INTRODUÇÃO

Para se ter uma comunidade escolar engajada num projeto que vise à melhoria do meio ambiente, tanto local quanto global e, conseqüentemente ao verdadeiro exercício da cidadania, deve-se primeiro ter em mente que esta escola também deve estar engajada neste projeto. Para tanto, o Orientador Educacional pode colocar-se de frente num projeto que tenha como objetivo central sensibilizar e conscientizar aos alunos, seus familiares e à comunidade escolar como um todo, para as questões ambientais, em um primeiro momento. Depois, podem ser desenvolvidos subprojetos onde, se baseando na realidade concreta e necessidades desta comunidade em vista, sejam abordados assuntos, desenvolvidas oficinas, palestras, cursos e outros que realmente promovam uma Educação Ambiental.

As escolas que se comprometem a desenvolver e estimular a Educação Ambiental deveriam estar cientes de que para alcançar o êxito desejável, é preciso planejar pensando a realidade dos sujeitos que estarão envolvidos no processo.

Estes indivíduos devem participar ativamente até mesmo de possíveis propostas de soluções para problemas ambientais que são encontrados em sua rua, em seu bairro. Assim eles se sentirão parte integrante deste processo. Terão mais desejo e mais iniciativa em sua participação.

Dessa forma o conhecimento passa a ter significado e pode transformar a realidade atual de transmissão de conteúdos prontos e acabados, o que não tem nada em comum com o que se espera da educação, da escola e, neste caso em particular, da Orientação Educacional. E nem mesmo da Educação Ambiental, que requer: conscientização, ação, participação, cooperação, solidariedade, respeito, ética e muitos outros valores e atitudes comportamentais que se espera que os sujeitos transformem e/ou adquiram a partir daí, porque como afirmava Freire (1996: 36) "transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico, é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo". Contudo, uma comunidade realmente consciente, sensibilizada e comprometida poderá intervir em sua realidade, lutando em prol da melhoria da infra-estrutura de sua rua ou bairro, pela qualidade dos serviços públicos da região, ou seja, da qualidade de vida como um todo.

A educação ambiental deve ser trabalhada de forma a conscientizar os educandos a respeito do meio ambiente e sua preservação. Não é somente ensinar a reciclar, fazendo oficinas de reciclagem, nem tão somente falar da importância da coleta seletiva do lixo ou cuidar de plantinhas, é muito mais que isso! Apesar de tudo isso ser muito importante, mais importante que isso é a conscientização de seus sujeitos pelas questões ambientais, desvelando o mito de que meio ambiente é sinônimo de natureza, animais e plantas. O meio ambiente é muito mais que isso, pois como define Reigota (2004: 21), meio ambiente é "um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais".

O tema deste trabalho é sobre a relação que se pode ter entre a Orientação Educacional e a Educação Ambiental no ambiente escolar tendo como linha de pesquisa Educação e Sociedade e sendo suas áreas predominantes: Orientação Educacional e Educação Ambiental. O tema se faz relevante por contribuir para uma melhor qualidade de vida na sociedade.

A motivação para esta pesquisa tem origem ainda na Graduação, onde o tema também está ligado à educação ambiental. Sendo que, neste momento, a intenção é tomar consciência de como a escola como um todo, e tendo como protagonista o Orientador Educacional, pode contribuir para a Educação Ambiental da comunidade escolar na qual está inserida. Já que os problemas ambientais estão cada vez mais presentes e potencializados no nosso dia-a-dia.

O objeto de estudo do presente trabalho é a ação do Orientador Educacional para o desenvolvimento da Educação Ambiental na escola.

A perspectiva que se tem é a de que os indivíduos saibam valorizar e respeitar o meio ambiente como um todo e sintam-se sempre parte integrante deste meio, já que estepertence a toda a comunidade terrena e não a uma pequena parcela da sociedade.

Contudo, para que isto ocorra é necessário que a escola desenvolva um trabalho em equipe, pois somente o Orientador Educacional e/ou o Professor, isoladamente, não conseguirão atingir os objetivos desejados, ou seja, a consciência ambiental, a co-responsabilidade ativa com o meio ambiente, de todos que compõem a comunidade local e, conseqüentemente, com a comunidade terrena.

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma:

Inicialmente apresenta-se a introdução com informações para compreensão inicial do trabalho e sua contextualização, destacando-se o tema, a motivação para a pesquisa e o objeto de estudo.

No primeiro capítulo inicia-se o referencial teórico, no qual é apresentado o histórico da educação ambiental, desde a Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, em 1965 até os dias atuais; são apresentadas também, as definições de educação ambiental e meio ambiente, bem como de desenvolvimento sustentável, consumo sustentável, ecologia e agenda 21, já que são termos que se fazem relevantes nos dias atuais.

No segundo capítulo são apresentadas informações gerais sobre a trajetória da orientação educacional no Brasil, por meio de conceitos sobre orientação educacional, que é considerada uma ação importante na melhoria da qualidade dos padrões educacionais, ressaltando inclusive as responsabilidades do orientador educacional. Foi abordada a orientação educacional desde implementação no Brasil, contexto sócio-político e as características de sua origem e evolução. A formação e perfil esperados do orientador educacional, também são apresentados neste capítulo, que com profissão reconhecida em 1968 por meio da lei, volta-se nos estudos recentes para a democratização das relações na escola.

O terceiro capítulo apresenta, por fim, a orientação educacional e a educação ambiental na escola, com propostas em prol da boa formação ambiental do aluno, que giram em torno da conscientização e sensibilização dos alunos para questões ambientais de âmbito geral, que utilizem atividades educativas extracurriculares.

Em seguida, apresentam-se as considerações finais acerca do trabalho desenvolvido e as referências bibliográficas utilizadas para a pesquisa.

 

                                    CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

"Somente quando for cortada a última árvore, poluído o último rio, pescado o último peixe, é que o homem vai perceber que não pode comer dinheiro!" (Jam Yuri)

A Educação Ambiental, por despreparo ou desdém, boa parte das vezes só é trabalhada a partir de livros didáticos, e o que é pior, somente em datas que lembrem o meio ambiente como, por exemplo, o dia Mundial do Meio Ambiente, o dia da árvore, o dia da primavera, dentre outras.

A forma que é trabalhada a educação ambiental é, algumas vezes, desprovida de um planejamento que respeite a clientela a qual ela atende. Sendo assim, acaba por estar desprovida de sentido, descontextualizada e desconexa, onde os sujeitos envolvidos neste processo praticamente só participam da execução de atividades que não levam a uma verdadeira conscientização das questões ambientais, e por fim, atividades que fazem com que estes sujeitos sintam perdendo o seu tempo e que não é nada que lhe acrescente algo.

Ainda hoje, em pleno século XXI, a formação ambiental dos educandos sofre uma grande defasagem, posto que a educação ambiental não é vista como uma educação para o exercício da cidadania ou como elemento de transformação social. Sendo assim, acaba por não se entender que todos devem respeitar e proteger o meio ambiente, causando desta forma a "absurda crise de conviviabilidade que assola o mundo civilizado" (CARVALHO, 2008: 114). Carvalho também nos ajuda a entender que "somente por meio da solidariedade e da participação conjunta, existem possibilidades, [...] de se construir um ambiente mais sustentável" (CARVALHO, 2008: 27). Contudo, a Educação Ambiental veio para ajudar a amenizar o caos em que o meio ambiente se encontrava, e ainda se encontra. Para tanto, é preciso que haja o diálogo tanto dos indivíduos entre si, quanto do indivíduo com o meio ambiente, e isto deve ocorrer do micro para o macro, ou seja, começa em casa e na escola, depois parte para a rua, o bairro, a cidade e assim por diante, até que o indivíduo perceba o meio ambiente como um todo.

Neste momento, portanto, se faz necessário que se esclareça alguns termos específicos para que se entenda a Educação Ambiental da forma completa e complexa com que ela se apresenta para a conscientização e sensibilização dos indivíduos.

A educação ambiental, para chegar ao nível em que se encontra nos dias de hoje, precisou de muita luta por parte de ambientalistas, educadores, ecologistas e outros indivíduos engajados e compromissados com uma educação ambiental significativa e de qualidade. Foi na Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, em 1965, que o uso da expressão Educação Ambiental ficou definido como uma educação com vistas à sensibilização/conscientização das sociedades para as questões ambientais e conservação do meio ambiente, ou seja, visando a libertação, como bem preconizava Paulo Freire (2005). Ou ainda uma "(...) educação como elemento de transformação social inspirada no diálogo, no exercício da cidadania, no fortalecimento dos sujeitos, na superação das formas de dominação capitalistas e na compreensão do mundo em sua complexidade e da vida em sua totalidade" (LOUREIRO, 2004: 23-24).

Logo após, veio a criação do Clube de Roma em 1968, num vilarejo em Roma, na Itália, que era composto por 30 membros que representavam 10 países; dentre seus membros encontravam-se líderes acadêmicos, industriais, diplomatas e outros representantes da sociedade civil. O Clube de Roma era uma organização não-governamental, que se destacava de outras por ter como objetivo central a resolução de problemas em longo prazo, que para serem solucionados precisassem não somente de governos e setores privados, mas sim de toda a sociedade unida, lutando em prol do "Globo".

Em 1972, viria o primeiro resultado do trabalho dessa organização, o relatório mundialmente conhecido e discutido intitulado: "Os Limites do Crescimento". Sua importância foi tanta que este relatório foi traduzido para 30 idiomas e difundido para milhares de pessoas e inúmeras instituições.

Neste mesmo ano, ocorre também a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (mais conhecida como simplesmente Conferência de Estocolmo), em Estocolmo, na Suécia. Esta Conferência reuniu chefes de Estado representantes de 113 países, que tinham como objetivo a discussão de questões sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. Também se considerava a necessidade de se ter princípios e metas comuns que guiassem os povos de todo o Mundo, para a preservação e melhoria do ambiente humano e conseqüentemente da qualidade de vida que vinha despencando nos últimos anos. Como conseqüência desta Conferência, temos a Declaração de Estocolmo que estabelece alguns princípios para orientar as discussões futuras sobre a melhoria do meio ambiente humano.

Três anos depois, em 1975, veio a Conferência de Belgrado (em Belgrado, capital da antiga Iugoslávia) como cumprimento da Recomendação 96 da Declaração de Estocolmo. Esta Conferência vai gerar a Carta de Belgrado onde são estabelecidos os princípios e as metas da Educação Ambiental que, inclusive, já havia sido reconhecida com uma educação integral e permanente no seminário de educação ambiental em Jammi, na Finlândia, realizado no ano de 1974. Também é criado o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA).

A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental aos Países Membros, ou Conferência de Tbilisi como ficou mais conhecida, ocorre em 1977, em Tbilisi, capital da Geórgia, antiga União Soviética. De acordo com Dias (2000), esta foi a Conferência mais importante na evolução da educação ambiental, porque nela "foram definidos os conceitos da Educação Ambiental, seus objetivos, princípios orientadores e estratégias para o seu desenvolvimento".

Em 1987, ocorre o Congresso Internacional de Educação e Formação Ambientalpromovido pela UNESCO,com o Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma) e o Programa Internacional de Educação Ambiental (Piea). Este Congresso teve como objetivos: discutir as dificuldades e progressos alcançados pelas nações no campo da educação ambiental, e a determinação de necessidades e prioridades em relação ao seu desenvolvimento, desde a Conferência de Tbilisi.

O Brasil também sedia uma das mais importantes Conferências: a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, sendo mais conhecida como Rio 92 ou Eco 92. Esta Conferência promoveu debates oficiais e extra-oficiais, a 1ª jornada Internacional de Educação Ambiental, fóruns, workshops.

Os documentos mais importantes gerados pela Rio 92 foram: a Agenda 21, a Carta Brasileira Para a Educação Ambiental e o Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

1.1 – O que é Educação Ambiental?

A Educação Ambiental é comumente confundida, ainda hoje, com o ensino de ecologia, porém, estes dois temas têm significações diferentes, como bem ressalta Reigota (2004: 19). Sendo assim, para tentar eliminar ou ao menos diminuir a "confusão conceitual" existente sobre a Educação Ambiental, é importante elencar alguns conceitos oficiais do que é educação ambiental.

Em 1972, na Conferência de Estocolmo, já é apontada a importância de se ter:

"[...] um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana." (Princípio n° 19 da Declaração de Estocolmo, 1972),

Esta já seria uma primeira definição oficial do que é educação ambiental, mesmo ainda não se falando claramente do termo "educação ambiental", que surge mais adiante na Conferência Sub-regional de educação ambiental para a Educação Secundária em Chosica/Peru, quatro anos depois, em 1976:

"A educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação."

No ano seguinte (1977) vem a definição de Educação Ambiental pela Conferência Intergovernamental de Tbilisi, que diz que a Educação Ambiental

"[...]é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida."

Em 1999, o termo surge definido em outro documento importantíssimo na trajetória da Educação Ambiental no Brasil, a lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental, instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental, que em seu artigo 1° define-a como:

"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade."

Já o Ministério do Meio Ambiente ainda no ano de 1999 define a Educação Ambiental como

"(...) um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros".

Há ainda outras definições sobre o que seja a educação ambiental, mas resumidamente todas as definições serão mais ou menos parecidas, pois o objetivo comum a todos é o mesmo: conscientizar/sensibilizar todos os sujeitos/indivíduos, das questões ambientais - locais e globais - para que possamos ter um presente melhor e o futuro livre das catástrofes que estão sendo previstas para um futuro próximo.

Em suma:

"Cabe a Educação Ambiental gerar um sentido de responsabilidade social e planetária que considere o local ocupado pelos diferentes grupos sociais, a desigualdade no acesso e uso dos bens naturais e nos efeitos nesse processo, as diferentes culturas e modos de entender a ameaça à vida no planeta, problematizando as ideologias e interesses existentes por trás dos múltiplos modelos de sociedades sustentáveis que buscam se afirmar no debate ambientalista". (LOUREIRO, 2004: 58)

1.2 – O que é Meio Ambiente?

Meio Ambiente é um termo que, muito comumente, as pessoas conceituam como sendo somente fatores bióticos, ou seja, ligados apenas à fauna e à flora. Porém, o Meio Ambiente é algo muito mais completo e complexo que isto.

Pode-se chamar Meio Ambiente ao grande ecossistema, a mãe-Terra, ou, ainda, fazer-se referência somente ao Ambiente. Esse Ambiente, mais globalmente, seria o Planeta Terra como um todo, "onde vivem e interagem todos os seres, fatores bióticos (fauna, flora), abióticos (ar, solo, temperatura, etc.) e também toda produção cultural humana (paradigmas, princípios éticos, valores filosóficos, políticos, científicos, artísticos, econômicos, sociais, religiosos, etc.)."(Dias, 2002: 33)

O Meio Ambiente também é concebido por cada esfera da sociedade de uma forma diferente, pois "As definições podem ser as mais variadas possíveis (...)" (Reigota, 2004: 20). Como também o veriam os ecólogos ou ecologistas, de uma forma global, abrangente, envolvendo o meio biótico e abiótico. Diferentemente dos geógrafos ou geólogos – até bem pouco tempo atrás - que viam o meio ambiente de uma forma mais técnica, mecanizada, como, por exemplo, definiu o geógrafo francês Pierre Jorge "ao mesmo tempo o meio é um sistema de relações onde a existência e a conservação de uma espécie são subordinadas aos equilíbrios entre os processos destrutores e seu meio – o meio ambiente é o conjunto de dados fixos e de equilíbrios de forças concorrentes que condicionam a vida de um Grupo biológico". (Jorge apud Reigota, 2004: 20). Porém, a maioria da população vê o meio ambiente de uma forma mais reduzida, por falta de conhecimento adequado sobre o tema, que deveria ser mais bem divulgado pela mídia, que trata do meio ambiente, de forma superficial.

As definições aqui exemplificadas não têm o intuito de julgamentos e comparações, mas sim a de mostrar a diversidade de pensamentos que temos para somarmos, e juntos tentarmos mudar uma realidade cruel que se aproxima rapidamente.

1.3 – Outros conceitos afins

Além da conceituação oficial do que é a Educação Ambiental e o Meio Ambiente, há outros termos que se fazem importantes serem definidos neste trabalho, já que também serão citados, e a relevância da conceituação de tais termos é tão grande quanto a dos anteriores. Como, por exemplo, o de desenvolvimento sustentável, termo muito utilizado ultimamente.

1.3.1 - Desenvolvimento Sustentável

Além da conceituação oficial do que é a Educação Ambiental e o Meio Ambiente, há outros termos que se fazem importantes serem definidos neste trabalho, já que também serão citados, e a relevância da conceituação de tais termos é tão grande quanto a dos anteriores. Como, por exemplo, o de desenvolvimento sustentável, termo muito utilizado ultimamente.

A partir da década de 70 para cá, acentuou-se cada vez mais o discurso de que todas as sociedades precisam ter um desenvolvimento sustentável, pois, o atual modelo de desenvolvimento econômico que nossa sociedade adotou vem causando muitos desastres ambientais, acentuando cada vez mais a miséria, gerando toneladas e toneladas de lixo que não tem uma destinação adequada, dentre outros problemas.

E o que seria este desenvolvimento sustentável tão falado e necessário? Uma questão importante que devemos esclarecer sobre o desenvolvimento sustentável é que ele não é somente o crescimento econômico de um país, de uma sociedade, mas envolve também o critério social e ecológico, porque, caso contrário, chega-se ao estágio em que nos encontramos agora: numa crise ambiental e social. A propósito, desenvolvimento e crescimento não são sinônimos, ou seja, têm significados diferentes. O crescimento visa somente o acúmulo de riquezas – nas mãos de poucos -, não considerando nenhum outro aspecto da qualidade de vida. Enquanto isso, o desenvolvimento apesar de ter também como objetivo a produção de riquezas, ao contrário do crescimento, esta riqueza seria distribuída equanimente, proporciona-se uma melhor qualidade de vida à população e, portanto, considera a qualidade ambiental do Planeta.

O que isto significa? Significa que deve haver um equilíbrio entre as tecnologias que evoluem mais e mais a cada dia, e o meio ambiente levando em consideração todos os aspectos sociais com vistas ao alcance da eqüidade e justiça social. E para se atingir o objetivo de uma sociedade sustentavelmente desenvolvida, a proteção ao meio ambiente deve ser prioridade, porque o meio ambiente não pode ser visto como algo estanque à sociedade e ao seu desenvolvimento.

O desenvolvimento sustentável também leva em consideração a necessidade que as gerações futuras têm de desfrutarem dos bens naturais que o Planeta Terra nos oferece com a mesma qualidade com que desfrutamos agora. Entretanto, ao tentarmos chegar ao desenvolvimento sustentável, deve-se saber que a educação ambiental é parte integrante neste processo, pois é a maneira mais direta de conseguirmos a participação da população nesta luta árdua.

1.3.2 – Consumo Sustentável

Além do desenvolvimento sustentável que se faz necessário, também é de grande importância que haja, paralelamente, o consumo sustentável, porque "A sociedade precisa refletir sobre os impactos do consumo na degradação do meio ambiente". (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2002: 7)

E o que seria o consumo sustentável?

Seria a conscientização do povo a cerca do impacto que determinadas ações que realizamos causam ao meio ambiente, sendo que, colocando-as em prática, mais especificamente, como consumidores.

Nos últimos anos, pode-se perceber o grande avanço ocorrido no nível de conscientização dos cidadãos com relação aos assuntos relacionados ao meio ambiente e sua preservação. Assuntos como o aquecimento global, ou a água e sua possível escassez, dentre outros, já fazem parte das conversas entre pessoas em qualquer canto que vamos ou estamos..

O consumo sustentável, como uma ação mais efetiva apareceu no ano de 1999 com o Programa de Meio Ambiente e Consumo do Escritório Regional da Consumers International para a América Latina e o Caribe, que lança neste mesmo ano "a edição em espanhol do Manual de Educação para o Consumo sustentável". (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2002: 9)

Além do manual, "foram produzidos folhetos educativos e spots de rádio, para orientar os consumidores em assuntos como lixo, energia, transporte, alimentos e serviços." (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005: 12)

Este Manual vem para tentar orientar a docentes, alunos e pessoas de organizações de consumidores em temas relativos a insustentabilidade na trajetória educacional. Ele tem como perspectiva avaliar e tentar solucionar ou sanar os desafios que a realidade impõe aos consumidores para que ajam de forma consciente e sustentável.

Assim sendo, o consumo sustentável se faz necessário e urgente por já nos encontrarmos num estágio de consumismo desenfreado, desorientado e sem limites. Sem contar o desperdício, onde "(...) as coisas são devoradas e abandonadas num ritmo alucinado, fazendo com que dificilmente dure o suficiente para conter o processo vital utilizado". (ARENDT Apud LOUREIRO, 2004: 48)

O produto final visado pelo consumo sustentável é que este seja um processo eficaz para a educação ambiental dos consumidores. Almeja-se "contribuir para melhorar a qualidade de vida da população brasileira". (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2002: 10)

1.3.3 – Ecologia

Pela etimologia da palavra Ecologia, ela tem origem no grego "oikos" que significa casa e "logia", estudo, reflexão. Logo, por extensão seria o estudo da casa, ou de forma mais genérica, do lugar onde se vive. (Wikipédia, 2006)

O conceito de ecologia ainda é confundido com o conceito de educação ambiental e de meio ambiente. Porém, este termo surge no ano de 1869, proposto por Ernst Haeckel como sendo o estudo das relações entre as espécies e seu ambiente. A princípio o conceito deste termo se encerrava nisto, mas hoje em dia a ecologia teve seu conceito ampliado. Ecologia pode ser a interação dos seres vivos entre si e seu ambiente, como pensou Haeckel inicialmente, ou como define a AME - Fundação Mundial de Ecologia (World's Ecology Foundation ) "é o estudo do mundo, pois tudo o que fazemos ou aquilo com que mexemos tem de ser estudado, pesquisado para poder ser respeitado."

De acordo com a AME, a "Ecologia estuda, ainda, tudo que acontece com o clima dos países, produção, trabalho, moradia, qualidade de vida, etc". Tudo isto porque a ecologia é uma ciência que estuda o mundo para entendê-lo, achar os erros e apontar caminhos para "consertar tudo".

Já o Centro de Ecologia Integral (CEI), que é uma organização não-governamental ambientalista fundada em 2001, entende a ecologia por uma área ramificada em sub-áreas, como fica claro na definição inicial de suas intenções e objetivos: "trabalhar por uma cultura de paz e pela ecologia integral, apoiando e desenvolvendo ações para a defesa, elevação e manutenção da qualidade de vida do ser humano, da sociedade e do meio ambiente, através de atividades que promovam a ecologia pessoal, a ecologia social e a ecologia ambiental." (CEI - Centro de Ecologia Integral)

Assim, percebe-se claramente a diferença entre ecologia, educação ambiental e meio ambiente, apesar dos termos se completarem, eles são coisas distintas: a ecologia estuda o meio ambiente com todos os seus componentes (bióticos, abióticos, culturais e sociais) que, por fim, dá subsídios para a educação ambiental ser trabalhada com qualidade, reflexão e ação.

1.3.4 – Agenda 21

A Agenda 21 é um documento de 40 capítulos, e o principal resultado da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED/Rio-92, que tem como proposta para os diversos países a tomada de medidas para que neste século XXIpossa ser garantida a sustentabilidade das atividades humanas para as gerações presentes e futuras. É um documento consensual ao qual contribuíram 179 países e que teve sua culminância, após dois anos, com a realização da Rio 92.

A Agenda 21 é um planejamento do futuro a curto, médio e longo prazo, que trata de ações concretas com metas, recursos e responsabilidades definidas para alcançar o desenvolvimento sustentável que deve ser obtido com a participação de toda a sociedade, ou seja, através de um consenso.

De acordo com a Crescente Fértil (ONG – sem fins lucrativos, 1994) a "Agenda 21 serve de guia para as ações do governo e de todas as comunidades que procuram desenvolvimento sem com isso destruir o meio ambiente. Da mesma forma que os países se reuniram e fizeram a Agenda 21, as cidades, os bairros, os clubes, as escolas também podem fazer a Agenda 21 Local". Sendo assim, a Agenda 21 divide-se em: Agenda 21 Global, que foi o documento divulgado na Rio 92, a Agenda 21 Nacional, a Agenda 21 Regional e a Agenda 21 Local que são aquelas que cada país, estado, cidade, etc irá elaborar a partir da participação efetiva dos sujeitos que a compõe. E a Agenda 21 Global ainda tem como slogan: pense global, aja local, ou seja, agir no micro com o intuito de atingir o macro.

O Brasil tem sua Agenda 21 Nacional - a Agenda 21 Brasileira - que tem como objetivo principal a mudança do padrão de desenvolvimento, a ser praticado pela humanidade no século XXI. Ela é um pacto dos setores governamental, civil e produtivo da sociedade com o futuro. Alguns estados, cidades e escolas também já possuem sua Agenda 21,e estão trabalhando para a sua implementação e funcionamento.

 

 CAPÍTULO II

A TRAJETÓRIA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO BRASIL

"Nenhum problema pode ser resolvido a partir da mesma consciência que o criou. É preciso aprender a ver o mundo renovado". (Albert Einstein)

2.1 – O que é a Orientação Educacional?

Orientação educacional é uma especialidade do pedagogo, que pode ser obtida através de cursos de habilitação, incorporada ou não à licenciatura em pedagogia, ou através de especialização. Como está apontado pela revista Nova Escola da edição 160 de março de 2003 "Se você se interessa em seguir essa carreira, saiba que é preciso ter curso superior de Pedagogia ou pós-graduação em Orientação Educacional." (NOVA ESCOLA, mar. 2003)

A Orientação Educacional é também considerada uma ação importante na melhoria da qualidade dos padrões educacionais em países nos quais se destinam recursos significantes à educação e impõe-se, no meio social, não só como um recurso somatizado para o aprimoramento da escola, mas sim, como um fator urgente para responder às necessidades do desenvolvimento pessoal e social do aluno.

Ainda de acordo com o artigo da revista Nova Escola, as atribuições do Orientador educacional seriam: Contribuir para o desenvolvimento pessoal do aluno; ajudar a escola a organizar e realizar a proposta pedagógica; trabalhar em parceria com o professor para compreender o comportamento dos alunos e agir de maneira adequada em relação a eles; ouvir, dialogar e dar orientações.

O orientador educacional atua junto ao corpo discente das instituições de ensino, acompanhando as atividades escolares, bem como o desempenho do estudante, seja em termos de rendimento ou de comportamento.

A Orientação educacional é a orientação realizada no âmbito escolar, como parte integrante ou complementar do processo educacional. É concebida como uma assistência abrangente ao educando, que visa compreendê-lo e assisti-lo em sua formação, em vista do desempenho de papéis fundamentais como ser humano consciente e de cidadão participante. É entendida como um processo dinâmico, contínuo e sistemático, estando integrada em todo o currículo escolar sempre encarando o aluno como um ser global que deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos: intelectual, físico, social, moral, estético, político, educacional e vocacional.

De acordo com a Lei n° 5564 de 21 de dezembro de 1968, que provê sobre o exercício da profissão de orientador educacional, em seu artigo 1°, define a orientação educacional da seguinte forma:

"A orientação educacional se destina a assistir ao educando, individualmente ou em grupo, no âmbito das escolas e sistemas escolares de nível médio e primário visando ao desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas."

Integrada com a Orientação Pedagógica e Docente, a Orientação Educacional deverá ser um processo cooperativo devendo, principalmente, cooperar com o professor, estando sempre em contato com ele, auxiliando-o na tarefa de compreender o comportamento das classes e dos alunos em particular; manter os professores informados quanto às atitudes tomadas junto aos alunos, principalmente quando esta atitude tiver sido solicitada pelo professor; atrair os pais para a escola a fim de que nela participem como força viva e ativa; desenvolver trabalhos de integração: pais x escola, professores x pais e pais x filhos.

O Orientador Educacional deve conscientizar todos os agentes educativos da escola, tanto da educação infantil e ensino fundamental, como também do ensino médio, de que estes, enquanto membros ativos dentro da escola são peças fundamentais para o bom desenvolvimento da Orientação Educacional.

Martins (1992: 30) ressalta que o Orientador Educacional deve possuir um bom preparo, em nível universitário, que lhe forneça adequados conhecimentos de Psicologia Educacional, Psicologia da Criança e do Adolescente, Psicologia Pedagógica, Sociologia Educacional, Filosofia da Educação, Biologia Educacional, estatística Educacional, Estrutura e Funcionamento do Ensino. Ainda, segundo o autor, seria importante que todo o Orientador Educacional tivesse boa experiência no magistério e conhecimentos básicos das disciplinas do curso/nível de ensino ao qual está orientando. Portanto, o Orientador Educacional deve estar sempre em processo de atualização, através de leituras, congressos, simpósios, etc.

Cabe à Orientação Educacional a função educativa no sentido de formação do aluno, como um sujeito capaz de interagir e influenciar no meio em que vive com criticidade, autonomia e capacidade de organização, construindo uma cidadania consciente e responsável.

2.2 – A Orientação Educacional no Brasil: da implementação ao século XXI

Segundo Maia e Garcia (1990: 12), para se analisar melhor a trajetória de Orientação Educacional no Brasil é necessário que se leve em consideração dois aspectos importantes: o contexto sócio-político em que surgiu a Orientação Educacional no Brasil; e as características de sua origem e a evolução frente ao quadro político-educacional do país.

Segundo Grinspun, a trajetória da Orientação Educacional "tem início pela área da Orientação Vocacional" (GRINSPUN, 2006: 21), sendo suas primeiras experiências registradas no ano de 1924, por Roberto Mange, um engenheiro suíço, que iniciou este trabalho no Liceu de Artes e Ofícios (São Paulo) com a seleção e orientação profissional para alunos do Curso de Mecânica.

Em 1931 o Serviço de Orientação é tornado oficial pelo professor Lourenço Filho, diretor do Departamento de Educação de São Paulo, Brasil, surgindo assim o primeiro Serviço de Orientação Educacional e Profissional. No entanto, esta experiência teve uma duração curta, sendo extinto o serviço em 1935. Seria função do Orientador Educacional, nesta época, "orientar e encaminhar aqueles que pretendiam ingressar em cursos universitários e aqueles que precisavam se profissionalizar imediatamente" (GARCIA, 2002: 10)

No ano de 1934, no Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, ocorreu a primeira tentativa isolada do Serviço de Orientação nas escolas. Os responsáveis por esta tentativa foram Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schmidt.

Em 1942 é reimplantado, a partir da Lei Orgânica do Ensino Industrial, o Serviço de Orientação, com a finalidade de correção e encaminhamento dos alunos - problema. Assim, esse serviço teria claramente um papel adaptador à sociedade, preparando para a inclusão no mercado de trabalho.

O primeiro curso específico para a formação do Orientador Educacional surgiu em 1945, na PUC de Campinas, no estado de São Paulo. Mesmo a Orientação não sendo mais garantida pela Lei, o quantitativo de profissionais formados apresentou insuficiência desde o início. A primeira solicitação de um orientador educacional para a Diretoria de Ensino Superior de MEC ocorreu, somente na década de 60 do século XX (MAIA e GARCIA, 1990).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 (LDB - lei nº 4.024/61) volta a dar amparo legal a Orientação na Educação Brasileira, incluindo um capítulo que discursa sobre a formação dos Orientadores Educacionais para os cursos primário e secundário. Porém, mesmo a LDB amparando o serviço de orientação para ambos os cursos, recebe mais destaque, na prática, a orientação para o ensino secundário.

A LDB também preocupou-se também em garantir a formação do Orientador para que este tivesse boas condições de cumprir o seu papel, que neste momento era, de acordo com Grinspun (2006), responder, "na escola, pelo estabelecimento de um 'clima educativo' que propiciasse ao aluno a consecução de seus objetivos educacionais, conforme a lei proclamava." (GRINSPUN, 2006: 26)

A regulamentação do exercício da profissão do Orientador vem em 1968 com a lei 5.564/68, que confirma uma linha psicológica e uma função preventiva da Orientação. Nesta época a Orientação Educacional ganha uma ampliação de sua ação para o desenvolvimento integral do educandos. (MAIA e GARCIA, 1990: 18)

Em 1970 é feito o I Congresso Brasileiro de Orientação Educacional, que ocorre em Brasília. Neste evento começa a aparecer a "preocupação com o trabalho científico e vincula a ação do Orientador Educacional à política administrativa". (GARCIA, 2002: 11)

Com o intuito de se confirmar um ensino profissionalizante, a lei 5692/71 vem para ratificar a relevância e obrigatoriedade da Orientação Educacional nos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus. E faz isto através de seu artigo 10.

No Congresso de Orientação Educacional de 1972, realizada no Rio de Janeiro, Regina Leite Garcia faz o comunicado de que "A informação profissional [é] pré-condição para uma visão do mundo do trabalho" (GARCIA, 2002: 12). Com o objetivo de construir um ensino de qualidade e para todos, naquela época, o orientador tem como objetivo central informar aos alunos as oportunidades ocupacionais e educacionais oferecidas pelas escolas de 2º e 3º graus e pelo mercado de trabalho.

Garcia ainda afirma que na década de 70:

"Ainda então, acreditávamos que as teorias psicológicas dessem conta do processo de escolha vocacional, pois ingenuamente acreditávamos estar no indivíduo o problema da escolha (estávamos impregnados pelo ideário liberal, que afirma a igualdade de oportunidades e que, por decorrência, responsabilizava o indivíduo pelas escolhas que conduzem ao sucesso ou fracasso). (GARCIA, 2002: 13)"

Entre o V Encontro Nacional e o VI Congresso realizados respectivamente em 1975 na Bahia e 1976 em São Paulo, os Orientadores passam de uma visão psicologizante e ideologizada, como foram formados, para uma visão onde tenta-se entender e interferir no processo pedagógico.

Em 1976 foi elaborado pelo MEC um documento muito importante na trajetória da Orientação, "Orientação Educacional e Linhas de Ação" que já estava baseado em outro documento de 1973 (GRINSPUN, 2006: 28).

Na década de 80 a reflexão dos Orientadores sobre sua prática foi aumentando, onde os vários eventos da classe fazem com que eles busquem uma identidade. Tais reflexões levam a seguinte conclusão, que a educação vai além do simples fornecimento de escolaridade aos alunos. Os objetivos e propósitos da escola, a escola como reprodutora do sistema social e a exclusão social ganham espaço importantíssimo em discussões e reflexões nos Encontros e Congressos que se seguem.

Ainda na década de 80 "Amplia-se a produção acadêmica na área da Orientação, em uma dimensão mais crítica e questionadora" (GRINSPUN, 2006: 29). A discussão acerca do artigo 10 da lei 5.692/71 para que se garantisse a obrigatoriedade da Orientação Educacional nas escolas de 1º e 2º graus.

No ano de 1990 a Federação Nacional de Orientadores Educacionais (FENOE) é extinta, o que é uma situação nova para os orientadores. Sendo assim, eles resolvem criar um sindicato único, onde se lutasse pelos direitos deles e também fazer com que eles fossem incorporados na mesma entidade que reunisse os trabalhadores de Educação (CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação).

Grinspun aponta que:

"No início da década de 90, uma série de acontecimentos caracteriza os novos rumos da Orientação, que passa a desempenhar um papel muito significativo junto à educação, nos anos seguintes. Elas passam a ser parceiras inseparáveis em todos os rumos e finalidades. São os Orientadores, no meu entender, os coadjuvantes da prática docente." (GRINSPUN, 2006: 31)

Da década de 90 do século passado até os dias de hoje, o papel da Orientação Educacional vem se aprimorando em sua dimensão pedagógica, que se encontra mais abrangente. O Orientador, agora, trabalha muito mais em conjunto com os demais educadores do que isoladamente. O trabalho do Orientador antes era focado em atendimentos individuais, mas hoje já se percebe que o trabalho em conjunto, com a interação entre os indivíduos, produz um resultado muito maior, melhor e mais produtivo.

2.3 – Formação e Perfil do Orientador Educacional

A formação do Orientador Educacional ocorre e/ou ocorria a partir de uma habilitação dentro do curso de Pedagogia. Portanto, depois de discussões que ocorreram de forma sistemática a partir de 1979, acerca da formação dos profissionais de educação, muitas mudanças ocorreram, e a formação do Orientador Educacional foi uma delas, acontecendo, a partir disso, como uma especialização da pós-graduação.

Com relação ao grupo ao qual pertence o profissional Orientador Educacional, Grinspun afirma que este profissional "...pertence ao grupo de Magistério, e não a outro grupo que atue (ou não) nas Escolas, embora seu trabalho, em determinado momento, se relacione (ou até mesmo se fundamenta), com o por exemplo, a Psicologia, a Sociologia, a Administração, o Serviço Social etc". (Grinspun, 2006: 190) Enfim, não é o Orientador um Psicólogo, ou um Psicopedagogo, ou um Assistente Social, nem mesmo um Técnico Administrativo.

O Orientador Educacional tem sua profissão reconhecida desde 1968, através da Lei nº 5.564. Porém, isso não faz com que ele se distancie do objetivo central do trabalho do Magistério, pois sua formação se dá a partir da legislação em vigor.

Segundo Giacaglia e Penteado (2000: 4), o decreto n° 72846 de 26 de setembro de 1973 que regulamenta a lei n° 5.564 de 21 de dezembro de 1968, traz em seus artigos 8º e 9º a definição mais específica, na abrangência nacional, dos encargos do Orientador Educacional,

"Artigo 8°. – São atribuições privativas do Orientador Educacional:

a)Planejar e coordenar a implementação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional em nível de:

1 – Escola

2- Comunidade.

b) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional dos órgãos do Serviço Público Federal, Estadual, Municipal e Autárquico; das sociedades de Economia Mista, Empresas Estatais, Paraestatais e Privadas.

c) Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-a no processo educativo global.

d) Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando.

e) Coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas à orientação vocacional.

f) Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial.

g) Coordenar o acompanhamento pós-escolar.

h) Ministrar disciplinas de Teoria e Prática da Orientação Educacional, satisfeitas as exigências da legislação especifica do ensino.

i) Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional.

j) Emitir pareceres sobre matérias concernentes à Orientação Educacional.

Artigo 9°-Compete, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições:

a) Participar no processo de identificação das características básicas da comunidade;

b) Participar no processo de caracterização da clientela escola;

c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola;

d) Participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e grupos;

e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos;

f) Participar no processo de encaminhamento dos alunos estagiários;

g) Participar no processo de integração escola – família - comunidade;

h) Realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional." (Giacaglia e Penteado, 2000: 4)

A Orientação Educacional, nos estudos recentes, volta-se para a democratização das relações na escola. Propõe um novo papel para o orientador educacional, o de um pedagogo que ajude na transmissão-assimilação crítica dos conhecimentos, com compromisso político-pedagógico. Para tanto, propõe que a formação do orientador seja efetuada numa perspectiva crítica de estudo da orientação diante da realidade educacional brasileira.

Sua formação deve contemplar referenciais as teóricas críticas da educação, sendo um educador consciente, responsável pela construção de seu conhecimento, preocupado com a análise crítica das realidades sociais, buscando alternativas de ação para transformação dessa realidade.

Outro aspecto importante a ser destacado no perfil desse profissional é o seu compromisso ético com a educação, que se revela na visão clara da realidade social sendo que o mesmo mostre facilidade em se relacionar com todos os segmentos da escola.

CAPÍTULO III

A Orientação Educacional E a Educação Ambiental NA ESCOLA

"Um parque ecológico congrega uma série de atividades, com objetivos específicos, de uma forma harmônica, com a finalidade de integrar o homem ao meio ambiente pela valorização da natureza."(Hermógenes)

Segundo Carvalho (2008) a partir de um trabalho conjunto dentro da escola, o Orientador Educacional pode fazer muito pela formação do aluno, se reservado algum tempo justamente para ensinar os alunos a Conviver – na Escola e, por extensão, na família e na sociedade e em harmonia com o Meio ambiente. Faria isto por meio da conscientização e sensibilização dos alunos para questões ambientais que envolvam tanto o âmbito local quanto o global, como uma atividade educativa paralela, extracurricular, uma vez que os currículos (ainda) abrem pouco espaço para isto.

O propósito aqui é investigar o modo como essa atividade poderia se concretizar em clima de autonomia e criatividade, responsabilidade e disciplina. Apresentadas algumas proposições, pretende-se torná-las mais claras particularizando alguns tópicos que integrariam a Orientação Educacional com a Educação Ambiental dentro da escola.

É indiscutível a necessidade de conservação e defesa do meio ambiente. Para tanto, os indivíduos precisam ser conscientizados e, para que esta tomada de consciência se alastre entre presentes e futuras gerações, é importante que se trabalhe a educação ambiental dentro e fora da escola, incluindo projetos que envolvam os alunos e "quiçá" a comunidade escolar. E para que isso realmente aconteça, Grinspun (2006) entende que o orientador educacional não pode ter toda a responsabilidade do trabalho educacional sozinho. A equipe pedagógica e também professores devem se envolver nesse trabalho, pois este é árduo e não se pode tentá-lo sozinho, porque corre-se o risco de não se atingir os objetivos traçados.

A orientação educacional pode, segundo Grinspun (2006) partir do Projeto Político Pedagógico da escola que contemple a preocupação com a formação de um cidadão ativo e consciente de sua interferência no meio ambiente e assim podendo influenciar de forma positiva ou negativa sobre esse ambiente, podendo desenvolver um projeto em conjunto com a equipe pedagógica e os professores visando a conscientização e sensibilização dos alunos e comunidade escolar para as questões ambientais, instruindo-os para que possam não somente perceber os problemas ambientais de sua comunidade, como também interferirem positivamente para reverter o quadro que se apresente. O autor supracitado também ressalta que os alunos e a comunidade escolar devem estar atentos não somente a problemas locais, mas também a problemas globais, sabendo que os problemas locais e globais estão interligados e que um interfere no outro.

3.1 – A Educação Ambiental numa proposta de Trabalho por Projetos

O desenvolvimento de uma educação ambiental que realmente possa causar um resultado verdadeiramente relevante e eficaz deve garantir um trabalho sistemático e realmente compromissado com o meio ambiente. Contudo, somente levar em conta o meio ambiente não é o suficiente para Garcia (2002), posto que se deve pensar também nos sujeitos envolvidos no processo. Portanto, as peculiaridades da clientela que está sendo atendida devem ser levadas em consideração durante a elaboração do projeto. Inclusive a participação dos mesmos na elaboração, execução e avaliação desse projeto é de extrema importância.

A avaliação do projeto não deve, em hipótese alguma, ter os parâmetros tradicionais de uma avaliação. Como em qualquer processo avaliativo, o tipo de avaliação quantitativa e excludente não leva a bons resultados. Esta avaliação deve ser sistemática sim, porém ela deve ser processual, cumulativa e com a participação de todos os sujeitos que estão envolvidos no processo.

A avaliação num projeto de educação ambiental deve servir também para que o Orientador educacional, a equipe pedagógica e os professores, assim como os demais sujeitos envolvidos no projeto possam saber se os objetivos estão sendo alcançados, se há entraves nas metas traçadas e se há a necessidade de se mudar algum item no projeto ou não, assim afirma Chaves (2001). Em suma, a avaliação servirá para que se faça um "feedback" no desenvolvimento do projeto.

Para que o orientador educacional possa trabalhar um projeto de educação ambiental na escola, é importante que ele conte com a ajuda de todos: direção, equipe pedagógica, professores, e demais funcionários da escola que também estarão engajados no projeto. O orientador educacional, para que possa atingir aos alunos e a comunidade escolar (através dos pais, responsáveis e demais familiares dos alunos) terá que desenvolver um projeto que responda a seguinte expectativa: Terá que ser um projeto onde se abra espaço para a participação ativa dos alunos, comunidade escolar, e todos os demais envolvidos no projeto.

Chaves (2001) acrescenta que "a participação dos aprendentes nos projetos não só os motiva (por estar relacionada com seus interesses) como torna a sua aprendizagem ativa e significativa – um real fazer mais do que um mero assimilar;"

Algumas das atividades que podem conter neste projeto estão expostas abaixo e foram inspiradas a partir da reflexão acerca dos projetos desenvolvidos pela equipe de Vilmar S. D. Berna disponível no site do Portal do Meio Ambiente e de atividades propostas por Berenice G. Adams (2004) em seu livro Dinâmicas e Atividades para Educação Ambiental:

vPalestras: as palestras podem surgir de convites da escola para empresas ou entidades que tenham algum projeto ambiental em andamento e que disponibilize pessoal que possa estar transmitindo informações relevantes para este público (a comunidade escolar). Algumas empresas que poderiam contribuir seriam, por exemplo, a companhia de limpeza pública local falando sobre a coleta seletiva de lixo, a reciclagem;

vCursos: os cursos podem abordar vários temas como trabalhos manuais com reaproveitamento de material reciclado como a garrafa Pet, que oferece um leque de possibilidades;

vVisitações: as visitações podem ser abertas à comunidade escolar ou contemplar somente os alunos, isso dependerá do grupo responsável pelo projeto e da localidade a ser visitada. Uma sugestão seria a estação de tratamento de água e esgoto da localidade;

vVídeos: também pode haver apresentação de vídeos que abordem assuntos ligados ao tema da educação ambiental e meio ambiente, que podem variar de documentários como "Uma Verdade Inconveniente" do ex vice-presidente dos Estados Unidos da América Al Gore, até filmes e desenhos como a "Era do Gelo".

vRodas de debate: os debates podem ocorrer entre turmas, ano de escolaridade, ou outros tipos de agrupamento a ser escolhido pelo grupo. Os assuntos e temas que farão parte dos debates podem ser escolhidos como convier a cada grupo (assuntos mais polêmicos, sorteio, votação etc). Esta também pode ser uma atividade aberta a comunidade.

vExposições e apresentações: de tempo em tempo ou em datas pontuais pré-estabelecidas na construção do projeto, poderá haver exposições de objetos, cartazes e outras coisas. Apresentações de peças, músicas, recitais e outros, sempre abordando temas e assuntos ligados ao meio ambiente. Estas seriam ótimas atividades de interação entre a escola e a comunidade na tentativa de disseminar a conscientização e a sensibilização para as questões ambientais.

vConstrução de Jornal/Rádio: a construção de um jornalzinho ou uma rádio é uma excelente forma de manter os alunos e a comunidade atentos as novidades acerca de questões ambientais, tanto locais quanto globais. A responsabilidade de atualização será de todos, podendo haver rodízio entre turmas e/ou turnos. Na rádio podem ser convidadas pessoas para serem entrevistadas ou para dar depoimentos, um vereador, por exemplo, ou ainda um representante do bairro da escola para falar sobre o que está sendo feito em prol da melhoria do bairro, como o saneamento básico. Isto com o intuito de atender, não somente ao local, mas também ao global, fazendo com que os alunos e a comunidade como um todo, se conscientize de que os problemas não estão somente ali. A divulgação de informações também deve contemplar assuntos como as queimadas que acabam cada vez mais com as florestas pelo Brasil afora, a poluição do ar ocasionada por fábricas que não respeitam o meio ambiente, o aumento do aquecimento global que piora a cada dia, etc.

Estas e outras atividades podem ser trabalhadas durante a realização do projeto, que pretende ser permanente e ajudam a trabalhar as questões ambientais, de uma forma prazerosa e comprometida, sensibilizando a comunidade de alunos e professores quanto a tornarem-se perceptivos a real situação da relação do ser humano com o meio ambiente, bem como amenizar os problemas socioeconômicos gerados por problemas ambientais.

Mas, por que este deve ser um trabalho permanente? A resposta é simples: Porque se as questões ambientais, o meio ambiente, a educação ambiental, a natureza não estiverem sempre em discussão, em debate e no pensamento e sentimento de todos em tempo integral, se não voltar a fazer parte de cada um, o nosso Planeta Terra continuará sofrendo e nós também e cada vez mais, porque conforme o meio ambiente vai sofrendo degradações os seres humanos vão sofrendo com as reações que o meio ambiente gera como os tsunamis, chuvas inexplicadas que causam enchentes e outras catástrofes ambientais horríveis.

Enfim, se o antropocentrismo continuar no mais alto nível, os seres humanos nunca estarão prontos para fazer parte da grande "civilização planetária", que Boff descreve como uma nova civilização que está emergindo:

"Vem, antes de mais nada, sob o nome de mundialização e de globalização. Trata-se de um processo irreversível. Representa indiscutivelmente uma etapa nova na história da Terra e do ser humano. Estamos superando os limites dos estados-nações e rumando para a constituição de uma única sociedade mundial que mais e mais demanda uma direção central para as questões concernentes a todos os humanos como a alimentação, a água, a atmosfera, a saúde, a moradia, a educação, a comunicação e a salvaguarda da Terra." (BOFF, 1998: 38)

Enfim, a ampliação da consciência sobre a situação do planeta Terra, somada às preocupações criadas pelo processo da globalização, impulsiona a idéia de uma ética ecológica, onde Boff afirma categoricamente:

"Age de tal maneira que tuas ações não sejam destrutivas da Casa Comum, a Terra, e de tudo que nela vive e coexiste conosco [...], que permita que todas as coisas possam continuar a ser, a se reproduzir e a continuar a evoluir conosco [...] que tua ação seja benfazeja a todos os seres, especialmente aos vivos". (BOFF, 2002: 97)

Tal preceito tenta remover ou neutralizar uma ética predatória e perversa que destrói o Planeta e subtrai a sustentação dos sistemas vivos e das redes que conectam os componentes do ecossistema planetário.

3.2 – Temas Transversais: Uma Proposta para a Educação Ambiental

Assim, uma avaliação realizada por especialistas em educação sobre as disciplinas básicas do currículo, indicou que elas, apesar de serem necessárias para acessar o conhecimento acumulado, não estão dando conta de alguns temas presentes no cotidiano como: violência, saúde, ambiente, preconceito e outros. A partir disso, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), propôs uma reorientação curricular e uma discussão sobre qual é a escola que se deseja nos dias de hoje e quais os conteúdos que ela deve trabalhar através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) com cinco temas transversais: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural (BRASIL, 1997a).

Os PCNs incorporam os temas transversais nas disciplinas convencionais, relacionado-os à realidade e dessa forma, tornando os conteúdos instrumentos de reflexão para uma ação na realidade, na qual o orientador educacional é visto como um facilitador na introdução de práticas comprometidas com os interesses da comunidade onde se está inserido (BRASIL, 1997a).

Para Segura (2001) a possibilidade de se trabalhar os conteúdos, através de uma abordagem transversal, pode significar um salto de qualidade no processo de formação dos alunos, que passariam a entender o que estudam e dos professores, uma vez que seriam estimulados a enfrentar o conhecimento de forma mais criativa e dinâmica. Apesar disso, percebe-se ainda a necessidade de se discutir com todos os agentes envolvidos no processo educativo, o sentido e formas de traduzir essa proposta em ações educativas, principalmente quanto à cultura arraigada dos professores de trabalharem com o conhecimento de forma fragmentada, disciplinada, como a própria organização do tempo de trabalho das escolas, sob o risco de se ver mais um projeto como tantos outros serem jogadas numa vala comum pela falta de discussão e decodificação por todos aqueles que atuam nas escolas (SEGURA, 2001).

Com relação à proposta de meio ambiente nos PCNs, a principal função do trabalho com o tema é:

"Contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem em sociedade e atuarem na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que , mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos". (BRASIL, 1997).

A opção pelo trabalho com o tema meio ambiente traz para a escola e principalmente para os professores, a necessidade de adquirirem informações e conhecimentos para que se possa desenvolver um trabalho adequado junto dos alunos, o que não significa dizer que os professores deverão saber tudo, mas sim serem capazes de mostrar que a produção do conhecimento é constante e que ela se dá por um processo de interação e reflexão. Com isso, espera-se que os alunos sejam capazes de construir uma consciência global das questões relativas ao meio e possam atribuir significado àquilo que aprendem em Educação Ambiental, podendo assim, compreender e atuar sobre sua própria realidade. (BRASIL, 1997).

Apesar das várias orientações e sugestões encontradas nos documentos referentes à implantação dos PCNs (Brasil 1997, 1997a), observa-se ainda uma série de problemas e dificuldades na viabilização desta proposta de trabalho. Uma das críticas iniciais, refere-se ao seu processo de elaboração que, baseado numa metodologia de centralização, não teve a participação de órgãos e entidades representativas da área educacional, sem discussões amplas com a sociedade. Além disso, de acordo com Castro, Spazziani e Santos (2002), nesses anos iniciais de sua utilização, tem-se observado, principalmente nas séries iniciais do primeiro ciclo do Ensino Fundamental, apenas uma adequação dos planos e programas curriculares dos professores aos conteúdos propostos pelos documentos oficiais, sem que isso reflita mudanças na prática da sala de aula. Assim, observam-se intenções explícitas nos programas, mas as práticas pedagógicas não sofreram mudanças significativas.

Além desse descompasso entre o que os PCNs propõem e como eles realmente são traduzidos na prática, eles pouco ajudaram na diferenciação e compreensão entre trabalho com projetos, interdisciplinaridade e temas transversais. Por isso, torna-se importante que o orientador educacional abra uma discussão ampla e profunda com todos os educadores, a fim de se definir posições mais claras e objetivas sobre os modos de inclusão dessas questões no currículo escolar bem como um maior investimento na capacitação e formação continuada dos professores no sentido de superação da falta de clareza quanto à relação entre os conteúdos e transversalidade.

3.3 – Escola/Educação: ruptura ou continuidade?

A escola e a educação como frutos do processo de desenvolvimento das várias sociedades, até os dias atuais, carregam em seu interior os conflitos e contradições geradas pelas sociedades. Diante disso, pode-se afirmar que elas produzem, em determinado grau a mesma tendência da sociedade, no seio da qual elas estão inseridas. Na sociedade da modernidade, isto é, a sociedade capitalista, a escola/educação traz em seu bojo, os conflitos e contradições da sociedade de classes.

Assim, apesar da escola ser um canal de reprodução das idéias da classe dominante, serve, contudo, de trincheira de propagação das propostas dos dominados.

Dessa forma, pode-se dizer que ela tanto pode ser um instrumento de dominação, como um instrumento de resistência, no interior da sociedade de classes. O mesmo autor continua:

"A educação é bastante política. Transmite modelos sociais e normas sociais que formam sua personalidade. Inculca na criança ideais sociais que formam sua personalidade. Propaga idéias sócio-políticas. É encargo da escola, que é uma instituição social. Tudo isso prova que a educação é um fenômeno socialmente determinado. Mas os modelos e os ideais sociais, assim como as idéias e as pressões que se exercem sobre a escola, são múltiplos e muitas vezes antagônicos. A educação efetivamente recebida pela criança, bem como o poder político, antes de tudo, está a serviço da classe social dominante. Na medida em que traduz as relações de força no seio da sociedade global, a educação é mais do que social, é política" (CHARLOT, 1979: 21).

Então, a escola na sociedade capitalista reproduz a correlação de forças existentes nesta sociedade. Assim, ela acaba reproduzindo as idéias majoritárias do capitalismo, ou seja, a ideologia das elites detentoras do poder político e econômico.

É lógico, que em seu interior existe o espaço de resistência, a mesma que atua no seio da sociedade capitalista; desta maneira é preciso utilizar estes espaços para a propagação de uma proposta de ruptura com o discurso hegemônico existente em seu interior, ou seja, o enfoque da dimensão ambiental da educação significa a retomada da discussão sobre a inserção do processo educativo como parte integrante do ambiente, ou seja, vislumbrar um processo educacional que leve em conta as diversas formas de relações sociedade/natureza.

CONCLUSÃO

Se o costume de pensar somente em si mesmo e no presente não mudar; se as pessoas não começarem a cultivar o respeito e o amor ao próximo e ao meio ambiente, sabendo-se parte dele; se não se pensar também nas gerações futuras, respeitando o fato de que elas também devem ter o mesmo direito aos bens que a natureza oferece, não haverá esperança de vida no planeta. Sendo assim, a Terra poderá encontrar-se inóspita, vazia da grande riqueza de vida, da biodiversidade que a preenche.

Pensar em práticas educativas de Educação Ambiental pressupõe, antes de tudo, pensar a problemática ambiental na sua gênese, marcada por um mundo carregado e perigoso, com profundas transformações destrutivas, principalmente.

Atualmente, a questão ambiental está cada vez mais presente no cotidiano da sociedade contemporânea, e assim, a Educação Ambiental desponta como uma possibilidade de reencantamento, abrindo possibilidades de novos conhecimentos, metodologias e habilidades na perspectiva de uma educação interdisciplinar.

A crise ambiental traz uma crítica ao modelo de crescimento econômico e também ao modelo epistemológico, e neste embate, propõe o desafio de repensar a educação na sua totalidade, enfrentando a fragmentação do conhecimento.

A questão ambiental, problemática da sociedade, e condicionada pela complexidade do pensar e do agir ambiental, exige da sociedade e da Educação, em especial, respostas e encaminhamentos de fundamental importância para a sobrevivência da natureza. Nesse sentido, tendo como pressuposto que a natureza humana é produzida pelo homem, a Educação, na dependência do trabalho educativo que desenvolve, pode interferir (ou não) na produção dessa natureza humana e, conseqüentemente na transformação da natureza, no sentido amplo do termo, vinculando assim, a Educação às ações relacionadas à problemática ambiental.

As diferentes abordagens sobre a temática ambiental por muitos agentes e segmentos da sociedade, em especial pela mídia, têm levado à formação de alguns preconceitos e à veiculação de imagens distorcidas sobre as questões relativas ao meio ambiente.

Mas a identificação dos problemas ambientais como poluição, degradação, desmatamento, associada à questão do "modismo" transformou a temática ambiental inevitável aos currículos escolares.

Assim, a introdução do aspecto ambiental no processo educativo, ocorreu de forma gradativa e deve continuar ocorrendo, pois a escola foi um dos primeiros espaços a absorver esse processo de "ambientalização" da sociedade, recebendo sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de vida da população, através da informação e da conscientização. Percebe-se, porém, que no âmbito educacional existe uma distância e um descompasso entre a ação e sua eficácia pedagógica e social.

Com isso, passou a se perceber a existência de muitos trabalhos pontuais, de projetos que não se articulam ao projeto político-pedagógico da escola, sem continuidade e constituindo-se em experiências isoladas.

Alguns pesquisadores previnem que o estudo das questões ambientais e a consciência da importância do sistema Terra, no Ensino Fundamental e Médio, vêm sendo lento, havendo somente tentativas pontuais, muitas vezes, desvinculadas do currículo da escola.

As palavras comuns, freqüentemente utilizadas nos discursos de Educação Ambiental, começaram a parecer inúteis e a soar como falsas e vazias, tornando o cotidiano estressante, pois o uso cada vez mais corrente e generalizado da denominação Educação Ambiental pode contribuir para uma visão ingênua da idéia contida nela.

Por isso, os caminhos possíveis para se trabalhar aspectos da temática ambiental, numa perspectiva crítica, exigem que o ambiente não seja considerado como algo externo, distante e alheio ao homem; que as questões ambientais não sejam trabalhadas de forma fragmentada, a partir de ações disciplinarizadas e estanques; que as práticas pedagógicas não se destinem quase que, exclusivamente, a transmitirem os conhecimentos científicos dessa área e que, preferencialmente, não reforcem a dependência do homem ao ambiente, apenas no âmbito da relação material e mecânica de sua sobrevivência. E para isso, o orientador educacional pode contribuir, e muito!