INTRODUÇÃO

Neste trabalho, daremos ênfase, aos instrumentos avaliativos utilizados, percebidos na atribuição de notas e na classificação de desempenho dos alunos, na aplicação de testes e provas com resultados quantitativos e numéricos, pois nesse método o mais importante é o produto, ou seja, reflete uma educação baseada na memorização de conteúdos. Nosso objetivo direciona-se a identificar, estudar e analisar as concepções ou saberes que tem os educadores da 4ª série sobre a Avaliação da Aprendizagem Escolar, bem como observar, investigar e analisar as práticas avaliativas voltadas para os alunos da 4ª séries do Ensino Fundamental.

Desse modo, a avaliação verdadeira oferece para o desenvolvimento do aluno e para o trabalho do professor, uma ação mediadora e acolhedora. É ela que permitirá o acompanhamento do aluno em todos os andamentos vividos na escola, colaborando para seu progresso na ampliação do conhecimento de si e do mundo, a fim de que a avaliação inclusiva possa ser usada não como um instrumento para medir o quanto o aluno aprendeu, nem tampouco como forma de julgar, reprovar ou aprovar um aluno.

Assim, nossas abordagens perpassam desde por questões conceituais, os novos paradigmas avaliativos bem como as discussões sobre como a avaliação vem sendo utilizada pelos educadores da EMEF e suas implicações no aprendizado do aluno.

Contudo explicitaremos a análise dos dados coletados, os quais nos possibilitarão perceber qual a concepção de avaliação e que instrumentos avaliativos são utilizados nas práticas educacionais da EMEF "Santa Terezinha", além de identificar e analisar as principais dificuldades encontradas pelos professores e alunos na busca pela consolidação de um fazer pedagógico mais inclusivo e libertador.

Portanto, com a elaboração deste trabalho, pretendemos suscitar nos agentes educacionais desta instituição o desejo de rever, analisar e aprimorar suas práticas pedagógicas, uma vez que avaliar é o movimento de refletir tudo que envolve o aprendizado e procurar caminhos de torná-la cada vez mais coerente e mais contextualizada.

A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO EDUCACIONAL DA "E. M. E. F. SANTA TEREZINHA" – CAMETÁ – PA.

Irael Sócrates Hitler Ferreira Gomes

José Carlos Cruz Gaia

A avaliação, que durante décadas foi considerada como um instrumento ameaçador e autoritário vem passando por profundas transformações, de acordo com a concepção de educação e o compromisso assumido pelos agentes educacionais envolvidos. No entanto, continua sendo utilizada como um dos grandes entraves da educação moderna. O que fazer, então para superar essas dificuldades nas atividades avaliativas do dia-a-dia da sala de aula?

Antes de tudo, é preciso ter em mente que não há o certo e o errado quando se fala em avaliação. Quando utilizada para promover o aprendizado efetivo dos alunos, visando a sua formação integral, há que considerar que os alunos aprendem de modo diferente, em tempos diferentes e que são sujeitos de um processo o qual o professor deve conhecer. Diante disso, qual seria então a ferramenta ideal a ser utilizada pelo professor, para direcionar as atividades avaliativas?

Nesse contexto, apresentaremos nossas análises e reflexões sobre as práticas avaliativas realizadas pelos professores de três turmas de 4ª séries da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Terezinha a fim de dialogar com as problemáticas enfrentadas cotidianamente.

Iniciamos o trabalho, observando as práticas pedagógicas diárias dos professores e logo após entrevistamos três professores e seis alunos com o intuito de conhecer como está se desenvolvendo o processo avaliativo e conseqüentemente o ensino-aprendizagem nesta escola. Logo após, fizemos um levantamento sobre a formação dos três professores que seriam referência na coleta de dados, as quais se explicitam: a primeira professora é formada em magistério com adicionais em matemática; a segunda professora somente em magistério e o terceiro professor formado em magistério e cursando o 2º ano de Faculdade de Pedagogia. Nota-se que, a situação no que diz respeito à formação dos professores nesta escola é igual ao restante das escolas das séries iniciais no município de Cametá, onde a maior parcela de professores, possuem apenas o Magistério. Na entrevista, os docentes colocam como uma das dificuldades encontradas a falta de cursos de formação continuada. Sobre isto, Vasconcelos aborda,

(...) considerando que a prática é dinâmica e aberta, e que o professor não se propõe a realizar uma atividade mecânica e repetitiva, deve estar constantemente se qualificando para exercê-la. Tal qualificação, portanto, não se dá necessariamente a priori: pode se dar antes (reflexão para a ação), durante (reflexão na ação) e após a prática (reflexão sobre a ação e sobre a reflexão para e na ação). Mesmo quem saiu dos melhores centros universitários sabe que não domina tudo o que a atividade educativa exige, tendo necessidade de aprimoramento contínuo. (Vasconcelos; 2007, 122-123)

Nesse sentido, o aperfeiçoamento contínuo se constitui como um instrumento imprescindível para a transformação da práxis, uma vez que ao refletir sobre a ação, poderá ocorrer uma nova abordagem para a melhoria do ensino.

Outra questão relevante neste trabalho, além da necessidade da formação, diz respeito ao entendimento dos educadores sobre o que é a avaliação, expressa na fala:

[PA]

Avaliação é o método de verificar se o aluno conseguiu aprender, a forma de saber se a criança avançou ou não e testar o conhecimento do aluno se prestou atenção.

Mediante a análise, os dados mostram que 66,6% dos professores entrevistados acreditam que a função da avaliação é obter a nota dos alunos- pois o sistema impõe e os pais dos alunos cobram a avaliação e 33, 4% acreditam que a avaliação tem a função de avaliar o conhecimento.

Constatamos assim, que os professores das três turmas da quarta série, em sua maioria seguem o que é imposto pelo sistema de ensino, nas orientações feitas pela Secretaria Municipal de Educação, no que diz respeito aos instrumentos de avaliação, pois não podem deixar de segui-lo, em vista que necessitam preencher todas as atividades na caderneta, aparelho do Sistema mais utilizado pelos professores, pois segundo ela o aluno tem que ser promovido ou reprovado. Para conseguir esses resultados utiliza-se dos seguintes instrumentos de avaliação. Ex:

TRABALHOS EXTRAS

ATIVIDADES DE CLASSE

OUTROS

PROVA

RESULTADO FINAL

2,0

2,0

1,0

3,0

8,0

CANHOTO DA CADERNETA

A esse respeito Luckesi (2006, 18) comenta:

O sistema de ensino esta interessado nos percentuais de aprovação/reprovação do total dos educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio da ameaça; os estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e, para isso, servem-se dos mais variados expedientes. O nosso exercício pedagógico escolar é atravessado mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem.

Dessa forma, observamos que os professores usam suas avaliações para constatar, julgar e não para modificar. Ao julgar previamente o aluno, exclui-se todo seu arcabouço de conhecimentos que muitas vezes não é adquirido na escola, mas nas vivências cotidianas. Para distinguir avaliação de julgamento, Luckesi (2006) afirma: O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário.

Outro ponto de destaque foi com relação aos instrumentos avaliativos utilizados por estes professores em suas práticas avaliativas. Nota-se, então, por meio de suas colocações que não existe um único e melhor instrumento avaliativo, o ideal é mesclá-los, adaptando-os às necessidades (e a realidade) de cada turma e, claro aos objetivos de cada educador, pois segundo Luckesi seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando provoca o desenvolvimento do educando.

Nas práticas avaliativas dos professores são utilizados diversos tipos de instrumentos para se avaliar, tais como: provas orais, trabalhos individuais ou em grupos, atividades diárias, porém constatamos que os mais preferidos pelos professores da 4ª série da EMEF "Santa Terezinha" são as provas escritas com 42, 82% de aplicação e os trabalhos em grupo que 28,58% dos professores utilizam.

Eles justificam que as provas escritas produzem resultados mais eficientes. Mas que resultados são esses? Reprodução de informação? Memorização?Ou será os resultados impostos pelo sistema?

Luckesi (2002, p.20) diz que "para o sistema de ensino só importa os resultados gerais: as notas, os quadros gerais de notas, as curvas estatísticas.

Assim percebe-se que a prova ainda é o principal instrumento avaliativo utilizado pelos professores da EMEF "Santa Terezinha. Diante disso, analisando as falas dos professores e alunos, obtivemos o resultado que na EMEF 'Santa Terezinha" são mais aplicadas pelos professores às provas escritas objetivas e as subjetivas, dados esses que são confirmados pelos alunos que responderam que 50% dos professores aplicam provas objetivas e 50% aplicam provas subjetivas.

O interessante é que os professores em sua maioria gostam de aplicar as provas escritas de próprio punho, ali na ora da prova, pois eles acreditam que os alunos desenvolvem a ortografia no momento que copiam as questões da prova, onde ao final são observados erros ortográficos e a caligrafia.Porém esses critérios de avaliação são aplicados iguais para todos os alunos, e são observados erros ortográficos e a estética.

Percebe-se que as diferenças entre os educandos não se leva em conta, o professor é exigente em ensinar as regras da língua, esquece que o domínio da língua é mais interessante. "É importante que o aluno perceba o sentido das regras: a orientação para a produção de um texto mais inteligível e claro, e não a regra pela regra" (Vasconcelos, 2000; 68).

Saber que tipo de prova é aplicado por esses professores, também nos leva a descobrir o que está sendo avaliado e que medidas estão sendo usadas, nas três turmas investigadas. Para eles, há a necessidade de terminar o conteúdo e não há tempo de voltar com aqueles alunos que encontram mais dificuldades.

Ainda sobre este questionamento, observamos que há uma contradição entre alguns professores, pois dos três entrevistados, 45% demonstram estar cientes que o problema não está nas dificuldades apresentadas pelos alunos e sim no método usado para repassar o conteúdo. O que se evidencia pelas aulas improvisadas, sem planejamento e objetivos definidos.

Tal aspecto é percebido no modo que o professor ministra a sua aula, onde o discurso defendido é totalmente diferente da prática, onde o agir está impregnado de ações autoritárias e excludentes. "Nós viemos sofrendo a avaliação em nossa trajetória de alunos e professores. É necessária a tomada de consciência dessas influências para que nossa prática avaliativa não reproduza, inconscientemente, a arbitrariedade e o autoritarismo que contestaram pelo discurso" (Hoffmann, 2005; 12).

Para se livrar desse estigma tão comum nos dias de hoje, o professor, em sua prática, precisará de uma mudança de mentalidade, mudança esta que só acontecerá com a conscientização e o desejo de realizar uma prática renovada na busca pela qualidade do ensino.

Para tanto, outra questão foi levantada: Como você avalia seus alunos? Os professores responderam que avaliavam no dia-dia, verificando as atividades de casa e de sala, o interesse, o esforço, trabalhos escritos e expositivos e no final (valendo 50% ou 60% da nota) aplicava-se a prova. Estas respostas foram às mesmas que os alunos responderam. Vale destacar uma fala curiosa que uma professora completou:

[PB)

"As vezes, penso em não fazer prova, porque percebo que os alunos ficam com medo, nervosos, mas a escola determina datas e os pais nos procuram exigindo as provas"

Evidencia-se neste momento, que há nos professores um desejo de mudar suas práticas avaliativas, pois não estão satisfeitos, e mais ainda, consideram que mudando a avaliação melhoram a qualidade de ensino. Na avaliação da aprendizagem é imprescindível a definição dos conteúdos, pois o professor precisa suscitar o aprendizado e o pensamento crítico, afim de que este possa contribuir com os temas abordados em sala de aula. Ao se desrespeitar esta etapa, o ato de avaliar não completará seu ciclo constitutivo. Sobre isto aborda Hoffman (1993),

"entende a avaliação como uma ação provocativa do professor, desafiando o aluno a refletir sobre as experiências vividas, a formular e reformular hipóteses, direcionando para um saber enriquecido".

Quando indagados que concepção ou teoria da avaliação conheciam ou seguiam, os professores colocaram de forma clara e precisa: 14,28% usam em suas práticas a avaliação Contínua;14,28% a Avaliação Formativa; 14,28 a Avaliação Diagnóstica; 14,28 utilizam a Avaliação Somativa; 14,28 a Avaliação Classificatória e 28,60% desconhecem ou nunca ouviram falar de alguma concepção de avaliação

Das teorias citadas, observamos que a Avaliação Contínua é utilizada por 42,84% dos professores e a Somativa utilizada pelo mesmo percentual. Entretanto, a maioria nunca estudou alguma concepção de avaliação, o que demonstra a necessidade de um maior aprofundamento destes conceitos a fim de efetivá-las nas práticas diárias.

Quando abordados sobre o que seria a avaliação somativa, notamos que há uma conceituação exata, pois para os professores da 4ª série, esta avaliação consiste em uma média final, que é resultado de uma série de notas (em trabalhos de equipe ou individual, provas, participação e exercícios) durante o ano letivo. Para Luckesi "avaliação somativa" expressa a qualidade de resultados finais, implica em somar, o que dá idéia de partes que se somam para formar um todo, desse modo temos a tradição do exame que implica na necessidade de uma classificação final. De outro modo, se esses resultados foram construídos, efetivamente com resultados desejados, aí teremos fins positivos.

A segunda teoria mais citada refere-se à avaliação contínua. Sobre esta avaliação, há um equívoco quanto ao seu entendimento, a qual se demonstra nesta fala.

[ PC]

"Eu utilizo a avaliação contínua, faço uma prova no início do mês, outra no final. A prova é feita para ver o que o aluno aprendeu, naquele momento..."

Assim, podemos dizer que as atividades avaliativas escolares têm servido na maior parte das vezes como recurso de controle disciplinar impositivo sobre os alunos. Logo, a prova acaba tendo um papel político-ideológico na medida em que serve de legitimação do fracasso do aluno, em função do seu revestimento de um certo caráter "objetivo", de uma pretensa "cientificidade": o resultado obtido é tido como verdadeiro e imutável (...). Vasconcelos (1998):

A Avaliação que respeite a diversidade cultural do aluno, ao contrário, deve servir de suporte para um passo mais a frente, a fim de verificar o que estava acontecendo antes, o que está acontecendo durante e o que acontecerá depois com o aluno, é exatamente o que interessa. Desde que a avaliação da aprendizagem esteja a serviço de um projeto pedagógico construtivo, que olha para o ser humano como um ser em desenvolvimento, em construção permanente. Aprovação ou reprovação do educando é o que menos interessa, pois o principal objetivo da avaliação é a aprendizagem, portanto o seu crescimento. Assim sendo, a avaliação segundo Vasconcelos (1998): é muito melhor que ocorra no próprio processo e não como um momento destacado do cotidiano do trabalho de sala de aula.

Frente a essa realidade, fizemos aos professores o seguinte questionamento: Qualo principal problema da avaliação? A resposta mais citada pelos três professores é que a avaliação desestimula os alunos, principalmente quando é instrumentalizada pela prova. Já os alunos, indagados, como se sentem ao serem avaliados? Responderam que ficam nervosos ansiosos e inquietos.

Hoje, as escolas (não é só a Escola Santa Terezinha), não avaliam a aprendizagem do educando, mas sim o examina, melhor dizendo, chamam essa prática de avaliação, mas, de fato, o que exercem são exames. Assim sendo, modificam o nome, porém não modificam a prática. Exames são pontuais, medem o desempenho final, não interessa como o aluno chegou a tal resposta, o que importa é somente a resposta. Exames classificam os alunos em aprovados ou reprovados, estabelecendo uma escala classificatória com notas que vão de zero a dez, classificação esta, que fica para sempre registrado nos documentos escolares.

Quanto a isso, requer que averigüemos com alunos e professores: que função ou finalidade se atribui a avaliação? Para obter resultados, diagnosticar, verificar a aprendizagem, foi os atributos que os professores deram como resposta; avaliar, medir desempenho, para saber se aprendemos, os alunos responderam. De fato, é essa visão que se tem da avaliação, restrita ao controle externo do aluno mediante notas e conceitos. É preciso ir além dessa visão tradicional, pois a avaliação não se restringe a análise sobre os sucessos ou fracassos do aluno é envolvida como um conjunto de atuações que tem a função de manter, apoiar e encaminhar a intervenção pedagógica desempenhada.Nesse sentido:

A avaliação subsidia o professor com elementos para uma reflexão contínua sobre sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e a retomadas de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para o processo de aprendizagem individual ou de todo grupo. Para o aluno, é instrumento para tomada de consciências de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização de seu investimento de tarefa de aprender. Para a escola, possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das ações educacionais demanda maior apóio. (PCN; 1997, p65)

Notamos que esses professores querem mudar suas práticas avaliativas, desejam aprender a fazer de outra forma, mas gostariam também de viver satisfeitos em sua atividade profissional. Queixam-se das autoridades políticas e educacionais que deveriam dar condições básicas de trabalho, como: melhorando salários, números adequados de alunos em sala de aula (pois cada turma possui em média 40 alunos), formação e condições materiais de ensino. Mesmo assim, pela pouca condição, tais professores são responsáveis pelo pouco sucesso alcançado.

O processo avaliativo na visão do aluno das 4ª séries da E. M. E. F. "Santa Terezinha".

Entendemos que a aprendizagem se dá de maneira satisfatória quando as relações cotidianas são dinâmicas. Portanto, a avaliação deve ser encarada como um instrumento que sirva para estimular o interesse e motivar o aluno a um maior esforço, como também um meio para o professor aperfeiçoar seus procedimentos de ensino. A avaliação assume uma função diagnóstica e orientadora, pois ajuda o aluno a progredir na aprendizagem e o professor a reorganizar sua ação pedagógica (HAYDT, 1998, p. 313).

É necessário que o educador esteja atento as expectativas dos alunos e que ele crie um clima favorável à participação em sala de aula para que os alunos possam manifestar as suas dúvidas, inquietações e incompreensões. Nesse sentido, nos direcionamos para o nosso próximo público alvo: os alunos. Perguntamos para meninos e meninas, na faixa etária entre 11 a 16 anos o que é avaliação, ao que prontamente responderam:

[são provas, exercícios, trabalhos, participação e comportamento]

Mediante a análise das respostas dos alunos, constatamos que a prática difere do discurso uma vez que, a avaliação está centrada na pessoa do professor e no sistema de ensino, não em quem aprende. Avaliar, então seria localizar as dificuldades e as necessidades dos alunos e se comprometer com a superação.

O segundo questionamento direcionado aos alunos foi: Qual a função pedagógica da avaliação?

Segundo os alunos entrevistados, 40% acham que a principal função da avaliação é de disciplinar, 40% acreditam que a função da avaliação é de estimular na participação de trabalhos escolares e 20% é a avaliar os conhecimentos através da prova.

Nota-se por meio destas análises, que o aluno fica mais preocupado em tirar nota, do que em aprender. Nessa perspectiva, a avaliação vem sendo utilizada como um meio para comprovar apenas a aprendizagem mecânica de conteúdos, a qual tem tornado a prática avaliativa restrita a este objetivo.

Quanto às medidas utilizadas nas atividades avaliativas, segundo os alunos, destacam-se as provas escritas, trabalhos em grupo e atividades diárias.

Desta forma os alunos que não participam, são considerados desinteressados, e assim dificilmente irão alcançar um bom desempenho no que se refere as práticas avaliativas desses professores. Normalmente as problemáticas para os professores se dá a partir, da postura dos alunos que apresentam indisciplina na sala de aula, são aqueles que não copiam, não fazem a lição, não aceitam a explicação, fazem de tudo apressadamente e pela metade, faltam bastante, ou seja, não consideram a possibilidade de que esses alunos estejam dando um sinal, querendo dizer algo, chamar a atenção para alguma situação enfrentada, estão querendo ser ouvidos e compreendidos.

Infelizmente esses alunos são neutralizados por uma prática excludente, classificatória e seletiva que do ponto de vista político-pedagógico, é uma tradição antidemocrática e autoritária, porque é centrada na pessoa do professor e no sistema de ensino, não em quem aprende. Nesse caso, a avaliação não caminha numa perspectiva dialógica (ROMÂO, 1998), pois esta: "destina-se à emancipação das pessoas e não à sua punição, à inclusão e não à sua exclusão."

Chegamos a conclusão que só o aluno é avaliado, e tudo aquilo que envolve o processo de ensino-aprendizagem na EMEF Santa Terezinha não é colocado em situação avaliativa. Entendemos que a avaliação deve atingir todo o processo educacional e social, se quisermos superar problemas. Assim, segundo Vasconcelos (2000): Uma das graves distorções na avaliação escolar é a sua aplicação restrita ao aluno; parece que todo o resto- professor livro didático, currículo, direção, escola, família, sociedade, etc.- está "acima de qualquer suspeita".

Para constatar esse interesse do sistema de ensino seguido pelos professores da EMEF "Santa Terezinha" foi necessário saber quais os tipos de provas os alunos são submetidos, mas também conhecer como são elaboradas as mesmas, quanto à estrutura, o que está sendo exigido dos alunos, se é o essencial, se a forma está apropriada. Quanto a pergunta, os alunos responderam que na maioria das vezes, as provas são escritas. Em seguida, pedimos aos alunos que nos mostrassem suas provas.

Analisando-as, eram basicamente elaboradas com perguntas clássicas de localização de conteúdos e não de interpretação e também que essas práticas avaliativas são executadas por partes dos professores com uma obrigação para fazer com que o aluno estude e se interesse pelo conteúdo, levando, com isso, ele a estudar somente com intuito de obter uma nota, que somadas as outras, seja capaz de promovê-lo a série seguinte.Nota-se, portanto, com isso, que a avaliação torna-se independente do processo ensino-aprendizagem, pois ambos têm objetivos particulares sem que com isso leve-se em conta a aprendizagem do aluno, ou seja, a avaliação torna-se um fim em si mesmo. Deixando de exercer sua "função de possibilitar uma qualificação da aprendizagem do educando (Luckesi, 2002). Desse estuda-se a necessidade de superação desse tipo de avaliação que resume-se apenas como a "prova" do que sabe.

O que preocupa é o uso que historicamente tem havido da prova, qual seja, a prova tem sido a forma de concretizar a avaliação como simples classificação. Ao invés de estar avaliando o e no processo, o professor passa a avaliar apenas o aluno e em alguns momentos; não garante a aprendizagem, pois não há interação, acompanhamento- "recuperação"- no processo. A questão central da prova está, portanto, na: Ruptura com o processo de ensino-aprendizagem. (Vasconcelos; 1998, 65)

Na EMEF "Santa Terezinha", percebe-se que os professores entendem que o ato avaliar segundo a pesquisa feita, se dá no decorrer do processo ensino aprendizagem, esses professores em sua maioria disseram que avaliam seu aluno, continuamente.

Mas isso não é o que se vê na prática, a maioria dos professores utilizam como seu principal instrumento de avaliar, as provas, como já foi abordado anteriormente, e também se considera como principal o comportamento e as atividades extraclasse.

Nas avaliações feitas pelos professores são considerados os aspectos: comportamento, participação, interesse e assiduidade como definidores do processo ensino-aprendizagem, ou seja, centra-se em avaliar o aluno só nos aspectos mecânicos impostos por um sistema de ensino falido, desconsiderando suas peculiaridades e situações emocionais que o indivíduo se encontra em determinado momento em que está sendo avaliado. Dessa forma, o professor nada mais faz do que sentenciar seu aluno sem procurar saber o que está acontecendo com ele.

Luckesi (2002, p.172) sobre essa situação reprova a atitude desses educadores, pois acredita que a avaliação tem por base acolher uma situação para então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança se necessário.

Constatamos que os alunos diante dessas situações sentencivas, ficam emocionalmente abalados sem condições de encarar a tão temida prova. Dessa forma sendo excluídos do processo ensino-aprendizagem, dentre esses alunos 72 % ficam nervosos por terem pavor de provas e 28% desesperados, pois quando não estudam a matéria, chegam até fugir no dia da prova para não encará-la.

O fato é que na EMEF "Santa Terezinha", assim como na maioria das escolas brasileiras Avaliação e Processo Ensino-Aprendizagem, tornam-se algo distinto, ou seja, a avaliação está atrelada a promoção do aluno, pois, durante o ano letivo.

as notas vão sendo observadas, médias vão sendo obtidas. O que predomina é a nota não importa como elas foram obtidas nem por quais caminhos. São operadas manipuladas como se nada tivessem a ver com o percurso ativo do processo ensino-aprendizagem. (LUCKESI, 2002.p.18).

Apresentar números que influenciam na estatística do desenvolvimento da educação básica, torna-se mais importante que o aprendizado do aluno e vem se esquecendo que este deveria ser o principal ator desse processo.

Nesse sentido a preocupação com o ensino torna-se meramente numérica, deixando de lado o papel social da escola que seria de formar cidadãos capazes de viver em sociedade e através de sua capacidade intelectual conseguir interagir com o meio que está inserido e transformá-lo.

Observa-se que a avaliação da aprendizagem se resume em estabelecer médias aos educandos. Isso é confirmado pelos próprios professores da EMEF "Santa Terezinha", que na pesquisa de coleta de dados temos como função da avaliação: 68% responderam que é Avaliar o Conhecimentos e 32% Obter nota/exigência do sistema de ensino.

Dessa maneira o ensino tende a piorar, uma vez que avaliação deveria ser um ato que auxiliasse no processo ensino-aprendiagem no que tange a consideração de particulares de cada educando que depende desse sistema de ensino para se formar enquanto sujeito ativo desse processo, buscando assim entender sua realidade e atuar sobre ela.

Contudo o que direciona a educação nesse país, são notas, médias e números. Esses mesmos números mostram a ineficácia das formas de avaliar, com resultados que demonstram o reflexo dessas formas sentencivas de avaliação. O índice de desenvolvimento da educação básica do ensino fundamental, onde estão inseridos os atores de nossa pesquisa na EMEF "Santa Terezinha" revelam em nível nacional que essa escola está a abaixo da média exigida que seja de 6,0 por ano. Confere-se que as perspectivas são um tanto negativas no seguinte quadro:

IDEBs em 2005, 2007 e Metas para Escola – EMEF SANTATEREZINHA

Ensino Fundamental

IDEB Observado

Metas Projetadas

2005

2007

2007

2009

2011

2013

2015

2017

2019

2021

Anos Iniciais

2,4

2,3

2,5

2,9

3,4

3,6

3,9

4,2

4,5

4,9

Anos Finais

-

3,3

-

3,5

3,8

4,2

4,5

4,8

5,1

5,3

  Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar.

Esses dados foram obtidos através da aplicação da Prova Brasil com a responsabilidade do SAEB, Sistema de Avaliação da Educação Básica, sistema este que é responsável por diagnosticar e apresentar o nível de qualidade do ensino na educação básica, o qual, consiste na aplicação de uma prova nas quartas séries do ensino fundamental nas escolas do Brasil inteiro, essas provas visam mostrar como os alunos estão no processo ensino-aprendizagem, exige-se nessas provas, habilidades essenciais que o aluno da educação básica deve apresentar, como já foi exposto no II capítulo.

Os números não são nada otimistas, pois num período de dois anos houve uma regressão de um décimo referente às quartas séries da EMEF "Santa Terezinha" no que se refere ao desenvolvimento da educação, e as metas projetadas desta forma permanecerão inatingíveis, pois mesmo com um período de 16 anos não se terá um índice de desenvolvimento considerável bom.

Diante desses dados, podemos analisar que nesta Instituição de Ensino, faz-se necessário um acompanhamento sistemático por parte do poder público com relação a investimentos e orientações de Projetos Educativos com metas definidas para melhoria da qualidade do ensino neste nível. Outro fator importante, diz respeito à sensibilização e participação ativa de todos os agentes da comunidade educacional, a qual a Escola se insere, seja por ações conjuntas ou individuais, na elaboração e efetivação de propostas que venham contribuir para elevar o índice de desempenho além de contribuir para sanar as dificuldades apresentadas.

Portanto, por meio dos dados coletados, bem como pelas análises realizadas, percebemos que o ato de avaliar na EMEF "Santa Terezinha" está sendo desenvolvido sem outros fins que não sejam o de obtenção de notas e aprovação dos alunos, contribuindo muito para que esses índices sejam cada vez mais negativos.Nesse sentido a escola demanda de uma reformulação imediata, nas práticas avaliativas desses educadores, uma vez que a avaliação deve servir para orientar a intervenção pedagógica e não deve estar restrita à avaliação do aluno. O maior objetivo do professor não deve ser o de saber o quanto o aluno sabe, mas sim o de garantir a aprendizagem de todos. Portanto, o processo avaliativo não tem apenas a finalidade de saber quanto o aluno aprendeu, é necessário conseguir a melhora do processo educativo como um todo (VASCONCELOS, 1998, p. 49).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na presença das condições antagônicas que se depara o ensino brasileiro na conjuntura sócio-cultural, fica claro que o modelo educacional não satisfaz a uma educação de maior qualidade voltada à idéia e a prática do discente sobre o campo em que atua.

Fundamentados na pesquisa demonstra-se a intensa presença de políticas excludentes que orientam o processo pedagógico, colaborando, assim, para uma avaliação que prioriza a reprovação e a aprovação.

Fica claro que a prática docente é uma constante aliada do processo avaliativo classificatório que reproduz os conhecimentos sem contrapor o seu efeito no meio social que o aluno convive.

Estabelecer um novo modelo para a avaliação escolar é um desafio não só político, mas pedagógico que precisa envolver a participação da escola-comunidade, de onde juntos consigam interagir na amenização de possíveis soluções problemas que cada escola e aluno têm.

Pelos nossos resultados, percebemos que a avaliação tradicional é a favorita pela maior parte dos professores que atuam em escola pública, devidamente por sua formação está ligada a um sistema político econômico que exige em dígitos simbólicos os resultados dos alunos, e por isso, acabam acomodados e acolhendo as políticas neoliberais de educação.

É inegável abrangermos que a avaliação emancipatória é uma forma de melhorar a aprendizagem, pois ela conduz a uma prática pedagógica que leva em consideração o contexto sócio-cultural em que está inserido, assim, possibilita recuperar a auto-estima desvalorizada na avaliação classificatória.

O modelo avaliativo do sistema educacional não corresponde às dificuldades individuais dos alunos, pois, exige apenas resultados finais, ignorando as origens sociais, culturais e políticas. Diante dessa situação, estamos conscientes da necessidade de uma avaliação que possibilite a integração dos conhecimentos e a inclusão dos discentes no contexto sócio-pedagógico, com uma prática avaliativa que não prioriza o rendimento escolar, mas a emancipação da aprendizagem a produção de conhecimento partindo da realidade escolar e cotidiana.

Apesar de nossas incansáveis resistências em favor de uma avaliação centrada na liberdade de opinar, de refletir sobre determinado assunto, percebemos que a prática neoliberal no processo educativo implica numa avaliação excludente que promove o conhecimento fragmentado que se limita ao reducionismo, a mera informação de valores que não propiciam ao espaço educativo condições de mudanças.

Assim, analisamos que a avaliação, como vem sendo utilizada em nossas escolas se constitui como um dos principais entraves no aprimoramento educacional de nosso município. Torna-se essencial que nós educadores façamos a diferença e lutemos por uma escola, que contemple uma avaliação que tenha um olhar dialético sobre esse sistema trágico que aparenta desconhecer as diferenças sociais e tire as reais potencialidades humanas. Contudo, a avaliação escolar só será eficiente quando atender as diferenças de cada aluno, considerando-o como um ser capaz de construir uma educação alicerçada num Projeto inclusivo e libertador.

BIBLIOGRAFIA

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