A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO AMBIENTE ESCOLAR: Trabalhando com o lúdico na enfermaria pediátrica.



Larissa Zatta ¹
Euricléia do Rosário Galúcio ²
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RESUMO

A pedagogia hospitalar visa o trabalho pedagógico neste ambiente, como uma alternativa de mudar o período de internação de uma criança ou adolescente hospitalizado, tornando - se importante para que todos os envolvidos na internação da criança tenham um atendimento mais humanizado, pois a hospitalização costuma ser vivenciada por ela como um grande sofrimento. O presente artigo tem como objetivo demonstrar a importância do trabalho pedagógico no ambiente hospitalar, contribuindo para o tratamento de crianças hospitalizadas, tornando este espaço mais humanizado e acolhedor. Desta forma realizou-se uma revisão bibliográfica onde se buscou mostrar a importância da atuação do pedagogo no hospital e do lúdico como recurso pedagógico para a hospitalização da criança ou adolescente enfermo. Verificou-se que o brincar é uma das atividades essenciais para o desenvolvimento físico, emocional e social da criança e que apesar da reconhecida importância desta atividade, durante o processo de hospitalização ela, ainda, é pouco valorizada.
Palavras-chave ? Pedagogia Hospitalar, criança, brincar/lúdico.




¹ Acadêmica do VIII período do Curso de Pedagogia da FAI ? Itaituba.
² Professora e Orientadora do Curso de Pedagogia da FAI ? Itaituba
INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no século XXI envolvem novas perspectivas para o profissional da educação que se insere no mercado de trabalho. Uma moderna estrutura se firma na sociedade, a qual exige profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem neste cenário competitivo. Dessa forma, a atuação do pedagogo em ambiente hospitalar confirma esta situação, ultrapassando o espaço escolar, que até pouco tempo visualizava-se restritamente, quebrando preconceitos e idéias de que o pedagogo está apto apenas para exercer suas funções no ambiente escolar.
A Pedagogia Hospitalar propõe uma interação entre pedagogos, profissionais da saúde e família que juntos, fazem com que a criança e o adolescente hospitalizado, superem as dificuldades ocorridas pela doença. O trabalho pedagógico no hospital vem se expandindo no atendimento à criança hospitalizada e acredita-se que, um excelente recurso para enfrentar essa situação estressante que é a hospitalização, seja o lúdico, com jogos, histórias e brincadeiras. O brincar surge, então, como uma possibilidade de mudar o dia-a-dia da hospitalização de crianças, realizando fantasias e um alto potencial recreativo.
A doença caracteriza-se na vida de uma criança como uma crise, e a hospitalização para ela, constitui-se em uma situação estressante, pois envolve tratamentos invasivos, dolorosos, além da mudança da rotina de vida e falta de interação social com outras crianças. Diante dessas necessidades, é possível pensar sobre a atuação do pedagogo na enfermaria pediátrica através de atividades lúdicas para o enfrentamento da hospitalização.
A importância desse tema é evidenciada na atuação do pedagogo em ambiente hospitalar, como um processo pedagógico na sociedade que contribui também para que o hospital se torne um ambiente mais acolhedor, assim demonstrando a necessidade de inserir a Pedagogia Hospitalar, implantando o lúdico dentro do hospital, para que seja avaliado como instrumento para o enfrentamento da hospitalização e da recuperação da criança.
O presente trabalho baseia-se numa pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico que aborda sobre o histórico da Pedagogia Hospitalar com seus conceitos, sua contextualização e o novo cenário de atuação do pedagogo, destacando a importância do lúdico na hospitalização e a importância da brinquedoteca no ambiente hospitalar. Buscando-se aqui subsídios para esclarecer e mostrar a importância da atuação do pedagogo nas enfermarias pediátricas em hospitais, empregando o lúdico como um recurso facilitador para a internação, contribuindo assim para a inserção deste profissional no âmbito hospitalar.


A PEDAGOGIA HOSPITALAR: CONTEXTUALIZANDO

A ação educativa em hospitais, para muitas pessoas, parece ser incipiente no Brasil, embora em alguns Estados já existam iniciativas para garantir assistência pedagógica às crianças e adolescentes hospitalizados. Nesse atendimento, o pedagogo deve ter os olhos voltados para as necessidades físicas, afetivas, emocionais e sociais da criança enferma, proporcionando uma melhor qualidade de vida durante sua internação.
Para MATOS & MUGIATTI (2008:22) a história do atendimento hospitalar tomou, apesar de ritmos lentos, novos rumos, em que a qualidade e humanização ocupam o mesmo espaço na mentalidade dos que se dedicam ao trabalho hospitalar. Essa forma de atendimento vem sendo adotada por instituições que se preocupam em atender uma clientela que não deve ser afastada da sala de aula em virtude de sua enfermidade. Este novo papel no qual o pedagogo se depara, compreende os procedimentos da educação de crianças e adolescentes hospitalizados, que venha a desenvolver uma atenção pedagógica aos escolares que se encontram hospitalizados.
Segundo ESTEVES (2009), a classe hospitalar teve seu início em 1935, quando Heri Sellier inaugurou a primeira escola para crianças inadaptadas em Paris. Seu exemplo foi seguido na Alemanha, na França, na Europa e nos Estados Unidos, tendo como objetivo suprir as dificuldades escolares de crianças com tuberculose.
Para o autor, deve-se considerar como marco decisório das Escolas em hospitais a Segunda Guerra Mundial, com base no número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir á escola, criou-se um engajamento, sobretudo, dos médicos, que ainda hoje são defensores da escola em seu serviço.
ESTEVES (2009) cita que em 1939 foi criado o C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas de Suresnes, cujo principal objetivo é a formação de professores para o trabalho em institutos especiais em hospitais. Neste mesmo ano foi criado o Cargo de Professor Hospitalar junto ao Ministério da Educação na França.
MENEZES (2004) cita FONSECA & CECCIM (1999) os quais indicam que foi a partir da segunda metade do século XX, que se observou, na Inglaterra e nos Estados Unidos, que os asilos, orfanatos e instituições que prestavam assistência a crianças, não respeitavam alguns aspectos básicos do seu desenvolvimento emocional, por falta de um atendimento mais completo. Essas falhas no atendimento infantil traziam riscos de sequelas que, na vida adulta, poderia evoluir para doenças psiquiátricas. E foi dessa iniciativa que surgiu às experiências educativas para crianças e adolescentes enfermos. Com o decorrer do tempo, essa iniciativa, também foi implantada em hospitais brasileiros, tendo à mesma finalidade.
No Brasil, de acordo com AMARAL & SILVA (2009), o atendimento hospitalar teve início oficialmente em 14 de agosto de 1950, na cidade do Rio de Janeiro no Hospital Escola Menino Jesus, serviço esse que se mantêm até atualidade. Segundo o autor em março de 1998, havia no Brasil 30 classes hospitalares, distribuídas em dez unidades federadas e Distrito Federal. Conforme VIKTOR (2003) apud MENEZES, em agosto de 1999, esse número aumentou para 39 classes em 13 estados. Essa forma de atendimento decorre, em sua maioria, de convênio firmado entre as Secretarias de Educação e de Saúde dos estados, embora existam classes hospitalares resultantes de iniciativas de entidades filantrópicas e universidades.
MATOS & MUGIATTI, (2008:32) afirma que a hospitalização escolarizada foi o primeiro projeto que surgiu no Estado do Paraná, a partir da parceria com as Secretarias de Educação e Saúde. Foi nesse contexto que surgiu o termo "Pedagogia Hospitalar", ramificando o curso de Pedagogia, tendo como objetivo, "a pesquisa de envolvimento teórico e prático entre a realidade acadêmica hospitalar".
A Pedagogia Hospitalar sempre foi necessária, mas atualmente, ainda enfrenta barreiras e dificuldades. A profissão do pedagogo hospitalar é uma tarefa bastante difícil, mas, ao mesmo tempo, de grande importância, pois é preciso transpor as barreiras impostas utilizando-se do profissionalismo e, também, da sensibilidade e do amor. Mesmo estando previstos por leis, poucos são os hospitais que disponibilizam esse atendimento, sejam eles público ou privado. Desta forma, DARELA (2007) afirma que o atendimento educacional nos hospitais do Brasil ainda encontra muitas indefinições em relação a sua identidade, pois existem diferentes práticas educativas. Estas práticas existentes vão desde o atendimento em programas de recreação, que priorizam o aspecto lúdico, até o atendimento escolar propriamente dito. Nesse sentido, o papel do pedagogo no ambiente hospitalar é proporcionar ao enfermo, momentos prazerosos, resgatando sua autoestima e contribuindo para amenizar seu quadro clínico, acelerando seu retorno ao convívio do seu lar, família, amigos e escola.

CONCEITO

A pedagogia hospitalar em sua forma conceitual poderá trazer alguns esclarecimentos quanto à função e contribuição do professor no hospital e também definir sua formação para atuar com crianças nesse ambiente diferente da sala de aula.
MILLA (2009) define a Pedagogia Hospitalar como um ramo da educação que proporciona à criança e ao adolescente hospitalizado uma recuperação mais aliviada, através de atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas. Percebe-se então que a pedagogia hospitalar surgiu pela necessidade de se preocupar com o indivíduo hospitalizado, atendendo suas necessidades sociais, físicas e psíquicas, que junto com os profissionais da saúde, possam fazer com que a criança e o adolescente hospitalizado, superem as dificuldades ocasionadas pela doença. Com isso entende-se a importância da pedagogia hospitalar, onde pretende integrar o doente em seu novo modo de vida, de forma que este ambiente torne-se acolhedor e humanizado.
COSTA (2008) ressalta que os principais objetivos da Pedagogia Hospitalar é promover a integração entre a criança, a escola, e o hospital, amenizando os traumas da internação e contribuindo para a interação social; dar oportunidade ao atendimento às crianças e adolescentes hospitalizados em busca da qualidade de vida; aproximar a vivência da criança no hospital à sua rotina diária anterior ao internamento, utilizando o conhecimento como forma de emancipação e formação humana; e fortalecer o vínculo com a criança hospitalizada, possibilitando o fazer pedagógico na prática educacional dos ambientes hospitalares. Dessa forma, nota-se a necessidade do pedagogo dentro do ambiente hospitalar, onde é capaz de promover um elo da criança e adolescente hospitalizado com o mundo fora do hospital.
FIGHERA (2009) afirma que a pedagogia hospitalar é uma modalidade de ensino da Educação Especial, que visa à ação integrada do educador no ambiente hospitalar. Essa atuação pedagógica se empenha em atender crianças com necessidades educativas especiais, isto é, crianças que por motivo de doença precisam de atendimento escolar diferenciado e especializado.
Vale ressaltar que a Pedagogia Hospitalar ainda busca saber concretamente sua verdadeira definição. Ela se apresenta como um novo caminho tomado pelos profissionais da educação, com um bom desempenho na conquista de seus ideais. É um processo educativo não escolar que propõe desafios aos educadores e possibilita a construção de novos conhecimentos e atitudes.

TRABALHANDO A INCLUSÃO EDUCACIONAL DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS

Conforme a Constituição Federal de 1988, no Título VIII ? Da Ordem Social, Capítulo III ? Da Educação, Da Cultura e Do Desporto, Seção I, artigo 205:

[...]a educação é direito de todos e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A Constituição fomenta que o direito à educação é para todos, e isso inclui o universo da criança hospitalizada. BISCARO (2009) ressalta que a respeito da criança hospitalizada, foram decretadas algumas leis, como a Lei n° 1044/69, que dispõe sobre tratamento excepcional para alunos portadores de afecções, em suas residências, e a Lei n° 6202/75, que discorre sobre exercícios domiciliares as estudantes gestantes, mas nada específico para as classes hospitalares. O autor afirma ainda, que só na década de 1990, foram criadas, no Brasil, leis específicas para a Classe Hospitalar. Dentre essas leis específicas destaca-se o Estatuto da Criança e do Adolescente, da Resolução n° 41 de 13 de outubro de 1995 do Conselho Nacional de Defesa do Direito da Criança e do Adolescente, do artigo 9, que trata-se do Direito da Criança e do Adolescente Hospitalizado, o "Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência no hospital."
Em 2002 o Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, elaborou um documento de estratégias e orientações para o atendimento nas classes hospitalares. Esta publicação enfatiza que:

Tem direito ao atendimento escolar os alunos de ensino básico internados em hospitais, em serviços ambulatoriais de atenção integral a saúde ou em domicílio: alunos que estão impossibilitados de frequentar a escola por razões de proteção à saúde ou a segurança abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casa-lar e residências terapêuticas.

Para ESTEVES (2009), a proposta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é a de que toda criança disponha de todas as oportunidades possíveis para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem não sejam suspensos. A existência do atendimento pedagógico em hospitais não impede que novas informações e conhecimentos possam ser adquiridos pela criança e adolescente hospitalizado.
VIKTOR (2003) apud COSTA (2008) destaca o exemplo de Wesley que apesar de permanecer no hospital por longos períodos, que iniciaram - se na sua infância e ocuparam parte de sua adolescência, e da consequente dificuldade em prosseguir os estudos, estava concluído o curso de técnico em enfermagem e queria se formar em medicina. Através de suas palavras pode ? se perceber a relevância de suas conquistas:

"Se não fosse o apoio da classe hospitalar, eu teria perdido muitos anos de escola e nem sei o que seria de mim. Viver em um ambiente de cirurgias, dores e medicamentos é um horror. Graças à ajuda das professoras, a gente voltava a ser criança para estudar, aprender, brincar. Isso é tudo para quem está internado num hospital e não tem contato com o mundo exterior. Vira uma família".

Apesar da existência de legislação sobre a Classe Hospitalar, MENEZES (2004) afirma que o desconhecimento dessa modalidade de atendimento é muito grande, tanto para propiciar a continuidade do processo educacional, quanto para fortalecer as ações para a promoção da saúde das crianças e adolescentes hospitalizados em situação de internação.
Por esse motivo, FONSECA (1999) apud MENEZES (2004) realizou uma pesquisa de grande relevância. Em sua pesquisa constatou que na Região Norte apenas um dos sete Estados oferece atendimento em Classe Hospitalar; no Nordeste, são três dos nove Estados; no Centro ? Oeste, dois, dos quatro Estados; no Sudeste, três dos quatros Estado; e Sul, dois dos três Estados. Estes dados revelam que a ampliação dessa modalidade ainda é incipiente no país, e que, embora haja essa preocupação são necessários estruturas políticas educacionais de organização de atendimento educacional nesses ambientes.

HOSPITAL: UM NOVO ESPAÇO DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO

O trabalho pedagógico em hospitais tem sido uma questão recente, mas polêmica, sobre a sua prática em enfermarias pediátricas. FONTES (2005) afirma que esta discussão começa entre duas correntes teóricas aparentemente opostas, mas que podem ser vista como complementares. A primeira, talvez a mais divulgada hoje no Brasil, defende a prática pedagógica em classes hospitalares, que são representadas por autores como FONSECA (2001, 2002), CECCIM (1997) e CECCIM E FONSECA (1999), que tem publicações nessa área.
A segunda corrente sugere a construção de uma prática pedagógica com características próprias do contexto, tempos e espaços hospitalares e não simplesmente transplantada da escola para o hospital. Dessa forma, essas correntes, embora tenham suas próprias especificidades, se integram neste novo cenário do pedagogo hospitalar.
EVANGELISTA (2009) considera que para atuar no ambiente hospitalar, o pedagogo deve estar preparado para trabalhar com a diversidade humana e diferentes vivências culturais, identificando as necessidades educacionais especiais do aluno impossibilitado de ir à escola. Nessa perspectiva, o pedagogo vem buscando o reconhecimento de sua função e de sua atuação neste espaço, sendo ainda raros os profissionais que fazem parte dessa equipe nos hospitais.
Dessa forma, é através da pedagogia hospitalar que sofrimentos podem ser amenizados nas crianças enfermas, propiciando a continuidade de seu processo ensino ? aprendizagem. Desenvolvendo procedimentos necessários à educação de crianças e adolescentes hospitalizados, visando promover uma atenção pedagógica essencial que auxilie suas necessidades. A assistência pedagógica na hospitalização sugere uma ação educativa que venha desenvolver atitudes de modo mais adequado possível, para que as crianças e adolescentes enfermos possam se adaptar de forma salutar ao ambiente no qual está inserido no momento.

BRINQUEDOTECA

A hospitalização tem um impacto na vida da criança, levando a uma modificação em seu comportamento, problemas de sono e apetite, medo, ansiedade, devido ao novo ambiente estranho. A criança que sofre com a doença continua sendo criança e, para garantir seu emocional, o brincar é essencial.
Assim, a brinquedoteca é:

um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. (CUNHA 1998 apud ALMEIDA & SABATÉS 2008:58)

Nota-se que a brinquedoteca é um espaço criado com objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar livremente, ampliando assim, o seu desenvolvimento emocional, cognitivo, social e psicomotor. Neste contexto, a brinquedoteca tem por implicação a valorização da atividade lúdica, sabendo ser esta uma necessidade para a formação efetiva da criança.
Segundo MOLETA (2003) as brinquedotecas começaram a surgir no Brasil a partir dos anos de mil novecentos e oitenta (1980), e atualmente estão se tornando uma realidade. A Lei N° 11.104 de 21/03/2005, (ALMEIDA & SABATÉS, 2008) dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas em todas as unidades da saúde, públicas ou privadas, que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Esta lei surgiu a partir dos movimentos de humanização nos hospitais e simboliza que a inclusão do brinquedo neste ambiente, tem sido concebida como parte da assistência às crianças e aos adolescentes hospitalizados. Neste processo, está ocorrendo o reconhecimento das necessidades infanto-juvenis e do papel da brincadeira para promoção do bem estar físico e social no ambiente hospitalar.
A brinquedoteca hospitalar é de extrema importância para a aceitação da doença e para a boa evolução do tratamento. ALMEIDA & SABATÉS (2008) apontam como objetivos da brinquedoteca: preservar a saúde emocional da criança, proporcionando alegria e distração por meio de oportunidades para brincar, jogar e encontrar parceiros; preparar a criança para as situações novas que enfrentará, levando-a a familiarizar-se com roupas e instrumentos hospitalares e, por meio de situações lúdicas, tomar conhecimento de detalhes da vida no hospital e do tratamento a que será submetida; dar continuidade à estimulação de seu desenvolvimento, pois a hospitalização poderá privá-la de oportunidades e experiências de que necessita; proporcionar condições para que a família e os amigos que visitarão a criança se encontrem com ela em um ambiente favorável; auxiliar na recuperação da criança; amenizar o trauma psicológico da internação por meio de atividade lúdica; preparar a criança para voltar à casa.
A brinquedoteca hospitalar, além de tornar este ambiente mais acolhedor, também oportuniza situações de socialização e desenvolvimento das habilidades dos pacientes como: atenção, concentração, afetividade, cognição, dentre outras. É um espaço ideal para a criança esvaziar os sentimentos mobilizados pela hospitalização e encontrar mecanismos para enfrentar seus medos e angústias.
ALMEIDA & SABATÉS (2008) afirmam que as crianças apresentam diversas reações quando chegam à brinquedoteca. Algumas chegam quietas e outras, mais agitadas, mas todas passam pela faze de explorar os brinquedos e o espaço. Nesse ato exploratório, encontram brinquedos variados: novos e usados; de madeira, plástico, metal ou pano; aquele que foi visto na TV, aquele que é desejado, mas que é muito caro.
Por isso, a brinquedoteca está longe de ser um amontoado de brinquedos, pois, nas mãos das crianças esses objetos adquirem vida, transformam-se, vão além do real. É um mundo de trocas, onde a criança percebe o outro e, percebe que não está sozinha, que é preciso cooperar, compartilhar e, algumas vezes competir, atitudes que ocorrem durante a atividade lúdica.
O lúdico no hospital conduz a criança a uma experiência que a faz sentir-se viva, mesmo em situação estressante ocasionada pela doença e possibilita alterar o dia-a-dia da hospitalização, uma vez que além de ser utilizado para fins terapêuticos, realiza fantasias e possui alto potencial recreativo.
A brinquedoteca hospitalar deve oferecer atividades divertidas, estimulantes e enriquecedoras, que proporcione segurança e calma. ALMEIDA & SABATÉS (2008) conceituam que a brinquedoteca, além da função terapêutica que exerce, é de suma importância que haja compromisso de favorecer a aprendizagem da criança hospitalizada, possibilitando a continuidade de seu desenvolvimento escolar. Não se trata de transformar o hospital em uma escola, mas de proporcionar um ambiente no qual a criança possa, por meio do brincar, também aprender.

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA A CRIANÇA HOSPITALIZADA

A hospitalização tem um impacto na vida da criança, levando a uma visível mudança de comportamento, tornando-se mais quieta e carente que o comum. Neste momento, não é apenas o cuidado clínico que se faz necessário para o processo de cura. Carinho e atenção são fatores relevantes para a recuperação do paciente.
O ambiente hospitalar é caracterizado por ser um local frio, de sofrimento e dor, onde a criança se sente desprotegida, sozinha e desamparada, e é justamente esta imagem que deve ser mudada com a presença do pedagogo, inserindo o lúdico, com apoio de brinquedos, jogos e histórias para amenizar o enfrentamento dessa situação estressante e adversa que é a hospitalização, podendo ser realizado no próprio leito da criança ou na brinquedoteca hospitalar.
Durante a hospitalização é importante o trabalho lúdico juntamente com as crianças enfermas, possibilitando às mesmas organizar sofrimentos e frustrações, permitindo expressar seus medos, seus sentimentos e suas fantasias com relação ao momento que está vivendo. Segundo MARTINS et al. (2001) apud SILVA & AGUIAR (2006), brincar é a atividade mais importante da vida da criança e é crucial para seu desenvolvimento motor, emocional, mental e social. É a forma pela qual ela se comunica com o meio em que vive e expressa, ativamente, seus sentimentos, ansiedades e frustrações.

?A presença de brinquedos nos hospitais diminui o estresse de crianças e o medo do tratamento ambulatorial, com remédios, seringas e exames. É o que indica a pesquisa do Hospital Infantil Cândido Fontoura, da Secretaria de Estado da Saúde. Realizado no primeiro semestre deste ano, o estudo já tem resultados preliminares. Com amostra de 58 crianças entre 4 e 14 anos de idade que faziam tratamento na unidade (contra doença como diabetes, colesterol alto e disfunções hormonais), a pesquisa aconteceu no momento da coleta de sangue, pois o procedimento invasivo com agulha normalmente é considerado fator de tensão. Do total de crianças avaliadas, 34 tiveram acesso a brinquedos na brinquedoteca do hospital. As outras 24 não foram expostas aos brinquedos, para efeito da pesquisa.O estresse foi avaliado segundo os níveis de cortisol sérico, substância do sangue que indica o nervosismo. Os resultados mostraram que o nível médio de cortisol no grupo de crianças que teve acesso aos brinquedos foi de 11,20ug/dl (microgramas por decilitro de sangue), enquanto a média do grupo que não brincou foi de 13,72ug/dl. A pesquisa também demonstrou que os brinquedos podem reduzir o estresse infantil causado por doenças respiratórias do sono. De um grupo de 142 crianças entre 4 e 14 anos, 79 tiveram acesso a brinquedos. Dessas, 35% tinham algum distúrbio respiratório do sono, como apnéia. O grupo com distúrbios respiratórios que brincou teve nível médio de cortisol sérico de 9,81ug/dl, enquanto a média do grupo que não brincou foi de 12,37ug/dl. ? (http://www.olhao.com.br/saúde, apud MATOS & MUGIATTI (2008:149):

Para WINNICOTT (1975; 1982) apud MACHADO & MARTINS (2002), o brincar é sempre terapêutico e saudável, sendo uma forma de descarregar a agressividade e reconhecer o mundo. Além de ser uma forma de comunicação, a atividade lúdica conduz a relacionamentos grupais, facilitando o desenvolvimento e, portanto, a saúde infantil. Através do brincar no hospital a criança deixa sua imaginação e seus sentimentos livres, fortalecendo sua auto-estima e seu processo de recuperação, onde é possível mudar a imagem do hospital, para um ambiente mais humanizado e de integração, para que haja alegrias, vida e solidariedade.
Segundo ALMEIDA & SABATÉS (2008) na tentativa de compreender a nova rotina, a criança brinca de ser enfermeira e médico. Os doentes são as bonecas, os bichinhos de pelúcia e os amigos do quarto. Assim a criança brinca e representa sua própria condição de criança hospitalizada, encontrando mecanismos para enfrentar seus medos e angústias.
O brinquedo pode ser utilizado de forma específica pelo pedagogo, por meio de palhaço, com o objetivo de alegrar o ambiente e amenizar as sensações desagradáveis do hospital, fazendo a criança se sentir viva, mesmo em situação estressante ocasionada por uma doença, preservando a saúde emocional, proporcionando alegria e distração por meio do brincar.
Uma experiência positiva do brincar no hospital é o trabalho do grupo "Doutores da Alegria", uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como missão promover a experiência da alegria como fator potencializador de relações saudáveis por meio da atuação profissional junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde. Esse grupo faz da vida uma constante felicidade, transformando o ambiente hospitalar, local de dores e angústias, em um ambiente para encher de sorrisos um público que muitas vezes não têm nenhum motivo para sorrir. (DOUTORES DA ALEGRIA).
A importância do brincar em área hospitalar ganhou relevância social, principalmente a partir do trabalho do médico norte-americano¬¬ Patch Adams, cuja história pessoal foi popularizada através de filme "Patch Adams. O amor é contagiante". Em um programa de entrevistas na televisão brasileira (Roda Viva), em 2007, Patch Adams afirmou que nunca disse que "rir é o melhor remédio", e sim que o riso "faz parte de um contexto".
Brincar no hospital acaba assim gerando uma revolução, onde o pedagogo tem um importante papel a desempenhar, transmitindo segurança, e gerando um clima de descontração e alegria para superação dessa fase, e ao mesmo tempo, ajudando a criança a compreender o mundo do hospital, brincando.

CONCLUSÃO

A atuação do pedagogo no ambiente hospitalar pode contribuir para um atendimento que beneficie o bem - estar da criança enferma, pois devido ao sofrimento físico, psíquico e a grande despersonalização que a criança sofre, em decorrência da hospitalização, ela precisa expressar seus desejos, ansiedades e frustrações dentro da Pediatria. Uma das alternativas de conseguir isso seria através do lúdico, com a presença do pedagogo para que a criança descarregue suas tensões, suas angústias e seus medos, podendo diminuir sua ansiedade e reorganizar sua vida, seus sentimentos, e compreender o que se passa dentro de um hospital.
A atividade lúdica no ambiente hospitalar surge como uma oportunidade para que haja uma interação, troca e carinho entre todos os envolvidos nesse ambiente, pois afinal, a alegria, a magia, o encanto estarão sempre norteando, não somente as crianças, mas todos aqueles que consideram e acreditam que o lúdico sinaliza um mundo melhor, mais colorido e mais humano. Este ambiente alegre estimula as crianças a se alimentarem melhor, a aceitarem a medicação com mais paciência e, principalmente, concordar com o tratamento. O espaço da brinquedoteca nos Hospitais do Município deve ser usado como um espaço socializador atendendo as necessidades e expectativas das crianças e proporcionando à interação de todos os envolvidos.
Assim, percebe ? se que o trabalho do pedagogo no hospital requer capacidade para lidar com as diferenças, respeitando às histórias de vida de cada criança. Fazendo-se necessário também elaborar atividades que considerem a variação de idades das mesmas, ajudando-as a reagir e interagir para que o mundo de fora continue dentro do hospital.


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