A família brasileira desde os primórdios sempre foi atingida por possíveis transformações nos panoramas social, político, cultural, econômico e biológico que influenciam os conceitos da mesma e as tendências de conduta e comportamento diante de determinadas situações são com ela alteradas no decorrer da história. A família, atualmente, é uma das instituições sociais mais valorizadas pelos brasileiros. Mas, o interessante é discriminar sobre quais bases essa instituição se sustenta e o conceito que a mantém sendo que o melhor exemplo é o papel da mulher dentro da família. A constituição básica da família brasileira ainda é nuclear (marido, esposa e filhos), mas esse tipo de estrutura vem perdendo espaço na família brasileira que hoje em muitos casos conta apenas por mãe e filhos. Considerando-se tal constatação, é fácil identificar o motivo do crescente prestígio da figura materna e a conseqüente queda na importância atribuída ao pai. E desde as eras mais remotas o pai é a pessoa da família com quem menos se conversa, as jovens de hoje procuram muito mais maridos fiéis e compreensivos do que trabalhadores e esforçados como as moças de antes.

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2 A INSTITUIÇÃO FAMILIAR NO BRASIL:

Para a maioria dos brasileiros a família, o estudo, o trabalho, a religião, o dinheiro e o lazer tem respectivamente nesta ordem, diferenciados níveis de importância, apesar da maioria enfatizar a grande importância da família e quererem ter filhos algum dia, não demonstram a mesma simpatia pelo casamento que as gerações anteriores datadas do início do século XIX até o fim do século XX. Afinal, esta instituição representava poder, segurança e respeitabilidade.
O padrão da família brasileira da primeira metade do século XIX até a primeira metade do século XX era constituída por um pai, mãe e filhos. Os integrantes da família brasileira deste período eram comandados por um pai e esposo contido no choro e na demonstração de sentimentos, eram duros e jamais demonstravam fragilidade, nem receios. Antes o homem era formado para ser mais racional, e menos emocional o que dificultava o relacionamento afetivo. Este ensinamento sobre a firmeza masculina para dirigir o lar era ensinado de pai para filho, sempre reafirmando os ideais de filhas casando-se cedo para seguir os passos da mãe, uma mulher frágil, submissa, contida e respeitável. Os casamentos celebrados durante o século XIX eram uma opção da elite branca que tentava manter o prestígio e a estabilidade social limitando os casamentos a mitos quanto à cor, honra, riquezas e religião, mas este quadro não era tão rigoroso quando se tratavam da classe baixa da população. Muitas vezes os casamentos eram arranjados, mas a legalização da união para a formação de uma nova família dependia do consentimento paterno, cuja autoridade era legítima e incontestável, era de sua competência decidir e até determinar o futuro dos filhos sem lhes consultar as preferências, sendo que em alguns casos os noivos jamais haviam se visto, comunicado ou tocado. Os filhos que se rebelavam e não aceitavam a dominação paterna eram sempre castigados, deserdados e até expulsos de casa.
Devido às poucas opções de escolha, restava à mulher o casamento onde a mesma representava a proteção na família e tinha a obrigação de ensinar a decência e educar os filhos. Ao marido era de competência zelar pela segurança e conforto material da família, sendo isto válido para todas as classes sociais. O amor, a estima, a dedicação e gratidão era relevantes nos casamentos principalmente dos mais pobres, o que ocasionava muitas vezes em maus tratos contra a mulher e os filhos. A única preocupação do pai era em alimentar e quando estes eram de classes mais abastadas fornecer um bom estudo aos filhos homens, às mulheres apenas lhes eram ensinados as atividades domésticas, uma língua estrangeira e como uma dama deveria se comportar e vestir-se, sempre de maneira austera e honrosa. Todo o século XIX foi marcado pela repressão do pai ao resto da família que não desfrutava do direito de opinar em situação alguma sobre o próprio futuro ou expor sua opinião sobre seus gostos, desejos e anseios.
Com a Revolução industrial e com a revolução feminista, o posicionamento das mulheres mudou radicalmente em menos de meio século, e mesmo que com passos incertos e vacilantes provocou uma reorganização da sociedade e levou aos homens a necessidade de repensar seu papel. A exemplo das mulheres estrangeiras, que com a segunda guerra mundial foram obrigadas a saírem de casa e trabalhar em fábricas, pois com os homens na guerra em frente de batalha, as mulheres tomaram conta da produção industrial de armamentos, munições, roupas e alimentos, influenciando assim a mulher brasileira que sofreu os impactos da guerra também aqui no Brasil. Essa mudança radical afetou o comportamento da mulher na família e o homem por sua vez foi presenteado com espaços afetivos mais amplos. A partir de meados do século XX foi permitido ao homem desfrutar de uma relação conjugal e de pai harmoniosa e permissiva. A vida econômica passou a ser compartilhada e o ambiente organizacional suavizou-se. O homem perdeu o domínio absoluto sobre a chefia da família e todo o autoritarismo decorrente disso.
Várias foram as mudanças no quadro familiar que antes era nuclear, constituída de um pai, uma mãe e filhos. Assim, formada por novos casais, com enteados, com filhos de seus casamentos desfacelados, com os avós, os primos e tios surgiu a família denominada mosaico. Esta é uma família numerosa com muitos componentes. No Brasil do século XXI pelo egoísmo de cada ser que compõe as famílias, pensando cada dia mais em si próprio, em se promover profissionalmente do que em constituir uma família ou mantê-la, é cada vez maior o número de divórcios que a menos de três décadas não eram tão comuns, afinal o divorcio era desonroso para a mulher e era tradição que um casamento era para o resto da vida. Mas, as lições que as novas gerações estão aprendendo são outras. Mudou-se os parâmetros, a cultura e a liberdade de expressão decorrente de todo o processo histórico.
Nos dias atuais o brasileiro gay luta por igualdade em sua relação homossexual, quer casar-se e adotar filhos junto ao seu companheiro. A mudança iniciou-se na Holanda, o único país a dar pleno direito de adoção para casais do mesmo sexo. Este é outro tema espinhoso, pois, segundo educadores holandeses os gays podem educar crianças aparentemente, sem traumas. Todos os estudos no país indicam que paternidade e adoção gay não causam problemas às crianças. Mas o que é bom para a Holanda e para outros países que também adotaram essas mudanças, não é necessariamente bom para o Brasil. Nossas diferenças culturais impedem afirmar com plena certeza que os resultados obtidos lá seriam iguais aqui. É preciso também ter em mente que a aparente ausência de problemas não representa a certeza que crianças criadas por gays sejam idênticas às criadas por heterossexuais, como já sabemos, as crianças tendem a perder referenciais e toda influência externa tem conseqüências sobre os hábitos sexuais de qualquer indivíduo. Vale ainda ressaltar que crianças não compreendem todo o universo de aceitação do próximo com suas diferenças ou deficiências.
Em um país como o Brasil, onde a família ainda é nuclear para uma criança com pais homossexuais, acredita-se que a situação possa talvez, causar-lhe mal-estar e todo tipo de constrangimento na escola ou em um grupo de amigos onde a maioria absoluta ainda possui pai e mãe heterossexuais. Mesmo com tanta mudança o papel da mulher foi subvertido e ela deixou de cuidar dos filhos em casa para trabalhar fora, muita coisa mudou e a mulher, cada vez mais incentivada a migrar no mercado de trabalho, seja por pressões econômicas como também sociais, cresce em poder aquisitivo, em poder de compra e em independência, o que a leva a chefiar as próprias famílias, valendo ressaltar que 80% dos divórcios são iniciados por desejo das mulheres e toda mudança que a família sofre e presencia a partir daí tem raízes nestas mudanças.
O homossexualismo insere-se aí como um elemento exógeno, quase como um marco divisor entre os opostos, uma espécie de conciliação de tendências, ou também uma espécie de convite alternativo às frustrações amorosas entre homem e mulher. É uma questão de opinião, sobre o que tivemos de e perdas e ganhos, mas prever essas alterações antes de elas acontecerem é praticamente impossível, já que tais mudanças, públicas e expostas ao mundo, no núcleo familiar ocorre a pouco mais de uma década e ninguém ainda pode afirmar qual será no futuro as preferências de cada ser que compõe a mesma. Apesar da dificuldade, algumas hipóteses podem ser formuladas para os efeitos da adoção gay, sendo que a ausência de um referencial do sexo ausente também não aparenta ser problema e filhos de pais separados ou solteiros não serão necessariamente contra o casamento, como também crianças educadas por gays não necessariamente serão gays no futuro.
Ainda assim a luta hoje é conjunta, de homens e mulheres, heterossexuais ou não, para uma maior dignidade na vida social, maior respeito entre as pessoas, na busca por uma sociedade mais humana e solidária, de um mundo mais fraterno que, levando em conta as diferenças, a diversidade, luta pela igualdade social. Não obstante, a família brasileira em sua essência ainda é nuclear já que não é aprovado por lei o casamento homossexual e não conta ainda com um apoio efetivo da comunidade heterossexual brasileira que apesar de dizer-se sem preconceito, na prática age de forma diferente.

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