Daiane Borges Rodrigues1 

RESUMO 
 

Este trabalho tem como tema central a discussão crítica sobre a competência imprescindível a um educador de Educação Física no momento de ministrar sua práxis. Outro tópico secundário, porém que considero de suma significância seria esclarecer que a competência do professor não é medida de acordo com seus saberes, mas sim através de seus diálogos e trocas de experiências com seus estudantes. Afim de que juntos possam desenvolver um trabalho qualificado e que interligue saberes coesos e coerentes com o cotidiano escolar. A orientação metodológica adotada partiu da observação durante os estágios realizados ao longo da formação profissional da autora. Através do estudo foi possível perceber que para um professor ter sucesso em sua docência é indispensável uma formação continuada, além de uma postura pertinente diante as necessidades de seus discentes. A escola deve ser vista como uma extensão do lar, na qual o ensino, a formação do individuo, como ser proativo na sociedade, devem ser privilegiadas. Este visão é ratificada com a idéia da preocupação do educador sobre sua formação e sobre a necessidade de uma análise sobre seu planejamento e o desenvolvimento de suas aulas. 

Palavras chaves: Competência, Professores de Educação Física e Escola

         "construir uma competência significa aprender a identificar e a encontrar os conhecimentos pertinentes. Estando já presentes, organizados e designados pelo contexto, fica escamoteada essa parte essencial da transferência e da mobilização" (PERRENOUD, 1999, p. 22.a). 
         

     O professor deve buscar constantemente em sua práxis, uma competência ao ministrar suas aulas. No entanto, esta não diz respeito somente aos saberes necessários para o professor "transferir" 2 os conhecimentos aos seus discentes. Mas sim inovações, diálogos e trocas de experiências, assim como a procura de conhecimentos pertinentes.  Pertinentes no sentido de que estejam ao alcance dos alunos, que seja feita uma interligação entre saberes e necessidades, muitas vezes esquecidos pela escola.

     A Educação Física, normalmente, é pontuada como uma ciência que envolve apenas o desenvolvimento de exercícios físicos e diversos esportes. Entretanto, ela não é apenas isto, mas sim uma educação voltada para o corpo inteiro, um desenvolvimento global que envolve a interligação entre teoria e prática. Alguns autores definem Educação Física como: 

         "A arte e a ciência do movimento humano que, através de atividades específicas, auxiliam no desenvolvimento integral dos seres humanos, renovando-os e transformando-os no sentido de sua auto-realização e em conformidade com a própria realização de uma sociedade mais justa e livre." (OLIVEIRA 1994, p.75). 

      Glaser (1981) defende ainda que Educação Física seja "Um aspecto da educação, por parte de um todo; portanto tem os mesmos fins da educação, isto é, formar o indivíduo física, espiritual e moralmente sadio". O conceito de Educação Física está amplamente ligado a própria definição de educação, ou seja, ela nos faz formular hipóteses, discernir os conhecimentos que coexistem com nossas necessidades, exatamente o que propõe o ensino. A constituição do sujeito como um todo está pautado também com o desenvolvimento do corpo, uma mente sadia convoca e carece de um corpo que possibilite a ela, a mente, sua emancipação.

     A Educação Física Escolar trabalha o aspecto cultura corporal de movimento do corpo, auxiliando os estudantes a compreenderem3 e aceitarem-se, tal aceitação referente à do próprio corpo, como aos dos demais colegas. A inclusão das diferentes culturas pode ser aplicada dentro das escolas através da Educação Física, para que ocorra um maior respeito e um desapego aos preconceitos estipulados pela sociedade. Convencionalismos relacionados, por exemplo, ao esporte como único propósito das atividades esportivas e principalmente a consideração pela dificuldade de alguns indivíduos ao realizarem algumas práticas.

     O conceito de Educação é concebido como uma construção constante do ser humano, tanto em suas atitudes, pensamentos e capacidades, um encontro entre mente e corpo saudáveis. Educação é muito mais que ensinar conteúdos e assuntos modernos, mas sim uma analogia entre ensino e aprendizagem, na qual tanto o aluno como o professor aprendem mutuamente. Como retrata Paulo Freire (1996, p.23) "Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém". A educação pode ter distintos conceitos, no entanto um único comum a todos eles, é o processo de autotransformação continuada e inacabada.

     A Educação contempla inúmeros fatores sociais, econômicos e culturais que devem ser reverenciados no momento de qualquer planejamento dentro de uma escola. Análises sobre o tipo de comunidade existente ao redor da instituição, as necessidades dos alunos, a formação acadêmica de cada profissional entre outros, devem ser fatores supremos. Pensar em educação é pensar em cidadania, humildade e dedicação de todos em razão de promover um ensino de qualidade e coeso com os anseios e direitos dos cidadãos.

     A sociedade necessita de sujeitos ativos e que estejam constantemente em busca de novos conhecimentos e especializações. Sendo assim nada mais imprescindível de que a escola não apenas "modele" os estudantes, mas sim que os ajude a construir conhecimentos, para podê-los aplicar em seu cotidiano. A Educação Física tem grande referencia e atitude nesta visão, pois possibilita o trabalho do corpo inteiro, a criação de um elo inseparável que auxiliará no desenvolvimento do aluno.

     Na instituição de ensino, segundo Perrenoud (1999, p. 15. a) "faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. Estão ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais". O professor atua como ser competente4 e que deve desempenhar suas práticas de forma a vi atender as reais necessidades de seus discentes. Estando sempre em continua formação, preocupado constantemente em rever conceitos e seu próprio planejamento das aulas.

      O termo competência não faz referencia somente aos professores de Educação Física, mas a toda a comunidade escolar, que pretende alcançar uma educação promissora. A escola, nesta visão de emancipação e de competência, é vista e respeitada como uma forma de auxiliar os alunos, afim de que possam ser respeitados em suas opiniões dentro e fora da escola. Educar não somente para que passem de ano ou que sejam os melhores alunos das classes, mas sim que aprendam para a vida.

     O professor de Educação Física é preparado para exercer uma prática desportiva, pois retém conhecimentos específicos sobre a anatomia, fisiologia e limites do corpo, podendo assim desempenhar seu trabalho de forma mais eficaz com seus objetivos. O respeito às características de cada aluno é condescendente, pois o excesso físico pode trazer prejuízos ao invés de benefícios como proferi Kunz (2000, p.50): 

        "Formação escolar deficiente, devido á grande exigência em acompanhar com êxito a carreira esportiva; unilateralização de um desenvolvimento que deveria ser plural; reduzida a participação em atividades, brincadeiras e jogos do mundo infantil, indispensável para o desenvolvimento da personalidade na infância". 

     No entanto, encontramos algumas falhas na formação de alguns professores de Educação Física, pois há uma grande desvinculação entre teoria/ prática.  A faculdade trabalha diversos conceitos que ao colocarmos em prática, muitas vezes não condizem com a teoria.  Por outro lado os cursos de Educação Física Licenciatura oferecem a seus graduandos diferentes concepções sobre autores contemporâneos, permitindo a eles a reflexão e a concepção de uma opinião condizente com suas necessidades enquanto sujeito funcional de sua comunidade. Diferenciando-se dos vários tabus lançados pela sociedade de que Educação Física está somente relacionada a esportes e atividades físicas, como acredita Oliveira (1994): o desenvolvimento integral do aluno depende também de desportos assim como de conhecimentos intelectuais.

     O profissional de Educação Física deve conhecer as fases de desenvolvimento psicomotor e disponibilizar outras formas de brincadeiras, jogos lúdicos apropriados não somente a idade e a fase que cada criança se encontra, mas também fazer a inicialização do individuo ao esporte.  Oportunizando ao futuro e possível atleta o interesse de envolver-se com práticas esportivas e não mais como antigamente era compreendida a educação física, de forma obrigatória, instrumental e competitiva. Ou seja, a competência do professor de Educação Física é colocada a prova no cotidiano escolar. 

        "a formação da imagem corporal já ocorre dentro de um conflito. De um lado, os pais não incentivam o contato com o meio, limitam esse contato através dos brinquedos e das proibições. Por outro lado, incentivam a nossa curiosidade, mas limitam a nossa experiência corporal, querendo que façamos as coisas do jeito deles". (IWANOWICZ, 1989, p. 69) 

     A influência dos pais , assim como dos professores, sobre a criança na sua iniciação esportiva é esmagadora. Inúmeras vezes os alunos estão realizando algum esporte por intermédio direto dos responsáveis. Este, de certa forma, impõe seus desejos e vontades para que a criança os siga. No entanto acaba apenas por imitar os outros e fugir de si mesmo. As normas culturais desde cedo são estipuladas e dificilmente contrariadas pelos jovens em questão. Somente com o auxilio de um profissional competente que tal situação pode ser amenizada ou até mesmo extinta.

    O que se evidência e se precisa, é uma oportunidade, uma emancipação, para que a criança aprenda a lidar com seus próprios fatores psicológicos. Visando sempre sua necessidade e não os anseios ou pressões dos adultos. Espaços são primordiais para que se compreenda que o esporte pode fazer parte da vida do discente, porém não é a isto que se resumo sua existência.

     Conforme Iwanowicz (1985, p. 72), "cuidar do corpo em termos da nossa cultura significa tratar da nossa saúde e do nosso prazer". O corpo neste aspecto não é visto, de acordo com os destaques das mídias, como estereótipo de beleza, mas sim como uma possibilidade de harmonizar saúde e prazer. Assuntos que criam uma dicotomia, como se não fosse possível manter um corpo saudável de forma prazerosa.

     Hoje há distintas maneiras de preservar á saúde, as atividades físicas são variadas e com a orientação de um profissional, a busca de um corpo saudável está mais acessível. O erro ocorre quando as pessoas privilegiam o corpo padronizado e desprezam, ignoram suas limitações.  O entendimento de corpo nesta perspectiva equivocada impulsiona a mente dos adultos, imagina-se o impacto para com as crianças. Por este fator, a relevância dos alunos em formular suas idéias sobre a Educação Física que pretendem contemplar durante seu desenvolvimento. Como explora Iwanowicz: 

             "É importante descobrir nosso corpo, senti-lo, conhecê-lo, em seu poder, sua força, através desse corpo conhecido, consciente, ter um contato com a realidade, um contato verdadeiro e não neurótico, desfigurado, que nos afaste de nós mesmos".      

     O professor de Educação Física tem em suas mãos bastantes meios de inserir os educandos nos momentos de suas aulas. Conforme Retondar (1995, p. 119) "cabe ao professor de Educação Física interferir com os alunos acerca da importância do espaço do jogo enquanto meio de interação social". Neste sentido é possível promover a idéia do coletivo, a solidariedade e por fim o lazer, tantas vezes desvirtuado pela sociedade.  

              "Respeitar a produção das fantasias, dos desejos, das crenças, dos mitos, símbolos e com eles também a racionalidade, o lugar socialmente incorporado pelos alunos, significa a possibilidade do educador construir pontes de aproximação que possibilitará a emergência de um espaço cada vez mais fecundo para a realização da ação pedagógica". (RETONDAR, 1995, p.120)  
         

     O jogo é uma forma de disponibilizar aos alunos espaços de criações. É através dele, do jogo, que se trabalham as regras, os limites, os conceitos de ganhar e perder. Fatores que fazem parte da vida dos jovens, pois na sociedade é imprescindível saber diferenciar o perder do ganhar; fazer com que as crianças lidem com regras é ao mesmo tempo prepará-las para o meio extra-escolar.

     A competência do professor de Educação Física depende de incontáveis fatores, mas com certeza o principal entre todos, é o compromisso com a docência. A ampliação dos conhecimentos é inevitável na procura de um crescimento pessoal, ou seja, construir e reconstruir suas aulas e permanecer em constante movimento na sua formação como educador.

     Metodologias e domínios dos saberes não são exclusivamente fatores que estipularão uma aula enriquecedora. Mas sim, uma práxis coerente com as necessidades e interesses dos discentes. A competência dos professores é testada diariamente, no momento que ministram suas aulas e são os alunos os principais prejudicados ou beneficiados com estas atitudes e orientações pedagógicas. Tendo isto em vista, cada educador poderá refletir quais são seus preceitos e funções dentro de uma comunidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).

GLASER, Niroá Zuleika Rotta Ribeiro. A educação física nas séries iniciais do ensino de 1º grau em Curitiba. Curitiba: UFPR, 1981.

IWANOWICH, Barbara. A imagem e a consciência do corpo. In: Conversando sobre o corpo. Campinas: Papirus, 1989.

KUNZ, E. Transformação didático-pedagogica do esporte. 3ed. Ijuí: Unijuí, 2000.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários á educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2003.

OLIVEIRA, Vitor Marinho de. Consenso e conflito da educação física  brasileira. Campinas: Papirus, 1994.

PERRENOUD, Phillipe. Construir as competências desde a escola. Artmed, 1999.a

PERRENOUD, Phillipe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000. b

RETONDAR, Jeferson José  Moebus. Alguns sentidos do ato de jogar (Dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. 1995