A CULTURA FUMAGEIRA NO RECÔNCAVO BAIANO E SEU LEGADO, CULTURAL E ECONOMICO NESTA REGIÃO.

César Ely Santos de Melo



Resumo:

A Finalidade desse trabalho é evidenciar que a região do Recôncavo Baiano perpassou por várias crises e apogeus quanto à produção da cultura do fumo. Nesse local enfatizam-se as principais cidades, como: Cachoeira, Castro Alves, Cruz das Almas, Maragogipe, Muritiba, São Gonçalo dos Campos, São Félix, Sapeaçu, dentre outros municípios do Recôncavo, especialmente o da "Mata Fina". Os investimentos e a qualidade do fumo produzido na localidade foram os responsáveis por tamanho destaque, apesar das crises, o reflexo na cultura é evidente no legado cultural herdado por essa atividade econômica, que ainda sobrevive neste território, inclusive através de indústrias que permanecem e ainda contribuem para o desenvolvimento cultural, social e econômico, em que podermos destacar a Dannemann, que dentre as ações vão desde construção de um Centro Cultural na Região até a produção de bienais e reflorestamento.




Palavras Chaves: Fumo, Recôncavo, Crises, Apogeu.


A Cultura Fumageira no Recôncavo Baiano e seu Legado, Cultural e Econômico nesta Região.


César Ely S. de Melo


É inequívoca a percepção que à produção, a industrialização e a comercialização do fumo contribuíram com grande legado para a cultura brasileira, todavia nesta pesquisa damos um enfoque maior a Bahia e ainda com maior notoriedade a microrregião do Recôncavo baiano, uma vez que herdou traços marcantes, e até hoje, a referida produção é responsável por parte expressiva da economia local desta parte do estado.
Ainda no que tange a fabricação do fumo destacamos a qualidade e o toque artesanal e delicado das charuteiras, produtoras femininas locais que são reconhecidas em algumas partes do mundo, e tem como resultante a atração de investidores e empresários do mundo todo e ainda hoje tem como à permanência de indústrias implantadas em outrora e geram emprego e renda no estado da Bahia, e é de grande valia para o desenvolvimento e sustentabilidade local, perpassando por atividades que vão muito além do ponto de vista econômico e irá transitar no perpassar deste trabalho acadêmico.
As origens do fumo estão interligadas diretamente desde primórdios de nossa colonização pelos portugueses, segundo alguns historiadores, a sustentabilidade econômica oriunda da produção do tabaco no Brasil e na Bahia. E neste último ocorrido no Recôncavo, foi um divisor de águas para o desenvolvimento social, cultural e econômico da referida região, embora hoje em menor intensidade.
Diante deste contexto esse artigo cientifico tem por finalidade evidenciar qual a contribuição resultante da atividade agrícola do tabaco para o Recôncavo, sem desconsiderar o contexto nacional.
Visando atender esta proposta, a subdivisão da pesquisa ficou elencada da seguinte forma:
Primeiro Tópico ? As origens do tabaco no mundo, evidenciando que o fato ocorreu segundo alguns historiadores, simultaneamente com o desbravamento das Américas por Cristovão Colombo.
Segundo Tópico ? Data-se o cultivo inicial no mundo, no Brasil e a disseminação na Europa.
Terceiro Tópico ? mostra a arte de todo o processo do fumo, desde plantação até a comercialização do produto acabado.
Quarto Tópico ? Faz abordagem da cultura do tabaco e seu impacto na economia brasileira, os períodos de crise e as primeiras medidas que refletiram diretamente com a economia brasileira.
O quinto Tópico ? relata o trajeto da cultura do fumo no Recôncavo baiano e qual sua contribuição no cenário nacional, além de citar os momentos de apogeu e crise e as cidades que se destacaram mais intensamente com a produção e todo o legado cultural e econômico herdado.

1.0 Origens do Tabaco no Mundo

A descoberta do fumo conforme Bezerra (2001) surgi desde a primeira viagem de Colombo às Américas. Rodrigo de Jeres e Luís de Torres, companheiros de Colombo, encontraram a planta em Cuba, entre o perpassar dos dias 2 (dois) e 5 (cinco) do mês de novembro do ano de 1492, conforme registro no SINDIFUMO (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo). .
Vale ainda salientar que as tribos indígenas americanas faziam o uso da planta em rituais mágico-religiosos ou para uso medicinal.
Até então, a eva era considerada como uma planta mística utilizada, sobretudo no chamamento aos deuses, nas predições e na cura de mazelas.
Desde a primeira vez que foi encontrada, a planta alcançou prestígio mundial despertando o interesse de todos por terras mais longínquas, com base nessa afirmação não tardou para que, após ter sido levado para a Europa por seus viajantes, o fumo passasse a ser largamente consumido.
a disseminação deu-se por dois movimentos relacionados aos usos hedonistas, a saber, a utilização de maneira ornamental além da ação medicinal da planta.
Os precursores na utilização do fumo foram os marinheiros, que o utilizavam para passar o tempo e descansar nas longas rotas marítimas.
Com o tempo as viagens feitas para o Atlântico contribuíram para que o fumo chegasse a praticamente a todos os continentes. Como, na África, após ter sido levado pelos colonizadores, o fumo se expandiu rapidamente por motivos religiosos.
O seu ar exótico e o charme foram fatores essenciais para que a planta começasse a ser cultivada nos quintais europeus. Durante o século XVI, diversos cientistas participaram de expedições de exploração e ocupação e ressaltavam os aspectos medicinais da planta.
Como observado por (Caio, formação do povo brasileiro p.150) o fumo brasileiro quando chegou a Portugal foi o marco da propagação do produto pelo mundo. No início no século XVI, a planta começou a ser cultivada em viveiros da infanta D. Maria. Foi ali que o então embaixador da França em Portugal, Jean Nicot (1530 - 1600), conheceu a novidade e resolveu enviar para a Rainha Catarina de Médicis para ajudá-la a combater suas crises de enxaqueca.
A rainha começou a pitar e, apesar de não existir registros de cura, os nobres das cortes de outros países imitaram o hábito e aos poucos toda a população já utilizava o fumo.
O tabaco que era consumido pela corte era diferente do utilizado pelos marinheiros e soldados, em corda, fumado ou mascado. A rainha utilizava um outro reduzido a pó para pitar, conhecido como rapé. Esse tipo de produto precisava de folhas de melhor qualidade e passava por um processo fabril para ser considerado um artigo de luxo.

2. O Cultivo Inicial

A busca pela planta fez fomentar a demanda da população européia e despertou o interesse dos negociantes das colônias que começaram a procurar o produto. Aproximadamente em 1580, ainda segundo Bezerra (2001) as primeiras lavouras começaram a ser formadas em Cuba, na recém-fundada colônia de Virgínia e no Caribe.
A exatidão do início das plantações no Brasil não é bem conhecida pelos ou citada historiadores, todavia, o primeiro registro do cultivo da folha é a partir do século XVII.
Embora não posarmos informar com apropriação exata, pela carência de registros, presume-se que a Eva começou a ser cultivada desde a chegada dos portugueses, que trocavam o fumo com os índios.
As técnicas para o cultivo foram sendo aprimorados conforme os solos e o clima. A região do Recôncavo Baiano agregava ótimas condições para cultura do fumo: temperatura entre 17º e 27º, umidade, solos arenosos ou argilosos. Além da Bahia, as lavouras se espalharam por Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão.

3. O Fabrico do Fumo

A priori, o processo de plantação colheita e produção do fumo consistiam em varias etapas e poderia ser considerado um trabalho artístico e artesanal, tendo em vista, a riqueza de passos que tinham início na preparação do solo - o gado era deixado em uma área para adubação - e a perfuração das covas. As mudas eram plantadas e, quando a planta possuía oito ou nove folhas, praticava-se a capação (desponta), operação que consiste em tirar os olhos de cima ou grelho.
Cerca de quatro meses depois do início do plantio, iniciava-se a colheita das folhas. A fase seguinte era a secagem, realizada em um galpão ou alpendre bem ventilado por ar quente e recoberto de palha.
A fabricação dos rolos tinha início logo em seguida, com a utilização de uma roda de fiar, um bacamarte, paus e bacias. As folhas eram separadas dos talos, amarradas à roda com palha ou cipó e torcidas até surgirem os fios ou bolas.
Posteriormente as bolas passavam no bacamarte ? dois suportes de madeira onde se assentava horizontalmente um eixo cilíndrico, acionado por meio de manivelas ? e comprimia-se muito bem para diminuir o diâmetro da corda. A operação era repetida nos dez primeiros dias e diminuía-se a freqüência nos próximos quarenta dias.
Ao mesmo tempo, o caldo produzido pelo fumo fermentado era recolhido e misturado com substâncias aromáticas (erva-doce, alfavaca, musgo, gordura de porco, etc.). Antes de passar para fabricação do rolo, deixava-se o fumo de molho nessa substância, conferindo um aroma singular e ajudando na conservação.
A fase final consistia em enrolar as bolas em um pau úmido. A corda era torcida regularmente sem deixar espaço e recoberta com folhas de caraguatá secas, atadas com embira. A capa de couro com a marca do proprietário dava o toque final para comercialização. Chamamos atenção para o destaque das charuteiras denominação atribuída às fabricantes baianas da região do Recôncavo, responsáveis pela excelente fama e qualidade do produto final, justificada pela habilidade e delicadeza feminina no manuseio que desperto interesses de empresários estrangeiros, inclusive até dos cubanos que são renomados também pela fabricação dos famosos charutos cubanos, que apesar de seu reconhecimento internacional, não se distingue no tocante a qualidade dos que são produzidos pela charuteira no Recôncavo Baiano. Segundo Menendez (1999).

4. Fumo e a Economia Brasileira

É fato que a comercialização do tabaco desempenhou e ainda contribui com grande relevância na economia do Brasil. Iniciado a partir dos primeiros contatos dos portugueses para conosco e até os dias de hoje, a cultura do fumo contribui para o desenvolvimento e crescimento econômico.
O primeiro ato imposto por Portugal ocorreu durante o século XVII, quando o comércio do produto submeteu-se a várias legislações. O monopólio português foi estabelecido em 1674, com a criação da Junta da Administração do Tabaco, que regeu o fumo em Portugal e suas colônias. Numerosos impostos foram criados, como dízimos, donativos, direitos locais e taxas aduaneiras. E no perpassar de nossa historia varias crises e apogeus oriundos do cultivo do tabaco atingiram a economia brasileira, a saber: o tratado de 1815, que proibia o trafica de escravos e que teve reflexo negativo na economia porque diminuiu a especulação.

Embora ineficaz para conter o tráfico de escravos, o tratado de 1815, quando de novo sob a coesão britânica, o parlamento brasileiro aprovou mais uma lei proibindo a importação de escravos africanos (BARICKMAM, 2003, P. 68)

A produção fumo brasileiro seguia-se a três direções. De melhor qualidade eram mandados para metrópole, ou seja, mais especificadamente Lisboa, objetivando o consumo da corte, enquanto os de qualidade mediamente inferior, aparentemente o mesmo destino, eram enviados a outros países europeus, que absorviam então cerca de 60% das exportações brasileiras. O tabaco da terceira leva ficava para o consumo local.
É valido enfatizar que apogeu da comercialização do tabaco no Brasil colonial data-se aproximadamente no final do século XVIII. Muito embora, as políticas nacionais e internacionais das primeiras décadas do século XIX não se mantiveram favoráveis para o fumo.
Somente com a reabertura dos portos para as nações amigas, a Independência e outros fatores como o desenvolvimento da indústria e dos mercados consumidores do Rio e São Paulo, a referida cultura reanimou.


5. A TRAJETÓRIA DO FUMO NO RECÔNCAVO BAIANO: INÍCIO, APOGEU E CRISES.

A abordagem do trajeto do fumo no Brasil, e mais especificadamente na Bahia dá-se-a a partir de sua implementação como produto de migrações indígenas, chegando a um competitivo mercado agrobusiness, evidenciando, de modo inequívoco, a relevância deste produto para economia do país e em particular neste trabalho acadêmico para a economia local do Recôncavo baiano. O fumo já era utilizado expressivamente pelas tribos indígenas (especialmente os Tupinambás) desde antes da colonização do estado pelos portugueses.
Conforme a história menciona o fumo produzido na Bahia, já desponta desde seu nascimento com grande integração no cenário internacional. A vasta necessidade por mão de obra compulsória na produção e exploração de cana de açúcar, e para o ciclo conseguinte a este último mencionado, o da mineração, fomentou a comercialização do fumo brasileiro, que tinha com destino basicamente certo cinco mercados: Costa da Mina, na África, nutrindo o tráfico de escravos; Europa, que representava 60% das exportações; Índia com um volume insignificante; países do rio da Prata - Uruguai e Argentina - e o interno, que absorvia em torno de 10% da produção, que girou em torno de 3.750 t no final do século XVII, conforme Mesquita e Oliveira (2003).
Aproximadamente no final do século XVIII, da-se o ápice da comercialização do fumo na Brasil colonial, em que a maior concentração dava-se na Bahia, Todavia no inicio do século seguinte o Brasil sofre entraves que inviabilizaram o comercio do fumo brasileiro. Embora, a difusão do liberalismo econômico reaqueceu mais uma vez este mercado, e a partir do final do século XIX, e o cultivo do fumo volta a se expandir entres os estados de: Minas Gerais, Goiás, São Paulo e, principalmente, para o Rio Grande do Sul, com a chegada dos imigrantes europeus, em particular alemães.
Segundo Mesquita & Oliveira (2003) a Bahia participou diretamente de toda a história desta lavoura em terras brasileiras. Respondendo pela maior produção do país, se estabelecendo nesta posição até o início da década de 1950, este referido estado presenciou o surgimento agroindustrial do tabaco.
E a partir da segunda metade do século XIX, que o Recôncavo Baiano vivencia o nascimento da indústria de charutos, sendo observador direto de períodos de prosperidade e de crise. As principais cidades que despontaram para o fomento da economia do recôncavo na época foram: Cachoeira, Castro Alves, Cruz das Almas, Maragogipe, São Félix, Sapeaçu, dentre outras da referida região, tendo como benefícios a geração de emprego e renda. As condições climáticas desta região do estado, especificamente a chamada "Recôncavo Sul" representam uma enorme vantagem competitiva em relação aos outros estados, visto que permitem a produção do melhor fumo do país, de renome internacional.
Tradicionalmente, a fabricação de charutos na Bahia é feita por mulheres, ao contrario do que ocorre em Cuba, em que a maioria dos fabricantes são homens.
As mulheres manuseiam as folhas mais delicadamente, e o nível maior de cuidado no trato é a justificativa primordial para manter o padrão e o excelente acabamento, conforme o diretor industrial Felix Menendez, herdeiro de uma tradicional família de produtores cubanos que instalaram uma indústria a 100 km de Salvador, no município de São Gonçalo dos Campos.
Nos primeiros cinqüenta anos do século entre a década de 1920, a produção da Bahia somado a do Rio Grande do Sul já representava 55,27% do volume total produzido no Brasil, alcançando 79,93% na média do qüinqüênio seguinte. Em 1930, as produções destes Estados praticamente se igualavam: a Bahia produzia 39,90 mil t e o Rio Grande do Sul 30,34 mil t. Além das diferenças atinentes ao tipo de fumo produzido e suas conseqüentes destinações, gradualmente estabelecia-se um diferencial tecnológico.
Enquanto que na Bahia o fumo permanecia secando ao sol ou em galpões (práticas usuais até hoje), o Rio Grande do Sul, a partir de 1920, especializou-se em novos métodos de secagem em estufa, aprimorando continuamente a qualidade. Os outros Estados, por seu turno, produziam exclusivamente "fumo-de-corda".
1960 foi o ano em que Fidel Castro estatizou toda a produção em Cuba, inclusive a indústria charuteira. A referida indústria, atuante no ramo desde 1948, vislumbrou crescimento do mercado na Bahia, devido à estatização imposta pelo já citado chefe de Estado, e passou a investir no aperfeiçoamento dos sistemas de produção estabelecendo parcerias em terras baianas, com os já então agricultores locais ou sem terras, contratados através do regime de arrendamento, contratos que impedem a transferência do direito de uso e estabelecimento de benfeitorias, ou seja, os contratantes tinham direito a parte da produção do fumo para sua comercialização.
Todavia, ainda a partir da década de 60 (sessenta), a fumicultura baiana mergulha em uma espiral decrescente. A produção primária experimenta sucessivos reveses, caindo do patamar de 44 mil toneladas, em 1965, para inexpressivas 9,1 mil toneladas, em 2002, passando, assim, para o quinto posto no ranking nacional e segundo lugar no nordestino, agora liderado por Alagoas. O estado, que já chegou a produzir 240 milhões de charutos por ano hoje tem essa quantidade restrita a um número entre seis milhões e oito milhões de unidades. Por causa disso, apenas 5% da produção da lavoura de fumo fica na Bahia, sendo os outros 95% beneficiados e exportados principalmente para os países europeus e os Estados Unidos, para fabricação de charutos.
Ainda neste contexto contemporâneo, a atual área de produção de fumo na Bahia inclui 36 municípios, que se agrupam em quatro zonas fisiográficas, cujas particularidades de microclimas específicos e variações de solos conferem qualidades intrínsecas de cor, sabor (caráter, usando a terminologia dos charuteiros) e combustibilidade, determinando a usual classificação comercial do produto praticada neste estado, diferenciando preço e determinando o uso da folha para capa (revestimento externo), capote (revestimento intermediário) ou enchimento dos charutos: "Mata Norte" (11 municípios) entre Feira de Santana e Alagoinhas, onde se produz um fumo mais forte; "Mata de São Gonçalo" (10 municípios) entre Feira de Santana e Cachoeira, onde se produz um fumo mais suave com características próximas ao da "Mata Fina", considerada a mais nobre área de produção, reunindo seis municípios em torno de Cruz das Almas e "Mata Sul" (nove municípios) entre Santo Antônio de Jesus e Amargosa, que produz um fumo suave.

Regiões Produtoras de Fumo na Bahia, 2000 e 2001.
REGIÃO PRODUÇÃO (em toneladas) PARTICIPAÇÃO
%
2000 2001 Média
Feira de Santana 2.050 2.219 2.135 27,7
S. Antônio de Jesus 4.584 5.246 4.915 56,8
Alagoinhas 180 176 178 2,2
Outros 1.615 1.210 1.412 16,3
TOTAL 8.429 8.851 8.640 100,0
Fonte: IBGE e SEAGRI


6. O CASO DAS INDÚSTRIAS DANNEMANN

Fundada na segunda metade do século XIX pelo alemão Gerhard Dannemann, a mais antiga fábrica de charutos do Brasil iniciou sua produção com apenas seis funcionários. Gerhard Dannemann nasceu na cidade de Bremen, na Alemanha, em 1850. Com 20 anos participou da Guerra Franco-Alemã e decidiu sair de sua terra natal, em 1872, em direção ao Brasil. Chegou a São Félix, até então distrito de Cachoeira, por causa da fama já alcançada pelos fumos de qualidade cultivados no Recôncavo baiano. Ainda muito jovem, em 1873, iniciou timidamente um pequeno local para a fabricação de charutos em São Félix, com o nome de Companhia de Charutos Dannemann.
Em 1889, os grandes comerciantes de São Félix pediram a Geraldo Dannemann que fosse a Salvador convidar o Dr. Manoel Vitorino Pereira, então governador da Bahia, para que fizesse uma visita a São Félix, pois já sabiam da estreita ligação entre eles. O governador assim o fez e, no dia 20 de dezembro do mesmo ano, elevou São Félix à categoria de Vila, por reconhecer o grandioso desenvolvimento industrial e comercial daquela região.
Assim, o primeiro intendente da Vila de São Félix foi Geraldo Dannemann. Em 25 de outubro de 1890, o então governador, Virgílio Damásio, elevou a Vila à Cidade de São Félix. Em forma de reconhecimento, o primeiro prefeito de São Félix foi Geraldo Dannemann, que, já apostando no futuro pródigo daquele local, havia comprado um casarão onde até hoje funciona a sede da Prefeitura Municipal. Construiu também o mercado popular, a biblioteca, criou escolas, casas de saúde, e creches.
A escolha por São Félix baseou-se na conhecida qualidade dos fumos produzidos na Bahia. Nos primeiros anos de funcionamento, a empresa teve um espantoso crescimento, chegando a ser a maior produtora de charutos do País, além de uma importante exportadora, tendo na Europa seu principal mercado e na Alemanha, sua porta de entrada. Nesta época, seis fábricas da Dannemann empregavam cerca de quatro mil pessoas na Bahia.
Geraldo Dannemann deixou a empresa em 1906, mas só posteriormente, com o advento da 1ª Guerra Mundial, os primeiros problemas vieram à tona, pois a Europa deixava de ser um mercado tão próspero. Esses problemas levaram à fusão com a Stender, originando a Companhia de Charutos Dannemann. A 2ª Guerra Mundial agravou os problemas na Europa e, conseqüentemente, as dificuldades da Dannemann.
O governo brasileiro, então, através do Banco do Brasil, responsabilizou-se pela empresa, que passou a se chamar Companhia Brasileira de Charutos Dannemann. Em 1945, ela foi devolvida os seus proprietários, mas não resistiu e acabou falindo nove anos depois. O grupo suíço Burger adquiriu a licença do nome Dannemann em 1976, e produz até hoje os charutos da marca, que não perdeu seu prestígio na Europa. Atualmente, a empresa produz os charutos Salvador, Menudo, Maduro, Especial, nº 1 e São Félix, além da linha Artist Line e as cigarrilhas Reynitas e Bahianos.
A Indústria Dannemann assim, se constitui como uma das mais importantes empresas da região Recôncavo, tanto por sua importância para a economia local, com geração de empregos, quanto por seus incentivos culturais. Em 1989 foi construído o Centro Cultural Dannemann. O objetivo da sua existência está relacionado com a preservação da memória histórica da cultura do fumo no Recôncavo baiano e sua contribuição no desenvolvimento e formação da atual cidade de São Félix, tendo como referência maior as idéias inovadoras de Gerhard Dannemann. Um dos expressivos projetos da Dannemann no âmbito artístico foi a Bienal do Recôncavo, que teve sua 6ª edição realizada no Centro Cultural Dannemann, em novembro de 2002. A bienal reuniu artistas, turistas, admiradores da arte e a imprensa, contando com representantes não só do Brasil, mas também da Argentina e Holanda, num esforço para manter viva a cultura nordestina, fortemente exaltada nos trabalhos apresentados.
De mais de 2000 escritos, 119 artistas foram selecionados para concorrer aos prêmios. O prêmio máximo, uma viagem à Europa, foi para o artista plástico Florisvaldo Nascimento Filho, da cidade de Valença/BA. Na abertura do evento, a Filarmônica União Sanfelista tocou diversas músicas antes do lançamento do CD do IX Festival de Filarmônicas do Recôncavo, outro projeto do Centro Cultural Dannemann, gravado ao vivo no encerramento do IX Festfir, realizado em dezembro de 2001 no mesmo local. Após o lançamento o público pôde apreciar a performance "Corposcaos", do coreógrafo e bailarino Itamar Sampaio.
A Dannemann também conduz um projeto educacional de reflorestamento, onde também instruem lavradores e seus filhos a reciclar materiais, para a confecção de cadernos escolares, brinquedos e etc., ressaltando o calor do ecossistema de a importância de sua preservação. Além disso, todo sábado há uma exibição de filmes no Centro Cultural.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

E por fim, vale destacar que a atividade fumageira do Recôncavo baiano inscreve-se em contextos de crises e apogeus, continua presente até hoje, porém sem muito destaque, na Bahia, a produção agrícola de fumo consolidou-se nos séculos XVII e XVIII, Contudo, no mesmo ambiente estão presentes outras forças de trabalho. A referida atividade não ocupa lugar de destaque atualmente em relação a outros estados brasileiros com podemos destacar o Rio Grande do Sul e Alagoas, Contudo o resgate e a preservação da cultura fumageira na região sobrevive através de indústrias que permanecem no contexto atual e contribuem para o desenvolvimento social e cultural da região.


BIBLIOGRAFIA


A cultura do fumo na Bahia da excelência à decadência. Disponível em http:// www.seagri.ba.gov.br/fumo_final.doc. Acesso em 11/04/2009.

ALMEIDA, Paulo Henrique de. Quatro séculos de cultivo e manufatura do fumo na Bahia: história de um outro Recôncavo. Nexos Econômicos, Salvador: FCE/UFBA, v.2, n.4, p.25-36, nov. 2002.

BARICKMAN, B. J. Um Contraponto Baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo: 1788-1860- Tradução (Maria Luiza Borges) Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2003

BEZERRA, José Augusto. Charutos Tradição, arte e prazer. Globo Rural, Rio de Janeiro: Globo, v.18, n.205, p.14-16, nov. 2002.

Dannemann, a mais antiga fábrica de charutos do Brasil. Disponível em http://
http://www.charutos.com.br/charutos/brasileiros/dannemann.htm. Acesso em 12/04/2009.


NARDI, Jean Baptiste. O fumo brasileiro no período colonial: lavoura , comércio e administração. São Paulo: Brasiliense, 1996. 432p. ISBN 851113117-5.


ANEXOS


Charutos Dannemann, disponíveis no mercado em caixas com 5, 10 e 25 charutos.

Folder da VI Bienal do Recôncavo, realizada na cidade de São Félix.

Charuto Dannemann