seminaristas e Leigos a defesa fundamental da família, da sua dignidade, dos seus valores fundamentais. Estando, pois, a família ameaçada, é todo o futuro da sociedade e da humanidade que se encontra em perigo, tendo em vista que a família é chave para o futuro da humanidade.

5.2. Desafios em que a família é chamada a dar uma resposta

Como fora dito alhures, o mundo moderno de fins do século XX lança uma série de novos desafios para a família. Alguns afirmam que vivemos numa sociedade pós-matrimonial. Os sistemas jurídicos de quase todos os países ocidentais já não apóiam o matrimonio e o divórcio se concede facilmente. As relações sexuais fora do matrimônio são socialmente aceitas, ao mesmo tempo em que as novas tecnologias facilitam o controle da natalidade e o aborto.

Atualmente são muitas as dificuldades que a família enfrenta. Por exemplo:

·Dificuldades no trabalho: salário insuficiente, exigindo horas extras em prejuízo da convivência com a família; busca sempre crescente de melhor padrão de vida induzida e incentivada pelos métodos de propaganda da sociedade de consumo; natureza do trabalho individual do trabalho dos esposos dificultando o relacionamento familiar.

·Dificuldades na área da educação: professores mal renumerados, impossibilitados de exercer suas funções com eficiência; insegurança constante dos pais perante o mundo em mutação, permissividade nos costumes, etc.

·Dificuldades de moradia: habitações sem condições mínimas de higiene, inseguranças, alto custo de moradia; falta de lugar apropriado para a recreação dos filhos, etc.

·Dificuldades nos meios de comunicação: baixo nível de programas, exploração abusiva do sensacionalismo, com predileção sistemática pelos temas de sexo, violência, crime e anormalidade; desregramento, aborto, divórcio e amor livre mostrado sistematicamente na conduta de ídolos populares ou defendido em suas entrevistas, entre tantos outros (A família mudanças e caminho CNBB p. 2).

Para tutelar e apoiar as famílias em meio aos desafios que estar submetida, o documento de Aparecida sugere várias iniciativas para que a pastoral familiar possa estimular as famílias (Doc. Aparecida n. 473).

a)Comprometer de maneira integral e orgânica as outras pastorais, os movimentos e associações matrimoniais e familiares a favor das famílias.

b)Estimular projetos que promovam famílias evangelizadas eevangelizadoras.

c)Renovar a preparação remota e próxima para o sacramento do matrimonio e da vida familiar com itinerários pedagógicos da fé.

d)Estabelecer programas de formação, atenção e acompanhamento para a paternidade e a maternidade responsáveis.

e)Estimular e promover a educação integral dos membros da família, especialmente daqueles membros da família que estão em situações difíceis, incluindo a dimensão do amor e da sexualidade.Entre outras.

A família é o valor mais querido, por isso o Doc. de Aparecida: pede que toda diocese tenha uma pastoral familiar intensa e vigorosa para proclamar a cultura da vida e trabalhar para que os direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados. Assim expressa o documento: "Diante de Leis e disposições governamentais que são injustas à luz da fé e da razão, deve-se favorecer a objeção de consciência". (Doc. Aparecida n. 43)

Ao falar das funções da família no mundo em tempos hodiernos a CNBB no documento "América Latina no mundo de hoje", deixa claro que a família não contém mais a exclusividade da função educadora, mas condivide com a escola, os mass-mídia e o ambiente social; perdeu também a característica de auto-suficiência econômica, bem como a função de definir essencialmente o status social de seus membros. Mesmo assim, mantêm importantes indeclináveis funções, tanto na sociedade civil como dentro do povo de Deus. Entre outras funções em que a família é chamada a realizar temos:

·Ser formadora de pessoas, orientando a consciência de seus membros sobre suas responsabilidades políticas e sociais, que podem exigir-lhe uma ação organizada para a transformação global da sociedade, esforçando-se em superar o sistema desumano e consumista e assim implantar os valores evangélicos.

·Educar na fé, desenvolvendo a consciência critica de seus membros.

·Transmitir valores fundamentais e educar seus membros a vivê-los integralmente.

·Educar para a justiça e a liberdade, de modo especial; pois, a injustiça e a dominação, chamadas "pecado social", estão na base das estruturas desumanas no mundo hodierno, que mantém os pobres numa pobreza estrutural. (a família e a promoção da vida. Estudos da CNBB. N 32. P.16).

Em suma, a evangelização da família é missão de todo o povo de Deus. Todos devem se integrar nas Igrejas particulares, comunidades paroquiais, pastorais e movimentos.Sendo, portanto defensores de um dos tesouros mais importantes da sociedade e patrimônio de todos os povos.

6. A ESPERANÇA COMO ÂNCORA DA FAMÍLIA

Pela conjuntura histórica que vivemos, globalização, pós-modernidade, cabe a Igreja pela sua importância o fortalecimento e amadurecimento das famílias. Hoje vemos várias transformações legislativas e política em matéria de matrimônio, família e em relação à vida, não obstante, mesmo diante dos desafios que se encontra, a família representa uma esperança para a sociedade.

Ao longo da história a família em sua dimensão social contribuiu bastante nas formas mais fundamentais de organização social, na educação, na política na economia etc. Entretanto, hoje muitos destes sistemas já não esperam mais da família em relação ao cumprimento de suas funções.Até mesmo aquilo que lhe é mais peculiar, por exemplo: a procriação humana tampouco ficou reservada a ela desde o aparecimento da fertilização assistida e a eventual produção industrial de ser humano com banco de gametas, de doadores anônimos ou ainda o fantasma da clonagem humana reprodutiva ou terapêutica. Porém, mesmo assim a família continua sendo a esperança do mundo; "Por isso, proteger e fortalecer a família é tarefa que diz respeito ao bem comum da sociedade". (A família na América Latina n.6). E ainda, "A família, coração da Igreja, pela presença de Cristo entre aqueles que se amam, tem em si mesma a força de reconstruir a sociedade. E se a célula fundamental possui esta tendência, então há realmente esperança mundo". (Dom Francisco José Cox Huneeus. Família esperança do mundo. p. 37). Enfim, as famílias mesmo diante das maiores adversidades, ameaças e desafios, alvo de numerosas forças que a procuram desestruturar-la e destruir-la, é preciso que sintamos de modo mais vivo o desejo de proclamar a todos os desígnios de Deus sobre o matrimônio e a família, estando esta ao mesmoancoradas na esperança, dom que constrói uma certeza existencial.

Por fim, diante de tudo que fora apresentado pudemos ver que são muitos os sinais de degradação preocupantes de alguns valores fundamentais da família.Por outro lado são muitos os bens referentes à família que nos enche de esperança, conforme explicita Papa João Paulo II, isto é, "existe uma consciênciamais viva da liberdade pessoal e maior atençãoà qualidade das relações interpessoaisno matrimônio, à promoção da dignidade damulher, à procriação responsável, à educação dos filhos; há, além disso, a consciência da necessidade de que se desenvolva relações entre as famílias por uma ajuda recíproca espiritual e material, a descoberta da missão eclesial própria da família e da sua responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa". (Familiaris Consortio. n. 6).

CONCLUSÃO

Ao percorrer as etapas de elaboração e o desenvolvimento dos temas abordados, conclui-se, portanto que a Família com seus inúmeros valores e ao mesmo tempo o valor mais querido; é o alicerce da sociedade, patrimônio do mundo inteiro e também um dos tesouros mais importantes de toda a história da humanidade desde sua origem.

Antes de ser elevada a condição de sacramento, a família é uma instituição natural querida por Deus, que logo após concluir sua obra da criação, fez o homem e a mulher dando o seguinte imperativo: "crescei-vos e multiplicai-vos". Por isso a família contém valores que são perenes que jamais podem ser ofuscados, rechaçados, tolhidos ou desprezados. Assim o sacramento do matrimônio é de vital importância para sociedade. Nele, homem e mulher podem, devidamente, constituir uma família e gerar novos membros para a sociedade.

O instituto do matrimônio e o amor dos esposos estão, por índole natural, ordenados à procriação e a educação dos filhos por isso não pode ser confundido com uma união qualquer como é o caso das "uniões homossexuais" que diferentemente da união entre homem foge completamente da natureza própria do matrimônio natural que é divino.

Constatamos também que o mundo moderno de fins do século XX lança uma série de ameaças e novos desafios, entre eles, o número crescente dos divórcios; o aborto; o recurso cada vez mais freqüente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva" etc. vimos as muitas as dificuldades que a família enfrenta em nossos tempos, tanto de ordem moral, social e até religiosa.

Ainda pudemos constatar que a família é a esperança do mundo, célula vital da sociedade, escola dos valores exercidos em favor do bem comum, e coração da Igreja pela presença de Cristo; que mesmo diante das maiores adversidades, ameaças e desafios do nosso tempo deve estar ancorada na esperança.

Por fim, fora salientado que a evangelização da família é missão de toda a Igreja, isto é, dos Bispos, Presbíteros, Diáconos, religiosos seminaristas, catequistas, educadores, teólogos e dos peritos. Ambos devem se integrar nas igrejas particulares, comunidades paroquiais, pastorais e movimentos onde são lugares de evangelização em toda a riqueza de seu conteúdo.

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