RESUMO

Este estudo de análise qualitativa/quantitativa feito em um Centro Materno Infantil de uma cidade na região serrana no Estado do Rio de Janeiro, tem como principal objetivo avaliar a qualidade da assistência pré-natal oferecida pelos(as) enfermeiros(as) de acordo com o Manual de Pré- natal e puerpério do Ministério da Saúde ( Brasil, 2005), verificar a existência de um pré-natal humanizado no SUS por parte dos enfermeiros, identificar, na ótica das usuárias, como tem sido prestado o atendimento por parte dos(as) enfermeiros (as) e analisar a satisfação das gestantes. O cronograma da pesquisa foi realizado de março á abril de 2009. Foi realizado uma entrevista semi-estruturada contendo questões abertas e fechadas a cerca do tema estudado com 10 gestantes cadastradas no pré-natal neste período. Após a análise e resultados dos dados, concluiu-se que o serviço de assistência pré-natal da Unidade apresentou desempenho no que diz respeito á qualidade da assistência de enfermagem prestada às gestantes cadastradas neste serviço.
Palavras-chave: Avaliação da qualidade; pré-natal; enfermagem 

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Pré-natal ou assistência pré-natal é um conjunto de ações e de atenções médicas e de enfermagem direcionadas à saúde da mulher. Desenvolve-se no período em que esta encontra-se grávida, visando assegurar uma melhor condição de saúde, tanto para ela como para seu bebê, evitando a morte e o comprometimento físico de ambos. As ações que visavam melhorar o bem estar tanto da mãe como da sua criança, iniciaram-se no nosso século XX. Até 1901, causava receio a mulher ter seu filho em um hospital, assim como internar-se antes do parto. Só a partir deste período histórico, viu-se que a morte da mãe poderia ser evitada se acompanhada adequadamente antes do parto.¹

A assistência pré-natal é muito importante tanto para a mãe como para o feto e para justificá-la, observamos uma mortalidade perinatal cinco vezes superior àquela encontrada nas clínicas de atendimento pré-natal, pois é durante o pré-natal que se rastreiam a gestação de alto risco, a aloimunização pelo fator Rh, Sífilis, anemia, bem como, à profilaxia de toxemia tardia da prenhez.²

O pré-natal consiste de consultas regulares ao profissional de saúde capacitado durante a gestação e visa prevenir doenças que possam prejudicar a saúde da mãe e do feto. O cronograma de atendimento deverá contar com o mínimo de seis consultas, preferencialmente uma no primeiro trimestre, obedecendo ao intervalo de quatro semanas até a 32º semana de gravidez, duas semanas da 32º à 36º semana e, semanalmente, após a 36º semana.³

O aspecto fundamental da assistência pré-natal eficiente é sua qualidade, não é a simples multiplicação dos ambulatórios que irá influir nos índices, mas o desenvolvimento junto a cada gestante de trabalho idôneo, examinado por alguém capacitado a desenvolvê-lo.²

Dentre a problemática da gestação está a existência de pelo menos três indicadores objetivos da qualidade ao atendimento pré-natal no país. O primeiro se refere à alta incidência de sífilis congênita (24/1000 nascidos vivos no SUS), onde a prevenção depende do diagnóstico e tratamento durante a gravidez; o segundo, é o fato da hipertensão específica da gravidez, ser a causa mais freqüente de morte materna, sendo que, se houver um adequado controle no decorrer da gestação, este tipo de morte pode ser reduzido. O terceiro é que 37% das gestantes no Brasil não receberem nenhuma dose da vacinação antitetânica, segundo a PNDS-96. Além disso, estudos mostram que as consultas são muito rápidas fazendo com que possíveis anormalidades não sejam percebidas e impedindo que as mulheres possam manifestar suas queixas, dúvidas e medos intrínsecos à gravidez.4

O pré-natal é um acompanhamento da evolução da gestação que visa cuidar da saúde da mulher e de seu bebê, até que o parto ocorra. O pré-natal inclui a prevenção, a promoção da saúde e o tratamento dos problemas que possam ocorrer durante o período gestacional e após o parto. A adesão das mulheres ao pré-natal está relacionada com a qualidade da assistência prestada pelo serviço e pelos profissionais de saúde, fator essencial para redução dos elevados índices de mortalidade materna e perinatal 5

Durante a gestação a mulher passa por uma série de adaptações e processos de mudança, devendo o profissional de saúde dedicar-se a escutar a gestante, oferecer-lhe apoio, estabelecer uma relação de confiança e ajudá-la a conduzir a experiência da maternidade com mais autonomia e segurança.5

A gestação e os eventos a ela relacionados, como puerpério e lactação, são marcados por profundas mudanças que interferem na vida mulher. As mais reconhecidas são as modificações relacionadas ao corpo, sua fisiologia e metabolismo. Sob o ponto de vista da biomedicina, é inegável que são fases de maior vulnerabilidade e de grandes demandas que requerem prioridade na assistência.6

A gestação é uma fase muito importante na vida da mulher e requer alguns cuidados especiais. Os níveis de nutrientes nos tecidos e líquidos disponíveis para sua manutenção estão modificados por alterações fisiológicas (expansão do volume sanguíneo, alterações cardiovasculares, distúrbios gastrintestinais e variação da função renal) e por alterações químicas (modificações nas proteínas totais, lipídios plasmáticos, ferro sérico e componentes do metabolismo do cálcio).7

Por tais motivos faz-se necessária uma adequação na alimentação da gestante, visto que seu estado nutricional pode afetar o resultado da gravidez. Para tanto, é de suma importância à avaliação dietética de gestantes através de inquéritos alimentares, pois podemos detectar problemas nutricionais específicos já existentes, e que podem ser prejudiciais no decorrer da gestação.7

Durante a gravidez, muitas mudanças acontecem no corpo da mulher, fazendo com que esse período exija cuidados especiais. São nove meses de preparo para o nascimento do bebê. É importante que durante a gravidez as futuras mamães sejam acompanhadas por profissionais de saúde. O Ministério da Saúde salienta a importância do pré-natal e incentiva a todas as gestantes a buscarem atendimento gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS).8

O processo de avaliação qualitativa da assistência pré-natal apresenta algumas dificuldades, pois trata da observação do resultado frente aos serviços recebidos ou que deveria ser acrescido o fato de que o binômio mãe-filho encontra-se inserido em um contexto sócio econômico mais amplo, capaz de influenciar o resultado desejado.9

Outros obstáculos como à falta de informação, dificuldade para estabelecer uns instrumentos objetivos, simples e exeqüíveis para avaliação, também contribuem negativamente para esse tipo de abordagem.9

Em função dessas dificuldades, em nosso meio, os estudos que visam avaliar a qualidade dos serviços são escassos, a despeito de sua importante contribuição para redução da morbimortalidade materna e perinatal.9

Apesar de o pré-natal ser considerado um dos quatro pilares da maternidade segura, poucas avaliações sistemáticas haviam sido realizadas sobre a efetividade destes programas, a fim de determinar quais intervenções teriam melhores resultados. Mais recentemente, vários autores têm discutido a importância da assistência pré-natal, seus critérios, as bases científicas das intervenções que são realizadas e as repercussões sobre a saúde materna e perinatal. No Brasil, diferentes avaliações realizadas sobre a atenção pré-natal também têm apontado a necessidade de mudanças, em especial, buscando a equipe e a melhoria na qualidade dos serviços, com o objetivo de aperfeiçoar resulta.10

A assistência pré-natal não pode prevenir as principais complicações do parto na grande maioria das mulheres destinadas a esta experiência: hemorragias, septicemias, obstruções do trabalho de parto. Mas certas intervenções durante a gravidez poderão, certamente, alterar e favorecer o prognóstico materno.¹¹

As estratégias mais importantes constituem um tripé com intervenções específicas relacionadas à promoção da saúde materna, à prevenção dos riscos e à garantia de suporte nutricional durante a gestação.¹¹

Foram propostos os seguintes objetivos:

- Avaliar a qualidade da assistência pré-natal oferecida pelos(as) enfermeiros(as) às gestantes do Centro Materno Infantil do Município de Teresópolis-RJ, de acordo com o Manual de pré-natal e puerpério.¹²

- Verificar a existência de um pré-natal humanizado no SUS por parte dos enfermeiros;

- Identificar, na ótica das usuárias, como tem sido prestado o atendimento por parte dos(as) enfermeiros (as);

- Analisar a satisfação das gestantes;

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo terá como abordagem o método qualitativo/quantitativo do tipo descritivo que terá como cenário o Centro Materno Infantil de Teresópolis, estado do Rio de Janeiro. Os sujeitos do estudo serão gestantes que realizam o pré-natal nessa unidade. O período da coleta de dados serádo mês de janeiro à maio de 2009.

Aos sujeitos serão entregue o termo de consentimento livre e esclarecido, respeitando os princípios da ética, justiça, não-maleficência, benevolência de acordo com o que é proposto pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

O instrumento de coleta de dados será uma entrevista semi-estruturada, contendo questões abertas e fechadasacerca do tema estudado.

Após a entrevista os dados serão analisados à luz do referencial teórico e classificados em categorias.

4. RESULTADOS:

Esta pesquisa verificou que no Centro Materno Infantil do município existem 10 gestantes cadastradas no SIS Pré-Natal que foram entrevistadas. De acordo com a entrevista realizada verificou-se que 40% (n=04) são casadas e 60% (n=6) são mães solteiras. Segundo as entrevistadas, 20% (n=02) trabalham no comércio, 30% (n=03) são estudantes e 50% (n=05) são do lar. Quanto ao grau de instrução destas gestantes, 30% (n=03)estudaram até a 8ª série, 40% (n=04) fizeram o segundo grau incompleto e 30% (n=03) fizeram o segundo grau completo. Quanto a história gestacional os resultados demonstram que 30% (n=03) são segunda gestação, 40% (n=04) são primigesta, 20% (n=02) é terceira gestação e 01% (n=01) são a quarta gestação. Segundo elas 80% (n=08) concordam com o pré-natal realizado por enfermeiros e 20% (n=02) não concordam.

De acordo com o trabalho realizado, no que diz respeito de como é realizada a consulta pré-natal, 40% das gestantes relatam que os enfermeiros são bastante atenciosos, tiram todas as suas dúvidas e abordam temas como DSTs e temas relacionados à prórpria gravidez, 40% das gestantes relatam que os enfermeiros as deixam mais à vontade do que os médicos para esclarecer suas dúvidas e expor seus problemas e 20% relatam que gostam da consulta pré-natal com os enfermeiros, mas sentem mais confiança com os médicos.

Na primeira consulta de pré-natal deve ser realizada anamnese, abordando aspectos epidemiológicos, além dos antecedentes familiares, pessoais, ginecológicos e obstétricos e a situação da gravidez atual. O exame físico deverá ser completo, constando avaliação de cabeça e pescoço, tórax, abdômen, membros e inspeção de pele e mucosas, seguido por exame ginecológico e obstétrico. Nas consultas seguintes, a anamnese deverá ser sucinta, abordando aspectos do bem-estar materno e fetal. Inicialmente, deverão ser ouvidas dúvidas e ansiedades da mulher, além de perguntas sobre alimentação, hábito intestinal e urinário, movimentação fetal e interrogatório sobre a presença de corrimentos ou outras perdas vaginais.12

Quando se pergunta às gestantes quais os exames que os enfermeiros costumam passar para elas durante a consulta pré-natal, 30% relatam que exames de sangue, 50% relatam que sangue e urina e 20% não guardam os nomes dos exames.

Deve-se na primeira consulta solicitar: Dosagem de hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht); grupo sangüíneo e fator Rh; sorologia para sífilis (VDRL): repetir próximo à 30ª semana; glicemia em jejum: repetir próximo à 30ª semana; exame sumário de urina (Tipo I): repetir próxima à 30ª semana; sorologia anti-HIV, com o consentimento da mulher após o "aconselhamento pré-teste" (ver item IV); sorologia para hepatite B (HBsAg, de preferência próximo à 30ª semana de gestação); sorologia para toxoplasmose (IgM para todas as gestantes e IgG, quando houver disponibilidade para realização).12

Durante a pesquisa, 100% da entrevistadas relatam terem sido orientadas pelos enfermeiros quanto a realização do exame de HIV e a transmissão vertical do HIV.

Odiagnóstico da infecção pelo HIV, no período pré-concepcional ou no início da gestação, possibilita melhor controle da infecção materna e melhores resultados na profilaxia da transmissão vertical desse vírus. Por esse motivo, este teste deve ser oferecido, com aconselhamento pré e pós-teste, para todas as gestantes, na primeira consulta do pré-natal, independentemente de sua aparente situação de risco para o HIV.12

Quanto a orientação no pré-natal sobre a consulta de puerpério, 70% (n=07) relatam terem sido orientadas sobre a consulta de puerpério enquanto 30% (n=03) relatam não terem sido orientadas sobre a consulta de puerpério.

O acompanhamento da mulher, no ciclo grávido-puerperal, deve ser iniciado o mais precocemente possível e só se encerra após o 42º dia de puerpério, período em que deverá ter sido realizada a consulta de puerpério.12

No que se refere se são realizadas ações educativas e quais são estas, durante a consulta de pré-natal, 100% relatam que são realizadas as ações educativas, sendo que 70% (n=07) relatam palestra e reuniões e 30% (n=03) relatam que são reuniões em grupo para esclarecimento de dúvidas.

Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação.12

Quanto ao atendimento de enfermagem dispensado 60% (n=06) das gestantes relatam um ótimo atendimento e 20% (n=02) relatam um bom atendimento e 20% (n=02) que realizou o pré-natal classificou como "boa"a atenção recebida e afirmou terem ficado mais satisfeitas com o atendimento prestado pelo médico.

A atenção obstétrica e neonatal, prestada pelos serviços de saúde, deve ter como características essenciais a qualidade e a humanização. É dever dos serviços e profissionais de saúde acolher com dignidade a mulher e o recém-nascido, enfocando-os como sujeitos de direito.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez e no pós-parto deve incluir ações de prevenção e promoção da saúde, além de diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que ocorrem neste período.

A realização de um pré-natal humanizado no SUS é feita de acordo com a previsão dos recursos necessários, da organização de rotinas com procedimentos comprovadamente benéficos, evitando-se intervenções desnecessárias, e do estabelecimento de relações baseadas em princípios éticos, garantindo-se privacidade e autonomia e compartilhando-se com a mulher e sua família as decisões sobre as condutas a serem adotadas.

A assistência pré-natal deve ser organizada para atender as reais necessidades da população de gestantes mediante a utilização dos conhecimentos técnicos-científicos existentes e dos meios e recursos disponíveis mais adequados para cada caso. O atendimento por parte dos enfermeiros, acolhe a mulher respeitando a sua condição emocional em relação à atual gestação, esclarece suas dúvidas, medos, angústias ou simplesmente curiosidade em relação á este momento em sua vida, faz a identificação e classificação de riscos, confirmação de diagnósticos, estimulam aadesão ao pré-natal e educação para a saúde estimulando o auto-cuidado.

Na ótica das usuárias, os enfermeiros têm realizado um pré-natal de ótima qualidade, sendo relevante para o estudo, embora algumas gestantes preferem realizar o seu pré-natal com o médico obstetra, o que mostra que há necessidade de rever o modelo de atendimento à gestante durante o pré-natal, ampliando atividades de comunicação e informação, com a intenção de estimulá-las na procura pelo serviço.

6. REFERÊNCIAS:

1.Galleta, Marco Aurélio (2000). A importância do pré-natal.Copyright clube do bebê. WebDesign by Microted. www.clubedobebe.com.br.

2. Rezende, de J. Obstetrícia. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 1969.

3. Piraí, M.B. Assistência Pré-Natal: O que é e qual sua importância? Disponível em: www.viasaude.com.br/artigos/.-dra-beatriz-gestação.htm-21k. Acesso em: 09 abr. 2009.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS 569, de 01 de junho de 2000,a. Disponível em: <www.saúde.gov.br/sps/areastecnicas/mulher/human.htm>. Acesso em: 25 nov. 2008.

5. OMS. Maternidade segura: assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra, 1996. 53p.

6. Ministério da Saúde. Assistência Pré-Natal. Manual Técnico. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília DF, v.3, p. 66, 2000

7. Bertin, R. L. et al. Métodos de Avaliação do Consumo Alimentar de Gestantes: Uma Revisão. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., v. 6, n. 4, p. 383-390, 2006.

8. Ministério da Saúde. Antes de Nascer. Rev. Vida e Saúde, n. 10, p. 20-21, 2007.

9. Koffman, M. D.; Bonadio, I. C. Avaliação da Atenção Pré-Natal em uma Instituição filantrópica da Cidade de São Paulo. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., v. 5, n. 1, p. 523-532, 2005.

10. Serruya, S. J. et al. Avaliação Preliminar do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento no Brasil. Rev. Bras. Ginecol Obstet., v. 26, n. 7, p. 517, 2004.

11. Calderon, I. M. P. et al., Rev. Bras. Ginecol Obstet., v. 28, n. 5, p. 310-5, 2006.

12. Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Pré-natal e puerpério. Cad. Saúde da Mulher. Brasília, D.F., 2005.