Um dia eu tive um plano genial. Decidi ser escritor. Não um escritor de romances, um erudito, um poeta, nada disso. Um escritor de crônicas. È, um escritor de crônicas. Dessas que se publica em jornais e revistas, que falam do cotidiano e quase sempre são engraçadas. Eu sempre achei ótimo aqueles caras escreverem o que pensam, debochando de todo mundo, incutindo suas idéias, poupando analista, liberando a bílis, sendo reverenciado e ainda por cima ganhando uma boa grana por isso. Então eu resolvi : vou ser escritor de crônicas.

O primeiro passo foi ler algumas crônicas, de alguns escritores já "conceituados", para ter alguma idéia da forma como os assuntos poderiam ser abordados e até mesmo para adquirir noções sobre a quantidade de frases e linhas que se utilizam normalmente. Descobri que uma crônica tem de 30 a 60 frases de cinco a dez palavras por frase cada e é claro, tem um início, um meio e um fim.

Até aí não tem nada de absurdo se você deixar de lado o fato de que o assunto, com esse número de frases, de palavras, com início, meio e fim, tem que ser, eu diria pelo menos, um tanto quanto genial.

Tà bom. Se fosse fácil até o Presidente faria. Eu falei no início que queria ser um escritor de crônicas, com todas as vantagens que a atividade proporciona, agora ser um bom escritor é outro assunto. Dá um tempo.

Superada essa fase de baixa auto-estima, veio outra preocupação: se eu escrever algumas crônicas, como eu vou publicar? Quantas crônicas eu devo fazer para iniciar essa nova carreira? Foi aí que surgiu uma nova idéia: fazer 365 crônicas. Por que 365 ? Porque eu estaria garantindo para quem quisesse me contratar, um ano de publicações já prontas, se fosse uma publicação diária, sete anos se fosse semanal e trinta anos se fosse mensal.

È claro que, nesta ultima hipótese, nós já teríamos o tele-transporte e comidas em cápsulas e minhas crônicas ainda se refeririam aos congestionamentos que as carroças proporcionam ao frente ao mercado público. Mas isso é outra estória.

Pensando bem, vou considerar essa nossa conversa como minha primeira crônica e, jornais do mundo, me aguardem, pois agora só faltam 364.

Sérgio Lisboa