Zeit und Fleisch

Meu maior desejo é tão simples, no entanto impossível:
Parar o tempo
Nos intervalos entre um desgosto e uma provação,
Quando os olhos do mundo, juiz imparcial, cochilam.
Então brincamos, sorrimos, gozamos,
Com a carne, a pele, a alma que esculpimos e lapidamos
Nossa melhor casa, nosso templo de velas acesas e içadas
Portas abertas aos gêmeos, às vibrações análogas, aos irmãos.
O ritmo do universo, o pulsar da natureza
À esquerda, à direita, ao centro, no interior
Que esculpimos, lapidamos
Nossa morada, nosso ninho, nesta aventura, esta fuga que empreendemos
Quando os olhos do mundo, algoz imparcial, cochilam.
E então cantamos, dançamos e criamos laços.

Meu mais secreto desejo, embora sinta que é impossível:
Me tornar sócio do tempo
E ter bons advogados, para que ele não me passe para trás
Não me deixe como se nu estivesse na encruzilhada,
E quatro ventos me açoitassem
Durante quatro dias de intermináveis torturas,
Preso e amordaçado
Vendo as pessoas partirem sem nada poder fazer.

Meu mais distante ideal:
Ver o tempo passar e não sentir, não me importar.
Virar as costas e cantar a mais pura canção
Aos gêmeos das vibrações análogas e irmãs
Pois que são o melhor antídoto à peçonha do mundo
Verme imparcial, que cochila às vezes
E então praguejamos, sublevamos, insurretos à ordem do mundo
Antinatural e irracional, nas mãos decrépitas de juízes que cochilam
Na hora de nosso almoço
O momento de alimentar nossa carne de poesia, graça, amor e amizade.

Ivan Henrique Roberto, 8 de fevereiro de 1989.