A DANÇA COMO MANIFESTAÇÃO DA CULTURA CORPORAL NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÁO FÍSICA ESCOLAR

A dança é uma das formas de expressões mais antigas nas diferentes culturas que passou de ritual para manifestação da elite social e segue em constante evolução. As danças constituem uma das mais belas expressões da cultura de um povo, de uma região, enfim de um país, e, vem acompanhando o ser humano desde o início dos tempos, através de sua história.

Segundo o capítulo 3 do livro Coletivo de Autores, a Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada de Cultura Corporal. Essa cultura é baseada sob formas de atividades corporais, denominadas de jogo, esporte, ginástica, dança ou outras. O estudo deste conhecimento visa apreender a expressão corporal como linguagem, pois o homem se apropria da cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético ou outros.

Investigar a dança a partir da cultura corporal de movimento que se estabelece em espaços escolares, é adentrar no universo cultural e social de corpos historicamente construídos e, conseqüentemente, trazer a baila à subjetividade presente em vivências de atividades corporais, a partir das relações sociais que se estabelecem nessas práticas.

Somente em recentes processos de discussão, para além da Educação Física, é que a dança veio inserir-se como conteúdo nos currículos escolares, como prática pedagógica sistematizada. E é esse movimento recente que nos faz refletir sobre sua posição como conhecimento a ser tratado nos espaços escolares. Para isso, podemos observar os avanços significativos nos currículos nos cursos de formação em Educação Física. A disciplina Rítmica, nem sempre era obrigatória para os homens. Hoje, no entanto, existem cursos que possuem tanto a disciplina Dança quanto o futebol para alunos/as. O método da dança educação física surgiu como especialização para profissionais dessa área, podendo atender ao projeto de lei que a tornou obrigatória aos níveis de primeiro e segundo grau.

A Educação Física possui conhecimentos específicos a serem tratados pedagogicamente no contexto escolar. Entre esses conhecimentos, encontra-se a dança. Esse elemento da cultura corporal não é exclusivo do profissional de Educação Física, sendo compartilhado, em outros âmbitos de atuação além da escola, por profissionais das Artes Cênicas, Artes Plásticas, além dos bacharéis e licenciados em Dança. O que se percebe com freqüência no âmbito escolar é a ausência desse conhecimento, ou o desenvolvimento de um trabalho superficial que se caracteriza por apresentações coreográficas de caráter festivo.

Essa questão é amplamente reconhecida, pois é de conhecimento público o papel das danças nas festividades escolares, incluindo todas as séries. As danças, nesses eventos, são, normalmente, orientadas por professores de Educação Física, o que nos permite afirmar que, apesar de a dança estar presente no espaço escolar, ela é apenas um elemento decorativo. Não se reflete sobre a importância de seu conhecimento para a formação dos alunos.

Os discentes devem investir na sua formação para atuarem na área de dança no sistema escolar. Sem experiências prático teóricas, “continuaremos obtendo uma dissociação entre o artístico e o educativo que enfatiza-se principalmente dentro dos cursos de magistério superior, comprometendo o desenvolvimento do processo criativo e crítico que poderia estar ocorrendo nas escolas básicas”(MARQUES,1997)

A dança como conteúdo da Educação Física deve ser explorada no ensino formal e para além dele, pois leva os praticantes a pensar, a sentir e a agir, tendo como pano de fundo a história de um povo, que é, como num filme, projetada numa tela e vivenciada, como se a mesma repetisse a cada momento que pessoas escutam uma música, sentem o ritmo e se movimentam.

Os conteúdos específicos da dança são: aspectos e estruturas do aprendizado do movimento (coreologia, consciência corporal e condicionamento físico); disciplinas que contextualizem a dança (história, estética, apreciação e crítica, sociologia, antropologia, música, assim como saberes de anatomia, fisiologia e cinesiologia) e possibilidades de vivenciar a dança em si (repertórios, improvisação e composição coreográfica) (MARQUES, 1997).

Siqueira (2006, p.4) refletindo sobre a dança contemporânea, a partir dos conceitos de corpo, comunicação e cultura, diz: “Manifestação social, a dança é, ainda, fenômeno estético, cultural e simbólico que expressa e constrói sentidos através dos movimentos corporais. Como expressão de uma cultura, está inserida em uma rede de relações sociais complexas, interligadas por diversos âmbitos da vida.”

Teoricamente a dança deveria estar presente não só nas aulas de Educação Física como também nas aulas de Artes sendo assim estes dois caminhos serão explorados a seguir, nas palavras de BARRETO (2004, p.56), pois: “...a dança não sendo disciplina do currículo escolar, não pode ser ministrada nas escolas por licenciados em dança, como um campo de conhecimento autônomo que tem características, estrutura, conteúdos e metodologias próprios. Ela somente pode ser trabalhada em função de outros campos do conhecimento, assumindo um papel de conteúdo de disciplinas, como a Educação Artística e a Educação Física.”

No caderno de Educação Física, dos PCNs (1997) a dança está inserida dentro de um bloco de conteúdo chamado Atividades Rítmicas e Expressivas, e segundo BARRETO (2004) deve ser articulada aos conteúdos do corpo, esporte, lutas e ginásticas. Segundo os PCNs este bloco de conteúdos acima citado irá contemplar : ...as manifestações da cultura corporal que tem como características comuns a intenção de expressão e comunicação mediante gestos e a presença de estímulos sonoros como referência para o movimento corporal. Trata-se das danças e brincadeiras cantadas. No caderno de Educação Física, nos PCNs, o diferencial consiste no entendimento da dança como uma expressão da diversidade cultural de um país, se tornando um maravilhoso recurso para aprendizagem. Assim, é um conteúdo que pode variar de acordo com o local no qual a escola está inserida. (BRASIL, 1997b, p.53)

Sugere-se também aos professores de Educação Física que se utilizem as informações contidas no bloco de conteúdo Dança, o qual faz parte do documento de Artes. Essa recomendação demonstra que nem mesmo nos documentos é possível distinguir efetivamente a dança que deverá ser ensinada nas duas disciplinas, já que ambas podem ser fundamentadas no caderno de Artes.

Assim o entendimento da dança como manifestação da Cultura Corporal e de expressão e comunicação é concomitante nos dois casos, pois os PCNs de Artes ainda apresentam uma divisão no ensino da dança em três eixos. Destes os dois primeiros podem ser considerados equivalentes à Educação Física, e o terceiro exclusivo da disciplina de Artes. O primeiro enfoca a dança na expressão e na comunicação humana, correspondendo na Educação Física à intenção de expressão e comunicação mediante gestos. O segundo aborda a dança como manifestação coletiva equivalente às manifestações da Cultura Corporal. Por fim, o terceiro eixo tematiza a dança como produto cultural e apreciação estética. (idem, p.73)

A dança no espaço escolar busca o desenvolvimento não apenas das capacidades motoras das crianças e adolescentes, como de suas capacidades imaginativas e criativas. As atividades de dança se diferenciam daquelas normalmente propostas pela educação física, pois não caracterizam o corpo da criança como um apanhado de alavancas e articulações do tecnicismo esportivo, nem apresentam um caráter competitivo, comumente presente nos jogos desportivos. Ao contrário, o corpo expressa suas emoções e estas podem ser compartilhadas com outras crianças que participam de uma coreografia de grupo.

Em relação à formação fica evidente, como percebe MARQUES (2002), que os professores não sabem realmente o que, como, ou até mesmo porque ensinar dança na escola. A dança no espaço escolar deve buscar o desenvolvimento não apenas das capacidades motoras das crianças e adolescentes, como de suas capacidades imaginativas e criativas. As atividades de dança se diferenciam daquelas normalmente propostas pela educação física, pois não caracterizam o corpo da criança como um apanhado de alavancas e articulações do tecnicismo esportivo, nem apresentam um caráter competitivo, comumente presente nos jogos desportivos. Ao contrário, o corpo expressa suas emoções e estas podem ser compartilhadas com outras crianças que participam de uma coreografia de grupo.

Acontece que nos chama atenção para que estes discentes dos cursos superiores freqüentaram disciplinas de igual carga horária como o vôlei, o basquete, o futebol. O que estes esquecem é que para se ensinar dança na escola ao invés de bom dançarino ou ter freqüentado um curso de academias, só é preciso ser um bom professor. A não aplicação dos conteúdos de dança nas escolas tem impossibilitado as crianças de terem acesso a este conhecimento.

Faz-se necessário, portanto, o acesso ao universo da dança e a desmistificação de sua imagem apenas como elemento/espetáculo folclórico, normalmente de caráter contemplativo. É preciso passar a entendê-la como conhecimento significativo para as nossas ações corpóreas, que podem ser exploradas pelo universo de repertórios popular, folclórico, clássico, contemporâneo etc., bem como pela improvisação e pela composição coreográfica.

É fundamental que a Dança na escola se realize através de um professor que não seja o impositor de técnicas e conceitos, mas o fomentador das experiências, o guia que orienta os alunos para uma descoberta pessoal de suas habilidades. Nós como educadores temos que estar atentos ao processo pedagógico escolar, que não deve apenas ensinar a ler e escrever, mas um profissional visionário, que não se limita a sua área de atuação, integrados e interessados no mundo que nos cerca, buscando a formação de seres culturais, atentos às questões sociais, a diversidade, a natureza, a educação e às relações humanas.

 

 

 

 

 

REFEÊNCIA IBIBLIOGRÁFICAS:

OSSONA,Paulina. A Educação pela Dança. SP: Summus, 1988.

BARRETO, D. Dança... : ensino, sentidos e possibilidades na escola. Campinas,

GAIO, R. Ginástica Rítmica Desportiva “Popular”: uma proposta educacional. São Paulo

MARQUES, I. A. Dançando na Escola. São Paulo: Cortez,2003. MOREIRA, W.W. Educação Física Escolar: uma abordagem fenomenológica, 

 Campinas: Unicamp, 1991.

RANGEL, N.B.C. Dança, educação, educação física: propostas de ensino da dança

SIQUEIRA, D. da C.O. Corpo, comunicação e cultura: a dança contemporânea em

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, MEC, 1996.